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a viagem para o mundo dos mortos, no romanceiro da ... - TEL

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Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura<br />

temporal, ele é visto como ameaça, caminho <strong>da</strong> morte.” 8 .<br />

O vento aponta <strong>para</strong> o passado, o que se perdeu <strong>no</strong> tempo, o que<br />

foi levado até a morte, verifica-se isso <strong>no</strong>s versos do primeiro “Cenário”:<br />

“Que vento, que cavalo, que bravia/ sau<strong>da</strong>de me arrastava a esse deserto,/<br />

me obrigava a adorar o que sofria”. 9 . Nesses versos a imagem do cavalo<br />

metaforiza os “grandes homens” os herois que enfrentavam tudo com<br />

“bravia”, já <strong>no</strong> verso “Batem patas de cavalo” 10 , de “Fala Inicial”, o animal<br />

equestre sentia a aproximação <strong>da</strong> morte e a anunciava a seu condutor com<br />

certo temor. Sobre esse animal Ruth postula que: “O cavalo é também ligado<br />

aos “grandes relógios naturais”, como um significante mítico do tempo.” 11<br />

Entendemos que a morte nivelou os poetas, os padres e os “grandes<br />

homens”, de Minas. Ela veio <strong>para</strong> to<strong>dos</strong> como ciclo natural de vi<strong>da</strong>, to<strong>dos</strong><br />

voltaram ao pó e a “cova” se tor<strong>no</strong>u abrigo <strong>da</strong>s palavras não ditas, <strong>dos</strong> títulos<br />

e <strong>da</strong> própria dor. Nos versos “Aqui, além, pelo <strong>mundo</strong>,/ ossos, <strong>no</strong>mes, letras,<br />

poeira...” verifica-se a presentificação <strong>dos</strong> fantasmas <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> espiritual <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto, vê se que mesmo estando os homens sepulta<strong>dos</strong>,<br />

os mesmos estão vivos <strong>no</strong>s livros, na poesia Setecentista, <strong>no</strong>s arquivos do<br />

Patrimônio Histórico e em “lápides” mesmo que simbólicas <strong>no</strong> panteão <strong>dos</strong><br />

Inconfidentes 12 . Os homens construtores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de monumento retornaram<br />

ao pó, mas habitam o pla<strong>no</strong> transcendental <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Cecília Meireles faz uso em seus poemas de uma arte criadora,<br />

própria <strong>da</strong>s viagens realiza<strong>da</strong>s pela poeta, viagens reais e imaginárias <strong>para</strong><br />

8 CAVALIERI, Ruth Villela. Cecília Meireles: o ser e o tempo na imagem refleti<strong>da</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Achiamé, 1984, p. 30.<br />

9 MEIRELES, Cecília. Romanceiro <strong>da</strong> inconfidência [1953]. Porto Alegre, RS: L&PM , 2010, p. 41.<br />

10 MEIRELES, Cecília. Romanceiro <strong>da</strong> inconfidência [1953]. Porto Alegre, RS: L&PM , 2010,<br />

p. 39.<br />

11 CAVALIERI, Ruth Villela. Cecília Meireles: o ser e o tempo na imagem refleti<strong>da</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Achiamé, 1984, p. 32.<br />

12 Panteão <strong>dos</strong> Inconfidentes é um espaço especial dentro <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Câmara <strong>para</strong> abrigar<br />

os restos mortais <strong>dos</strong> inconfidentes. Nem to<strong>dos</strong> os conspiradores ali repousam, pois alguns não<br />

puderam ter suas tumbas localiza<strong>da</strong>s, e outros têm sua identificação duvi<strong>dos</strong>a até os dias de<br />

hoje, a despeito <strong>dos</strong> intensos esforços de estudiosos nesse sentido. Estão <strong>no</strong> Panteão os restos de<br />

treze <strong>dos</strong> vinte e quatro sentencia<strong>dos</strong> pela coroa portuguesa. Uma lápide vazia é o memorial <strong>dos</strong><br />

ausentes, entre os quais está Tiradentes, cujo corpo foi esquartejado e exposto em opróbrio.

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