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a mídia para que não publique boatos. Grande parte da discussão pública girou em torno da liberdade<br />

de imprensa e da questão de os blogueiros terem ou não os mesmos direitos dos repórteres<br />

profissionais, que gozam de alguma proteção das leis que defendem os jornalistas. E por isso que a<br />

Electronic Frontier Foundation pegou o caso e transformou-o em uma “grande causa” — para proteger<br />

a liberdade de imprensa. Do ponto de vista de Jobs, contudo, o caso nada tinha a ver com a liberdade<br />

de imprensa. Ele processou os blogueiros para apavorar seus próprios funcionários. Estava menos<br />

preocupado em amordaçar a imprensa do que em amordaçar funcionários que vazassem para a<br />

imprensa — e qualquer pessoa que viesse a pensar em fazer o mesmo no futuro. O marketing de<br />

boatos da Apple vale centenas de milhares de dólares, e Jobs queria parar os vazamentos.<br />

Algumas das medidas de sigilo de Jobs chegam a ser um tanto extremas. Quando ele contratou<br />

Ron Johnson, da Target, para chefiar o esforço varejista da Apple, pediu-lhe que usasse um nome<br />

fictício durante vários meses, para que ninguém soubesse que a Apple estava planejando abrir lojas de<br />

varejo. Johnson foi introduzido na lista telefônica da Apple sob um nome falso que ele usava para se<br />

registrar em hotéis.<br />

O chefe de marketing da Apple, Phil Schiller, disse que não tem permissão para contar a sua<br />

esposa ou a seus filhos aquilo em que está trabalhando. Seu filho adolescente, um ávido fã do iPod,<br />

ficou desesperado para saber em que seu pai estava trabalhando, mas papai teve que ficar de bico<br />

calado para não ser despedido. O próprio Jobs está submetido a suas restrições: ele levou para casa um<br />

iPod com um sistema de alto-falantes de alta fidelidade para testar, mas o manteve coberto por um<br />

pano preto. Só o ligava quando ninguém estava por perto.<br />

O sigilo obsessivo da Apple não é um capricho das tendências controladoras de Jobs: é um<br />

elemento crucial da máquina de marketing extremamente eficiente da Apple. A empresa ganha<br />

milhões de dólares em publicidade gratuita cada vez que Jobs pisa em um palco para revelar um novo<br />

produto. Muitos já se perguntaram por que não há blogueiros na Apple. É porque língua solta na Apple<br />

afunda navios. Mas há dezenas de blogueiros na Pixar, mesmo antes que Jobs a vendesse para a<br />

Disney. Os blogueiros da Pixar tagarelam alegremente sobre todos os aspectos dos projetos da empresa<br />

e sobre suas vidas profissionais. A diferença é que os filmes da Pixar não se baseiam na surpresa de<br />

uma revelação para conseguir espaço na imprensa. Os novos filmes são normalmente comentados nas<br />

publicações profissionais de Hollywood. Jobs não é maníaco por controle em si: há um método em sua<br />

loucura.<br />

Personalidade plus<br />

Jobs tem tido muito sucesso em criar uma persona para a Apple. Através da publicidade, tem<br />

mostrado ao público as coisas que ele e a companhia representam. No final dos anos 1970, era a<br />

revolução através da tecnologia. Mais tarde, foi ser criativo e pensar diferente. A personalidade de Jobs<br />

permite que a Apple se coloque diante do mercado como humana e “bacana”. Sua personalidade é a<br />

matéria bruta da publicidade da Apple. Nem uma agência como a Chiat/Day seria capaz de fazer Bill<br />

Gates parecer “bacana e antenado”.<br />

A publicidade da Apple tem feito um bom trabalho ao apresentar a empresa como um ícone de<br />

mudança, de revolução e de idéias arrojadas. Mas isso é feito de uma forma sutil, indireta. A Apple<br />

raramente se gaba. Jamais diz: “Somos revolucionários. De verdade.” Ela usa as narrativas de sua<br />

publicidade para transmitir essa mensagem, freqüentemente como subtexto.<br />

Por exemplo, a publicidade da silhueta do iPod. As imagens da campanha eram novas e<br />

inéditas — não se pareciam com nada que já tivesse sido visto. “Eles sempre têm este ineditismo no<br />

design gráfico. A aparência é muito simples e muito marcante. É tão diferente que possui um visual<br />

próprio”, disse-me em uma entrevista telefônica o jornalista de publicidade Warren Berger, autor de<br />

Advertising Today e Hoopla. (25)<br />

Berger disse que o melhor modo de se obter uma publicidade criativa é contratando a agência<br />

mais criativa. A Chiat/Day é uma das mais criativas agências do mundo, mas o verdadeiro segredo é<br />

comunicar o que a marca expressa. “Lee Glow e Jobs se entenderam tão bem que ficaram amigos”,<br />

disse Berger. “Clow realmente captou a cultura da Apple, sua cabeça. Ele realmente entendeu o que<br />

eles estavam tentando fazer. E Jobs deu a Clow total liberdade criativa. Deixou que ele lhe mostrasse o<br />

que quisesse, por mais louco que parecesse. Isso permite que as pessoas ultrapassem os limites. A IBM<br />

nunca conseguiu fazer isso. Eles jamais dariam à Chiat/Day a liberdade que Jobs lhe deu.”

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