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Capítulo 8 - Controle total<br />

A coisa toda<br />

“Sempre quis possuir e controlar a tecnologia básica em tudo o que fazemos.” — Steve Jobs<br />

Em 1984, o bebê de Steve Jobs — o primeiro computador Macintosh — foi comercializado<br />

sem uma ventoinha interna. O ruído das ventoinhas deixava Jobs irritado, então ele fez questão de que<br />

o Mac não tivesse uma, ainda que seus engenheiros tenham incansavelmente se oposto a isso<br />

(chegando mesmo a colocar, discretamente, ventoinhas em modelos posteriores sem que Jobs<br />

soubesse). Para impedir que suas máquinas superaquecessem, os clientes compravam uma “chaminé<br />

para Macs”, essencialmente um tubo de papelão projetado para ser colocado em cima da máquina e<br />

retirar o calor por convecção. A chaminé tinha uma aparência ridícula — como um chapéu de burro —<br />

, mas impedia que as máquinas fundissem.<br />

Jobs é um perfeccionista intransigente, uma qualidade que levou tanto ele quanto a empresa<br />

que fundou a adotar um mesmo modus operandi pouco convencional: manter um controle estrito sobre<br />

o hardware, o software e os serviços que eles acessam. Desde o início, Jobs sempre fechou suas<br />

máquinas. Do primeiro Mac ao último iPhone, os sistemas de Jobs foram lacrados para impedir que os<br />

clientes mexessem neles e os modificassem. Até seu software é difícil de adaptar.<br />

Essa abordagem não é comum em uma indústria dominada por hackers e engenheiros que<br />

gostam de personalizar seus produtos de tecnologia. Na verdade, o comportamento tem sido<br />

amplamente visto como uma enorme desvantagem competitiva numa era, dominada pela Microsoft,<br />

em que o hardware é comoditizado e vendido a preços muito baixos. Agora, contudo, os consumidores<br />

querem dispositivos bem-acabados e fáceis de usar para música digital, fotografia e vídeo. A<br />

insistência de Jobs em controlar a coisa toda — hardware e software, do início ao fim — é o novo<br />

mantra no setor de tecnologia. Mesmo a Microsoft, que foi a primeira empresa a adotar a estratégia de<br />

comoditização, está mudando sua forma de operar e copiando parte da linha de atuação de Jobs. A<br />

empresa da Gates começou a produzir hardware, além do software — com o Microsoft Zune, além do<br />

Xbox, que hoje está no centro do “hub digital” da Microsoft. Controlar a coisa toda pode não ter sido o<br />

modelo certo nos últimos trinta anos, mas parece ser um bom modelo para os próximos trinta: a era do<br />

entretenimento digital.<br />

Nessa nova fase, Hollywood e a indústria musical estão suplementando CDs e DVDs com<br />

fornecimento de música e filmes pela internet, e os consumidores querem dispositivos de<br />

entretenimento fáceis de usar, como o iPod, no qual possam ver os filmes ou ouvir as músicas. É o<br />

modelo de Steve Jobs que irá produzir tais aparelhos. O grande trunfo da Apple é ser capaz de produzir<br />

seu próprio software, do sistema operacional dos Macs a aplicativos como o iPhoto e o iTunes.<br />

Jobs: um maníaco por controle<br />

Jobs é um dos maiores maníacos por controle que se pode encontrar no setor de tecnologia. Ele<br />

controla o software, o hardware e o design da Apple. Controla o marketing e os serviços on-line.<br />

Controla cada aspecto do funcionamento da organização, da comida servida aos funcionários a quanto<br />

eles podem contar a suas famílias sobre seu trabalho — praticamente nada.<br />

Antes que Jobs voltasse à Apple, a companhia era famosa por ser “largadona”. As pessoas<br />

chegavam tarde e saíam cedo. Batiam papo em torno do pátio gramado central, jogando bola ou<br />

atirando frisbees para seus cães. Mas Jobs logo impôs um novo rigor e novas regras. Passou a ser<br />

proibido fumar ou levar cachorros e a companhia voltou a ter um sentimento de urgência e de<br />

operacionalidade.<br />

Alguns já sugeriram que Jobs mantém um controle rígido na Apple para evitar ser expulso<br />

novamente. A última vez que cedeu controle para seu suposto amigo e aliado, John Sculley, este o<br />

colocou para fora da empresa. Talvez, como alguns especularam, as tendências de controle de Jobs<br />

sejam resultado de ele ter sido uma criança adotada. Sua personalidade controladora seria uma reação à<br />

impotência de ter sido abandonado pelos pais biológicos. Mas, como já vimos, a propensão de Jobs a<br />

controlar tudo tem gerado bons negócios nesses últimos tempos, além de ser boa para o projeto e o<br />

design de eletrônicos de fácil uso para os consumidores. Um controle rígido do hardware e do software<br />

gera seus dividendos na facilidade de uso, segurança e confiabilidade.<br />

Sejam quais forem suas origens, as tendências de Jobs ao controle total são hoje lendárias. Bem<br />

no início da Apple, Jobs brigou com seu amigo e co-fundador da empresa, Steve Wozniak, que era um

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