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JEAN PIAGET

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es sociais fundamentais. Três grandes categorias de fatos podem,<br />

, ser postos em evidência.<br />

Em primeiro lugar, existem os fatos de subordinação e as relações de<br />

o espiritual exercida pelo adulto sobre a criança. Com a linguagem, a<br />

a descobre as riquezas insuspeitas de um mundo de realidades supea<br />

ela; seus pais e os adultos que a cercam lhe aparecem já como seres<br />

es e fortes, como fontes de atividades imprevistas e misteriosas. Mas<br />

esses mesmos seres revelam seus pensamentos e vontades, e este novo<br />

rso começa a se impor com sedução e prestígio incomparáveis. Um "eu<br />

, como disse Baldwin, se propõe ao eu da criança, e os exemplos vindos<br />

o serão modelos que a criança deve procurar copiar ou igualar. São<br />

ordens e avisos, sendo, como mostrou Bovet, o respeito do pequeno<br />

rande que os torna aceitáveis e obrigatórios para as crianças. Mas,<br />

o fora destes núcleos de obediência, desenvolvesse toda uma submisconsciente,<br />

intelectual e afetiva, devida à coação espiritual exercida<br />

dulto.<br />

Em segundo lugar, existem todos os fatoresde troca, com o adulto ou<br />

outras crianças. Essas intercomunicações desempenham igualmente<br />

decisivo para os progressos da ação; na medida em que levam a<br />

lar a própria ação e narração das ações passadas, estas intercomunicaransformam<br />

as condutas materiais em pensamento. Como disse Janet,<br />

ória está ligada à narrativa; a reflexão, à discussão; a crença ao<br />

mento ou à promessa e o pensamento à linguagem exterior ou interior.<br />

sabe a criança comunicar inteiramente seu pensamento (e aí se notam<br />

asagens de que falamos acima), e perceber o ponto de vista dos outros?<br />

elhor, uma aprendizagem da socialização énecessária para alcançara<br />

ração real? É neste ponto que se torna útil a análise das funções da<br />

gem espontânea. Com efeito, é fácil constatar como as conversações<br />

crianças são rudimentares e ligadas à ação material propriamente dita.<br />

imadamente até sete anos, as crianças não sabem discutir entre elas e<br />

itam a apresentar suas afirmações contrárias. Quando se procura dar<br />

s outras, conseguem com dificuldade se colocar do ponto<br />

ta daquela que ignora do que se trata, falando como que para si mesmas.<br />

retudo acontece-lhes, trabalhando em um mesmo quarto ou em uma<br />

a mesa, de falar cada uma por si, acreditando que se escutam e se<br />

eendem umas às outras. Esta espécie de "monólogo coletivo" consiste<br />

em mútua excitação à ação do_que^emjrocaiJ|e_jjensajaejitQ5. reais.<br />

os^enfimTqúe as características desta linguagem entre crianças são<br />

tradas nas brincadeiras coletivas õú de regra; em partidas de bolas de<br />

gude, por exemplo, os grandes se submetem às mesmas regras e ajustam seus<br />

jogos individuais aos dos outros, enquanto que os pequenos jogam cada um<br />

por si, sem se ocuparem das regras do companheiro.<br />

r Daí uma terceira categoria de fatos: a criança não fala somente às<br />

outras, fala-se a si própria, sem cessar, em monólogos variados que acompanham<br />

seus jogos e sua atividade. Comparados ao que serão mais tarde, a<br />

linguagem interior contínua no adulto ou no adolescente, estes solilóquios<br />

são diferentes, pelo fato de que são pronunciados em voz alta e pela<br />

característica de auxiliares da ação imediata. Estes verdadeiros monólogos,<br />

como os coletivos, constituem mais de um terço da linguagem espontânea<br />

entre crianças de três e quatro anos, diminuindo por volta dos sete anos.<br />

Em suma, o exame da linguagem espontânea entre crianças, como o<br />

do comportamento dos pequenos nos jogos coletivos, mostra que as primeiras<br />

condutas sociais permanecem ainda a meio caminho da verdadeira<br />

socialização. Em lugar de sair de seu próprio ponto de vista para coordená-lo<br />

com o dos outros, o indivíduo permanece inconscientemente centralizado em<br />

si mesmo; este egocentrismo face ao grupo social reproduz e prolonga o que<br />

notamos no lactente face ao universo físico. Nos dois casos, há uma indiferenciação<br />

entre o eu e a realidade exterior, aqui representada pelos outros<br />

indivíduos e não mais pelos objetos isolados; este tipo de confusão inicial<br />

estabelece a primazia do próprio ponto de vista. Quanto às relações entre a<br />

criança e o adulto, é evidente que a coação espiritual (e a fortiori material)<br />

exercida pelo segundo sobre o primeiro não exclui em nada este egocentrismo.<br />

Quando se submete ao adulto e o coloca muito acima de si, a criança vai<br />

reduzi-lo, muitas vezes, à sua escala, como certos crentes ingénuos a respeito<br />

da sua divindade, chegando mais a um meio-term.o entre o ponto de vista<br />

superior e o seu próprio, do que a uma coordenação bem diferenciada.<br />

B. A génese do pensamento<br />

Em função destas modificações gerais da ação, assiste-se durante a<br />

primeiraTnlancia a uma transformação da inteligência que, de apenas sensomotora<br />

ou prática que é no início, se prolonga doravante como pensamento<br />

propriamente dito sob a dupla influência da linguagem e da socialização. A<br />

linguagem, permitindo ao sujeito contar suas ações, fornece de uma só vez<br />

a capacidade de reconstituir o passado, portanto, de evocá-lo na ausência de<br />

objetos sobre os quais se referiram as condutas anteriores, de antecipar as<br />

ações futuras, ainda não executadas, e até substituí-las, às vezes, pela palavra<br />

isolada, sem nunca realizá-las. Este é o ponto de partida do pensamento. Mas,<br />

aí, deve-se acrescentar que a linguagem conduz à socialização das ações;

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