JEAN PIAGET
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Aos interesses ou valores relativos à própria atividade, estão ligados<br />
perto os sentimentos de autovalorização: os famosos "sentimentos de<br />
rioridade ou de superioridade". Todos os sucessos e fracassos da atividae<br />
registram em uma espécie de escala permanente de valores, os primeiros<br />
ando as pretensões do sujeito e os segundos abaixando-as com respeito<br />
ações futuras. Daí resulta um julgamento de si mesmo para o qual o<br />
ivíduo é conduzido pouco a pouco e que pode ter grandes repercussões<br />
re todo o desenvolvimento. Certas ansiedades, em particular, resultam de<br />
assos reais e, sobretudo, imaginários.<br />
Mas o sistema constituído por estes múltiplos valores condiciona<br />
retudo as relações afetivas interindividuais. Do mesmo modo que o<br />
samento intuitivo ou representativo está ligado, graças à linguagem e à<br />
tência dos signos verbais, às trocas intelectuais entre os indivíduos,<br />
bém os sentimentos espontâneos de pessoa para pessoa nascem de uma<br />
a, cada vez mais rica, de valores. Desde que se torna possível a comunião<br />
entre a criança e o seu ambiente, um jogo sutil de simpatias e antipatias<br />
se desenvolver, completando e diferenciando indefinidamente os sentitos<br />
elementares já observados no decorrer do estágio precedente. Como<br />
ra geral, haverá simpatia em relação às pessoas que respondem aos<br />
resses do sujeito e que o valorizam. A simpatia, então, de um lado supõe<br />
valorização mútua e, de outro, uma escala de valores comum que<br />
mita as trocas. É o que a linguagem exprime, dizendo que as pessoas se<br />
tam: "concordam entre si", "têm os mesmos gostos" etc. É, portanto, com<br />
e nesta escala comum que se efetuam as valorizações mútuas. Inversante,<br />
a antipatia nasce da ausência de gostos comuns e da escala de valores<br />
uns. Basta observar a criança na escolha de seus primeiros companheiros<br />
na reação a adultos estranhos à família, para se poder seguir o desenvolento<br />
das valorizações interindividuais. Quanto ao amor da criança por<br />
s pais, os laços de sangue estão longe de poder explicá-lo, se não se<br />
siderar esta íntima comunidade de valorização que faz com que todos os<br />
res das crianças sejam moldados à imagem de seu pai e de sua mãe. Ora,<br />
e os valores interindividuais assim constituídos, existem alguns especialte<br />
importantes; são os que a criança reserva para aqueles que julga como<br />
eriores a si, algumas pessoas mais velhas e seus pais. Um sentimento<br />
ecial corresponde a estas valorizações unilaterais: é o respeito, que é um<br />
posto de afeição e temor, estabelecendo este segundo a desigualdade que<br />
rvém em tal relação afetiva. O respeito, como Bovet já mostrou, está na<br />
em dos primeiros sentimentos morais. Com efeito, é suficiente que os<br />
s respeitados dêem aos que os respeitam ordens e sobretudo avisos, para<br />
que estas sejam sentidas como obrigatórias e produzam assim o sentimento<br />
do dever. A primeira moral da criança é a da obediência e o primeiro critério<br />
do bem é durante muito tempo, para os pequenos, a vontade dos pais.1 Então,<br />
os valores morais assim concebidos são valores normativos, no sentido que<br />
não são mais determinados por simples regulações espontâneas como as<br />
simpatias ou antipatias, mas graças ao respeito, por regras propriamente<br />
ditas. Mas, deve-se concluir que, desde a primeira infância, os sentimentos<br />
interindividuais são suscetíveis de alcançar o nível daquilo que chamaremos<br />
a seguir de operações afetivas em comparação com as operações lógicas?<br />
Ou, melhor, os sistemas de valores morais se implicam um ao outro, racionalmente,<br />
como é o caso em uma consciência moral autónoma? Não parece,<br />
pois os primeiros sentimentos morais da criança permanecem intuitivos, à<br />
maneira do pensamento próprio a todo este período do desenvolvimento. A<br />
moral da primeira infância fica, com efeito, essencialmente heterônoma, isto<br />
é, dependente de uma vontade exterior, que é a dos seres respeitados ou dos<br />
pais. É interessante, a esse respeito, analisar as valorizações da criança em<br />
um campo moral bem definido, como é o caso da mentira. Graças ao<br />
mecanismo do respeito unilateral, a criança aceita e reconhece a regra de<br />
conduta que impõe a veracidade antes de compreender, por si só, o valor da<br />
verdade, assim como a natureza da mentira. Por seus hábitos de jogo e<br />
imaginação e por toda atitude espontânea de seu pensamento, que afirma sem<br />
provas e assimila o real à própria atividade sem se importar com a verdadeira<br />
objetividade, a criança é levada a deformar a realidade e submetê-la a seus<br />
desejos. Acontece-lhe, assim, deturpar uma verdade sem se aperceber,<br />
constituindo o que se chama a "pseudomentira" das crianças (o Scheinliige<br />
de Stern). No entanto, ela aceita a regra de veracidade e reconhece como<br />
legítimo que a repreendam ou punam por suas próprias mentiras. Mas,<br />
como ela avalia as últimas? Primeiramente, as crianças afirmam que a<br />
mentira não tem nada de "ruim" quando é dirigida a companheiros, o que só<br />
é repreensível quando em relação aos adultos, já que são estes que a proíbem.<br />
Mas, era seguida, e sobretudo, imaginam que uma mentira é tanto pior<br />
quando a afirmação falsa se distancia mais da realidade, e isto independentemente<br />
das intenções em jogo. Pede-se, por exemplo, à criança para<br />
comparar duas mentiras: contar à sua mãe que tirou boa nota na escola<br />
quando, na verdade, não havia prestado exames, ou contar, após ter sido<br />
amedrontada por um cachorro, que este era grande como uma vaca. As<br />
1 Isto i verdadeiro, mesmo se a criança não obedece, de fato, como acontece durante este período<br />
de resistência que se observa, muitas vezes, por volta de três a quatro anos e que os autores<br />
alemães designaram por Trotzalter.