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JEAN PIAGET

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trada na criança sob a forma de intuição ordinal fundamentada na<br />

assagem: um objeto móvel é julgado mais rápido que outro quando, em<br />

ento anterior, se achava atrás dele e em momento posterior se acha<br />

te dele. Fundamentada, também, na ordem temporal (antes e depois) e<br />

dem espacial (atrás e na frente), a intuição da ultrapassagem não apela<br />

ara a duração nem para o espaço percorrido, fornecendo, no entanto,<br />

io exato de velocidade. Sem dúvida, a criança começa considerando<br />

s os pontos de chegada, e por isto comete erros durante muito tempo,<br />

e se refere a simples emparelhamentos e sobretudo a semi-emparelhas.<br />

Mas, quando ela se torna apta a antecipar a série de movimentos<br />

bidos e a generalizar a noção de ultrapassagem, alcança uma noção<br />

al básica da velocidade.5 Além disso, é interessante constatar que a<br />

pção da velocidade parte das mesmas relações ordinais, não precisando<br />

nhuma referência a duração.6<br />

Dito isto, é interessante constatar que o resultado destas pesquisas, que<br />

ram inspiradas por um conselho de Einstein, se orientou, de alguma<br />

, para o campo da relatividade. Sabe-se que existe na física, mesmo na<br />

vista, uma dificuldade em definir a duração e a velocidade, sem cair<br />

círculo vicioso. Define-se a velocidade (v=e:t) se referindo i duração<br />

po, mas esta só se consegue medir por meio de velocidades (astronómecânica<br />

etc.). Dois físicos franceses, tentando reestudar o ponto de<br />

a da teoria da relatividade, de modo a evitar este círculo vicioso, procuraer<br />

se nossos conhecimentos sobre a formação psicológica da noção de<br />

dade poderiam fornecer-lhes uma solução. Utilizando, então, nossos<br />

hos sobre a génese desta noção na criança, fizeram a teoria da velocidade<br />

ou da ultrapassagem. Baseados em uma lei logarítmica e em um grupo<br />

no, construíram um teorema de adição de velocidaddes, e daí encontraram<br />

po de Lorenz" e as premissas básicas da teoria da relatividade.7<br />

Vê-se, assim, como o pensamento da criança, que apresenta atividades<br />

eráveis, às vezes originais e imprevistas, é rico em aspectos notáveis,<br />

mente por suas diferenças do pensamento adulto, mas ainda por seus<br />

ados positivos, que nos ensinam o modo de construção das estruturas<br />

ais, permitindo mesmo, às vezes, esclarecer certos aspectos obscuros<br />

nsamento científico.<br />

GET, Les notions de mouvement et de vitesse chez 1'enfaiO, Paris, P.U.F., 1950.<br />

GET, G. FELLER et MCNEAR, "Essai sur la perception des vitesses chez 1'eofant et<br />

", Archives de Psychologie, 19S9.<br />

ELE etMALVAUX, Vitesse et Univers retaúviste, Paris, Ed. Sedes.<br />

3<br />

A LINGUAGEM E O<br />

PENSAMENTO DO PONTO DE<br />

VISTA GENÉTICO<br />

As páginas que se seguem formulam algumas reflexões sobre a linguagem<br />

e o pensamento sob o meu ponto de vista, isto é, o da formação da<br />

inteligência e, notadamente, das operações lógicas. Estas observações sobre<br />

a linguagem e o pensamento serão grupadas em três momentos principais:<br />

as relações entre a linguagem e o pensamento, em primeiro lugar, no<br />

momento da aquisição dos primórdios da linguagem; em segundo lugar,<br />

durante o período da aquisição das operações lógicas, que chamaremos<br />

concretas (certas operações da lógica das classes e das relações aplicadas, de<br />

7 a 11 anos, aos objetos manipulados); e, enfim, em terceiro lugar, durante<br />

o período das operações formais ou interproposicionais (a lógica das proposições<br />

que se constitui entre 12 e 15 anos).<br />

I. O pensamento e a função simbólica<br />

Quando se compara uma criança de 2-3 anos, na posse das expressões<br />

verbais elementares, a um bebé de 8 a 10 meses, cujas únicas formas de<br />

inteligência são ainda de natureza senso-motora, ou seja, tendo apenas como<br />

instrumentos as percepções e movimentos, parece evidente à primeira vista<br />

que a linguagem modificou, profundamente, esta inteligência ativa, acrescentando-lhe<br />

o pensamento. É assim que, graças à linguagem, a criança se<br />

torna capaz de evocar situações não atuais e de se libertar das fronteiras do

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