O surpreendente Sob o Convento de San Francisco estão as catac<strong>um</strong>bas. Calcula-se que ali foram enterradas <strong>mais</strong> de 25 mil pessoasO maravilhoso Um giro por Lima revela belezas como o Arcebispado, com sua varanda entalhada em cedro e a biblioteca do mosteiromide, típicos de sua arquitetura ancestral.As ruínas de Huaca Pucllana, no bairro deMiraflores, conservam os traços da culturalima, surgida entre os séculos 2 e 7 de nossaera. Logo na entrada, <strong>um</strong> pequeno museusitua o visitante no tempo e no espaço.Ao andar por seus corredores e portais,é fácil ter idéia de como se organizava essacomplexa sociedade, cujos traços arquitetônicosresistiram ao tempo e a depredaçõese saques, nos últimos anos. Hoje a cidadeestá protegida por leis e por entidadesempenhadas em preservar o patrimônio dopaís. O guia explica, por exemplo, que a disposição<strong>dos</strong> pequenos tijolos de adobe já levavaem consideração o risco de terremotos,bastante comuns no Peru.Lima metropolitanaNos arredores da Grande Lima, a regiãometropolitana, há outras surpresas. A primeiraé o templo de Puruchuco, a dez quilômetrosda região central. Construído n<strong>um</strong>aencosta de pedras, traz em seu interior <strong>um</strong>complicado desenho de labirinto. Adentran<strong>dos</strong>alões e corredores, a sensação é deestar em local sem saída, feito de barro etaipa, com dezenas de pequenos caminhos,traça<strong>dos</strong>, segundo estu<strong>dos</strong> arqueológicos,justamente para que houvesse <strong>um</strong> monitoramento<strong>dos</strong> locais de passagem, para o casode <strong>um</strong>a invasão inimiga e também para controledas ações de seus moradores.Puruchuco foi a residência do que chamamde curaca, que significa “governante”,e está relacionado com a ocupação doVale de Lima pela cultura ischma (do século13 ao 15). Acha<strong>dos</strong> arqueológicos recentes,como peças de cerâmica e artigos têxteis,mostram que também houve influênciainca, povo que viveu posteriormente, entreos séculos 15 e 16. Era <strong>um</strong>a espécie deedifício público, marcado por <strong>um</strong> calendáriocerimonial dedicado a atividades religiosase administrativas.Um pouco <strong>mais</strong> longe, cerca de 30 quilômetrosde Lima, está o Templo de Pachacamac,<strong>um</strong> <strong>dos</strong> <strong>mais</strong> importantes centrosde peregrinação religiosa da costa peruana.São muito caminhos a ser percorri<strong>dos</strong> a pé,por <strong>um</strong>a estrada de terra que leva a váriostemplos, pertencentes a épocas e culturasdistintas. As primeiras ocupações dessa regiãoocorreram 200 anos antes de Cristo,mas foi durante o surgimento da culturalima que se ergueram os templos <strong>mais</strong> importantes.Mais tarde, por volta do ano 650,sofreram a influência da cultura wari e, entre1200 e 1450, da cultura ischma. No final,foram domina<strong>dos</strong> pelos incas.A região conhecida como Templo Viejo éde origem Lima. Na seqüência vêm os templosPintado (wari) e Del Sol (inca), construçãovisível de qualquer ponto e talvez a <strong>mais</strong>impressionante. Possui apenas <strong>um</strong> pequenoportal com <strong>um</strong>a escada que leva até o topo, deonde se tem <strong>um</strong>a visão privilegiada de toda aregião, com to<strong>dos</strong> os templos e o mar.O passeio culmina na grande cidade incaconhecida como Mamacona ou Acllawasi,nome dado por ser o lugar das acllas, mulheresescolhidas para ser entregues comoesposas aos governantes. Algo, mal comparando,como <strong>um</strong>a escola preparatória demoças, selecionadas para dar continuidade2008 março REVISTA DO BRASIL 45
à linhagem da nobreza e à própria culturavigente. Mas foi aí que chegaram os espanhóis,em mea<strong>dos</strong> do século 16, mudando or<strong>um</strong>o da história, que na maioria das vezes,como sabemos, terminou em ruínas. Belase surpreendentes.HuacaHuallamarcaRuínas dePuruchucoA caminho doTemplo do SolViagem ao CentroO Centro Histórico de Lima é o local <strong>mais</strong>visitado por quem está de passagem para outroslocais do país. Patrimônio Histórico daH<strong>um</strong>anidade desde 1988, chama a atençãopelo clima da Praça das Armas. Ali estão dispostosa sede do governo, a Casa de Pizarro,fundador da cidade, onde reside hoje opresidente; a Catedral, construída na mesmaépoca do nascimento da cidade e refeitaem 1564, inspirada na Catedral de Sevilha;o Arcebispado, cujo destaque é a impressionantevaranda entalhada em cedro da Nicarágua,madeira fina que permite desenhosminuciosos; e <strong>um</strong>a série de edifícios colori<strong>dos</strong>,também da época colonial, que abrigamrestaurantes e escritórios. O chafariz foi desenhadopor Gustave Eiffel, o mesmo arquitetoque projetou a famosa torre francesa.A alg<strong>um</strong>as quadras dali está a Igreja eConvento de San Francisco, edificação de1674, considerada o maior conjunto mon<strong>um</strong>entalde arte colonial da América. Sãodesl<strong>um</strong>brantes a biblioteca do mosteiro,com suas estantes, escadas em caracol e<strong>um</strong>a mobília antiqüíssima, a Sala do Órgão,e a sacristia, repleta de imagens adornadascom ouro, azulejos espanhóis e belaspinturas <strong>dos</strong> séculos 17 e 18.Nas catac<strong>um</strong>bas, sob o convento, a il<strong>um</strong>inaçãotrêmula confunde a visão e o cheirode terra remete ao passado. Conformeos olhos se habituam à pouca luz, percebe-sedentro de grandes poços e valas ossosdispostos de forma displicente ou desenhosgeométricos, que combinam crânios,pernas e braços. Segundo historiadores, aliestão enterradas pessoas que morreram emLima até 1808 – <strong>mais</strong> de 25 mil –, quando foiconstruído o primeiro cemitério da cidade.Nas catac<strong>um</strong>bas, hoje fechadas, reinam osilêncio e <strong>um</strong>a beleza irônica, que nos põema refletir sobre a vida e a morte.Vá alémPesquise:www.peru.inf/lima e www.limavision.comTemplo Pachacamac:pachacamac.perucultural.org.peHuaca Pucllana:pucllana.perucultural.org.peTemplo Puruchuco:museopuruchuco.perucultural.org.pe46 REVISTA DO BRASIL março 2008