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UNDERGROUND ROCK REPORT - 1

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<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 1


2 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Expediente<br />

Editor responsável<br />

JP Carvalho<br />

Redator Chef<br />

Leonardo Morais<br />

Jornalista Responsável<br />

Laryssa Martins<br />

MTb: 52.455<br />

Staff Editorial:<br />

Christiano K.O.D.A.<br />

Darlene Carvalho<br />

Julie Souza<br />

Marcos Garcia<br />

Maurício Martins<br />

Vitor Hugo Franceschini<br />

Ygor Nogueira<br />

Wagner Cyco<br />

revista Underground Rock Report é<br />

A uma publicação digital, de atualização<br />

permanente. O conteúdo editorial é produzido<br />

pela equipe de redação e as imagens<br />

cedidas por representantes ou assessorias<br />

de imprensa.<br />

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Rock Nation Web Radio<br />

www.rocknation.com.br<br />

stá é a Underground Rock Report,<br />

Eum projeto meu e de Leonardo<br />

Morais, no intuito único de dar vazão a<br />

necessidade que temos de mostrar mais<br />

amplamente o cenário Rock do Brasil e<br />

claro, buscar também incessantemente<br />

material internacional, visando agregar<br />

todas as formas das manifestações culturais<br />

mundiais.<br />

Mas buscamos acima de tudo, levar<br />

ao leitor informações diversas, na mais<br />

ampla visão dessas manifestações, sendo<br />

filmes, livros, shows e principalmente<br />

música. Diante das nossas preferencias,<br />

claro que o cenário da música pesada<br />

será a tônica desta públicação, mas queremos<br />

ampliar os horizontes e levar a<br />

você, leitor, todas as manifestações culturais<br />

possíveis e dentro do aspecto edito-<br />

Apesar de ser uma banda ainda bem<br />

jovem, o trio NERVOSA, especializado<br />

em fazer Thrash Metal bruto e tão<br />

agressivo que nos deixa com os ouvidos<br />

dando sinal de ocupado, galga o sucesso<br />

com unhas e dentes, com vontade de ferro,<br />

e seu primeiro Full Length, “Victim of<br />

Yourself”, lançado no início do ano pela<br />

Die Hard Records no Brasil (no exterior<br />

pela Napalm Records).<br />

Págs. 37, 38, 39, 40 e 41<br />

Surgida na década de 1990, tendo<br />

sempre a frente seu líder incostestável<br />

Charlie Curcio, que além de ser um<br />

dos caras mais atuando no cenário da<br />

música pesada, leva o StomachalCorrosion<br />

mesmo com todos os trancos e mudanças<br />

de formação ao longo dos anos.<br />

Págs. 33, 34 e 35<br />

Editorial<br />

Destaques da edição<br />

HIBRIA<br />

Do Underground para o mundo!<br />

Hibria foi formado no já longínquo<br />

ano de 1996, na capital<br />

O<br />

do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.<br />

De lá pra cá foram quatro álbuns,<br />

um DVD e shows pelo mundo<br />

inteiro. Nada melhor que estrear<br />

a revista como uma capa destas!<br />

Aproveitando o bom momento<br />

da banda, especialmente no Brasil,<br />

país que sempre deu menos valor<br />

ao grupo que o merecido, vamos<br />

aproveitar esta matéria para revisar<br />

um pouco da história do Hibria<br />

desde o comecinho.<br />

Págs. 4, 5, 6, 7 e 8<br />

NERVOSA<br />

rial de nossa publicação.<br />

A Underground Rock Report foi<br />

pensada como publicação on-line, novamente<br />

como manifestação artística, e<br />

com visualização total e gratuita de seu<br />

conteúdo, democratizando assim, a cultura<br />

e o direito de escolha de cada um,<br />

uma vez que a revista pode ser acessada<br />

on-line e lida diretamente no site.<br />

Esperamos de verdade, crescer e<br />

tornar válidos os nosso objetivos de levar<br />

ao público um maior esclarecimento e<br />

conhecimento, assim como apresentar ao<br />

público, novidades e notícias sobre estas<br />

manifestações culturais.<br />

Mas isso só o tempo dirá. Por enquanto,<br />

desejamos que todos se divirtam<br />

e apreciam a leitura.<br />

JP Carvalho<br />

STOMACHAL CORROSION<br />

Índice<br />

Rock Report<br />

Hibria<br />

Pág. 4, 5, 6, 7, 8<br />

Releases<br />

Páginas 9, 10, 11, 12 e 13<br />

Livros<br />

Pagina 14 e 15<br />

Nada Pop Chronicles<br />

Página 16<br />

Warsickness<br />

Pág. 17<br />

Rock Report<br />

Oligarquia<br />

Pág. 18, 19 e 20<br />

Unearthly<br />

Página 21<br />

Sopor Aeternus & The<br />

Ensemble of Shadows<br />

Página 22 e 23<br />

Yekun<br />

Pàg, 24 e 25<br />

Rock Report<br />

Skinlepsy<br />

Pàginas 26 e 27<br />

Ocultan<br />

Página 28, 29 e 30<br />

Baranga<br />

Páginas 31 e 32<br />

Profile<br />

Stomachal Corrosion<br />

Páginas 33, 34 e 35<br />

Woslon<br />

Página 36<br />

Rock Report<br />

Nervosa<br />

Páginas 37, 38, 39, 40, 41<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 3


Do Underground para o mundo!<br />

Por JP Carvalho<br />

Hibria foi formado no já<br />

O longínquo ano de 1996, na<br />

capital do Rio Grande do Sul,<br />

Porto Alegre. De lá pra cá foram<br />

quatro álbuns, um DVD<br />

e shows pelo mundo inteiro.<br />

Nada melhor que estrear a revista<br />

como uma capa destas!<br />

Aproveitando o bom momento<br />

da banda, especialmente<br />

no Brasil, país que sempre deu<br />

menos valor ao grupo que o merecido,<br />

vamos aproveitar esta<br />

matéria para revisar um pouco<br />

da história do Hibria desde o<br />

comecinho.<br />

Como toda banda boa, o<br />

Hibria nasceu no Underground,<br />

provavelmente com muitos sonhos,<br />

pretensões e pouco caixa.<br />

Em 1997 o grupo lançou sua<br />

primeira demo ‘Metal Heart’,<br />

que conseguiu chamar a atenção<br />

especialmente do público<br />

gaúcho e europeu.<br />

Seu segundo trabalho, também<br />

uma demo, tinha o título de<br />

‘Against the Faceless’. O disco<br />

lançado em 1999 rendeu a primeira<br />

turnê europeia de grupo.<br />

Isso mesmo, o Hibria com uma<br />

simples demo foi levado para<br />

uma turnê de 29 shows pelo Velho<br />

Continente.<br />

Antes do primeiro álbum, a<br />

banda ainda lançaria um single<br />

para a clássica ‘Steel Lords on<br />

Wheels’, provavelmente o trabalho<br />

que marcaria o direcionamento<br />

final que a banda iria<br />

procurar: Metal técnico, com<br />

influências de Power Metal,<br />

mas com mais pegada, menos<br />

polido e mais pesado.<br />

E foi exatamente isto que<br />

encontramos em seu primei-<br />

4 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


o disco ‘Defying The Rules’,<br />

considerado um disco clássico<br />

para dez entre dez fãs de Power<br />

Metal. O álbum foi lançado primeiramente<br />

no Japão, país que<br />

viraria o principal apoiador da<br />

música do quinteto ao longo<br />

dos anos.<br />

Para se ter uma ideia do<br />

reconhecimento que o Hibria<br />

atingiu já no primeiro disco no<br />

país do Sol Nascente, ‘Defying<br />

the Rules’ foi o mais vendido<br />

de sua categoria durante 6 semanas<br />

na cadeia de lojas HMV<br />

e foi votado entre os melhores<br />

do ano pela crítica e leitores da<br />

revista japonesa Burrn!.<br />

O caminho estava traçado,<br />

agora era percorrer. E foi isso<br />

que o grupo fez ao lançar seu<br />

segundo disco ‘The Skull Collectors’<br />

em 2009. Nele a banda<br />

voltava a apresentar seu Metal<br />

melódico e pesado, mas com<br />

elementos extras, que diferenciavam<br />

um pouco do debut.<br />

A primeira faixa do disco<br />

foi hit instantâneo, ‘Tiger Punch’,<br />

é o tipo de música que incendeia<br />

qualquer show. A faixa<br />

é obrigatória nos shows da<br />

banda até hoje.<br />

‘The Skull Collectors’ novamente<br />

foi um sucesso e abriu<br />

as portas para, em maio de<br />

2009, o Hibria iniciar sua turnê<br />

mundial, ‘Collecting Skulls<br />

WTour’ que passou pelo Japão,<br />

Taiwan, Hong Kong, Coréia<br />

do Sul e Canadá.<br />

O sucesso da turnê foi tão<br />

positivo que neste mesmo o<br />

ano, em outubro, a banda foi<br />

convidada a voltar para o Japão<br />

e se apresentar em um dos principais<br />

festivais do país: Loud<br />

Park, onde dividiu o palco com<br />

Megadeth, Slayer, Anthrax, Judas<br />

Priest, entre outros. Além<br />

do Loud Park, a banda abriu o<br />

show do Megadeth na cidade de<br />

Nagoya.<br />

Em 2010 um primeiro esboço<br />

de reconhecimento do<br />

cenário brasileiro. A banda foi<br />

convidada a abrir o show do<br />

Metallica em sua cidade natal.<br />

Dois anos depois de ‘The<br />

Skull Collectors’, em maio de<br />

2011, a banda lançou seu terceiro<br />

álbum, ‘Blind Ride’. Parte<br />

da divulgação do álbum incluiu<br />

uma turnê asiática que passou<br />

por países como Coréia do Sul,<br />

China (primeira banda brasileira<br />

de Metal a tocar neste país)<br />

e Japão.<br />

Foi nesta turnê japonesa<br />

que a banda gravou seu<br />

primeiro DVD. Gravado na<br />

capital do país, ‘Blinded By<br />

Tokyo’ apresenta um show<br />

com níveis de energia elevados<br />

e um público insano. Coisa<br />

poucas vezes vista no comportado<br />

público nipônico.<br />

Mais um lampejo de uma<br />

reação positiva ao Hibria no<br />

Brasil. O quinteto foi convidado<br />

para abrir dois shows do<br />

‘madman’ Ozzy Osbourne nas<br />

capitais Belo Horizonte e Rio<br />

de Janeiro.<br />

Em 2012, apesar de não ter<br />

nenhum álbum novo, a banda<br />

novamente comprova sua força<br />

no Japão e, mais uma vez,<br />

é convidada para o festival<br />

Loud Park.<br />

Agora, creio que aqui podemos<br />

chamar de ‘turning point’<br />

na vida do Hibria em terras<br />

brasileiras: ‘Silent Revenge’.<br />

O quarto álbum do grupo lançado<br />

em 2013 parece que, enfim,<br />

conseguiu quebrar algumas<br />

das barreiras imaginárias que o<br />

povo brasileiro tem com uma de<br />

nossas melhores bandas.<br />

Prova disso foi não só a participação<br />

do grupo no Rock In<br />

Rio, mas toda a reação positiva<br />

em cima de sua apresentação,<br />

tida como uma das principais<br />

do evento, mesmo tocando no<br />

palco secundário. Será que o<br />

Brasil está aprendendo?<br />

Claro que antes do RiR, a<br />

banda voltou para sua segunda<br />

casa (ou seria primeira?):<br />

Japão, onde mais uma vez excursionou<br />

com casas de shows<br />

lotadas, filas para autógrafos<br />

e todo aquele respeito dado e<br />

merecido para uma banda deste<br />

nível.<br />

Para coroar esta bela fase,<br />

em outubro de 2013, o Hibria<br />

foi escolhido para abrir o show<br />

dos pais do Metal, Black Sabbath,<br />

em Porto Alegre, tocando<br />

para 30.000 pessoas.<br />

Mas deixemos eles mesmos<br />

falarem. Confira agora uma pequena<br />

entrevista que fizemos<br />

com os músicos, onde repassamos<br />

toda a carreira deles.<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 5


URR: O primeiro álbum do Hibria, ‘Defying The Rules’, foi<br />

lançado em 2004. Conte-nos como foi este período.<br />

Em primeiro lugar, quero agradecer pela oportunidade de entrar<br />

em contato com os leitores do Underground Rock Report. 2004, assim<br />

como todos os anos do HIBRIA, foi um ano de muito trabalho.<br />

Desde 1997, quando lançamos a nossa primeira Demo-Tape Metal<br />

Heart, já estávamos compondo as músicas que fariam parte do nosso<br />

debut. Em 1999, fomos para uma turnê underground na Europa<br />

intitulada Against the Faceless Demo Tour, para divulgar nosso CD<br />

Demo de mesmo nome. Quando voltamos em 2000, nos concentramos<br />

em reformular as músicas dando uma sonoridade mais atual<br />

com as novas influências que tivemos nessa tour. Agregamos elementos<br />

mais Power Metal às composições e finalmente fechamos<br />

as nove músicas para gravar os Defying the Rules. Este álbum está<br />

completando 10 anos de lançamento no Japão este ano e temos muito<br />

orgulho disso. Afinal, foi com ele que entramos no mercado.<br />

URR: Mesmo sendo o primeiro disco, o álbum estourou e é<br />

considerado um clássico do Power Metal mundial hoje em dia.<br />

Como vocês reagiram na época?<br />

Ficamos muito satisfeitos com a excelente repercussão que o<br />

DTR teve, principalmente no Japão. O CD ficou seis semanas nos<br />

mais vendidos da cadeia de lojas on-line HMV no Japão e recebemos<br />

ótimas resenhas. O que não tivemos a oportunidade de fazer é<br />

uma turnê só do DTR (que é algo que pretendemos fazer em 2015),<br />

pois com toda essa repercussão, nos motivamos muito para iniciar<br />

as composições do seu sucessor, The Skull Collectors.<br />

URR: Para o segundo álbum, ‘The Skull Collectors’, acredito<br />

que a pressão tenha sido maior. Do que vocês se lembram<br />

deste período?<br />

Na verdade não rolou uma “pressão”, mas sabíamos da responsabilidade<br />

que o TSC teria com relação às comparações com o seu<br />

sucessor. Na real, até hoje ainda se faz comparações a cada novo<br />

lançamento. O TSC também teve uma grande importância na nossa<br />

carreira porque ele nos deu a oportunidade de fazermos duas turnês<br />

no Japão no mesmo ano. Em 2009, fizemos uma turnê solo em maio<br />

e depois em outubro fomos convidados a participar pela primeira<br />

vez do Loud Park.<br />

URR: No ‘The Skull Collectors’ está, em minha opinião, o<br />

maior hit da banda ‘Tiger Punch’, mas também conta com outras<br />

músicas fortes como ‘Sea Of Revenge’, ‘The Anger Inside’<br />

e a faixa-título. Todas apresentavam uma roupagem mais moderna,<br />

agressiva e “menos Power”.<br />

Nós sempre compomos aquilo que nos dá mais prazer em tocar,<br />

já imaginando o show, inclusive com a participação do público. O<br />

TSC é um álbum Power Metal, porém nele já começamos a inserir<br />

novos elementos do Thrash e Death Metal devido às novas influências<br />

que estávamos escutando na época. Achamos que a “roupagem<br />

mais moderna” veio com o Blind Ride.<br />

URR: Em 2011 foi lançado o álbum ‘Blind Ride’ e apresentou<br />

um Hibria apostando ainda mais no experimentalismo e<br />

menos tradicional. Mesmo assim o grupo continuou seu crescimento<br />

especialmente no Japão. Essa mudança de rumo musical<br />

foi intencional?<br />

Sim, foi intencional. Nós sempre comentamos sobre a “maneira<br />

HIBRIA” de compor, e isso é muito característico em nosso som.<br />

Isso vem se refletindo nos últimos CDs lançados. No Blind Ride<br />

esta forma veio bem forte. Pesamos a mão e deixamos as melodias<br />

de voz mais agressivas e não tão agudas e achamos que o resultado<br />

foi excelente, principalmente nos país que nos apoiou desde o início<br />

da nossa discografia, o Japão. A repercussão do Blind Ride foi tão<br />

grande que gravamos o DVD Blinded by Tokyo, com a casa completamente<br />

lotada.<br />

URR: Foi com ‘Blind Ride’ que a banda conseguiu gravar<br />

seu primeiro DVD, ‘Blinded By Tokyo’, que, como o nome já<br />

entrega, foi gravado no Japão. Como surgiu a proposta?<br />

Já tínhamos duas turnês feitas no Japão sendo que uma delas<br />

foi nossa primeira participação no Loud Park (2009). Com o Blind<br />

Ride, estávamos iniciando nosso relacionamento com nossa gravadora<br />

King Records e eles sabiam do potencial da banda em terras<br />

nipônicas. Então, nosso management na época lançou a ideia de<br />

6 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


fazermos uma turnê do novo álbum culminando na gravação de um<br />

DVD no último show da Turnê em Tóquio. Eles aceitaram na hora<br />

e então planejamos para que tudo desse certo e acredito que deu<br />

mesmo. Foi um dos melhores shows de nossas carreiras em todos<br />

os sentidos. O DVD foi gravado em apenas um show e acredito que<br />

o resultado final ficou muito bom mesmo.<br />

URR: País distante, sem saber falar fluentemente a língua.<br />

Como foram os minutos que antecederam a entrada no palco no<br />

dia da gravação do DVD?<br />

De muita emoção, adrenalina e, naturalmente, devido à responsabilidade<br />

do show, tensão. Chega a ser engraçado até. No<br />

Japão em grandes casas de shows, como foi o caso da gravação<br />

do DVD (Shinagawa Prince Stellar Ball), no camarim, eles costumam<br />

deixar uma TV com imagens da chegada do público. Lembro<br />

que faltavam uns 30 minutos e a casa completamente vazia,<br />

a ponto do Eduardo desligar a TV, pois até aquele ponto, a casa<br />

estava vazia. Claro, isso é cultura dos japoneses. Eles entram nos<br />

últimos minutos, tipo faltando uns dez minutos para o show iniciar.<br />

Mas na hora que a intro do show começou e ouvimos o urro<br />

do público, nos abraçamos em uma roda como costumamos fazer<br />

em todos os shows, e falamos palavras de incentivo muito fortes.<br />

Entramos com uma super adrenalina e fizemos com certeza um<br />

dos melhores shows de nossas carreiras.<br />

URR: Silent Revenge’ é o quarto álbum do Hibria e podemos<br />

ver uma banda mais equilibrada entre o moderno e o tradicional,<br />

mas especialmente mais pesada, contando inclusive com a participação<br />

do vocalista da lendária banda de Thrash Metal Distraught,<br />

André Meyer. O que vocês podem nos contar deste disco?<br />

No Silent Revenge posso dizer que a banda toda estava “ansiosa”<br />

para colocar nas novas composições toda raiva e peso após<br />

termos visto o premiado filme argentino O segredo dos seus Olhos.<br />

Este filme é um clássico e nele pudemos tirar várias lições de coisas<br />

que acontecem em nossas vidas e às vezes nem percebemos. O<br />

Abel tomou a frente das composições e a cada som que nos enviava,<br />

sentíamos que esse seria o álbum mais pesado da carreira da banda.<br />

Outro fator que contribuiu para essa sonoridade pesada e densa foi<br />

a entrada do Renato Osorio no HIBRIA. Além de excelente guitarrista,<br />

ele assumiu a produção musical do Silent Revenge e ajudou<br />

muito no trabalho de finalização dos sons. Também não poderia<br />

esquecer que a mixagem feita pelo nosso baixista Benhur Lima, ficou<br />

simplesmente perfeita para esse novo “clima” que trabalhamos<br />

no Silent Revenge. Por sinal, Benhur também foi responsável pela<br />

mixagem do DVD Blinded by Tokyo.<br />

URR: O trabalho, lançado no ano passado, também marca<br />

um crescimento exponencial da banda no Brasil, inclusive levando<br />

vocês a tocar no famigerado Rock In Rio. Conte-nos um<br />

pouco de como foi estar no palco do maior festival de Rock do<br />

mundo e como foi o ano de 2013 para vocês.<br />

Tens razão. 2013 foi um ano espetacular para o HIBRIA. Finalmente<br />

conseguimos ser vistos dentro do nosso próprio país. Até<br />

então, o HIBRIA no Brasil era reflexo da excelente repercussão que<br />

temos no Japão. Mas, a banda é daqui e queremos crescer aqui também.<br />

Com o Silent Revenge, fomos eleitos pela votação popular, o<br />

melhor álbum de 2013 em um dos sites mais conceituados do país,<br />

ficamos 4 semanas em primeiro lugar nas vendas on-line na maior<br />

rede de lojas virtuais do Japão, a HMV, e recebemos o convite da<br />

produção do Rock in Rio para fazermos o show que toda banda<br />

sonha em fazer, e a banda finalmente começou a ter a tão esperada<br />

valorização no Brasil. Não podemos reclamar porém queremos<br />

mais. O SR ainda continua refletindo esses aspectos positivos, tanto<br />

é que fomos convidados para participar também de outro grande<br />

festival já em 2014, o Abril Pró Rock em Recife. Com ele tivemos a<br />

oportunidade de pela primeira vez tocar em Recife, e a repercussão<br />

foi excelente.<br />

URR: Dando uma geral na discografia, me parece que todos<br />

os álbuns do Hibria são conceituais, ou tem o mesmo tema<br />

interligando as músicas. Estou errado? O que vocês usam de<br />

influência para as letras?<br />

Nos dois primeiros álbuns, Defying the Rules e The Skull Collectors,<br />

basicamente falando, usamos um conceito que girava em<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 7


torno da luta entre o bem e o mal, traçando um paralelo com a teoria<br />

que todo o mal que você faz para alguém, acaba voltando para você<br />

novamente. Já os dois últimos, Blind Ride e Silent Reveng, foram<br />

baseados em um livro (O Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago,<br />

Blind Ride), e um filme (O Segredo dos Seus Olhos, Silent Revenge).<br />

Não os consideramos conceituais. São álbuns baseados em<br />

histórias nas quais achamos que os temas tratados e as atmosferas<br />

contadas tanto no livro como no filme, se encaixariam perfeitamente<br />

nas as letras e na sonoridade das músicas.<br />

URR: Voltando ao ‘Defying The Rules’. Este ano ele completa<br />

10 anos desde seu lançamento. Podemos esperar alguma<br />

comemoração?<br />

Sim. O álbum foi lançado em 2004 no Japão e com ele iniciamos<br />

a ótima relação com os fãs de lá. Então estamos regravando o<br />

CD com a atual formação da mesma forma que costumamos tocar<br />

as músicas hoje. Ou seja, o CD virá com outra sonoridade. Mais<br />

maduro, mais pesado e com a experiência e a técnica que a banda<br />

ganhou ao longo destes 10 anos. Ele será lançado só no Japão, mas<br />

queremos fazer tour dele aqui no Brasil também.<br />

URR: O que mais podemos esperar para o futuro do Hibria?<br />

Nós queremos alcançar e cravar a nossa bandeira no mundo<br />

todo. Já conseguimos vários destaques importantes lá fora como<br />

cinco turnês em cinco anos no Japão tocando duas vezes no maior<br />

festival de Heavy Metal de lá, o Loud Park. Fomos a única banda<br />

de Heavy Metal do Brasil a tocar duas vezes na China (Shanghai<br />

em 2011 e Shangsha em 2013), Tocamos em Seul, Taiwan e Hong<br />

Kong. Na América do Norte, fizemos uma turnê costa a costa no<br />

Canadá começando em Victoria - British Columbia e terminando<br />

em Quebec. Estamos crescendo muito nos EUA e na Europa. Um<br />

dos nossos principais objetivos é cravar a nossa bandeira nos lugares<br />

que ainda não tivemos a oportunidade de tocar NO BRASIL, e<br />

retornar aos que já tocamos. Já tocamos no Rio de Janeiro, São Paulo,<br />

Belém, Recife, Natal, Rio Branco, Criciúma, São Luis, Teresina,<br />

Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, que é nossa cidade<br />

natal, entre outras cidades do país e do interior do RS. Queremos<br />

tocar em várias cidades dentro do nosso país e mostrar aos nossos<br />

fãs que ainda não viram nosso show o potencial das nossas músicas<br />

ao vivo. Sabemos das dificuldades de deslocamento aqui no Brasil,<br />

mas também temos certeza que vocês não se arrependerão após ver<br />

o nosso show. Então peça para o promotor local entrar em contato<br />

pelos e-mails shows@hibria.com ou management@hibria.com<br />

URR: Espaço livre, deixem seu recado para os leitores da<br />

Underground Rock Report!<br />

Agradeço mais uma vez o espaço, e se você ainda não conhece o<br />

nosso som, vá atrás da nossa discografia, curta nossa página no facebook.com/HIBRIAOFFICIAL,<br />

nos siga no twitter.com/HIBRIA(@<br />

HIBRIA), deixe um recado no nosso guestbook em HIBRIA,COM<br />

e espalhe nosso som para os seus amigos. Foi assim que o HIBRIA<br />

sempre cresceu, e continua crescendo cada vez mais: pelo boca a<br />

boca de nossos fãs. Isso que nos dá ainda mais vontade de continuar<br />

traçando esse árduo caminho que é a música. Temos muito prazer e<br />

orgulho de fazer parte de uma banda com quase 20 anos de história.<br />

8 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Behemoth<br />

The Satanist<br />

Nuclear Blast – Importado<br />

Confesso que o Behemoth era o tipo<br />

de banda que nunca me chamou a<br />

atenção até eu ouvir esse excelente novo<br />

álbum deles lançado no começo de 2014,<br />

depois de um intervalo de 5 anos desde o<br />

ultimo lançamento da banda.<br />

Com um tema bem denso, The Satanist<br />

sem duvida coloca o Behemoth no topo<br />

da lista das bandas de Black Metal que<br />

produzem álbuns de extrema qualidade<br />

e perfeição sonora, o baixo por exemplo,<br />

nesse CD está simplesmente incrível.<br />

Suas nove músicas formam um tracklist<br />

eficiente, com elementos que vão<br />

do death ao black sem maiores cerimônias.<br />

Com criatividade e inspiração, o<br />

Behemoth brinda os ouvintes com pequenas<br />

obras-primas como “Blow Your<br />

Trumpets Gabriel”, a sensacional “Messe<br />

Noire” (com um solo de guitarra arrebatador),<br />

“Ora Pro Nobis Lucifer”,<br />

“In the Abscence ov Light” e a exemplar<br />

faixa-título, já valem o CD inteiro.<br />

Por enquanto não há uma versão nacional<br />

desse álbum, disponível apenas<br />

nas versões européia e americana. Na<br />

Europa saiu pela Nuclear Blast e nos<br />

EUA pela Metal Blade. A versão européia<br />

vem no formato digibook e acompanha<br />

um DVD de um show deles em<br />

Ekaterinburg na Russia.(LM)<br />

Negator<br />

Gates to the Pantheon<br />

Prosthetic Records – importado<br />

vocalista e líder do Negator, Nachtgarm<br />

ficou relativamente conheci-<br />

O<br />

do mundialmente por ter substituído<br />

o Emperor Magnus Caligula no Dark<br />

Funeral entre 2010 e 2011, passando<br />

inclusive pelo Brasil para uma única<br />

apresentação. Mas poucos sabem que<br />

Nachtgarm tem sua própria banda na<br />

ativa desde 2003 com 4 álbuns já lançados<br />

e faz parte de um projeto paralelo<br />

chamado King Fear.<br />

Gates to the Pantheon é o quarto álbum<br />

do grupo alemão, traz um Black<br />

Metal cru e ao mesmo tempo com uma<br />

musicalidade excepcional , com letras<br />

inteligentes , bem como um equilíbrio<br />

de estruturas musicais rápidas e lentas ,<br />

brutais e melódicas , o álbum irá satisfazer<br />

tanto os fãs do estilo Black Metal<br />

old school como fãs do moderno Black<br />

Metal. Pra quem viu Nachtgarm a frente<br />

do Dark Funeral tem a nítida impressão<br />

que está escutando um novo álbum do<br />

Dark Funeral totalmente reformulado<br />

ao ouvir esse CD. Destaque desse álbum<br />

fica para as canções Nergal, The<br />

Raging King e The Urge For Battle, que<br />

realmente são os pontos mais altos do<br />

CD, as outras 7 musicas mantém o excelente<br />

bom ritmo.(LM)<br />

Sardonic Impious<br />

Obscuridade Eterna<br />

Corvo Records – Nacional<br />

Sardonic Impious é uma banda bem<br />

O conhecida no circuito underground<br />

paulistano, já tocou ao lado de bandas<br />

como Besatt, Mystifier e Ocultan.<br />

Obscuridade Eterna é o primeiro CD<br />

da banda lançado em tiragem limitada<br />

pela Corvo Records em 2013.<br />

O quinteto de Atibaia surpreende<br />

pela boa produção das musicas para um<br />

CD début, passando bem longe do amadorismo<br />

comum das bandas iniciantes.<br />

São nítidas as influências de bandas<br />

tradicionais de Black Metal nesse CD,<br />

mesmo com as letras cantadas em português<br />

mas devido a velocidade como<br />

elas são executadas, o ouvinte que não<br />

sabe a procedência da banda nem perceberá<br />

que se trata de uma banda brasileira,<br />

é sinal que cada vez mais as produções<br />

nacionais não ficam devendo nada<br />

as bandas gringas.<br />

O CD contém 9 faixas e o destaque<br />

fica para a musica o Mestre das Ciências<br />

Malditas, que apresenta uma incrível<br />

levada de guitarras. É uma banda<br />

que merece toda atenção. (LM)<br />

Khaotic<br />

Tenebrae<br />

Pazuzu Records- Nacional<br />

Sem sombra de duvidas este foi um<br />

dos lançamentos mais criativos e<br />

promissores dentro do metal brasileiro<br />

no ano de 2013.<br />

É a primeira vez que me deparo com<br />

um projeto one woman band, o mais<br />

comum que se ve por ai é justamente o<br />

oposto, one man band , o que na maioria<br />

das vezes são clones do Bathory nas<br />

mais variadas versões. Não é o caso<br />

do Khaotic, que apresenta um Black<br />

Metal que transita entre o old school<br />

tradicional e uma atmosfera viajante<br />

mas cheio de personalidade própria,<br />

principalmente nos vocais que estão<br />

inacreditáveis. Quem está por trás<br />

desse maravilhoso projeto é Lady of<br />

Blood, veterana guitarrista do Ocultan,<br />

que nesse CD faz os vocais e toca todos<br />

os instrumentos sob o pseudônimo<br />

de D Profaner. Mas não tire conclusões<br />

precipitadas, a sonoridade está muito<br />

diferente do que já é conhecido nos álbuns<br />

do Ocultan.<br />

Esse CD é um verdadeiro deleite<br />

para os fãs do universo Black Metal,<br />

com uma arte de capa no melhor estilo<br />

Watain e um encarte bem produzido<br />

com letras, digno de banda gringa<br />

mainstream. Apesar do CD manter uma<br />

mesma pegada, na minha opinião os<br />

pontos mais altos do álbum vão para<br />

Cancer, Mass Submission, Tenebrae<br />

e Words of Blasphemy. Que venha o<br />

próximo álbum já em fase de produção<br />

em 2014.(LM)<br />

Deicide<br />

In the Minds of Evil<br />

Century Media Records - Importado<br />

Deicide já teve seus anos de glória<br />

O com os 3 primeiros álbuns de sua<br />

carreira, que para mim são uma verdadeira<br />

obra prima do Death Metal. Depois<br />

de Serpents of the Light a banda<br />

caiu na mesmice com sucessivos álbuns<br />

cheios de altos e baixos até a saída dos<br />

irmãos Hoffmann após o bem sucedido<br />

Scars of Crucifix.<br />

In the minds of Evil é o décimo primeiro<br />

album de estúdio do Deicide e é<br />

o melhor trabalho deles desde Stench of<br />

Redemption, mas não é nada comparável<br />

aos três primeiros álbuns da década<br />

de 1990, porém é muito melhor do que<br />

o Till Death to us Apart e o to Hell With<br />

God. A impressão que o ouvinte fica é<br />

que eles acertaram a mão com esse álbum<br />

nos excelentes riffs, já os vocais<br />

de Glen Benton continuam na mesma<br />

pegada de sempre.<br />

Desde que Kevin Quirion foi anunciado<br />

como o substituto de Ralph Santolla<br />

, eu me perguntava o que a banda<br />

soaria com o seu desempenho e influência.<br />

A espera valeu a pena pois suas<br />

composições são uma das principais<br />

razões deste álbum soar tão bom. Não<br />

desconsiderando as contribuições dos<br />

outro membros da banda, é claro.<br />

Canções como “Godkill” e “Between<br />

the flesh and the Void” são marcas<br />

registradas do Deicide , com solos ,<br />

riffs assombrosamente épicos e bateria<br />

esmagadora do Steve Asheim, resultam<br />

em maldade pura que esta banda tornou-se<br />

mundialmente conhecida. As letras<br />

de Benton são tão blasfemas como<br />

sempre, mas não é tão vulgar como têm<br />

sido nos últimos álbuns.<br />

Mas quem liga para o que ele está<br />

falando? (LM)<br />

Heldentod<br />

Virradat<br />

Pagan War Records – Importado<br />

cena metálica húngara é desconhecida<br />

aqui no Brasil. Boa parte des-<br />

A<br />

sas bandas do Leste europeu se apegam<br />

a temas sobre segunda guerra mundial<br />

e paganismo,se você curte essa parte do<br />

Black Metal,certamente você achará essa<br />

banda um tanto desconhecida sensacional.<br />

Musicalmente os húngaros do Heldentod<br />

lembram conhecidas bandas<br />

dessa vertente do Black Metal como<br />

Absurd, Graveland , inclusive a capa<br />

desse CD lembra bastante o álbum Dictator<br />

do Ad Hominem.<br />

Os destaques ficam para a faixa titulo,<br />

Virradat que é destruidora como um panzer<br />

division, se bem que A Szoláris Rend<br />

Diadala não fica muito atrás, com uma<br />

velocidade de guitarras incrível. Mors<br />

Triumphalis e Az Acél Igazsága apresentam<br />

um som bem cadenciado e viajante<br />

que cativam o ouvinte.<br />

O álbum Virradat é de 2014 e no<br />

Brasil a banda Heldentod está sendo<br />

distribuída pela Pazuzu Records, vale<br />

muito a pena ter na sua coleção. (LM)<br />

Gasoline Special<br />

RCK ‘N’ RLL<br />

Independente - Nacional<br />

Fundada em 2007, na cidade de Jundiaí,<br />

interior de São Paulo, este Gasoline<br />

Special nos presenteia com um novo<br />

trabalho, e que pesam todas as críticas e<br />

elogios, mas isso aqui é Rock´n Roll!<br />

Um trabalho consistente, dinâmico<br />

e bem acabado, recheado de riffs<br />

marcantes e letras incisivas, irônicas e<br />

melancólicas, e trazendo o que se convencionou<br />

chamar de Rock do Interior, e<br />

como é dito no próprio release da banda:<br />

“Pode-se dizer que o Gasoline Special<br />

representa muito bem o rock do interior.<br />

O rock que nasce espremido, tentando<br />

achar buracos pra respirar. O volume no<br />

talo que faz vibrar o tímpano e o peito. O<br />

volume alto que conquista bons inimigos<br />

e eternos fãs. É aquela mão que aumenta<br />

o som pra não ter que ouvir o barulho<br />

que vem de fora. Gasoline Special não<br />

dá chance pra qualquer pensamento. É<br />

energia. E da boa.”. Alguém dúvida?<br />

Rock direto, sem firulas e esbanjando<br />

energia prá todos os lados, RCK ‘N’<br />

RLL, é o primeiro álbum da banda, apesar<br />

de já ter lançado singles e EPs que<br />

fizeram a alegria da galera, este grita<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 9


letras em português e esbraveja insultos<br />

pra todos os lado, belíssimas linhas de<br />

guitarra, cozinha arrasa quarteirão e interpretações<br />

vocais bem na linha “traga-<br />

-me uma cerveja e cale a boca”.<br />

Produzido e gravado no Bimini Studio<br />

por Bruno Fornazza, o disco tem<br />

uma dinâmica matadora e coesão e a<br />

capa, mais uma obra primorosa do artista<br />

brasileiro Butcher Billy, que assina<br />

tantas obras icônicas quanto possível,<br />

quer ver? Coloca o nome do cara no<br />

Google e veja só o que acontece.<br />

Gasoline Special - RCK ‘N’ RLL, é<br />

um disco que nos traz alegrias e momentos<br />

de descontração ímpares, que é exatamente<br />

o que o Rock´n Roll deve fazer.<br />

Sem palavras prá esse trabalho! (JPC)<br />

Shadows Legacy<br />

You’re Going Straight To Hell<br />

Independente - Nacional<br />

Que disco é esse??? Impossível, principalmente<br />

para quem vem da safra<br />

do Heavy Metal dos anos 80 ficar<br />

indiferente ao som do Shadows Legacy,<br />

desde o Web EP Rage and Hate a banda<br />

sempre me impressionou justamente<br />

por essa veia oitentista e com a qualidade<br />

com que compõem suas músicas.<br />

Lógico que os méritos desta formação,<br />

são indiscutíveis, mas o trabalho do<br />

vocalista Willie Cardoso é primoroso!<br />

Dono de um timbre potente e de uma voz<br />

carismática, além de compor suas linhas<br />

de voz com um bom gosto invejável!<br />

You’re Going Straight To Hell se define<br />

em uma única palavra: Perfeito!<br />

Tudo aqui beira a perfeição e a banda se<br />

apresenta com uma máquina muito bem<br />

regulada, a produção feita no Estúdio<br />

Anúbis, com o produtor Aldo Carminefoi<br />

foi muito bem cuidada e o tudo ainda<br />

vem embalado numa belíssima capa,<br />

cortesia do artista Leonardo Amorim.<br />

Todas as músicas tem o seu charme<br />

e a sua característica, ficando impossível<br />

até mesmo citar Hate Within, com<br />

participação do icônico e eterno ex-Iron<br />

Maiden Blaze Bayley como destaque,<br />

ainda que a música salte aos olhos.<br />

Sendo assim o destaque fica mesmo<br />

para toda a banda, que nos presenteou<br />

com uma obra de bom gosto e beleza<br />

ímpares e funcional até a última faixa.<br />

Eu disse que ia esperar acordado por<br />

este lançamento, e a espera não foi em<br />

vão. Impossível parar de ouvir! (JPC)<br />

Demolishment<br />

Our Fury is Unleashed<br />

Independente - Nacional<br />

Muita raiva e fúria é o que vamos<br />

encontrar neste primeiro traba-<br />

10 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong><br />

lho da banda carioca Demolishment,<br />

Formada por Thiago Barbosa - Vocais,<br />

Diego Sandiablo - Guitarras, Bruno<br />

Tavares - Guitarras, Elias Oliveira -<br />

Baixo e Diogo Barbosa - Bateria.<br />

Tudo muito bem executado, rifs<br />

matadores, bateria extrema e com<br />

muita variação, e vocais muito bem<br />

encaixados e auxiliados por vocais<br />

rasgados e guturais, uma cortesia da<br />

sessão de cordas.<br />

Abrindo o trabalho temos Challenger,<br />

que não deixa pedra sobre pedra e<br />

já deixa nossos neurônios em propulsão<br />

esperando pelo restante do massacre,<br />

Insurgent vem numa pegada mais<br />

amena, mas não deixa a peteca cair;<br />

Age of Doom, traz de volta a ferocidade<br />

e expõe toda a técnica apurada<br />

da banda; finalizando temos Abscond<br />

(minha preferida por sinal...) com variações<br />

inacreditavelmente insanas, a<br />

música flui com naturalidade calcada<br />

em ótimo andamentos e variações.<br />

Tudo aqui possui qualidade e percebemos<br />

logo que todos os músicos do<br />

Demolishment tem intimidade acima<br />

da média com seus instrumentos, e<br />

isso com certeza conta pontos positivos<br />

a favor da banda, que nos brinda<br />

com brutalidade, solos melodiosos,<br />

baixo e bateria aranca-toco, mas que<br />

unem peso e técnica conferindo ao trabalho<br />

uma dose extra identidade.<br />

Our Fury is Unleashed, tem quatro<br />

faixas com gosto de quero mais. Estamos<br />

ansiosos aguardando um full<br />

lenght. (JPC)<br />

Zombie Cookbook<br />

Outside The Grave<br />

Independente - Nacional<br />

Tente imaginar uma banda onde o<br />

vocal nos remete ao Obituary e ao<br />

mesmo tempo o glorioso Chakal, backing<br />

lembram Anthrax dos bons tempos<br />

e que mistura Death Metal com Thrash<br />

Metal de forma muito homogênea, praticamente<br />

nos obrigando a dar atenção a<br />

banda como um todo. Não dá né?<br />

Mas uma audição descompromissada<br />

deste Outside the Grave do Zombie<br />

Cookbook é exatamente o que você vai<br />

encontrar, se você resolver ir a fundo<br />

no negócio vai encontrar muito mais do<br />

que a descrição acima.<br />

Essa banda de Joinville (SC), além<br />

de ser excelente e mesmo sendo esse o<br />

primeiro full lenght (em 2011 a banda<br />

lançou EP Cine Thrash) essa horda de<br />

zombies cometeram um CD dos mais<br />

empolgantes e musicais do ano de 2012,<br />

onde as nove músicas fluem naturalmente<br />

pelo player e pedem um repeat<br />

constante, difícil parar de ouvir esse<br />

CD. Ponto para a produção que deixou<br />

tudo bem equilibrado e audível, com<br />

uma sujeirinha básica prá dar um molho<br />

e peso mais que especial ao trabalho.<br />

Liricamente o Zombie Cookbook<br />

aposta em temas splatter/gore, e se mostram<br />

muito criativos em seus temas e<br />

letras, divertido acompanhar as letras no<br />

encarte. Encarte que aliás, é um primor<br />

de qualidade e criatividade, porque não<br />

se resume a ter todas as informações sobre<br />

o trabalho, a banda e as letras, tem,<br />

também, uma história em quadrinhos,<br />

muito legal, onde é contada a história da<br />

formação (por zumbis, lógico) da banda.<br />

Este material foi patrocinado pela<br />

Fundação Cultural de Joinville, através<br />

de um Edital de Apoio à Cultura (SI-<br />

MDEC), e sendo assim a Procuradoria<br />

Geral da cidade soltou um parecer onde<br />

diz que o material é impróprio, ofensivo<br />

e inadequado, pelo que estabelece o Estatuto<br />

da Criança e Adolescente, e acredite,<br />

solicitou a adequação do mesmo<br />

de forma a compatibiliza-lo ao direito à<br />

liberdade de expressão e artística, consagrados<br />

em nossa Constituição Federal.<br />

A arte não sofreu alterações, mas o encarte<br />

vem com o aviso de que o material é impróprio<br />

para “crianças, adolescentes, cardíacos<br />

e pessoas facilmente impressionáveis”.<br />

E como disse o Procurador Geral: “Não<br />

se pode proibir a veiculação do material,<br />

sob pena de flagrante censura da liberdade<br />

de expressão artística e cultural. Em nosso<br />

entender, não há incompatibilidade entre os<br />

princípios, devendo existir o cuidado para<br />

harmonizá-los, de modo que possam conviver<br />

e se complementarem para atingir os<br />

ideais preconizados por nossa Lei Maior,<br />

quais sejam: o da liberdade com responsabilidade<br />

e respeito das diferenças”.<br />

Bom, se você nao for uma pessoa “facilmente<br />

impressionável” com certeza vai<br />

se deleitar com este trabalho do Zombie<br />

Cookbook, além de ser musicalmente irrepreensível,<br />

atua na temática com “bom<br />

gosto” e conhecimento de causa. (JPC)<br />

D.I.E. - D.I.E.<br />

Independente - Nacional<br />

mais uma vez, a região em torno<br />

E da cidade de São Paulo parece ser<br />

um celeiro de bons grupos musicais, e<br />

em termos de Metal, parece mesmo um<br />

caldeirão com uma mistura explosiva.<br />

E destilando um Crossover raivoso e<br />

bem metalizado, é a vez dos mascarados<br />

do D.I.E. mostrarem suas forças em<br />

“D.I.E.”, seu EP de estréia.<br />

O quarteto usa de muitas influências<br />

diferentes em seu Crossover denso e bem<br />

personalizado (há toques bem evidentes<br />

de Pantera na sonoridade, e de Hatebreed<br />

em alguns tempos), soando pesado<br />

e intenso em cada uma das músicas do<br />

EP, que não é cansativo em momento algum.<br />

Vocais urrados (que chegam a usar<br />

tons que parecem o Brujeria em alguns<br />

momentos), riffs de guitarra bem fortes<br />

e azedos, baixo e bateria com boa técnica<br />

e peso, sabendo não serem presos a<br />

um único tipo de andamento, dando uma<br />

dinâmica sonora bem interessante ao disco.<br />

É ouvir e cair no mosh!<br />

A gravação ficou bem legal, em<br />

bom nível, sabendo deixar os instrumentos<br />

bem claros aos ouvidos e sem<br />

esconder os arranjos, embora o vocal<br />

esteja um pouquinho mais alto. Mas<br />

nada que estrague o trabalho do quarteto,<br />

de forma alguma.<br />

Em termos de composição, como<br />

dito acima, a banda mostra timbres<br />

bem escolhidos e arranjos bem brutais,<br />

mas ao mesmo tempo, percebe-se que o<br />

grupo ainda está um pouquinho cru, ou<br />

seja, ainda estão se acertando dentro da<br />

própria proposta musical, e isso é bom.<br />

É bom porque mostra que o grupo, em<br />

breve, terá uma sonoridade bem própria<br />

e diferenciada.<br />

O grupo usa máscaras estilo luta-<br />

-livre, logo, podem esperar que a rápida<br />

e intensa “Tit for Tat”, a mais cadenciada<br />

e empolgante “D.I.E.”, a explosiva e<br />

com andamento moderado (embora com<br />

dois bumbos fantásticos) “Predicted” e<br />

e a direta e seca “Run Out of Air” mostrem<br />

que o grupo não tem por ponto forte<br />

a individualidade (embora cada um se<br />

mostre um bom músico), mas que é uma<br />

música que flua intensa como um todo,<br />

suficiente para deixar pescoços doendo.<br />

Uma boa revelação, mas esperamos<br />

grandes coisas deles em breve. (MG)<br />

Sangrena<br />

Blessed Black Spirit<br />

Darzamadicus Records - Nacional<br />

incrível como a escola brasileira de<br />

É Metal é capaz de criar bandas que<br />

sejam verdadeiras mutações, e isso no<br />

bom sentido. Sim, pois aqui, muitos<br />

vão ganhando um bojo de influências<br />

musicais, mas na hora de processar e<br />

transformar isso em música, sempre temos<br />

algumas surpresas interessantes. E<br />

o Sangrena, de Amparo (SP), realmente<br />

mostra em seu primeiro trabalho, “Blessed<br />

Black Spirit”, que tem espírito, garra<br />

e raça para gerar algo diferente.<br />

A banda trabalha nas trincheiras do<br />

Death Metal mais tradicional à lá anos<br />

90, na mesma veia de bandas como<br />

Morbid Angel, Sinister e Immolation,<br />

ou seja, agressividade saindo pelos poros.<br />

Mas mesmo assim, rotular a banda<br />

como Death Metal tradicional puro e<br />

simples não lhes faz justiça, já que algumas<br />

nuances não convencionais estão<br />

ali, presentes sob a massa de vocais urrados<br />

extremos, riffs coesos e pesados,<br />

solos distorcidos e bem doentios (mas<br />

há momentos que certo esmero se faz<br />

presente), baixo e bateria muito bem entrosados<br />

em uma base rítmica pesada e<br />

bem diversificada (as mudanças de andamento<br />

mostram o quanto são eficientes,<br />

inclusive com o baixo mostrando<br />

momentos dedilhados incríveis, como<br />

em “Reign of Illusions”). Juntando isso,<br />

vemos uma música brutal e opressiva,<br />

mas que tende a crescer mais e mais.<br />

Produzido por Fábio Ferreira (guitarrista<br />

do grupo), a sonoridade do disco é<br />

bem opressiva, compacta, bruta, mas com<br />

boa qualidade. É fácil compreender os<br />

instrumentos musicais, perceber que os<br />

timbres não são lá muito complicados ou<br />

rebuscados. Poderia ter um pouco mais de<br />

qualidade, é fato, mas isso não quer dizer<br />

que está ruim. E a arte de Stephanie Dole<br />

ficou muito boa para a capa, casando perfeitamente<br />

com as músicas e letras.<br />

O disco inteiro é muito bom, mostrando<br />

mais uma vez que o processo


de composição foi bem mesurado, com<br />

destaques para a bruta e rápida “When<br />

the Masks Fall” (com certos toques de<br />

Thrash Metal nos riffs, além de vocalizações<br />

muito bem postadas), a agressiva<br />

“Cursed by Revenge” (Death Metal<br />

tradicional brutal, com riffs bem trabalhados,<br />

e bateria precisa. Mas reparem<br />

como algumas melodias aparecem nos<br />

solos), o pesadelo sonoro de “Abyss of<br />

Souls” (a típica faixa mais cadenciada e<br />

abrasiva, com belos dedilhados do baixo,<br />

mostrando que esse zagueiro sabe<br />

marcar gols), a veloz e cavalar “Blessed<br />

Black Spirit” (baixo e bateria mostram<br />

uma força bem dinâmica e agressiva na<br />

base), a mais trabalhada (ainda que bem<br />

brutal) “Reign of Illusions” (muitas mudanças<br />

de andamento, com riffs agressivos<br />

muito bons e bela presença do<br />

baixo mais uma vez. Mas se repararem,<br />

melodias que lembram um pouco o Iron<br />

Maiden surgem nas guitarras), a bem<br />

trabalhada “City of Hanged People”.<br />

Sim, o Sangrena mostra no CD que tem<br />

potencial para ser grande, bem como é uma<br />

banda que a dinâmica é a tônica de seu trabalho.<br />

Logo, esperamos que o próximo nos<br />

traga surpresas bem agradáveis. (MG)<br />

Warfather<br />

Orchestrating the Apocalypse<br />

Greyhaze Records - Importado<br />

Sempre que uma nova banda, com<br />

integrantes conhecidos no meio do<br />

Metal e do Rock, surge, logo uma pergunta<br />

extremamente rotineira é feita:<br />

“será que ela manterá os traços de algum<br />

trabalho feito por seus membros?”<br />

É uma pergunta que coloca qualquer<br />

bom trabalho em xeque, que realmente<br />

pode pôr tudo a perder, já que muitos<br />

se decepcionam por encontrar (ou não)<br />

traços de similaridades. Mas sempre<br />

é um desafio para ouvintes e bandas,<br />

ainda mais quando as mesmas oferecem<br />

algo salutar, como o Warfather nos<br />

concede em sua estréia com o excelente<br />

“Orchestrating the Apocalypse”.<br />

Antes de tudo, temos a presença de<br />

músicos com bandas como Nile, Morbid<br />

Angel, Prostitute Disfigurement, Sinister<br />

e Deströyer 666 em seus currículos,<br />

logo, experiência não é problema. Inclusive,<br />

a banda é tem um toque que foge<br />

de fronteiras, pois Deimos (bateria) é<br />

holandês, Avgvstvs (baixo) é brasileiro,<br />

e Steven Tucker (guitarras e vocais, e<br />

sim, é ele mesmo) é Norte-americano.<br />

E a música do Warfather é uma golfada<br />

brutal, opressiva e técnica de Death Metal,<br />

mostrando um trabalho diferenciado.<br />

Steve Tucker acompanhou o processo<br />

de gravação (que foi feito nos EUA e<br />

Holanda), e ainda mixou o trabalho. A<br />

masterização é de Maor Appelbaum. E a<br />

qualidade sonora de “Orchestrating the<br />

Apocalypse” é bem acima da média, sabendo<br />

ser limpa, bem seca e clara, mantendo<br />

todos os instrumentos audíveis com boa<br />

escolha de timbres, mas o peso é sensível.<br />

Na realidade, é um peso monumental.<br />

A arte de Ken Coleman é algo belo e totalmente<br />

antenado com a realidade sonora/<br />

lírica da banda, em especial com a letra de<br />

“Gods and Machines”. E tudo isso em um<br />

belíssimo Digipack de seis painéis!<br />

A música do quarteto é vibrante e<br />

cheia de energia, pesada e densa, mas ao<br />

mesmo tempo, vemos que “Orchestrating<br />

the Apocalypse” é um disco muito<br />

bem construído e finalizado, com cada<br />

aspecto sonoro esmerado, mas sem obliterar<br />

a espontaneidade do trabalho, com<br />

arranjos muito bem pensados e cuidados<br />

de forma a preencher as canções.<br />

Uma ótima revelação, e é bom ver<br />

esses sujeitos na ativa. E ainda por<br />

cima, nos brindando com um disco tão<br />

bom. (MG)<br />

Julia Crystal<br />

A Journey to Shamballa<br />

Independente - Nacional<br />

interessante dar uma olhada profunda<br />

em alguns estilos musicais um<br />

É<br />

pouco diferentes vez por outra, e não<br />

é de hoje que nos deparamos com similaridades<br />

deles com o Metal, devido<br />

muitas vezes às diferentes influências<br />

que os fãs (que um dia acabam entrando<br />

em bandas, ou mesmo seguindo uma<br />

carreira dentro do universo musical)<br />

aglutinam, e que os músicos ganham ao<br />

estudarem parte mais teórica da coisa<br />

toda. Logo, é um enorme prazer para<br />

o Metal Samsara abrir suas portas mais<br />

uma vez para um gênero irmão e trazer<br />

ao conhecimento de todos o primeiro<br />

álbum de Julia Crystal, o sublime “A<br />

Journey to Shamballa”.<br />

A priori, poderíamos pensar em classificar<br />

o CD como um trabalho mais<br />

voltado à New Age, mas logo elementos<br />

de Rock Progressivo, Pop e outros vão<br />

se aglutinando, e em alguns momentos,<br />

sentimos a um pouco certa similaridade<br />

com trabalhos de cantoras como Liv<br />

Kristine e Anneke Van Giersbergen, mas<br />

não nos enganemos: o trabalho de Julia é<br />

bem mais amplo que nossos sentidos podem<br />

compreender em certos momentos,<br />

e cada ouvida em “A Journey to Shamballa”<br />

é uma nova e deliciosa descoberta<br />

para ouvidos cansados de estilos mais<br />

agressivos. Aliás, ouvidos cansados de<br />

tantas tralhas (musicais ou não) que somos<br />

forçados a ouvir todos os dias.<br />

Na realidade, este é um projeto de<br />

Julia (uma cantora de formação lírica)<br />

em conjunto com Alex Voorhees (produtor<br />

musical e vocalista da banda Imago<br />

Mortis), e cheio de convidados de<br />

peso, como Alex Navar (do Kernunna,<br />

e tocou gaita irlandesa e Tin Whistle),<br />

Pedro Santos (Palácio Moderno), Kevin<br />

Shortall (banda Café Irlanda nos violões),<br />

Paulo Rogério Viana (violão flamenco),<br />

Rodrigo Alves (guitarra, carreira<br />

solo e membro da banda Parallax),<br />

Marcelo Val (do Hardballz), Fábio Machado<br />

e Carlos “Tayo” Pardal (guitarra)<br />

e Tiago Connal (percussão). E como a<br />

produção musical ainda ficou por conta<br />

de Alex, temos uma qualidade sonora<br />

de alto nível, translúcida, clara, que nos<br />

permite aos sentidos acessar sem medo<br />

cada detalhe musical mínimo. Óbvio<br />

que alguns timbres e instrumentos assustarão<br />

os mais incautos e radicais,<br />

mas uma segunda ouvida, e tudo fluirá<br />

sem maiores problemas ou traumas.<br />

O conteúdo artístico de “A Journey<br />

to Shamballa” é muito bem cuidado e<br />

belo, com estética perfeita e uma capa<br />

visualmente belíssima, evocando o<br />

reino da perfeição criado pelos deuses<br />

hindus, onde estão reunidos grandes<br />

mestres de várias áreas do conhecimento<br />

humano, e onde a felicidade, a beleza,<br />

a música, a paz e o amor completos<br />

reinam. E as letras, acreditem: são excelentes,<br />

lidando com temas de uma forma<br />

mais espiritualizada, e a mensagem<br />

é extremamente positiva, independente<br />

se o ouvinte é ateu ou acredita em algo.<br />

Musicalmente, não há espaço para<br />

críticas negativas. A riqueza e diversidade<br />

de “A Journey to Shamballa” é<br />

incrível, e a música flui de forma extremamente<br />

agradável em todas as suas<br />

nuances e expressões, E acreditem: ouvir<br />

o disco uma vez o desperta para um<br />

lindo sentimento de paz interior, que<br />

nada tem a ver com música, com mundo<br />

ou dificuldades, mas apenas de um bem<br />

estar de você com você mesmo.<br />

Um disco de fácil assimilação, e que<br />

abre os sentidos para algo de bom e<br />

grandioso em termos musicais e mentais.<br />

E Julia compartilha, juntamente<br />

com todos os envolvidos, um pouco<br />

de si, de seu espírito. Nada melhor que<br />

deixarmos nossas mentes abertas à uma<br />

compreensão maior e mais profunda do<br />

todo em que vivemos, à uma nova e deliciosa<br />

experiência... (MG)<br />

Yekun<br />

Live at Kaffeklubben<br />

(Official Bootleg)<br />

Independente - Nacional<br />

Sabem aquelas bandas que optam por<br />

fazer uma sonoridade atual, mas rebuscando<br />

muita influência do passado e<br />

que acaba gerando algo novo e diferente?<br />

Pois é, o Yekun é uma banda cuja<br />

classificação musical em gêneros do<br />

Metal não é tarefa lá muito simples<br />

(e o Pai Marcão aqui nem mesmo vai<br />

tentar, pois não acredito em rótulos ou<br />

subdivisões toscas). Muito peso e um<br />

som gorduroso, cheio de psicodelia e<br />

agressividade, mas ao mesmo tempo,<br />

cheio de um feeling precioso e bastante<br />

espontaneidade, especialmente se estivermos<br />

falando do Official Bootleg<br />

do grupo, “Live at Kaffeklubben”, que<br />

acaba de ser disponibilizado para download<br />

gratuito pelo grupo.<br />

Primeiramente, “Live at Kaffeklubben”<br />

é um disco realmente ao vivo, sem<br />

muitos overdubs de estúdio, como era<br />

feito até a primeira metade dos anos<br />

80, ou seja: você está ouvindo o que<br />

foi tocado no show, sem muito embelezamento<br />

feito a posteriori em algum<br />

estúdio de ponta com um engenheiro de<br />

som fabuloso. Nada disso, o clima aqui<br />

é ao vivo até o osso, e se pode ver que o<br />

grupo ao vivo é bem mais feroz e irascível<br />

que em estúdio.<br />

Gravado no Inferno Club em julho<br />

último (ou seja, podem perceber que o<br />

tempo de lá para cá nem permite grandes<br />

mexidas no áudio), a qualidade não é a<br />

melhor do mundo, já que o peso esfumaçado<br />

está presente, o baixo está com uma<br />

sonoridade bem gordurosa e alta, os vocais<br />

estão bem urrados e os riffs e solos<br />

em um nível de volume um pouco baixo.<br />

Mas isso tudo deixa uma coisa exposta:<br />

que o grupo não quis dar uma de “o<br />

grandão” e mexeu. Nada disso, é direto<br />

e reto, ao vivo e sem perdão, mas com<br />

muita energia e tesão, coisa de quem<br />

quer mesmo fazer música. E isso, meus<br />

caros, é para poucos como este quinteto<br />

insano. E não duvido que bares e outros<br />

estabelecimentos da Rua Augusta teriam<br />

problemas sérios com esses caras soltos<br />

por lá em noites de fim de semana...<br />

Seis faixas estão no trabalho, todas<br />

elas muito boas e empolgantes.<br />

“Around”, o hit “Inside My Headache”<br />

e “Psi Ética (Immolated)” são faixas de seu<br />

primeiro trabalho, o Websingle “Inside My<br />

Headache”, em versões bem gordurosas e<br />

pesadas, mas ainda temos as inéditas “Faith<br />

of Serpents”, a ótima “Compasso Ímpar”<br />

e “The Boar’s Nest” (esta última, título do<br />

próximo trabalho do grupo). Todas elas ótimas<br />

canções, mostrando que JP é um ótimo<br />

vocalista ao vivo, sabendo não só cantar,<br />

mas se comunicar bem com o público, ao<br />

passo que as guitarras de André Abreu (apesar<br />

do baixo volume e meio abafada em alguns<br />

momentos) se mostra pesada e firme<br />

nos riffs e solos, o baixo gorduroso e agudo<br />

de Gerson Câmera segura uma base rítmica<br />

forte junto com a bateria precisa de Vlad<br />

(que mostra uma boa e sóbria técnica). E<br />

esses dois últimos se mostram bastante em<br />

“The Boar’s Nest”, lembrando muito algo<br />

como um Black Sabbath dos 70 no auge de<br />

seu experimentalismo.<br />

Então, já que leu minhas palavras até<br />

aqui, baixem logo o disco que é de graça,<br />

enquanto “The Boar’s Nest” não sai.<br />

O link é esse (http://www.metalmedia.<br />

com.br/yekun/downloads/yekun_liveatkaffeklubben.rar),<br />

então, baixem<br />

de uma vez, ouçam em alto volume e<br />

vejam pais e vizinhos pagodeiros reclamando<br />

muito! (MG)<br />

Nervosa<br />

Victim of Yourself<br />

Die Hard Records - Nacional<br />

Bom, seria de se esperar que absolutamente<br />

nada aqui seria diferente!<br />

Afinal a Nervosa além de ser uma das<br />

mais atuantes bandas deste nosso país,<br />

jamais aliviou em nada na sua postura e<br />

na sua música. E está tudo lá, os riffs, a<br />

bateria quebra ossos e os vocais característicos<br />

de Fernanda Lira.<br />

Embalando shows e mais shows por<br />

todo o país, arrancando elogios e críticas<br />

efusivas tanta da mídia especializada<br />

quanto do público, a banda segue seu<br />

caminho e vai conquistando seu lugar<br />

ao sol, e derrubando um a um os problemas<br />

encontrados.<br />

Prika Amaral é uma verdadeira máquina<br />

de riffs e não deixou por menos<br />

neste Victim of Yourself, peso em doses<br />

cavalares, velocidade e em muitos<br />

do cd, climas extremamente bonitos e<br />

muito bem construídos.<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 11


Fernanda Lira desenvolve o seu papel<br />

de forma muito competente, vocalizações<br />

muito bem encaixadas e em muitos<br />

momentos inspiradíssimos. Sinto falta<br />

de um pouco mais de volume no baixo,<br />

mas ele está presente e faz aquela parede<br />

sonora por traz dos riffs cortantes.<br />

A bateria, gravada por Amilcar Christófaro,<br />

é uma aula de Thrash Metal do começo<br />

ao fim. Mérito para a batera Pitchu<br />

Ferraz que além de reproduzir tudo que é<br />

tocado por Amilcar no CD, ainda imprimi<br />

sua própria personalidade no andamento<br />

das músicas, como podemos conferir nos<br />

diversos vídeos ao vivo das meninas espalhados<br />

por toda a rede. Mas, ao meu<br />

ver, faltou um pouco de punch e timbres<br />

mais ousados na gravação da bateria, mas<br />

isso é muito mais uma questão de gosto<br />

pessoal do que um problema do CD em si.<br />

Um grandioso lançamento da Napalm<br />

Records da Áustria, de umas das maiores<br />

promessas do nosso país para o mundo, e<br />

digam, os retratores o que quiserem, o mérito<br />

de terem cometido Victim of Yourself<br />

e de serem uma das mais dignas e respeitadas<br />

representantes do Thrash Metal deste<br />

Brasil varonil, ninguém tira delas. (JPC)<br />

Nervochaos<br />

The Art of Vengeance<br />

Cogumelo Records - Nacional<br />

Após o bem conceituado disco “To<br />

The Death” e o DVD triplo “17<br />

Years OF Chaos”, o quarteto paulista referência<br />

nacional do death metal, Nervochaos,<br />

trouxe para 2014 um dos melhores,<br />

se não o melhor, e mais completo disco<br />

dos seus dezessete anos de carreira!<br />

“The Art Of Vengeance”, gravado<br />

no Estúdio HR (RJ) e mixado na Itália<br />

contou com a produção de Alex Azalli e<br />

a própria banda, além da belíssima capa<br />

e encarte ter ficado por conta de Marco<br />

Donida – guitarrista e fundador da banda<br />

Matanza, também guitarrista da banda de<br />

black metal Enterro – é um disco que vai<br />

ficar marcado na história do Nervochaos.<br />

Foi um trabalho muito bem elaborado,<br />

centrado, preciso e maturo, mas<br />

tudo isso sem sair das raízes do primordial<br />

Death Metal padrão de brutalidade,<br />

mostrando que é possível inovar, evoluir<br />

e amadurecer sem largar suas origens.<br />

Tecnicamente tudo foi muito bem<br />

trabalhado, riffs pegados, arranjos mais<br />

sólidos, guturais e viscerais mais precisos,<br />

variando constantemente entre<br />

Guiller e Quinho.”Em 12 faixas de puro<br />

amassa-crânios, não há muito o que ser<br />

dito ou destacado. O disco é homogêneo<br />

do início ao fim”. - Marcos Garcia.<br />

“The Art Of Vengeance”pode ser<br />

considerado o melhor disco de 2014,<br />

sem meia palavras e sem papas da língua<br />

o disco põe o Nervochaos no topo<br />

da cadeia do metal extremo, merecedor<br />

do título: “Mestres do Death Metal”.<br />

Junto ao disco temos também uma<br />

segunda parte: o DVD “Warriors on the<br />

Road II”, uma sequência de “17 Years<br />

of Chaos” onde temos um documentário<br />

que abrange de “To The Death” até<br />

aqui, com depoimentos do início das<br />

carreiras de Guiller, Quinho, Felipe e<br />

Edu até chegarem ao Nervochaos, e um<br />

documentário sobre a gravação do “The<br />

Art of Vengeance” (com depoimentos<br />

do produtor Alex e dos “Nervoguys”),<br />

mostrando o porquê da banda ter dado<br />

uma crescida em termos musicais. (YN)<br />

Siege of Hate<br />

Animalism<br />

Independente - Nacional<br />

Se você fala de qualidade, peso, velocidade<br />

e agressividade, você tem<br />

que lembrar de Siege OF Hate.<br />

Executando com perfeição o mais fodido<br />

Grind/Death/Hardcore, Animalism, disco<br />

mais recente dos caras lançado em 2013 traz<br />

em sua bagagem 14faixas de pura técnica e<br />

brutalidade, colocando o S.O.H como um<br />

ícone do Grindcore nacional.<br />

É normal ter torcicolos frequentes<br />

e um pouco de falta de ar quando se<br />

escuta “Animalism”. É simplesmente<br />

animal! Toda fúria desse disco transcede<br />

e transforma-se em energia, não te<br />

deixando sossegar um minuto se quer.<br />

O power trio com exatos dezesseis anos<br />

de existência e composto por Bruno Gabai,<br />

George Frizzo e Saulo Oliveira, carrega<br />

muito bem a bandeira do Ceará e do Nordeste,<br />

enchendo centenas e mais centenas<br />

de headbangers de orgulho de sermos tão<br />

violentamente bem representados!<br />

Elaborada por G. Frizzo, a capa do<br />

álbum é uma obra prima: “um javali<br />

que nos observa de maneira incômoda,<br />

e que reflete a proposta do álbum, que<br />

foi “inspirado na obra ‘A Revolução<br />

dos Bichos’, de George Orwell, assim<br />

como num paralelo entre esta (sic) obra<br />

de ficção e a atual conjuntura política<br />

(cada vez mais negativa) do Brasil e da<br />

América Latina”. (YN)<br />

Innvein<br />

Timeless<br />

Independente - Importado<br />

Oriundos de Buenos Aires na Argentina,<br />

esse quinteto nos brinda com a<br />

fórmula mágica do Prog Metal, aliados<br />

a muito Heavy Metal em suas composições.<br />

Como Timeless foi produzido pela<br />

própria banda o que emana dos falantes<br />

é uma massa sonora de peso e melódia,<br />

e pelo fato de ser mais pesado que o normal<br />

em se tratando de bandas de Prog,<br />

este CD acaba agradando até mesmo que<br />

não é muito chegado ao estilo.<br />

Os vocais do também guitarrista Ignacio<br />

Rodriguez, seguem pela interpretação<br />

e em alguns momentos soa mais<br />

grave, mas o trabalho vocal é digno de<br />

nota, uma vez que ele se vale de momentos<br />

muito introspectivos e soturnos,<br />

chegando ao ponto de ouvirmos uns guturais<br />

aqui e ali ao longo do trabalho.<br />

Ao longo dos quase 40 minutos de<br />

Timeless percebemos uma banda coesa,<br />

afinada e que dão as sua composições um<br />

toque de elegancia e bom gosto. A banda<br />

composta, por Patricio Rodriguez - guitarra,<br />

Rodrigo Delucchi - teclado, Eduardo<br />

Giola - baixo, Alejandro Pavone bateria,<br />

além do já citado Ignacio Rodriguez, esbanja<br />

técnica e conhecimento de causa,<br />

além de conhecimento na parte técnica,<br />

já que todos os intrumentos são audíveis<br />

e muito bem timbrados, as linhas de baixo<br />

são claros e muito criativas, associadas as<br />

levadas de bateria velozes e quando não,<br />

muito bem aplicadas ao longo das músicas.<br />

O Innvein, com Timeless nos mostra<br />

que é possível sim, fazer um disco de<br />

Prog Metal, capaz de agradar até o mais<br />

radical dos Headbanger, assim como<br />

ainda manter os que são chegados a fritação<br />

dos intrumento. O que torna, pelo<br />

menos, a audição deste trabalho, obrigatória.<br />

Sensacional! (JPC)<br />

Impaled Nazarene<br />

Vigorous and Liberating Death<br />

Osmose Records - Importado<br />

o quarteto mais insano e polêmico do<br />

E Metal finlandês está de volta à carga,<br />

cada vez mais bruto e mal encarado em<br />

seu trabalho musical.<br />

Sim, o Impaled Nazarene, veterano e<br />

um dos pioneiros da (agora) reconhecida<br />

cena Metal da Finlândia, depois de 4 anos<br />

longe dos estúdios, acaba de lançar seu<br />

novo álbum, o destruidor de pescoços<br />

“Vigorous and Liberating Death”, mostrando-se<br />

ainda forte e vigoroso, mesmo<br />

tendo quase 25 anos de luta, muita ironia<br />

e polêmicas em sua bagagem.<br />

Desde “Manifest”, de 2007, a banda<br />

tem sua formação estabilizada. Mas sua<br />

música não apresenta muitas mudanças,<br />

quase como se fossem um tipo de AC/<br />

DC ou Motorhead do Metal extremo da<br />

Finlândia. Mas há uma enorme diferença<br />

entre eles e muitas bandas que trilham<br />

este caminho: o Impaled Nazarene não<br />

é repetitivo ou chega a cansar nossos<br />

ouvidos, muito longe disso. Podemos<br />

dizer que “Vigorous and Liberating<br />

Death” é o melhor disco do grupo desde<br />

“Pro Patria Finlandia”, mas mais bruto<br />

e seco que a fase entre “Rapture” e o<br />

próprio “Pro Patria Finlandia”, que era<br />

um pouco mais melodiosa.<br />

A produção, feita pelo próprio grupo,<br />

garante que a personalidade musical do<br />

quarteto esteja intocada, ao mesmo tempo<br />

em que ficou mais cheia e encorpada que<br />

nos discos anteriores, com um peso cavalar,<br />

mas sem perder o impacto musical, e<br />

menos ainda a limpeza necessária para<br />

que o brilho dos instrumentos se perca.<br />

E se preparem, pois o quarteto não está<br />

para brincadeiras. Esse disco é impactante,<br />

bruto e sempre soando agradável, seja<br />

nos momentos mais ferozes e velozes,<br />

seja quando a banda muda um pouco a<br />

velocidade dos andamentos (embora as<br />

músicas sejam quase todas bem rápidas).<br />

E a simplicidade musical da banda em<br />

certos momentos deixa claro que mil<br />

notas não fazem uma boa canção. Mas<br />

é bom tomar cuidado: ser simples não<br />

significa que o grupo não saiba arranjar<br />

muito bem suas músicas, e despojamento<br />

(uma característica musical do Impaled<br />

Nazarene) não quer dizer que uma boa<br />

técnica está ausente.<br />

As letras de “Vigorous and Liberating<br />

Death” versam bastante sobre a morte em<br />

vários pontos de vista, destilando críticas<br />

azedas e protestando contra a morte da<br />

economia finlandesa (e da própria União<br />

Européia), contra a morte da liberdade de<br />

expressão, entre outras tantas. Temas bem<br />

atuais, mesmo para a realidade brasileira.<br />

Enfim, sejam bem vindos de volta e<br />

continuem pervertendo os bons costumes<br />

e fazendo as pessoas pensarem por si<br />

mesmas. (MG)<br />

Revolted<br />

Revolutionary Order<br />

Imdependente - Nacional<br />

Começaremos dizendo que quem<br />

gosta de arte gráfica, já se encanta<br />

com Revolutionary Order, CD lançado<br />

em março de 2014 pelo proeminente<br />

Revolted. Já que a capa deste trabalho<br />

é, para mim pelo menos, uma das mais<br />

bonitas já lançadas pelo nosso prolífico<br />

cenário Heavy Metal. Com ideais do<br />

vocalista Hedrey e elaborada pelo artista<br />

Thiago Andrade, por si só, já nos<br />

deixa com vontade de colocar o CD no<br />

player e conta pontos positivos ao Revolted.<br />

Nascida em Anápolis (GO), esta banda<br />

prática um Thrash Metal com características<br />

modernas, danto um tempero<br />

interessante a brutalidade que emana de<br />

suas músicas, que são muito bem “cuidadas”<br />

e podem migrar da brutalidade<br />

estrema a passagens melodiosas, principlamente<br />

nos solos, sem perder sua característica<br />

e sua fúria. Coisa de quem<br />

sabe bem o que quer, e que torna este<br />

primeiro lançamento digno de figurar<br />

nas listas de melhores do ano.<br />

E os caras não param, ainda para<br />

2014 podemos contar com surpresas.<br />

“Lançamos Revolutionary Order e estamos<br />

trabalhando na produção do nosso<br />

primeiro vídeo para a faixa Heartbreaking<br />

que será dirigido por Paulo Victor<br />

e editado por Bruno Paraguay, vocalista<br />

da banda Eminence, disse Alex.<br />

Ele ainda nos contou que a aceitação<br />

do trabalho pela mídia especializada e<br />

pelo público tem sido muito gratificante:<br />

“A galera tem sido generosa com a<br />

gente, elogiando bastante o nosso trabalho,<br />

até nos surpreendeu. É muito bom<br />

ler esses reviews positivos, dá um gás<br />

a mais para continuarmos a investir na<br />

banda, sabendo que realmente o disco<br />

está agradando a galera.<br />

Revolutionary Order traz uma banda<br />

musicalmente madura e pronta a conquistar<br />

seu espaço no concorrido cenário<br />

brasileiro, mas podem sim, almejar<br />

alçar voos mais alto, afinal, música de<br />

qualidade e personalidade não faltam a<br />

este grupo. (JPC)<br />

12 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


A Red Nightmare<br />

A Red Nightmare<br />

Imdependente - Nacional<br />

Uma excepcional revelação vinda<br />

lá de Belém, no Pará. Como dá<br />

gosto de escutar um trabalho tão bem<br />

feito, caprichado tanto na arte musical,<br />

quanto na visual. Pois é, o negócio<br />

vem em digipack, com uma arte<br />

gráfica linda (Gustavo Sazes é o cara)!<br />

O som desses caras é um Death Metal<br />

com toques modernos, executado com<br />

muita maestria. Sim, os arranjos ficaram<br />

fantásticos, variados e brutais. Há<br />

partes velozes, como manda o figurino,<br />

e também aquele ‘groovie’ em outros<br />

momentos, de modo que tudo parece se<br />

complementar e deixar o material irresistível.<br />

Até os solos estão inspirados aqui.<br />

Mas em meio à destruição sonora,<br />

os caras mostram um lado menos<br />

agressivo – no caso, lá pela metade<br />

da ótima “A Red Nightmare PT.III”,<br />

o que mostra quanta bagagem esses<br />

caras têm. Que trabalho lindo!<br />

O ‘debut’ conta ainda com a primeira<br />

demo, também intitulada “A Red<br />

Nightmare”, como bônus, regravada.<br />

A produção do disco também é<br />

impressionante. Nos momentos mais<br />

brutais, a caixa de som corre perigo de<br />

estourar com o peso dos instrumentos.<br />

Vai por mim, uma das maiores surpresas<br />

do ano! Foda, foda, FODA! (CK)<br />

Aneurose<br />

From Hell<br />

Imdependente - Nacional<br />

abe daqueles Thrash Metal com toques<br />

Smodernos, bem produzido e feito por<br />

gente competente? Olha a Aneurose se encaixando<br />

no perfil!<br />

É cadenciado, é pesado, maravilhosamente<br />

‘grooviado’ e, como não poderia<br />

deixar de ser, empolgante. Viu só? Nem só<br />

de alta velocidade vive o estilo!<br />

Escute a chamada “Hunting Knife”,<br />

com uma levada que intima a entrar na<br />

roda e testar sua saúde até seu final. E a<br />

seguinte, “Drink Like a Man”, até começa<br />

meio Heavy, mas desembesta pra algo<br />

mais violento e direto. O refrão é um grude<br />

só! “FIRE!!!”<br />

Um “quê” de Pantera surge em “Square<br />

in Flames”, mais especificamente da música<br />

“A New Level”. Boa também!<br />

E a que fecha o disco, “Spoilled Little<br />

Girl (S.L.G.)”, talvez seja a mais porrada.<br />

Cuidado, pois ela atordoa!<br />

Pelo visto, os caras não gostam de mesmice,<br />

já que cada faixa tem uma cara bem<br />

própria, algo admirável no trabalho, especialmente<br />

constatando que conseguem soar<br />

agressivos em todas elas.<br />

Em meio a tudo isso, o bom vocal de<br />

Wallace Almeida, que até lembra um pouquinho<br />

o de Chuck Billy (Testament) em<br />

alguns momentos.<br />

Quase esqueço, a banda vem de um lugar<br />

especialista em música extrema: Minas<br />

Gerais. Portanto, carrega a bandeira do<br />

mal, e com merecimento!Não deixem de<br />

conhecer esse material, intenso na medida.<br />

Metal até a alma do corpo em decomposição!<br />

(CK)<br />

Angry<br />

Future Chaos<br />

Metal Maximus/Tauil Entretenimento<br />

Nacional<br />

á tinha passado da hora desse ‘debut’ sair!<br />

JO Thrash Metal permanece mortal e dessa<br />

vez, vem acompanhado, em um ou outro<br />

momento, pelo Death Metal. Cinco anos de<br />

atividades comemorados em grande estilo!<br />

A gravação está uma maravilha, expondo<br />

toda a fúria do quarteto, formado por<br />

Alex (guitarra), Diego Armando (baixo/<br />

vocal), Ricardo Luiz (bateria) e Renato<br />

Haboryni (gravou a segunda guitarra).<br />

E o que se percebe é o talento de todos<br />

os músicos – escute, por exemplo, o solo<br />

fantástico da faixa-título (ó o clipe aí embaixo)<br />

ou as boas viradas de bateria -, que<br />

dominam os respectivos instrumentos.<br />

Bom, e o vocal continua com aquela pegada<br />

nervosa que remete a Tom Araya, em<br />

meio às músicas velozes na maior parte do<br />

tempo (com a caixa da bateria marcando a<br />

“cabeça” do tempo em quase todas as composições).<br />

Falando em voz, há participações<br />

especiais de Diego Armando, Alex Rangel<br />

(Attomica), Juliana Reis (Martíria) e Jairo<br />

(Chaos Synopsis) nos backing vocals.<br />

Além da mencionada faixa-título, vale a<br />

pena falar também de “Struck in the Past”,<br />

com arranjos fodas, a seguinte, “Suffocated<br />

by Despair”, lindamente brutal, e a última,<br />

“Last Day”, com mais de sete minutos!<br />

A capa e o encarte são bem caprichados,<br />

mais um ponto positivo para o conjunto<br />

que, como já demonstrado no EP “Only<br />

Lies” (2010), sabe investir na parte visual.<br />

Thrash que carrega o clássico e um<br />

pouco do moderno: se é isso que você<br />

curte, é bom voar atrás desse material, violento<br />

como deve ser. Aliás, agitar ao som<br />

de “Future Chaos” pode comprometer o<br />

pescoço... mas e daí? Vale a pena! (CK)<br />

Protector<br />

Reanimated Homunculus<br />

High Roller Records / Kill Again<br />

Records - Nacional<br />

Banda oitentista (embora tenha dado<br />

um enorme intervalo nas atividades<br />

entre 2003 e 2011) e como tal, investe num<br />

Thrash Metal daquela época com um pouco<br />

de Death. É alemão, então, já se sabe<br />

que é bruto como um tanque de guerra.<br />

Como seria de se esperar, percebe-se<br />

uma ou outra semelhança com os clássicos<br />

daquele país, como Kreator (antigo)<br />

e Sodom, por exemplo, mas a Protector<br />

consegue ser mais violenta.<br />

A voz de Martin Missy tem um timbre<br />

bem do estilo Black Metal, rasgado<br />

e seco, o que dá uma aura mais malévola<br />

para o som da banda e engrandece o<br />

resultado final.<br />

Entre tantas boas composições, vale<br />

destacar “Deranged Nymphomania”,<br />

que é uma pancada na cara que afunda<br />

os dentes no fundo do crânio, assim<br />

como “Lycopolis” e a que fecha o disco,<br />

“Calle Brutal”. Essa última é bem curta,<br />

composta pra aniquilar!<br />

“Road Rage” também é uma maravilha,<br />

com boas levadas velozes, e<br />

há também uma regravação para “The<br />

End”, originalmente registrada na demo<br />

“Resurrected” (2000).<br />

A capa – muito bonita por sinal - remete<br />

a trabalhos Death Metal, estilo que<br />

a banda misturava em maior quantidade<br />

com o Thrash em anos passados. Aliás,<br />

entrando no mérito do encarte, muito<br />

bacana ele contar com o resumo da<br />

história da banda! E a coisa foi além,<br />

pois lá fala por onde andam todos os<br />

ex-integrantes do grupo (e os atuais),<br />

e também há comentários sobre todas<br />

as faixas. Está aí uma coisa muito legal<br />

que as bandas deveriam fazer.<br />

Vale a pena conhecer esse material, deliciosamente<br />

extremo e que saiu em versão<br />

nacional pela Kill Again Records. (CK)<br />

Subcut<br />

Grind Years 2004-2011<br />

A<br />

Vários Selos - Nacional<br />

qui, uma ótima compilação dos<br />

paulistas, uma das mais importantes<br />

e respeitadas bandas do Grindcore<br />

nacional. Afinal, não é fácil encontrar<br />

esse material, que saiu inicialmente<br />

em splits, hoje em dia. Portanto, mais<br />

do que nunca, essa iniciativa, feita por<br />

diversos selos em parceria, sacia a fome<br />

dos fãs do grupo.<br />

Apenas para constar, a compilação<br />

vem de splits com as seguintes bandas:<br />

Pretty Little Flowers (2011), Social<br />

Chaos (2007), Disturbance Project<br />

(2006) e Fuck the Facts (2004).<br />

Como todos já devem saber, e já foi<br />

dito aqui no blog outras vezes, a Subcut<br />

faz um Grind com uma identidade própria,<br />

inconfundível. É nervoso, veloz ao<br />

extremo, sujo e desgraçado.<br />

A alternância de vocais característica<br />

se faz competente como sempre, assim<br />

como os riffs diretos e agressivos. A bateria,<br />

claro, não descansa.<br />

Obviamente que a qualidade da gravação<br />

varia, mas todas, de maneira geral,<br />

estão bem acima da média, de modo<br />

que não há do que reclamar. Isso é que<br />

é legal dos caras: mesmo sendo tão extremos,<br />

eles tomam cuidado com a produção,<br />

de modo que ela esteja tinindo<br />

(para os padrões do estilo).<br />

Poxa, e o que é bom, dura pouco...<br />

essa preciosidade, com 24 barulhos, não<br />

chega a meia hora de duração. Bom,<br />

melhor colocar pra repetir, né?<br />

Sejamos francos: fãs de Grind são<br />

masoquistas! Afinal, adoramos ter nossos<br />

ouvidos massacrados pelo caos sonoro,<br />

e a banda é uma das que realmente<br />

sabe como violentar os canais auditivos.<br />

Pessoal, hora de cair no óbvio: indispensável,<br />

um documento importante da<br />

história do underground nacional. Haja<br />

crânio para ser tão esfolado! Se vira<br />

para tentar conservar o seu. (CK)<br />

Pile of Corpses<br />

For Sex, For Violence,<br />

For Alcohol<br />

S<br />

Independente - Nacional<br />

abe a famosa frase que tem feito<br />

sucesso nas redes sociais, “The<br />

zoeira never ends”? Pois então, tem<br />

tudo a ver com o ‘debut’ da Pile of<br />

Corpses, não no sentido pejorativo,<br />

mas como algo divertido e bem humorado.<br />

Porque o som desses doentes,<br />

meus amigos, é calcado no Thrash/<br />

Death Metal esporrento, pra assustar<br />

qualquer desavisado.<br />

Os caras são figuras e mandam ver<br />

em letras sacanas e de humor negro<br />

que conquistam pela falta de noção (a<br />

introdução já “diz” tudo).<br />

Quanto à sonoridade, a influência<br />

da escola americana é grande, mas<br />

nem por isso eles são cópia de algum<br />

medalhão. A velocidade é constante<br />

em quase todo o disco (parabéns<br />

para o habilidoso baterista Pinguim)<br />

e o peso da guitarra de JP, que destila<br />

bons riffs, é um dos grandes atrativos<br />

de “For Sex, For Violence, For Alcohol”.<br />

Aliás, o talento dos músicos é fato.<br />

Afinal, constroem músicas bem interessantes<br />

mesmo sem trazer inovações<br />

para o estilo que executam.<br />

O que merecia mais cuidado é a<br />

gravação, que ficou meio tosca. Tudo<br />

está audível, mas lembra registros<br />

do começo dos anos noventa, quando<br />

ainda careciam de mais qualidade<br />

no quesito. Aliás, a primeira (e maravilhosa)<br />

demo da POC, “Hail War<br />

(Enhanced)”, datada de 2004 (dez<br />

anos!) tem uma produção melhor do<br />

que a do CD.<br />

Mas podem ficar tranquilos, porque<br />

as composições animais se sobressaem<br />

a qualquer empecilho relacionado<br />

à gravação. Portanto, foi apenas uma<br />

observação construtiva.<br />

A Pile of Corpses continua lançando<br />

trabalhos de alto nível e perfeitos<br />

para aqueles que gostam do contraste<br />

entre a brutalidade e a graça. Delicie-<br />

-se e regurgite, refazendo os processos<br />

continuamente. Vale a pena.<br />

PS: Ainda me lembro do show deles<br />

em Araraquara/SP. O vocalista usando<br />

uma máscara de porco foi hilário. Eles<br />

devem se lembrar de mim, pois fui o<br />

único que comprou a mencionada<br />

demo depois da apresentação. (CK)<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 13


O Sincronicidio - Sexo, Mortes e<br />

Revelações Trasncendentais<br />

Fábio Shiva<br />

Caligo Editora<br />

Bem, temos o prazer de começar<br />

uma parte que é destinada aos livros,<br />

e nada melhor que estrear com um<br />

exemplar tão bom que vem a acrescentar<br />

à nossa literatura nacional, que é a<br />

obra “O Sincronicídio - Sexo, Mortes<br />

e Revelações Transcendentais”, cujo o<br />

autor é Fábio Shiva.<br />

Sobre Fábio, estamos falando na<br />

mente criativa que ajudou a criar um<br />

dos grandes momentos do Metal nacional,<br />

o CD “Vida, the Play of Change”,<br />

obra aclamada por público e crítica ha<br />

ános. Fábio é quem escreveu todas as<br />

letras do CD, todo o conceito que transita<br />

entre o real, o abstrato e o metafísico<br />

que até hoje arranca aplausos de todos<br />

como uma obra incomparável de nossa<br />

cena. E isso sem comentar que ele é formado<br />

pela Faculdade de Comunicação<br />

da UERJ, e também cursou Psicologia<br />

na UERJ e Ciências Sociais na UFRJ.<br />

E antes de tudo, Fábio ainda é ligado à<br />

produção de cultura e consciência social,<br />

sendo um lutador ativo, além de<br />

ser um exímio conhecedor de literatura.<br />

Não estamos falando de algum intelectual<br />

que vive apenas digitando livros e<br />

se abstendo da realidade.<br />

“O Sincronicídio” é, antes de tudo,<br />

uma obra extremamente inovadora, com<br />

uma estória forte falando sobre assassinatos<br />

em série, mas mostrando o que há<br />

de pior e melhor em cada ser humano,<br />

e tudo isso com uma linguagem que é<br />

bem detalhista, mas ao mesmo tempo,<br />

dinâmica. Assim, o leitor não perde em<br />

momento algum a noção do que está se<br />

passando, e acaba lendo em ritmo quase<br />

sempre ditado pela ação que está escrita,<br />

chegando a ter a clara sensação de estar<br />

incorporando os personagens, sentido<br />

em sua própria mente as sensações e<br />

sentimentos de cada um deles, ou seja,<br />

o próprio leitor dessa de ser um mero espectador,<br />

mas começa a sentir-se em Rio<br />

Santo, como uma testemunha das ações<br />

que acontecem, em sua maioria, focadas<br />

no Inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia<br />

de Homicídios de Rio Santo.<br />

O estilo de Fábio, como citado acima,<br />

é muito dinâmico, detalhista e envolvente,<br />

mas não se furta de usar uma<br />

linguagem forte e dura, como em cenas<br />

onde a sensualidade, sexo e violência,<br />

das cenas dos crimes, são abordados. E<br />

não, de forma alguma você não deixará<br />

de perceber que em “O Sincronicídio”,<br />

a vida cotidiana de várias cidades em<br />

nosso país está ali retratada, preto no<br />

branco e com muita elegância e vida. E a<br />

cada capítulo encerrado, temos logo von-<br />

tade de começar o seguinte sem pausa.<br />

E um dos pontos mais inovadores da<br />

obra é que os números de seus capítulos<br />

não segue a ordem numérica convencional,<br />

mas utiliza um amálgama muito<br />

interessante entre os ideogramas do I<br />

Ching que são, por sua vez, associados<br />

à jogadas de Xadrez, logo, cada jogada<br />

e cada oráculo do I Ching projetam algo<br />

na parte que estamos lendo, mas de forma<br />

tão sutil que é preciso ter atenção e<br />

mente aberta para sua compreensão. Mas<br />

preparem-se, pois o livro, apesar de não<br />

ser uma leitura enfadonha em momento<br />

algum, tem um teor de complexidade<br />

agradável para os acostumados à leitura,<br />

mas que aos que iniciam a prática pode<br />

ser um desafio. Mas como todo desafio,<br />

tem um prêmio ótimo que os aguarda.<br />

No mais, “O Sincronicídio” nasceu<br />

para ser grande, e é um obra tão boa que<br />

fará com que o leitor sinta-se em um<br />

misto entre Umberto Eco e Arthur Conan<br />

Doyle, mas com requintes de Edgar<br />

Alan Poe. E várias pessoas ligadas aos<br />

Heavy Metal, como Eliton Tomasi (ex-<br />

-editor-chefe da Rock Hard/Valhalla,<br />

atualmente trabalhando com a Assessoria<br />

de Imprensa Som do Darma),<br />

Janaína Santos (produtora de eventos,<br />

e responsável pela extinta Domination<br />

Management, que cuidou de bandas<br />

como Imago Mortis, Rebaelliun, Krisiun,<br />

entre outros), Alex Voorhees (vocalista<br />

do Imago Mortis), este autor que<br />

vos escreve e outros estão lendo avidamente<br />

o livro.<br />

Deixe-se envolver pela estória de “O<br />

Sincronicídio”, embalado por sua trilha<br />

sonora, e aproveitem momentos de puro<br />

prazer. Boa leitura!<br />

Ah, sim: a trilha sonora é ótima, e<br />

pode ser conferida aqui, que vai do<br />

Rock ao Clássico sem radicalismos, e<br />

“O Sincronicídio” pode ser adquirido<br />

no site da Editora, ou com o próprio<br />

Fábio. (MG)<br />

Links relacionados:<br />

www.caligoeditora.com.br<br />

www.facebook.com/sincronicidio<br />

O Livro Negro do Rock<br />

Antonio Celso Barbieri<br />

Independente<br />

Antonio Celso Barbieri, uma das<br />

grandes figuras do rock brasileiro,<br />

acaba de lançar digitalmente a obra<br />

“O Livro Negro do Rock”. O livro, que<br />

conta com quase 300 folhas, é dedicado<br />

à pesquisa do Rock e do Oculto, na<br />

tentativa de entender o fascínio do Ser<br />

Humano com a religião.<br />

Este trabalho literário conta também<br />

em detalhes a História do Black Metal<br />

mundial e a importância das bandas<br />

brasileiras Sarcófago e Vulcano como<br />

influenciadoras do Black Metal Norueguês.<br />

O livro pode ser lido na sua íntegra<br />

no link:<br />

www.celsobarbieri.co.uk<br />

Putim - A Face Oculta<br />

do Novo Czar<br />

Masha Gessen<br />

Nova Fronteira<br />

utin: A Face Oculta do Novo Czar é<br />

Pa impressionante história de como um<br />

agente obscuro da KGB chegou à presidência<br />

da Rússia e, em um tempo incrivelmente<br />

curto, destruiu anos de progresso<br />

e fez do seu país mais uma vez uma<br />

ameaça ao seu próprio povo e ao mundo.<br />

Escolhido a dedo como o sucessor à<br />

presidência pelos colaboradores mais<br />

próximos de um doente e cada vez mais<br />

impopular Boris Yeltsin, Vladimir Putin<br />

parecia a escolha perfeita para a elite<br />

que desejava moldar os rumos do país<br />

de acordo com seus próprios interesses.<br />

De repente, o menino que ficava nas<br />

sombras, sonhando governar o mundo,<br />

tornou-se uma figura pública, e sua<br />

popularidade disparou. A Rússia e um<br />

Ocidente deslumbrados estavam determinados<br />

a ver nele o líder progressista<br />

de seus sonhos, mesmo testemunhando<br />

Putin assumir o controle da mídia, enviar<br />

rivais políticos e críticos para o exílio<br />

ou para o túmulo, esmagar o frágil<br />

sistema eleitoral do país e concentrar o<br />

poder nas mãos de seus comparsas.<br />

Mais Pesado que o Céu<br />

Cross, Charles R.<br />

Globo<br />

Mais Pesado que o Céu apresenta a<br />

vida singular de Kurt Cobain, o<br />

mítico líder do Nirvana, banda que revolucionou<br />

o estagnado mundo da música<br />

pop no início da década de 1990,<br />

com o lançamento do clássico álbum<br />

Nevermind. Em capítulos que evoluem<br />

em ordem cronológica, Charles Cross<br />

traça a vida de Cobain desde sua infância,<br />

quando ele morava no interior<br />

de um trailer numa cidade perdida do<br />

estado de Washington, até a conquista<br />

da fama, do sucesso e da adoração de<br />

toda uma legião de fãs. Heavier Than<br />

Heaven revela os dramas familiares que<br />

instigaram a criatividade musical de<br />

Cobain, a história da geração que moldou<br />

seu caráter e sensibilidade, detalhes<br />

do vício pela heroína, os planos suicidas<br />

e seu estranho e conturbado caso de<br />

amor com Courtney Love. Analisando<br />

relatos médicos e policiais, e cartas do<br />

próprio músico, Charles Cross também<br />

revela fatos novos sobre a saúde de Cobain,<br />

sua depressão e seus últimos dias.<br />

Neil Young<br />

A Autobiografia<br />

Masha Gessen<br />

Nova Fronteira<br />

Lenda do rock e do folk, criador do<br />

Buffalo Springfield, líder da banda Crazy<br />

Horse, parceiro de Crosby, Nash e<br />

Stills, um dos maiores guitarristas de<br />

todos os tempos e um dos músicos mais<br />

influentes de sua geração. Ao longo do<br />

último meio século, o cantor e compositor<br />

Neil Young construiu uma carreira de<br />

sólido sucesso nos Estados Unidos e no<br />

resto do planeta. O recente lançamento<br />

mundial de Neil Young – A autobiografia,<br />

no entanto, revela uma personalidade<br />

multifacetada – para muito além do que<br />

os fãs de sua música poderiam imaginar.<br />

Colecionador de automóveis e especialista<br />

em modelismo ferroviário (é<br />

dono de uma empresa do ramo), há anos<br />

Young investe e trabalha num projeto<br />

de carro elétrico. Não qualquer carro,<br />

mas o chamado Lincvolt, um gigantesco<br />

Lincoln Continental movido a energia<br />

renovável e limpa (Young sonha em ser<br />

sustentável sem prejuízo para a paixão<br />

americana por carrões). O compositor<br />

também desenvolve, às próprias custas,<br />

a PureTone, alternativa digital à tecnologia<br />

dos MP3, capaz de distribuir música<br />

online e de proporcionar para o consumidor<br />

final um som com qualidade similar<br />

à dos discos de vinil.<br />

Young escreveu de próprio punho uma<br />

narrativa fragmentada, com o vai e vem<br />

aleatório das recordações determinando a<br />

ordem em que as histórias são apresentadas.<br />

É por meio desses flashes do passado,<br />

e por constantes divagações do autor<br />

acerca do presente e do futuro, que o leitor<br />

toma contato com essa impressionante diversidade<br />

de interesses do artista.<br />

Da mesma maneira, episódios marcantes<br />

vêm à tona fora de ordem cronológica,<br />

exclusivamente ao sabor da<br />

inspiração do momento. Os parceiros na<br />

música, as grandes amizades, os amores,<br />

a paixão pela esposa Pegi e pelos filhos<br />

Zeke, Ben e Amber, entre muitos outros<br />

temas, vão surgindo conforme avança o<br />

fluxo da memória do autor. Como um<br />

pungente solo de guitarra de Neil Young,<br />

sua autobiografia parece<br />

14 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


My Blood Roots<br />

Max Cavalera<br />

Agir Editora<br />

após 4 dias de uma agradável leitura,<br />

podemos enfim dar um parecer a<br />

E<br />

‘My Bloody Roots’, a biografia de Max<br />

Cavalera que acaba de ser lançada.<br />

A primeira coisa que salta os olhos<br />

é o fato de que não há um narrador<br />

escrevendo o livro, baseado em revistas,<br />

livros ou programas de TV, já<br />

que todas as linhas são, na realidade,<br />

escritas pelo próprio Max, e assim, a<br />

leitura deixa de ter aquele caráter rígido<br />

da formalidade profissional para ser<br />

mais fluida e informal, e de certa forma,<br />

mais autêntica com a realidade dos<br />

fatos narrados. Mas ao mesmo tempo,<br />

não tem aquele jeitão de “diário”, ou<br />

seja, apesar de ter sido ordenado cronologicamente,<br />

não existe aquela coisa<br />

de “hoje meu dia foi...” que tornaria a<br />

leitura maçante. E garantimos: a leitura<br />

dessa biografia poderia ser tudo,<br />

menos chata e enfadonha. E isso sem<br />

mencionar o prefácio de Dave Grohl,<br />

que está mais para um depoimento de<br />

um fã, e por este motivo, antenado com<br />

todo o conteúdo do livro, pois são as<br />

palavras de um fã da banda.<br />

Confirmando a veracidade de cada<br />

momento, existem depoimentos de<br />

músicos, familiares e outras pessoas<br />

que estiveram (ou ainda estão) ligadas<br />

à vida de Max, como Gloria (sua<br />

esposa e empresária), Iggor (seu irmão),<br />

Vânia (sua mãe), David Vincent<br />

(que participou de uma faixa do<br />

SOULFLY), Marc Rizzo (guitarrista<br />

do SOULFLY e amigo de longa data),<br />

Michael Whelan (o artista que criou as<br />

capas de ‘Beneath the Remains’, ‘Arise’,<br />

‘Chaos A.D.’ e ‘Roots’), Monte<br />

Conner (da Roadrunner Records), entre<br />

tantos outros.<br />

É interessante ver a história de vida<br />

de Max sob sua ótica, e ver pontos<br />

baixos (como a morte do pai ainda<br />

muito criança, a mudança de SP para<br />

BH, a passagem do enteado Dana,<br />

sua saída do SEPULTURA, e mesmo<br />

a bela narrativa sobre sua luta contra<br />

o alcoolismo e vício em analgésicos)<br />

e altos (a subida ao sucesso, a volta<br />

com o SOULFLY, a reconciliação com<br />

o irmão Iggor e sua completitude ao<br />

compor/gravar/tocar), e é impossível<br />

ao leitor não se envolver, não sentir em<br />

si mesmo as tristezas e alegrias pelas<br />

quais a vida de Max foi permeada. Há<br />

uma sinergia incrível, e Max realmente<br />

cativa o leitor a cada momento.<br />

Obviamente, existem fotos de Max<br />

em várias situações: ainda como criança,<br />

com o SEPULTURA ainda começando<br />

a engatinhar em BH, das turnês<br />

posteriores, a visita aos índios Xavantes<br />

durante as gravações de ‘Roots’,<br />

já com o SOULFLY e com a própria<br />

família, tudo mantendo sempre um<br />

clima muito intimista e confortável ao<br />

leitor, que começa a se sentir membro<br />

da família.<br />

Uma leitura excelente, que merece<br />

ser feita e refeita, e ao final dela, sentimos<br />

que uma comparação que este autor<br />

já fez anteriormente: Max realmente<br />

é o Ozzy Brasileiro, pois já transcendeu<br />

o fato de ser um simples músico, para<br />

entrar no Hall das grandes personalidades<br />

do Metal de todos os tempos, seja<br />

no Brasil, seja no exterior.<br />

E o melhor de tudo: está história<br />

ainda está sendo escrita, pois o leitor<br />

e o próprio Max ainda estão aqui, com<br />

muito a dizer um ao outro... (MG)<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 15


Cena independente - O buraco é muito mais embaixo<br />

Por Wagner Cyco<br />

Muito se comenta sobre a cena<br />

musical independente no Brasil,<br />

em São Paulo mais especificamente,<br />

e sua fragilidade e até mesmo<br />

suposta existência. Procura-se um<br />

culpado a quem atribuir o fracasso<br />

de público na maioria esmagadora<br />

dos eventos, os prejuízos acumulados<br />

pelos espaços culturais dispostos<br />

a receber os mesmos sem se prostituir,<br />

dedicando seu espaço às bandas<br />

covers ou extorquir seu público com<br />

preços abusivos, e o pequeno alcance<br />

dos esforços de divulgação dos trabalhos<br />

das bandas.<br />

Um ponto de partida interessante<br />

seria perguntar por que eventos com<br />

bandas internacionais e preços exorbitantes<br />

atraem um público grande,<br />

independente do dia da semana, horário<br />

ou local, enquanto as bandas nacionais,<br />

a preços baixos, quando não<br />

eventos gratuitos, tocam para meia<br />

dúzia de pobres diabos? Existe uma<br />

resposta um tanto óbvia: estrutura.<br />

Ou falta dela.<br />

Quando você vai a um show internacional<br />

geralmente se depara com<br />

músicos que se dedicaram ao seu instrumento<br />

por vários anos (lembrando<br />

que muito provavelmente tiveram aulas<br />

de música nas escolas durante sua<br />

juventude e que lhes proporcionou o<br />

contato e identificação com essa forma<br />

de arte ainda bastante jovem), tocando<br />

em equipamentos de excelente qualidade<br />

(aos quais tem acesso a preço<br />

justo ou ao menos acessível em seus<br />

países de origem) e que você provavelmente<br />

já teve a chance de conferir<br />

material gravado e se familiarizar, conhecendo<br />

as canções e cantando junto<br />

as letras. E é essa a sensação que te<br />

faz pagar pra assistir a essa apresentação.<br />

Aí está o primeiro ponto a ser<br />

considerado. Ou seja, o diferencial é<br />

qualidade de equipamento (lembra-se<br />

daquela frase “parece energia, mas é<br />

só distorção”? Cabe perfeitamente<br />

nesse caso) e envolvimento pessoal<br />

com a música, certo?<br />

O músico brasileiro em geral<br />

“descobre” a música mais tarde, no<br />

fim da adolescência, e quando decide<br />

se dedicar a um instrumento precisa<br />

conciliar seu aprendizado com seus<br />

estudos, trabalho e família. Se vencer<br />

essa primeira barreira e se torna<br />

competente esbarra no próximo empecilho,<br />

que é a dificuldade de contar<br />

com um equipamento decente. Se te<br />

revoltou saber a diferença de preço<br />

de um mesmo videogame nos EUA e<br />

aqui, procure saber o abismo entre os<br />

preços de instrumentos musicais de<br />

ponta nesses dois países. Avancemos<br />

para a próxima questão, a falta de empatia<br />

com o público.<br />

Se a cena nacional não rende<br />

lucro, as bandas encontram imensa<br />

dificuldade em gravar e disseminar<br />

seu material. Seus integrantes precisam<br />

ter empregos para poder honrar<br />

seus compromissos do dia-a-dia e<br />

ainda bancar gravações, ensaios, instrumentos,<br />

equipamentos, merchandising,<br />

seus deslocamentos até os<br />

locais dos shows, além das despesas<br />

com alimentação e hospedagem. São<br />

raras as bandas que conseguem superar<br />

todas essas dificuldades e chegar<br />

ao conhecimento do público, se fazer<br />

relevante. O que geralmente acontece<br />

é o seguinte: o público não conhece,<br />

se não conhece não paga pra ver, se<br />

não paga, não existe lucro. Sem lucro<br />

não existe material. Sem material<br />

o público não tem como conhecer o<br />

trabalho. E assim segue...<br />

Porém o buraco é mais embaixo.<br />

Somos vítimas de uma sociedade egoísta,<br />

voltada apenas ao próprio bem-<br />

-estar. Talvez nem isso. Talvez voltada<br />

apenas à própria vaidade. Fomos convencidos<br />

pela mídia de que ser brasileiro<br />

é ser esperto, levar vantagem, dar<br />

um jeitinho. Que fazer a coisa certa é<br />

ser bobo. Fomos convencidos por nossos<br />

governantes que nossa corrupção<br />

ficará impune. Destituídos de qualquer<br />

sentimento de patriotismo ou valorização<br />

do produto nacional, uma vez que<br />

passamos a vida cercados por inimigos<br />

loucos pra se aproveitar do nosso<br />

menor vacilo.<br />

Desconfiamos que o vizinho possa<br />

fazer a mesma coisa que faríamos<br />

no lugar dele. Apodrecemos e nos<br />

acovardamos sob o medo de nosso<br />

próprio comportamento. A cadeia de<br />

lucro que deveria nos trazer evolução<br />

acaba no primeiro que coloca a mão<br />

em qualquer migalha que seja. Não<br />

acredita, não investe. E no dia em que<br />

uma banda se recusa a tocar por achar<br />

a situação injusta, se livra dela, sob<br />

acusações e abre espaço pra outra,<br />

em um estágio menor de evolução,<br />

que na busca por seu espaço aceita<br />

qualquer humilhação para mostrar<br />

sua arte. O nível vai caindo, o público<br />

vai se diluindo, as bandas vão<br />

ficando de lado, seus integrantes vão<br />

desanimando... Já deixaram de lado<br />

suas famílias, seu descanso tantas<br />

e tantas vezes. Equilibra nas pontas<br />

dos dedos trabalho, estudo, ensaios,<br />

viagens e de repente se vêem assim,<br />

desrespeitados. Suas mensagens e<br />

desejos de mudança gritados a plenos<br />

pulmões não encontram ecos em ouvidos<br />

anestesiados pela ganância.<br />

Não que as bandas sejam sempre<br />

vítimas nessa equação. Também<br />

carregam, claro, sua parcela de culpa.<br />

Quase sempre pela postura de<br />

pouco respeito para com público,<br />

com os outros músicos ou para com<br />

a organização dos eventos. Ainda<br />

resquício de nosso abandono aos<br />

valores morais, os constantes atrasos<br />

nas apresentações. Anuncia-se<br />

um evento em determinado horário<br />

que frequentemente começa com<br />

duas ou mais horas de atraso. Daí<br />

então sobem ao palco músicos embriagados,<br />

com seus instrumentos<br />

devidamente desafinados, cabos<br />

defeituosos causando toda a sorte<br />

de ruídos imagináveis, e dão início<br />

ao festival de microfonias e erros<br />

grotescos. Músicos esses que provavelmente<br />

já pediram emprestados<br />

palhetas, baquetas, correias ou<br />

qualquer outra coisa que seja possível<br />

esquecer antes de poder se apresentar<br />

e que, terminado seu show,<br />

pegam suas coisas, viram as costas<br />

e vão embora, sem prestigiar os<br />

companheiros a se apresentar na sequência.<br />

Poucas coisas fizeram tanto<br />

mal ao músico brasileiro quanto<br />

a propaganda mentirosa do sexo,<br />

drogas e rock’n’roll. Como diria o<br />

Boka (RDP) no documentário Guidable,<br />

“tão pensando que é Rolling<br />

Stones?”. E o que dizer então dos<br />

autointitulados formadores de opinião,<br />

que vislumbram um talento<br />

divino para criar suas letras, sendo<br />

que não são capazes de perder(?)<br />

alguns poucos minutos lendo, coisa<br />

imprescindível a qualquer um que<br />

se atreva a escrever?<br />

Nos leva então a mais um ponto<br />

chave dessa análise: o público. É<br />

bastante comum ouvir dos frequentadores<br />

dos eventos independentes<br />

sua pseudosuperioridade, sua diferenciação.<br />

Discursos inflamados,<br />

apontando o dedo em riste para a<br />

massa não pensante e influenciável,<br />

apreciadora dos estilos musicais da<br />

moda e da cultura mainstream. Engraçado<br />

pensar que esses que estão<br />

sendo julgados como inferiores parecem<br />

ter mais consciência de seu<br />

papel na cena musical da qual fazem<br />

parte do que seus juízes, uma<br />

vez que comparecem aos eventos,<br />

compram material de seus artistas<br />

favoritos, pagam para assistir aos<br />

shows e consomem dentro do ambiente,<br />

gerando receita que fortalece<br />

todas as partes dessa estrutura. Já<br />

nossos pequenos donos da verdade<br />

se contentam em ir até a porta dos<br />

shows e implorar para entrar sem<br />

pagar, pois não tem dinheiro suficiente.<br />

O que se perceberá em breve<br />

não ser verdade, assim que ele<br />

começar a consumir no bar. Ou na<br />

porta. Fica a pergunta: pra quem se<br />

está mentindo? Para o organizador<br />

que liberou sua entrada por pena ou<br />

pra você mesmo? Não seria mais<br />

honesto pegar seu dinheiro e ir direto<br />

pro bar, já que não tem nenhum<br />

interesse em ser parte da cena musical<br />

independente além de parasitá-<br />

-la? Quando iremos perceber que<br />

estamos todos ligados, que somos<br />

todos parte de algo maior e que as<br />

coisas só serão vantajosas pra um<br />

quando forem vantajosas para todos?<br />

Despertar essa consciência<br />

é a verdadeira função do ensino.<br />

Formar cidadãos cientes de seus direitos,<br />

deveres e importância social,<br />

capazes de ter uma postura crítica,<br />

de raciocínio lógico. E aqui surge<br />

mais um componente nessa sucessão<br />

de incompetências: o governo.<br />

O governo, que deveria focar na<br />

educação básica de qualidade para<br />

todos, mas prefere mascarar a realidade<br />

de desigualdade investindo<br />

em universidades federais, às quais<br />

só tem acesso alguns poucos afortunados,<br />

que puderam pagar por uma<br />

educação de qualidade durante sua<br />

vida escolar. Justamente aqueles<br />

que teriam condições de pagar por<br />

um ensino superior de qualidade.<br />

Enquanto isso, a maioria, que não<br />

tem essa mesma condição financeira,<br />

é quem se vê obrigado a pagar.<br />

Mas não basta apontar os problemas.<br />

Quais seriam então as formas<br />

para se quebrar esse círculo vicioso?<br />

Mudança de postura de todos<br />

que fazem parte da cena e, porquê<br />

não, da sociedade em geral.<br />

A única maneira seria conscientizar<br />

as pessoas de que elas não são<br />

apenas frequentadoras de uma cena,<br />

mas que elas são a cena. Não são as<br />

bandas, nem as casas de show. As<br />

pessoas fazem a cena. Bandas e bares<br />

são apenas necessidades que essa<br />

cena demanda. A partir dessa mentalidade<br />

é possível visualizar dias melhores.<br />

Com as pessoas dispostas a<br />

fazer parte de algo, a contribuir para<br />

evolução delas mesmas enquanto<br />

cena. Passaríamos a assistir o desenvolvimento<br />

da cultura independente<br />

como nunca antes, pois à partir do<br />

momento em que os espaços começassem<br />

a obter lucro nos eventos,<br />

eles teriam a chance de investir<br />

numa melhor estrutura de palco e<br />

equipamentos, além de conforto ao<br />

público. Poderiam passar a remunerar<br />

as bandas que se apresentam,<br />

dando a estas a chance de também<br />

investir em instrumentos mais adequados,<br />

gravações mais profissionais<br />

e divulgação decente. E assim o<br />

público, sempre a pedra fundamental<br />

da cena, começaria a ter nos shows<br />

das bandas independentes nacionais<br />

a mesma sensação que tem nos<br />

shows internacionais, quando não<br />

maior, uma vez que se sentiria ainda<br />

mais integrado a tudo isso.<br />

Soa utópico, mas a mim parece<br />

apenas o caminho mais lógico.<br />

*Wagner Cyco é guitarrista das<br />

bandas Mollotov Attack e Irmã<br />

Talitha, além de integrante do<br />

coletivo Nada Pop, onde o artigo<br />

foi publicado originalmente.<br />

16 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Banda formada no ano de 2009<br />

na cidade de Itapevi /SP. O<br />

Warsickness é a junção de elementos<br />

distintos dentro de várias vertentes<br />

do metal, auto rotulando-se<br />

como uma banda de Thrash Metal,<br />

segue uma temática abordando alguns<br />

tópicos atuais como a ignorância<br />

humana sobre a religião e<br />

seus conceitos e regras; a humanidade<br />

que se autodestrói fisicamente<br />

e mentalmente; bebedeira. Hipocrisia<br />

sobre moral e ética da sociedade.<br />

Além de outros assuntos que<br />

são expostos através das suas composições<br />

subliminares. No ano de<br />

2010 iniciaram-se as gravações do<br />

seu primeiro registro, o EP “Reign<br />

of Chaos, Pain and Torture”, que<br />

foi lançado no primeiro semestre<br />

de 2013 pela Guillotine Records /<br />

BA.<br />

Atual Formação<br />

Diogo (Vocals); T.J. (Guitars);<br />

Carlos (Guitars); Alan (Bass);<br />

Guilherme (Drums)<br />

Contatos<br />

www.reverbnation.com/warsickness<br />

www.soundcloud.com/warsickness-brazil<br />

www.youtube.com/WARSICKNESSHELL<br />

https://www.facebook.com/warsickness<br />

E-mail : moreschidiogo@hotmail.com<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 17


When the Hate Dominate<br />

Por JP Carvalho<br />

Oligarquia foi formado em<br />

O 1992 por Panda Reis e Alex<br />

Chivitti, mas desde o início sofrendo<br />

inúmeros problemas com<br />

troca de forma odo.<br />

O primeiro material da banda,<br />

uma Demo Tape, saiu em<br />

1995, intitulada ‘Conviction of<br />

the Death’, e serviu para colocar<br />

o nome da banda no underground<br />

nacional e internacional,<br />

com a participação da banda em<br />

várias coletâneas no Brasil e em<br />

todo o mundo.<br />

Em 1999 foi lançada a segunda<br />

Demo Tape, ‘Really to be<br />

Dead’, que recebeu uma produção<br />

melhor e mais cuidados na<br />

parte gráfica, com a arte, uma<br />

escultura de bronze, feita exclu-<br />

sivamente para esse material,<br />

que chegou a ter distribuídas<br />

duas mil cópias.<br />

Tal feito chamou atenção da<br />

gravadora Destroyer Records,<br />

que assinou contrato com a banda<br />

para o lançamento do debut<br />

‘Nechropolis’, lançado em 2001,<br />

levando a banda para uma extensa<br />

turnê pelo Brasil, além de excelentes<br />

críticas recebidas pelo<br />

público e mídia especializada.<br />

Mais participações em coletâneas<br />

e grandes festivais no<br />

curriculum (como Extreme Metal<br />

Fest, Da Tribo Festival, Poluição<br />

Sonora Festival, Noite<br />

Anti Música e com Incantation<br />

no Sul) a banda assina com a<br />

Mutilation Records e entra para<br />

o estúdio Mr. Som para gravar<br />

o novo álbum ‘Humanavirus’,<br />

lançado em dezembro de 2003 e<br />

gerando nova turnê para a banda,<br />

que se iniciou mesmo antes do<br />

lançamento do álbum, em setembro,<br />

terminando 2 anos depois,<br />

em dezembro de 2005. Nesse<br />

meio tempo foi lançado na Europa,<br />

em janeiro de 2004, o Split<br />

MCD ‘Enslave by Light’, que<br />

não teve distribuição no Brasil,<br />

sendo uma raridade por aqui.<br />

A banda então da início a<br />

uma nova turnê no Brasil, que<br />

segue até o meio do ano de 2006,<br />

quando a banda se prepara para<br />

o lançamento do próximo álbum.<br />

Com novas composições<br />

sendo trabalhadas, mais uma<br />

mudança de formação se deu,<br />

dessa vez com a saída de um<br />

dos fundadores: Alex Chiovitti.<br />

Para seu lugar foi recrutado<br />

Max Hideo (Conexão Pentagrama/Ódio<br />

Macabro), que assumiu<br />

os vocais. Com a formação novamente<br />

estabilizada, a banda<br />

entra no estúdio Top Noise para<br />

a gravação do novo álbum, que<br />

foi produzido pela própria banda<br />

e segue uma linha mais ‘Old<br />

School’. Para esse lançamento a<br />

banda fechou com o selo Poluição<br />

Sonora Records e ‘Distilling<br />

Hatred’ foi lançado oficialmente<br />

em julho de 2011.<br />

Atualmente a banda segue<br />

nas divulgações do novo álbum<br />

fazendo shows em todo o Brasil.<br />

Mas já prometeu um novo CD e<br />

um outro, somente com covers<br />

dos seus ídolos para 2015.<br />

Confira a seguir entrevista<br />

muito ácida com o baterista Panda<br />

Reis.<br />

18 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Panda Reis, sem medir palavras!<br />

Panda Reis pode ser considerado um ícone da música extrema brasileira,<br />

isso não quer dizer que o caminho até ai foi fácil! Além de ser<br />

um dos músicos mais atuantes e “ocupados” da cena nacional, ele tem<br />

muito a dizer e diz, sem medir palavras. Confira!!!<br />

Underground Rock Report: Antes de qualquer coisa, fale sobre<br />

você, suas atividades e em como você se tornou baterista.<br />

Panda Reis: Sou um afrodescendente nascido na capital de São<br />

Paulo, mais precisamente na Vila Campestre, bairro violento e dominado<br />

pelo P.C.C., onde existem duas leis e dois idiomas (Português e o<br />

dialeto da periferia). Filho de mineiros que sofreram demais pra criar<br />

quatro filhos. Sou bacharel em História e atuante no movimento anticapitalista,<br />

escrevo artigos, textos em vários meios alternativos, alguns<br />

deles eu assino, outros uso outro nome, e tenho rascunhados dois<br />

livros que talvez um dia eu lance, talvez nunca os lance, mas serão<br />

concluídos. A política me fascina pela maneira como ela pode maquiar<br />

o que está claro no sistema, e mesmo assim legitima o ilegítimo.<br />

Sobre como comecei a tocar bateria, é uma história relativamente<br />

curta e simples. Quando eu e o Cleyton Ishini resolvemos montar uma<br />

banda (ao contrário do que todos pensam, o Alex Chiovitti chegou<br />

quando a banda já estava formada e já tinha até o nome que tem hoje),<br />

estávamos sentados na calçada em frente a minha casa tomando pinga<br />

com limão. Comecei tocando baixo, mas não demorou muito para<br />

todos perceberem (isso me inclui), que era inviável que eu tocasse<br />

aquele instrumento, era muito ruim! Nessa época, meu irmão, que estava<br />

tocando bateria com a gente, saiu fora e eu, que automaticamente<br />

fui empurrado para a bateria, aceitei prontamente por gostar do som<br />

do instrumento, mas não fui eu que a escolhi.<br />

URR: Em todos esses anos tocando, não só Death Metal, mas os<br />

mais diversos estilos, o que você acredita que, como músico, tenha<br />

afetado a sua forma de ver a vida?<br />

Panda: Foda, não me considero músico, saca? Como eu sempre<br />

digo, acho que a música é um álibi para as minhas letras. Sou<br />

batuqueiro e não um baterista (risos)! Mas é inegável que, depois de<br />

mais de duas décadas, eu tenha assimilado e aprendido muito com a<br />

estrada, com as pessoas, com a hipocrisia de muitos que passaram<br />

pela minha vida e de muitos que ainda tentam permanecer por perto<br />

(nem sei o porquê). Aprendi que cada ser humano é muito parecido,<br />

não fisicamente, mas somos tão doutrinados a sermos lineares, que<br />

nos tornamos uma espécie homogênea na maneira de pensar e levar<br />

a vida, alguns conseguem ser heterogêneos e se libertar do alinhamento<br />

cultural que temos aqui no Ocidente, alinhamento esse que se<br />

subdivide entre primeiro e terceiro mundo, para deixar claro quem<br />

manda nessa hierarquia que chamam de civilização. Tanto faz ser um<br />

playboy bombadinho do Jardins ou um Headbanger do ABC, somos<br />

muito homofóbicos, sexistas demais, ocidentais demais. Claro que<br />

não vou generalizar, mas depois que a tecnologia colocou todos muito<br />

mais “próximos”, as máscaras estão caindo, as redes sociais estão<br />

revelando fascistas, racistas, homofóbicos, xenofóbicos que estavam<br />

escondidos sobre suas jaquetas de couro e patchs de bandas de metal<br />

e punk. Antes achava que o povo do underground era diferenciado de<br />

tudo isso, hoje percebo que nem é bem assim.<br />

E o lance de tocar em várias bandas e projetos de estilos diferentes<br />

me fez entrar em contato com gente diferente e perceber que são todos<br />

iguais ou no mínimo muito parecidos. Os padrões capitalistas estão<br />

em todos os lugares e estilos.<br />

URR: Então podemos dizer que muitos usam de determinado<br />

estilo de vida apenas para maquiar um ódio cultivado? Ou se<br />

valem disso para por pra fora esse sentimento?<br />

Panda: Em alguns casos o ódio cultivado é o que transforma o<br />

estilo de vida de alguns. É complicado canalizar tantos sentimentos e<br />

transformá-los em uma existência frutífera, pois sentimento mais puro<br />

e mais sincero que o ódio não existe. Esse sentimento moldou muito<br />

mais o mundo, transformou a nossa civilização e modificou a história<br />

do ser humano do que as mudanças ocorridas por influência do amor.<br />

Não costumo desacreditar de quem sente ódio, mas nenhum amor humano<br />

me tira o ceticismo, o amor é temporal e mutante, o ódio não.<br />

Alguns conseguem maquiar seu ódio, seu sentimento, vivendo um<br />

estilo de vida em que o ódio esta presente e é visto de uma maneira<br />

mais aceitável (no underground se aceita um disco com o singelo<br />

nome “Destilando o Ódio”, em qualquer outro estilo de vida isso seria<br />

bem criticado) e se acham, podem vomitar e exorcizar seus sentimentos,<br />

a maioria o faz sem notar, sem perceber, mas o fazem.<br />

Acredito que estilos de vida que equalizam esse sentimento e não<br />

o negam, não fingem que ele coexiste dentro de você, são mais bem<br />

sucedidos em suas relações mundanas, pois negar o maior sentimento<br />

humano traz sérios problemas pra mente.<br />

Então podemos dizer que alguns sentem tanto ódio que tendem<br />

a seguir grupos sociais, estilos musicais ou qualquer outro grupo ou<br />

estilo, seja musical, teatral, artes em geral, sem nem mesmo se dar<br />

muita conta disso. Outros procuram grupos extremistas e que levam<br />

a bandeira do ódio aliado a outras ideologias, para expurgar seu ódio<br />

sem ser recriminado ou excluído da sociedade.<br />

Ódio e amor são muito parecidos e extremos, muitos sentem amor<br />

e acham que é ódio, rsrs.<br />

URR Mas você não acha que é muito fácil confundir ideologia<br />

com ódio? Ou melhor, podemos dizer que odiamos alguém, mas só<br />

não concordamos com a forma dele se expressar? Não seria o ódio<br />

a consequência das atitudes irresponsáveis de alguns?<br />

Panda: Claro que sim. Acontece o tempo todo, em grande e pequena<br />

escala, no micro e no macro. O humano comum não consegue nem<br />

diferenciar amor de sexo, carinho sensual de sentimento fraternal, como<br />

não querer que não confundam ódio de diferentes ideologias? Sejam<br />

elas quais forem. A maioria das pessoas tem até um entendimento errôneo<br />

do que é ideologia. A construção de algumas ideologias vira ordem,<br />

vira Estado. E não seria irresponsável julgar algo irresponsável? É<br />

julgamento! Julgado pelas suas ideologias. Tudo merda (burocracias<br />

ideológicas) de Sapiens que tentamos organizar e desorganizar do que é<br />

viver em sociedade, seja ela capitalista ou pseudocomunista.<br />

URR: Como músico de estilo extremo, você concorda que<br />

quanto mais o ser humano erra, mais a gente tem bala na agulha<br />

para desenvolver temas e letras?<br />

Panda: Estando aqui abaixo da linha do Equador, não falta bala<br />

na agulha para quem escreve sobre temas político sociais, por esse<br />

motivo acho estranho ver bandas falando e escrevendo de mitologias<br />

e misticismo, estranho mais ainda quando esses mitos e misticismo<br />

são importados da Escandinávia ou similares. Mas isso é um modo de<br />

pensar particular, pois cada músico deixa suas ideias fluírem, suas imaginações<br />

e idealismo, mesmo que fictícios. Mas é inegável que aqui<br />

no Brasil temos inspirações para letras e música todos os dias, basta<br />

lermos os jornais e vermos o que de novo está acontecendo, e estou<br />

falando do presente, se voltarmos a momentos históricos anteriores,<br />

o leque fica maior.<br />

Porém apesar da infinita fonte de inspiração, corroboro com o Eduardo,<br />

do Facção Central. Preferia estar falando das flores, do amor,<br />

mas enquanto o sistema e o Estado oprimirem e explorarem, o ódio<br />

ainda é minha maior forma de expressão e inspiração.<br />

URR: Como você vê a cena da música pesada nacional?<br />

Panda: A música, como qualquer ação humana, está ligada à situação<br />

política e social do país, e isso vai mais profundamente além,<br />

pois até as mentalidades dominantes no mundo atual, contaminam e<br />

influenciam muito a música em geral, pois em um sistema capitalista<br />

não se pode esperar outra coisa a não ser que todos os tentáculos desse<br />

sistema abracem todas as esferas sociais de um país, sendo assim não<br />

estamos imunes a isso também, alguns mais outros menos. Já falei<br />

muito sobre nossa cena estar prostituta e generalizada de uma maneira<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 19


esquizofrênica de copiar o mainstreem, cria um pseudo mundinho,<br />

copiando falácias inventadas por uma burguesia mimada que “inventou”<br />

um modelo de revista, de mídia, de toda uma função capitalista<br />

de mercado que nos afasta da real arte e do verdadeiro propósito que<br />

ao menos nós temos (e todas as bandas do underground deveriam ter).<br />

Estereótipos que tentam enquadrar a todos. Mas, porra! Está tudo falido,<br />

tudo quebrado e decadente! As revistas, as gravadoras e a maioria<br />

das bandas novas são todas plástico. Claro que a saída está no meio de<br />

toda essa suruba, tem que saber separar, viu? Porque para uma coisa<br />

essas merdas de redes sociais serviram, desmascarar um monte de fascistas,<br />

homofóbicos, racistas, neonazistas e até as viúvas da ditadura<br />

deram a cara! Estou adorando esse “novo mundo”. Ninguém mais precisa<br />

deles, e mesmo assim a arrogância dos donos do underground insiste<br />

em não querer largar o osso. Sua arte fica quando você apodrece,<br />

então se não há nada útil pra falar e acrescentar, melhor sair fora.<br />

URR: Donos do underground é bem a definição! Porém, você<br />

com a Oligarquia, o Cambones e demais outras bandas em que<br />

toca, fazem shows regularmente, como são feitos esses convites e o<br />

que você leva em consideração ao aceitá-los?<br />

Panda: Acredito que o legal de se ter uma banda seja tocar, viajar,<br />

conhecer pessoas e poder passar suas ideias para mais pessoas que tem<br />

ideias parecidas ou ao menos alguma simpatia com elas, pra mim, tocar<br />

é o propósito final de chatas horas de ensaios, chatas horas de sessões<br />

de gravações, reuniões e convivência humana, que por mais amistosa e<br />

sincera que ela seja pra mim sempre é muito difícil lidar com humanos,<br />

conversar, se relacionar, enfim, estar com outro ser humano, na maioria<br />

das vezes é bem difícil pra mim, mas aguento tudo isso por aquele<br />

momento de estar em cima (ou no chão mesmo) de um palco. Por isso<br />

não temos muita frescura na questão shows, se nos chamarem, e forem<br />

bandas e amigos, aceitamos na hora, nem perguntamos sobre grana e<br />

aparelhagem. Só costumamos pensar nisso depois. Hahahaha!!! Se não<br />

conhecemos a pessoa ou é em outra cidade, somos sinceros e anticapitalistas,<br />

ou seja, nada de cachê (de que adianta lutar pra destruir algo se<br />

você com sua banda reproduzem o mesmo sistema?). Pedimos apenas<br />

que paguem as passagens para chegarmos à cidade e alguma coisa pra<br />

comer, do mesmo jeito que fazíamos há 22 anos.<br />

URR: O fato de ter esse lado antissocial te levou a ser baterista?<br />

Por que é difícil para você se relacionar com pessoas?<br />

Panda: Eu não diria antissocial patologicamente falando, mas sim<br />

antirregras e vícios sociais que se repetem por gerações sem ao menos<br />

se darem conta de que estão repetindo idiotices temporais, sem se<br />

darem conta de que vivem de maneiras sistematicamente direcionadas,<br />

me enoja falar com a maioria das pessoas.<br />

que interessa você acha mesmo que iriam colocar algo que faça seu<br />

filho pensar em uma escola pública? Se nem as matérias tradicionais<br />

são ministradas pra dar autonomia intelectual para o aluno! Modelos<br />

estabelecidos! A escola pública é uma fábrica que produz homens<br />

e mulheres que sirvam fervorosamente ao Estado, e ainda se sintam<br />

orgulhosos e realizados por isso. Sou a favor do fim da educação<br />

tradicional e da implantação da educação libertária.<br />

Não fui pra bateria para ser o isolado e o menos conhecido, não<br />

foi isso, mas pensando assim, talvez subconscientemente tenha sido.<br />

Hahahaha!!!<br />

URR: Planos para o futuro?<br />

Panda: Conseguir terminar essa entrevista sem ter feito novos desafetos<br />

(risos).<br />

URR: Resuma Panda Reis em uma frase.<br />

Panda: “Mais raiva do que medo...”<br />

URR: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo<br />

bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.<br />

Panda: Agradeço pela entrevista inteligente que me proporcionou!<br />

Queria que a molecada se ligasse que o mundo é uma farsa, uma falácia,<br />

uma alucinação ideológica tão bem construída que nos faz acreditar<br />

que um papel com números tem mais valor que carne e osso. Percebam<br />

que o mundo que vocês vivem pode sim ser mudado ao avesso.<br />

Mas só se vocês, jovens, quiserem e usarem as armas certas, esqueçam<br />

o que esses merdas formadores de opiniões tentam te empurrar goela<br />

abaixo, estude , lute! E, por favor bandas, vamos falar de coisas que<br />

possam fazer a diferença para quem escuta.<br />

Contatos:<br />

www.oligarquiadeath.com.br<br />

www.facebook.com/oligarquiadeath<br />

www.myspace.com/oligarquiadeath<br />

www.metalmedia.com.br/oligarquia<br />

Entrevista concedida ao site Heavy Metal Breakdown<br />

http://hmbreakdown.blogspot.com.br/<br />

URR: Sei que você participa de um projeto que ensina bateria<br />

para crianças carentes, então como você encara a falta de ensino<br />

musical nas escolas públicas?<br />

Panda: Não faço mais parte desse projeto. Os traficantes e líderes<br />

do “Poder Paralelo” se incomodaram, porque eu não estava apenas<br />

falando de notas musicais. Agora estou tentando implantar um projeto<br />

de ministrar aulas de história na periferia, mas já estou encontrando<br />

obstáculos. ONGs estão ligadas ao cordão umbilical do sistema, e o<br />

controle delas (da grande maioria) sempre vai ser da situação.<br />

Ensino musical nas escolas públicas? Não estamos dando conta<br />

nem do trivial, do fundamental! Eles discutem em voltar com o ensino<br />

religioso, percebam que o controle do corpo e pensamento é o<br />

20 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Por JP Carvalho<br />

banda Unearthly foi formada<br />

no final de 1998 por A<br />

M. Mictian e Lord Thoth, tendo<br />

sua primeira demo: “Blessed<br />

Are The Destroyers Of False<br />

Hope...”, contendo duas músicas,<br />

lançada em meados de 2000.<br />

Com esse material, a banda foi<br />

muito bem recebida pela crítica e<br />

público, rendendo vários shows<br />

pelo território nacional.<br />

Em 2001 sai a segunda<br />

demo: “Living Under The Sign<br />

Of Blasphemy”, desta vez com<br />

três músicas e com Leghor Supay<br />

na bateria, assim como o<br />

primeiro material, esse também<br />

foi muito bem aceito pelo público,<br />

tendo resposta imediata<br />

de revistas especializadas,<br />

zines e público em geral, que<br />

consideraram este um excelente<br />

trabalho.<br />

Após vários shows, em<br />

2002, o Unearthly lança o tão<br />

esperando debut full lenght:<br />

“Infernum - Prelude To A New<br />

Reign” via Encore Records,<br />

que foi lançado também nos<br />

EUA e Canadá via Crash Music.<br />

Mais uma vez a crítica é<br />

unânime em relação ao disco:<br />

“...é mais um ótimo lançamento<br />

do Unearthly - avassalador”.<br />

Em outubro de 2003 a banda<br />

entra em estúdio para a gravação<br />

do segundo CD, intitulado<br />

“Black Metal Commando” via<br />

Encore Records, mais agressivo,<br />

rápido e forte. Lançado em<br />

dezembro do mesmo ano, a produção<br />

é impecável e arrebata as<br />

melhores críticas possíveis, sendo<br />

considerado um dos melhores<br />

álbuns do Metal nacional.<br />

Após algumas mudanças de<br />

formação a Unearthly se solidifica<br />

novamente, e desta vez<br />

com força ainda maior, resultante<br />

do entrosamento e empenho<br />

dos novos integrantes com<br />

os remanescentes.<br />

Em 2007, a formação: Eregion<br />

(vocal), M.Mictian (baixo),<br />

Dennie Arawn (guitarra) e<br />

M.Cult (bateria) lança um novo<br />

EP: “Unmcercyful Personalized<br />

Bestiality” via At War Records,<br />

contendo as duas Demos remasterizadas<br />

(digitalmente), mais músicas<br />

ao vivo e 3 músicas inéditas.<br />

Entre outubro e novembro<br />

de 2007, a banda realiza<br />

sua primeira turnê internacional:<br />

“Unmercyful Domination<br />

South American Tour”, sendo<br />

grande sucesso entre o público<br />

sulamericano. Foram 14 shows<br />

pela Bolivia, Peru, Equador e<br />

Colômbia.<br />

Ainda falando sobre shows,<br />

vale lembrar que a banda sempre<br />

se deu muito bem em cima<br />

dos palcos, já dividindo eles<br />

com algumas celebridades do<br />

underground mundial: Sepultura,<br />

Obituary (EUA), Dying Fetus<br />

(EUA), Hate Eternal (EUA),<br />

Krisiun, Malevolent Creation<br />

(EUA), Enthroned (Bélgica),<br />

Behemoth (Polônia), Desaster<br />

(Alemanha), etc.<br />

O ano de 2008 a banda<br />

completou 10 anos e assinou<br />

com o selo Free Mind Records,<br />

que rendeu o relançamento<br />

dos álbuns “Infernum - Prelude<br />

To A New Reign” e “Black<br />

Metal Commando” que foram<br />

remasterizados e receberam<br />

bônus e novas artes mais slipcase,<br />

o lançamento do álbum ao<br />

vivo “Revelations of Holy Lies<br />

Live”, gravado durante a turnê<br />

sulamericana.<br />

No mesmo ano a banda lançou<br />

o novo álbum de estúdio<br />

“Age of Chaos” que foi um<br />

divisor de águas na carreira<br />

da banda, que passou a figuras<br />

entre as maiores do cenário<br />

nacional. Mesclando Black ao<br />

Death Metal e com a retirada<br />

dos teclados, a banda recebeu<br />

elogios da crítica especializada<br />

não só no Brasil como em todo<br />

o mundo. Após o lançamento<br />

do álbum a banda viajou todo<br />

o Brasil em turnê de divulgação<br />

do material.<br />

Em 2011 a banda parte para<br />

a Polônia para o Hertz Studio<br />

(que trabalhou com Vader,<br />

Behemoth, etc) para a gravação<br />

do novo álbum “Flagellum<br />

Dei”, que foi lançado no Brasil<br />

pela Shinigami Records e no<br />

exterior pela russa Metal Of<br />

Crypt. O CD contou com a participação<br />

Steven Tucker, ex vocalista<br />

do Morbid Angel.<br />

“Flagellum Dei” deu ao<br />

UNEARTHLY vários títulos de<br />

melhor banda do ano nos sites<br />

especializados e rendeu mais<br />

uma turnê pelo Brasil e sua primeira<br />

turnê na Europa, em novembro<br />

de 2012.<br />

A banda inicia 2013 anunciando<br />

o lançamento do seu<br />

primeiro DVD, intitulado ‘Baptizing<br />

the East in Blood’, que<br />

trará como atração principal<br />

a apresentação na cidade de<br />

Voronezh, Rússia. O trabalho<br />

vai contar também com vídeos<br />

filmados por fãs, imagens de<br />

backstage, galeria de fotos e<br />

entrevistas. No Brasil o lançamento<br />

será pelo renomado selo<br />

Shinigami Records e na Rússia<br />

pela Metal of Crypt.<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 21


Sopor Aeternus & the Ensemble of Shadows<br />

Por Leonardo Moraes<br />

Formada no final dos anos<br />

80 em Frankfurt, Alemanha, o<br />

Sopor Aeternus and The Esemble<br />

of Shadows é uma lenda<br />

dentro do cenário Gótico Darkwave<br />

mundial. Inicialmente<br />

a banda chamava apenas Sopor<br />

Aeternus que significa em<br />

latim “sono eterno” uma clara<br />

alusão a morte. Posteriormente<br />

o nome The Esemble of Shadows<br />

(O Conjunto das Sombras)<br />

foi adicionado em justificativa<br />

aos espíritos que influenciaram<br />

na composição dos álbuns.<br />

Apesar de nunca ter se apresentado<br />

ao vivo, a banda possui<br />

uma vasta discografia contando<br />

com 12 álbuns de estúdio<br />

mais 6 EPS, 3 singles, além<br />

de participações em compilações<br />

e versões reeditadas dos<br />

álbuns.O único integrante fixo<br />

da banda é o vocalista Anna<br />

Varney Cantodea que compõe<br />

todas as músicas. A identidade<br />

verdadeira de Anna Varney é<br />

desconhecida pela opção da escolha<br />

do anonimato e a recusa<br />

de se apresentar ao vivo, o que<br />

causa uma grande curiosidade<br />

sobre esse mito que acabou<br />

sendo criado em torno da banda<br />

e da figura do vocalista. O<br />

que se sabe é que Anna é um<br />

nome comum e Cantodea é um<br />

vernáculo feminino em Latim<br />

para som, canção ou cantora.<br />

Fidelidade eterna<br />

ao underground<br />

Varney é o nome do vampiro que protagoniza<br />

o folhetim Varney the Vampyre, or the Feast<br />

of Blood (1847), atribuído ao autor James<br />

Malcom Rymer. Deste modo seu nome artístico<br />

reflete os temas centrais dos álbuns do<br />

Sopor Aeternus - o conflito da sexualidade do<br />

vocalista e a morte. Nas fotos promocionais<br />

da banda normalmente Anna Varney aparece<br />

como um ser sexualmente indefinido, apesar<br />

de que o vocalista da banda se trata de um homem<br />

na verdade. Musicalmente a banda apresenta<br />

uma sonoridade original e incomum,<br />

Anna é capaz de cantar com vozes masculinas<br />

e femininas. O diferencial está na constante<br />

atmosfera fúnebre, com vozes que variam<br />

de um tom provocativo a lamúrias dentro de<br />

um purismo teatral. A banda ao longo de seus<br />

álbuns vem evoluindo de uma linha eletro-<br />

-gótica para uma música mais instrumental.<br />

A sonoridade do Sopor Aeternus conta com<br />

uma pluralidade de instrumentos, que vai de<br />

efeitos eletrônicos até sinos.<br />

O mais freqüente são diversos<br />

instrumentos de sopro, além<br />

de variados tipos de guitarras<br />

(acústicas ou eletrônicas)<br />

e percussão, o que em alguns<br />

momentos chegam a lembrar o<br />

Dead Can Dance. Mesmo tendo<br />

lançado seu primeiro álbum em<br />

1994, o Sopor Aeternus só conseguiu<br />

sair do anonimato total<br />

em 1995 quando participou de<br />

uma coletânea chamada Jekura<br />

- Deep the Eternal Forest “ com<br />

quatro faixas: duas canções do<br />

“ White Onyx Elephant “, que<br />

era um projeto instrumental paralelo<br />

ao Sopor Aeternus e dois<br />

covers do Black Sabbath, “ A<br />

National Acrobat” e “ Paranoid<br />

“, lançadas com seus nomes invertidos<br />

e acentuados de forma<br />

estranha. Ainda no ano de 1995<br />

foram lançados os álbuns “Todeswunsch”<br />

- Sous le soleil de<br />

Saturne “ e o EP que saiu com<br />

tiragem limitada “ Ehjeh Ascher<br />

Ehjeh “. Iniciou-se assim<br />

a carreira da banda intensificando<br />

a produção de novos álbuns<br />

a partir de 1997 com o EP<br />

Voyager - The Jugglers of Jusa.<br />

Uma pequena pausa em 1998<br />

para em 1999 o Sopor Aeternus<br />

lançar um álbum duplo o Dead<br />

Lovers’ Sarabande volume 1 e<br />

2. Em 2000 foi lançado Songs<br />

from the inverted Womb e<br />

no ano seguinte Es reiten die<br />

Toten so schnell ou The Vampyre<br />

sucking at his own Vein.<br />

A partir daí os intervalos entre<br />

os álbuns passaram a ser<br />

um pouco maiores, em 2004<br />

foi lançado o espetacular La<br />

Chambre D’Echo - Where the<br />

dead Birds sing, com a viajante<br />

musica Imothep que chegou<br />

ao topo das paradas alemãs<br />

como a melhor musica alternativa.<br />

Les Fleurs du Mal - Die<br />

Blumen des Bösen foi lançado<br />

em 2007 e Have you seen this<br />

ghost em 2010,que ganhou<br />

duas novas versões em 2011.<br />

Um fato curioso envolvendo<br />

o penúltimo álbum do Sopor<br />

Aeternus,lançado em 2013,<br />

intitulado Poética, foi que ele<br />

teve uma distribuição limitada<br />

ao site da banda tanto a versão<br />

em CD quanto a versão em LP,<br />

atualmente ambos fora de catálogo<br />

e o álbum está disponível<br />

apenas para download no site<br />

da banda. Isso reforça a idéia<br />

adotada pela banda de não querer<br />

ser tão acessível. O novo<br />

álbum da banda lançado em<br />

Setembro de 2014, Mitternacht<br />

também seguirá os mesmos<br />

passos de Poética.<br />

22 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 23


“O grupo foi criado para ter liberdade artística”<br />

Por Leonardo Morais<br />

Metal brasileiro é muito prolífero. Vira e mexe aparecem bandas com<br />

O propostas inovadoras, inteligentes e que saem do bem comum muitas<br />

vezes assumido pelo meno da inovação. Um destes grupos que faz música<br />

sem medo, que inova e ao mesmo tempo tem suas raízes fortemente<br />

fincadas no Metal é o YEKUN. O grupo formado por veteranos do estilo<br />

mescla de forma genuína diversos aspectos da música pesada e cria algo<br />

profundamente interessante. Conversamos com o vocalista JP Carvalho,<br />

que simpaticamente nos contou mais sobre umas das principais revelações<br />

do metal nos últimos anos.<br />

URR: O Yekun está lançou seu primeiro trabalho, o EP “Inside My<br />

Headache”, e já apostou em uma produção de alto nível contando com o<br />

renomado Ciero. Como se deu o contato?<br />

JP Carvalho: Ciero é um brother das antigas, desde sempre sabíamos da<br />

capacidade dele, olhamos outros estúdios e produtores, nós sempre usávamos<br />

os trabalhos dele como referência (mais de 200, diga-se) e a qualidade<br />

do que era produzido ali, depois de uns meses entramos em contato, através<br />

do nosso baixista e acertamos a gravação, mostramos o trabalho, algumas<br />

pré-produções que nós mesmos havíamos feito, passamos horas conversando<br />

a respeito do que pensávamos e queríamos pra o som e o resultado está ai.<br />

URR: O grupo aposta em um som calcado no chamado Stoner Metal,<br />

mas conseguiu deixar o som bem particular. Quais são as influências<br />

da banda?<br />

JP Carvalho: Ai a coisa vai longe! Fica até difícil de explicar influências,<br />

já que todo mundo na banda tem um gosto bem diverso e escutamos de<br />

tudo, mas tudo mesmo… Tipo de Boston a Seeds of Iblis, mas em um consenso<br />

geral podemos citar o Thrash Metal dos anos 80/90, bandas de hardcore,<br />

as bandas seminais da década de 70.<br />

URR: Outro ponto peculiar está nas letras, muito pessoais e até mesmo<br />

com toques psicodélicos dos anos 70. Como é o processo de escrita<br />

das letras?<br />

JP Carvalho: Simples, eu e o Vlad monopolizamos tudo (risos)… Falando<br />

sério, Eu e ele começamos a tocar juntos, lá nos anos 80, minha primeira<br />

banda foi com o Vlad e vice-versa, e nós acabamos desenvolvendo um<br />

estilo muito parecido de escrever, sendo sempre muito subjetivo, deixando<br />

que a pessoa que ouve a música e acompanha a letra tire suas próprias conclusões,<br />

claro, tem um tema, tem a ideia exposta, mas deixamos meio no ar<br />

essas coisas… E 90% delas são experiências pessoais, que se aliam aos 10%<br />

restantes de viagem pura e simples, e se transformam numa massa de letras e<br />

verbos pra cada um digerir como quiser…<br />

Claro que também não ficamos atrelados a temas específicos, o Yekun<br />

foi criado pra ter liberdade artística, então podemos falar de vida, morte,<br />

sofrimento, desilusões ou simplesmente contar uma história qualquer com<br />

enredo totalmente fictício, ou agregar uma coisa na outra e transformar isso<br />

num peça única da nossa insanidade.<br />

URR: O que vocês usam com inspiração?<br />

JP Carvalho: Música! Esse povo do Yekun vive 90% do tempo ouvindo<br />

alguma coisa, é impossível acompanhar tudo que o povo dessa banda ouve,<br />

são tantas informações que fica difícil dizer pra você o que cada um está ouvindo<br />

agora… Nas letras geralmente, pegamos situações do dia a dia, coisas<br />

da vida, boas ou ruins, uma história que vem na cabeça de repente andando<br />

na rua, no Yekun tudo é válido, tudo tem possibilidade de se tornar uma peça<br />

artística, e pegamos tudo isso e jogamos num caldeirão que transforma em<br />

uma coisa boa, que é a música que gostamos de fazer.<br />

URR: Mais uma curiosidade do disco é a presença da cantora de<br />

Soul, Kennya. Como foi feito o contato?<br />

JP Carvalho: Cara, ela estudou com o Vlad na Escola Técnica Federal<br />

de São Paulo há muito tempo atrás, ela é uma amiga de muitos anos. A<br />

Kennya é demais, essa mulher tem um astral fenomenal, impossível você ficar<br />

indiferente à presença dela… O próprio Ciero ficou encantado com a presença<br />

e a voz dela, ficamos no estúdio até quase de madrugada e nem vimos<br />

o tempo passar. Usamos muito pouco da voz dela no Inside my Headache,<br />

coisa de 15 a 20 segundos no total, porque era exatamente o que queríamos<br />

naquele momento, mas temos planos pra trabalhar com ela de novo e esse<br />

material já está escrito para o próximo disco.<br />

URR: O que vocês acham desta mescla do Metal com outros estilos?<br />

JP Carvalho: Extremamente louvável, claro, tem que ter um critério, tem<br />

que ser musical, acima de tudo, tem que haver uma conexão entre as misturas<br />

que vão ser feitas, e se você olhar bem, o metal é quase um liquidificador que<br />

você pode por (quase) tudo dentro que de lá vai sair algo novo, renovando o<br />

estilo… Mas tem que ter critério, pra não ficar forçado e nem chato… Essa<br />

conversa é muito interessante e pode render horas e horas de papo.<br />

URR: Sobre apresentações ao vivo. Como a banda está neste quesito?<br />

JP Carvalho: Quando eu e o Vlad pensamos o Yekun a ideia inicial era<br />

nem tocar ao vivo, só estúdio mesmo, porém as coisas tomaram um rumo<br />

diferente com o tempo, vimos que existe uma grande quantidade de pessoas<br />

que gostam do tipo de som que estamos fazendo, sem falar na pressão exercida<br />

pelo povo das cordas (risos)… Tocamos ao vivo em duas oportunidades<br />

e temos mais algumas datas que estamos avaliando.<br />

URR: Como os produtores podem entrar em contato?<br />

JP Carvalho: Através da nossa página no Facebook ou pelo email, também<br />

através do hotsite da Metal Media, lá o cara descobre um jeito de achar a gente.<br />

URR: Quais os planos para a banda nos próximos meses?<br />

JP Carvalho: Estamos compondo a toque de caixa, queremos finalizar<br />

9 ou 10 músicas e partir para a gravação logo, descolamos um novo estúdio<br />

com tecnologia 100% analógica, que é o que queremos para o nosso som,<br />

claro, nada contra o digital, apenas sentimos que o analógica casa melhor<br />

com a nossa proposta<br />

URR: No Yekun, cada músico vem de uma escola musical diferente.<br />

Como é na hora de compor?<br />

JP Carvalho: Simples e direto, compomos fazendo jams no estúdio e as<br />

coisas fluem muito naturalmente, claro, em seguida vem a parte da “perfumaria”<br />

pra colocar todas as coisas no seu devido lugar… Cada um vem de uma<br />

escola, mas quando noAndré, além da experiência em diversas bandas, tocou<br />

com o Vlad num projeto maluco deles, e atualmente agregamos o Bruno<br />

Di Turi na banda, que descobrimos ser um guiatrrista excepcional, educado,<br />

centrado e responsável, casou 100% com a proposta da banda.<br />

URR: Vocês seguem alguma regra?<br />

JP Carvalho: Nadinha… Instinto puro… E digo pra você, se deixar esses<br />

caras tocam por horas sem parar (risos).<br />

24 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


URR: O som da banda, apesar de taxado como Stoner Metal, é muito<br />

mais complexo que isso. Como vocês descreveriam o som do Yekun?<br />

JP Carvalho: Sei lá, sludge, stoner… Acredito que somos uma banda<br />

que toca Metal, puro e simples, o tipo de som que nos queremos fazer e tem<br />

sido uma surpresa muito agradável ver que as pessoas percebem que não forçamos<br />

nada, tudo é feio na mais absoluta harmonia, visando, claro, sempre<br />

o lado musical.<br />

URR: Complexidade que se dá também na identidade visual da banda<br />

e especialmente nas letras. Quais as inspirações e aspirações da parte<br />

legível do quarteto?<br />

JP Carvalho: Acredito que cada trabalho deve ter uma cara própria,<br />

com identidade visual remetida aos temas daqueles trabalhos, como sou eu<br />

mesmo que faço a produção visual busco sempre enxergar o que determinado<br />

trabalho pede, o que é que se destaca no contexto e procuro trabalhar<br />

em cima disso. Inside my Headache é um trabalho que fala de dor, de solidão,<br />

de pensamentos impuros e acredito que conseguimos passar pra capa<br />

e para as imagens da banda algo assim.<br />

URR: Inside My Headache teve uma recepção muito boa, sendo<br />

muito bem baixado. Vocês acham que as pessoas estão procurando por<br />

bandas “diferentes”?<br />

JP Carvalho: Sim a quantidade de downloads desse trabalho foi uma<br />

surpresa para todos nós e dá muito orgulho, saber que tem tanta gente interessada<br />

no trabalho do Yekun. As pessoas sempre buscam algo diferente do que<br />

estão acostumadas a ouvir no dia a dia, mas olhando mais amplamente acho<br />

que o pessoal se identifica com a musicalidade e a simplicidade do Yekun,<br />

que é exatamente o que ele nasceu pra ser.<br />

URR: E sobre o bootleg ao vivo ‘Live At Kaffeklubben’, que conta<br />

com seis músicas, incluindo músicas inéditas, e também foi disponibilizado<br />

pra download gratuito?<br />

JP Carvalho: Disponibilizamos o áudio do show do Hell Metal Fest I,<br />

onde tocamos com Oligarquia, Trevas, Fatal, Chemical e Zenitê. Na verdade<br />

eram prá ser 7 músicas nesse disco, mas a primeira foi cortada e com problemas<br />

no audio. É exatamente o show da banda, sem nenhum tipo de “beneficio”<br />

tecnologico, o que foi captado é exatamente o que foi tocado. Achei interessante<br />

fazer o Kaffeklubben, até porque somos uma banda que toca muito pouco<br />

ao vivo e tendo um live como segundo lançamento deixa bem o que é a nossa<br />

cara, tipo, Não estamos nem ai prá regras, conceitos e todas essas bobagens que<br />

as pessoas se impoem pela vida adentro. Captamos o audio, fiz a capa, definnimos<br />

detalhes pequenos e ponto final, tá ai prá quem quiser. Sobre o download<br />

gratuito, decidimos trabalhar desta forma com nossa música, democratizando a<br />

arte, claro, em breve será lançado um novo trabalho e apesar dos planos para o<br />

lançamento físico, o áudio e a arte, mais simplificada, também serão disponibilizados<br />

para download grauito. É assim que queremos as coisas.<br />

URR: Quais os novos projetos do Yekun?<br />

JP Carvalho: Compor, compor, compor… Colocar mais um trabalho de<br />

qualidade na praça e ver aonde vai dar. Se a vida permitir, vamos seguindo<br />

em frente sempre.<br />

URR: O que podemos esperar da banda num futuro próximo?<br />

JP Carvalho: Certeza que vamos gravar um trabalho completo, doa a<br />

quem doer, já estamos negociando e vendo todas as possibilidades, e pode<br />

esperar um trabalho de qualidade, até porque nós mesmos não abriremos<br />

mão disso nunca.<br />

URR: Espaço livre, deixem seu recado, informações que esquecemos<br />

de perguntar, comentários e o que mais quiserem falar!<br />

JP Carvalho: Queremos agradecer! Mas agradecer muito e de coração<br />

a todas as pessoas que nos ajudaram e ajudam a tornar o Yekun uma<br />

realidade, aos blogueiros loucos, jornalistas mais loucos ainda e todos que<br />

de uma forma ou de outra fazem o cenário deste país ter uma cara, que<br />

agregam valor e somam em tudo que está ai. E não podemos esquecer da<br />

Débora e do Rodrigo da Metal Media, que se tornaram muito mais que<br />

amigos, se tornaram fámilia e aos outros amigos que estão sempre nos nossos<br />

ensaios, mandando email, ligando, compartilhando no facebook, dando<br />

força pra gente e pra banda, colocando mesmo a gente pra frente. E também<br />

a todas as pessoas que baixaram o Inside my Headache, tudo isso tem sido<br />

muito bom pra nós e tem nos motivado muito a ir em frente. E pode ter<br />

certeza que a gente não vai parar aqui… Hail Yekun!<br />

Contato para shows e merchandise: yekunmusic@gmail.com<br />

Sites Relacionados:<br />

www.facebook.com/yekunmusic<br />

www.myspace.com/yekun<br />

www.metalmedia.com.br/yekun<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 25


Por JP Carvalho<br />

Depois de alguns anos tocando<br />

juntos, os ex-integrantes da banda<br />

Siegrid Ingrid: Evandro Junior<br />

- Bateria, André Gubber – Guitarra,<br />

Sérgio Hernandes – Guitarra e Luiz<br />

Berenguer – Baixo, uniram-se a<br />

“Scream” - Vocais, para a realização<br />

de um novo projeto, o Skinlepsy.<br />

A ideia de dar continuidade ao trabalho<br />

que era feito anteriormente foi<br />

preservada e as novas composições,<br />

expressavam todo o peso e agressividade<br />

do Thrash e do Metal Extremo,<br />

características evidentes durante<br />

a passagem dos músicos por outras<br />

bandas: Evandro Júnior (Anthares),<br />

Gubber (Skullkrusher, Nervochaos),<br />

Luiz Berenguer (Ópera), Sérgio (Brutal,<br />

Elma) e Scream (Stun).<br />

Em abril de 2003, iniciaram<br />

os ensaios para a gravação do primeiro<br />

CD-Demo, “Reign of Chaos”,<br />

que ocorreu em junho daquele<br />

mesmo ano no estúdio Mr. Som, e<br />

contou com a produção de Heros<br />

Trench (Korzus).<br />

As músicas “Crucial Words”,<br />

“Alienation” e “Crawling as a<br />

Worm”, mostravam de forma clara<br />

a proposta de uma nova banda,<br />

que contava com o entrosamento,<br />

experiência musical e novas ideias,<br />

porém, sem perder o principal direcionamento<br />

musical: tocar METAL<br />

sem seguir apenas uma única vertente,<br />

um único estilo.<br />

Esse trabalho obteve uma ótima<br />

receptividade da mídia especializada,<br />

e de certa forma, gerou grande<br />

expectativa a respeito da gravação<br />

do primeiro álbum da banda.<br />

No entanto, após apenas um<br />

ano, cada músico seguiu o seu caminho<br />

em suas respectivas bandas.<br />

Em 2011, os experientes músicos<br />

André Gubber, Evandro Junior<br />

e Luiz Berenguer retomaram<br />

o Skinlepsy com uma sonoridade<br />

focada no Brutal Thrash Metal.<br />

Como resultado, surge o primeiro<br />

álbum da banda, intitulado<br />

“Condemning the Empty Souls”.<br />

Agressividade, letras insanas,<br />

consistência e brutalidade, definem<br />

esse álbum, que é o resultado de<br />

um árduo processo de composição,<br />

gravação e produção, ocorrido durante<br />

o segundo semestre de 2012.<br />

26 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


“Dedicando com vontade, determinação<br />

e prazer, sempre se encontra tempo”<br />

Apesar de contar com músicos extremamente gabaritados, vindos de<br />

bandas como Siegrid Ingrid, NervoChaos, Anthares, Desaster, Pentacrostic,<br />

Opera, os membros do Skinlepsy não assumiram uma postura conformista<br />

e lançaram neste ano o petardo ‘Condemning The Empty Souls’,<br />

disco mais brutal da carreira destes guerreiros do underground que nos<br />

brindam com músicas jovens, técnicas e extremamente pesadas.<br />

Sem mais delongas, confira um pouco sobre o presente do Skinlepsy<br />

e o que os futuro aguarda pra esses caras que honram com sobras todo o<br />

legado de sua música.<br />

URR: Este ano foi lançado o debut de vocês, ‘Condemning The Empty<br />

Souls’ pelo selo Shinigami Records. Como vocês avaliam a recepção<br />

do trabalho?<br />

Skinlepsy: Da forma mais positiva possível! Dezenas de resenhas já<br />

chegaram, no Brasil e no mundo, e outras virão, mas o que a gente observa,<br />

são vários elogios para o álbum. Nós tínhamos uma certeza de que o álbum<br />

seria bem recebido porque mesmo sendo bastante críticos com o nosso próprio<br />

trabalho, ficamos muito satisfeitos com o resultado final. É gratificante<br />

e estimulante, mas não significa que é tudo o que podemos oferecer, pelo<br />

contrário, já estamos planejando algo superior para o futuro.<br />

URR: O grupo é formado por músicos de renome do underground<br />

nacional. Vocês acham que isso influenciou de alguma forma a reação<br />

tão positiva?<br />

Skinlepsy: Eu acredito que as pessoas tiveram uma curiosidade maior<br />

em ouvir o álbum devido ao fato de termos essa passagem por outras bandas,<br />

mas ao mesmo tempo, muitos utilizaram de um senso crítico ainda<br />

mais apurado para avaliar o nosso trabalho, o que de alguma forma enaltece<br />

ainda mais essa reação positiva.<br />

URR:Como falado, vocês, além de terem sua vida pessoal e profissional, tocam<br />

em outras lendárias bandas. Como fazer para conciliar todos os projetos?<br />

Skinlepsy: Quando você se dedica a um trabalho com vontade, determinação<br />

e prazer, você sempre encontra tempo para tudo. É uma correria<br />

constante sim, mas dá pra conciliar as coisas, trabalhar para que as datas<br />

de shows não coincidam, os horários de ensaio não interfiram no dia a dia,<br />

mas tem valido a pena.<br />

URR: O primeiro material de vocês, Reign Of Chaos, saiu dez anos<br />

atrás. Qual o motivo para esse hiato?<br />

Skinlepsy: Nós tocávamos juntos há bastante tempo no Siegrid Ingrid,<br />

e quando iniciamos o projeto do Skinlepsy em 2003, recrutamos<br />

um novo vocalista e fomos para o estúdio gravar essa demo. Houve uma<br />

repercussão muito boa, mas algum tempo depois, o Scream (vocal) saiu<br />

da banda para se juntar ao Endrah que partiria para uma tour no Exterior.<br />

Foi então que resolvemos dar um tempo pra descansar e planejar<br />

as coisas, mas eu particularmente estava bem cansado naquela época<br />

e pensei seriamente em parar de tocar. Foi o que eu fiz, mas acabei<br />

voltando a tocar um ano depois ao acaso, com minha antiga banda, o<br />

Anthares, que também estava parado há alguns anos. O André Gubber e<br />

o Luiz Berenguer montaram outros projetos, mas ao longo dos anos nós<br />

mantínhamos contato e nunca descartamos a volta do Skinlepsy. Isso<br />

finalmente aconteceu quando voltamos a ensaiar e a compor em 2011.<br />

A partir daí foram meses de trabalho duro e muita dedicação que resultaram<br />

no lançamento do “Condemning the Empty Souls”. E já estamos<br />

começando a compor para um futuro álbum!<br />

URR: Deixem uma mensagem pra galera que acompanha o trabalho<br />

de vocês!<br />

Skinlepsy: Nós gostaríamos de agradecer imensamente a todos que nos<br />

tem apoiado nessa caminhada, nós sabemos quem vocês são, e estamos<br />

com vocês, afinal se estamos tocando, compondo, fazendo shows, nos dedicando<br />

de corpo e alma ao Skinlepsy, é porque vocês nos dão todo esse<br />

respaldo. Obrigado a todos vocês!<br />

Foto: Henrique Buffa<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 27


28 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Por Leonardo Moraes<br />

Fundada em 1994 por<br />

Count Imperium, o Ocultan<br />

conta atualmente com 9<br />

álbuns, sendo 8 de estudio e 1<br />

ao vivo ,além de 1 DVD . Não<br />

muito diferente de outras bandas<br />

de Black Metal, o Ocultan<br />

também passou por diversas<br />

formações ao longo da existência<br />

da banda e, atualmente<br />

a banda apresenta uma formação<br />

estável que conta além de<br />

Count Imperium nos vocais,<br />

Lady of Blood nas guitarras,<br />

Malus na bateria e Magnus<br />

Hellcaller no baixo. Gentilmente<br />

Count Imperium e<br />

Lady of Blood abriram as portas<br />

de sua residência em São<br />

Caetano do Sul para receber<br />

a Underground Rock Report<br />

e falamos um pouco da trajetória<br />

da banda e sobre o mais<br />

recente lançamento da banda<br />

o Shadows From Beyond,<br />

confira a entrevista:<br />

URR - Por que Shadows<br />

From Beyond saiu pela Multilation<br />

Records ao invés do<br />

selo Pazuzu?<br />

Count Imperium - A Multilation<br />

já é um selo que a gente<br />

vinha trabalhando há algum<br />

tempo, por isso a escolha. O<br />

nosso ultimo lançamento pela<br />

Pazuzu foi o Regnum Infernalis<br />

e a gente decidiu parar<br />

momentaneamente com as<br />

atividades do selo logo após<br />

o lançamento desse álbum<br />

porque não estávamos conseguindo<br />

conciliar o trabalho<br />

da banda com as atividades do<br />

selo. Em 2013 reativamos o<br />

selo Pazuzu para o lançamento<br />

do Khaotic, projeto paralelo<br />

da Lady of Blood. Somente a<br />

distribuição do Khaotic está<br />

pela Multilation Records.A<br />

tendência é que os próximos<br />

álbuns do Ocultan e Khaotic<br />

sejam feitos dessa forma.<br />

URR- O novo álbum era<br />

pra ter saido ainda no fim<br />

de 2012, e acabou saindo em<br />

Junho de 2013, você poderia<br />

comentar sobre o por que do<br />

atraso?<br />

Count Imperium - Na<br />

verdade o CD só ficou pronto<br />

mesmo em Março de 2013,<br />

porém, ele veio com defeito<br />

nas duas músicas finais e precisou<br />

ser recolhido, até eles<br />

conseguirem achar que o defeito<br />

estava na masterização<br />

da fabrica e até corrigirem,<br />

levou uns três meses.<br />

URR - Soube que Shadows<br />

From Beyond vai ser<br />

lançado em 2014 na versão<br />

em vinil também. Comente<br />

sobre esse processo:<br />

Count Imperium - No ano<br />

passado (2013) a Mafer Records<br />

nos contatou mostrando interesse<br />

em Lançar o álbum Shadows<br />

From Beyond na versão<br />

LP. Não pensamos duas vezes e<br />

fechamos com o selo da Mafer.<br />

Esse lançamento será limitado<br />

em apenas 300 unidades, e está<br />

previsto para o final de fevereiro,<br />

inicio de março.<br />

URR - Sempre achei as<br />

capas do albuns do Ocultan<br />

cheio de referências<br />

a outras bandas de Black<br />

Metal gringas,mas eu achei<br />

em particular que a capa<br />

de Shadows From Beyond<br />

lembra bastante a do novo<br />

álbum do Ragnarok- Malediction.<br />

Houve alguma<br />

influência nesse sentido, ou<br />

é coincidência do estilo do<br />

desenho seguir uma ideia<br />

parecida?<br />

Count Imperium- Não<br />

cheguei a ver esse ultimo álbum<br />

do Ragnarok. Tanto a<br />

capa de Shadows of Beyond<br />

e do álbum anterior, o Atombe,<br />

foram pintadas pelo Rafael<br />

Tavares e acredito que não<br />

tenha sido algo proposital a<br />

semelhança desse álbum do<br />

Ragnarok ou de outras bandas<br />

de Black Metal. Mandamos<br />

uma foto de uma entidade dos<br />

rituais da Quimbanda para ele<br />

ter uma ideia de como seria a<br />

capa que queríamos.<br />

URR- O Ocultan mescla<br />

canções em português e<br />

inglês nos álbuns, porém as<br />

letras em português causam<br />

um impacto sonoro muito<br />

maior no ouvinte, portanto<br />

fazer um álbum só com canções<br />

em português é algo que<br />

está fora de cogitação nos futuros<br />

álbuns da banda?<br />

Count Imperium- A idéia<br />

de ter as letras em inglês é<br />

para atingir o publico internacional<br />

também. Então sempre<br />

manteremos essa linha nos futuros<br />

álbuns de ter as canções<br />

em português e inglês.<br />

URR- Em que dado momento<br />

você decidiu que assumir<br />

os vocais a frente da banda seria<br />

o melhor caminho para manter<br />

a estabilidade na formação?<br />

Count Imperium - Todos<br />

os problemas na formação da<br />

banda foram com as saídas<br />

de vocalistas, então essa decisão<br />

de eu assumir os vocais<br />

definitivamente foi durante a<br />

gravação do álbum Atombe.<br />

Na ocasião o vocalista Legacy<br />

resolveu deixar a banda logo<br />

quando começamos a gravar<br />

os instrumentais do álbum e<br />

aí até acharmos outro vocalista<br />

que se encaixasse do jeito<br />

que queríamos levaria muito<br />

tempo. A sorte que não havia<br />

nenhum vocal dele (Legacy)<br />

gravado para esse álbum e a<br />

maioria das letras foram escritas<br />

por mim então não foi difícil<br />

encaixar os meus vocais,<br />

apesar que tivemos de dar<br />

uma pausa nas gravações durante<br />

umas duas semanas para<br />

reestruturar as coisas.<br />

URR- Ao longo de quase<br />

20 anos de estrada como você<br />

analisa a receptividade da<br />

banda no Brasil e no exterior?<br />

Count Imperium - Eu<br />

acredito que o público brasileiro<br />

tem uma grande tendência<br />

a valorizar mais as bandas<br />

gringas do que as bandas nacionais,<br />

apesar disso, eu acho<br />

que o Ocultan já tem o seu<br />

público estabelecido no Brasil<br />

ao longo desses 20 anos<br />

de estrada, afinal não somos<br />

nenhuma banda iniciante. No<br />

exterior, por exemplo, tivemos<br />

uma boa distribuição do<br />

Profanation, nos Estados Unidos,<br />

Canadá e Europa.<br />

URR- É cada vez mais<br />

raro ver o Ocultan se apresentando<br />

ao vivo atualmente.<br />

Por que isso acontece?<br />

Count Imperium - É difícil<br />

pontuar um motivo só. Mas<br />

sem citar nomes de ninguém,<br />

tem muito produtor picareta<br />

por ai que quer sujeitar a banda<br />

tocar sem nenhum equipamento<br />

decente ou em locais<br />

sem infraestrutura nenhuma,<br />

nem ao menos um banheiro.<br />

Já os produtores sérios só estão<br />

interessados em bandas<br />

gringas que dê algum retorno<br />

financeiro pra eles, jamais<br />

pensam em investir em bandas<br />

pequenas ou de médio porte.<br />

URR- Você teme que o<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 29


Ocultan passe a ser uma<br />

banda de estúdio em decorrência<br />

da oferta de shows serem<br />

cada vez menores?<br />

Count Imperium - Na<br />

verdade não. Claro, adoramos<br />

tocar ao vivo mas se essa situação<br />

chegar a acontecer, continuaremos<br />

fazer a nossa musica<br />

do mesmo jeito. O Bathory<br />

nunca tocou ao vivo e foi o que<br />

foi. Mas a questão é ter boas<br />

condições de apresentar nosso<br />

trabalho ao vivo. Não somos<br />

o tipo de pessoas que vivemos<br />

da música, tocamos porque<br />

gostamos, não por dinheiro.<br />

Até entendo que existe uma<br />

responsabilidade do Ocultan<br />

com os fãs e até uma cobrança<br />

de nos apresentarmos mais ao<br />

vivo. Eu acredito que o público<br />

mereça uma apresentação<br />

de qualidade e não queremos<br />

ver nossos fãs irem a um show<br />

em que o som fica embolado<br />

o tempo todo ou que ele acha<br />

que o resultado ao vivo está<br />

muito diferente do CD.<br />

URR- Como surgiu a<br />

ideia de recrutar Malus para<br />

o posto de baterista?<br />

Count imperium - A ideia<br />

inicial era de contar com um<br />

baterista apenas para fazer<br />

sessão ao vivo. Após ter feito<br />

vários testes com o Malus,<br />

ele demonstrou interesse em<br />

ser um membro fixo. Foi então<br />

que analisamos com calma<br />

e resolvemos efetivá- lo<br />

como membro fixo. Com a<br />

entrada de um novo baterista<br />

passamos a dividir melhor<br />

nossas funções, cada musico<br />

passou a ser responsável por<br />

um único instrumento. Anteriormente<br />

eu estava exercendo<br />

as funções de baterista e vocalista,<br />

tarefa que não estava<br />

sendo fácil (Risos).Com essa<br />

mudança estou podendo desenvolver<br />

melhor a parte dos<br />

vocais.<br />

URR- Há planos de produção<br />

de algum clipe para<br />

o álbum novo? Ou um outro<br />

DVD da banda mais focado<br />

na fase recente?<br />

Count Imperium - Ainda<br />

não tivemos tempo para<br />

pensarmos nisso, até porque o<br />

lançamento do CD está muito<br />

recente e além disso, essas<br />

coisas tem que ser muito bem<br />

planejadas e dentro de nossas<br />

condições financeiras, pois não<br />

dependemos de nenhuma produtora<br />

para fazer isso pra nós.<br />

URR- Existe alguma<br />

possibilidade do primeiro<br />

álbum do Ocultan (Bellicus<br />

Profanus)ser relançado?<br />

Count Imperium - Eu<br />

acredito que não, apesar de<br />

inúmeros pedidos de fãs e interesses<br />

de outras gravadoras,<br />

como a Multilation Records,<br />

em relança-lo. Esse álbum<br />

foi lançado pela Evil Horde<br />

Records na época e já está<br />

esgotado há anos, o segundo<br />

álbum também. O problema é<br />

que a Evil Horde detém os<br />

direitos sobre esses álbuns e<br />

eles não querem passar para<br />

outras gravadoras relançarem<br />

eles. O por que disso ai, eu<br />

não sei dizer. Espero que eles<br />

mudem de idéia futuramente.<br />

URR- De quem partiu a<br />

ideia da mudança do logo<br />

do Ocultan?<br />

Lady of Blood - Na verdade<br />

a gente já tinha um logo<br />

bem parecido com esse que<br />

foi criado pelo ex-baterista,<br />

Lord Fausto, que era bem assimétrico,<br />

ai eu só dei uma<br />

aprimorada.<br />

URR- Vocês poderiam<br />

falar um pouco sobre os projetos<br />

paralelos dos integrantes<br />

da banda ?<br />

Count Imperium- Eu<br />

cheguei a criar o Warhead<br />

666, mas não gravei nada<br />

oficial, apenas disponibilizei<br />

umas faixas no Myspace, mas<br />

a qualidade sonora era bem<br />

ruim devido a precariedade<br />

de equipamentos na época e<br />

acabei não levando a diante.<br />

Em breve pretendo criar outro<br />

projeto, mas sob outro nome<br />

com uma pegada mais Black<br />

Metal anos 90.<br />

Lady of Blood - Acabei<br />

de lançar o primeiro álbum<br />

do Khaotic, intitulado<br />

Tenebrae.O Khaotic era uma<br />

ideia de muitos anos, mas que<br />

nunca tinha saído do papel. Ai<br />

desde Junho de 2012 que eu<br />

comecei a trabalhar pra valer<br />

em cima desse projeto. Nunca<br />

cogitei em chamar ninguém<br />

para tocar os outros instrumentos<br />

porque era uma idéia<br />

só minha de compor todos os<br />

riffs e as letras. Até mesmo<br />

a idéia de voltar com o selo<br />

Pazuzu Records foi pra lançar<br />

o Khaotic ainda em 2013,<br />

porque esse tipo de projeto,<br />

one woman band, até então<br />

era uma coisa desconhecida<br />

no nosso cenário nacional e<br />

correr atrás de outro selo que<br />

abraçasse essa idéia seria algo<br />

que poderia demorar até um<br />

ano pra rolar e eu não gostaria<br />

de esperar.<br />

30 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


A conversa aqui é Rock & Roll<br />

Por JP Carvalho<br />

banda paulistana começou no final de maio/2013 a turnê de promoção<br />

de seu 5º e mais recente CD, O 5º Dos Infernos (Voice Mu-<br />

A<br />

sic–2013), com um show de muita energia e interação com o público<br />

e um repertório baseado em músicas do novo CD e de todos os outros<br />

lançados: O Céu é o Hell (2010), Meu Mal (2007), Whiskey do Diabo<br />

(2005) e Baranga (2003).<br />

A Baranga traz na bagagem a experiência de ter tocado duas vezes<br />

com a banda inglesa Motörhead no Brasil (2009 e 2011), com o reconhecimento<br />

especial do guitarrista Phil Campbell que, em 2011, levou<br />

pessoalmente de presente um balde de gelo carregado de cerveja! Fora<br />

do Brasil, se apresentaram no Festival Eje Del Mal, em Santiago, no<br />

Paulão Thomaz,<br />

rocker sem pátria!<br />

Paulão Thomaz, baterista e fundador das bandas Centúrias, Firebox, Cheap Tequila, Baranga e Camboja,<br />

além disso, uma pessoa que há 35 anos vive o cenário da música pesada brasileira e que conquistou<br />

seu espaço com muita pancada nos couros de seu instrumento e com isso, acabou se tornando<br />

referencia em sua arte. Além disso, Paulão é um cara tranquilo e com muito boa vontade nos concedeu<br />

a entrevista a seguir.<br />

Underground Rock Report: Antes de começarmos,<br />

obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio<br />

dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você<br />

e suas atividades.<br />

Paulão Thomaz: Aeee bro valeu! Toco bateria há<br />

35 anos, sempre no Rock, minha primeira banda foi o<br />

centúrias gravamos a coletânea SP Metal “e dois discos,<br />

o EP Última Noite e o Ninja, todos pela Baratos<br />

Afins, depois fui para banda Heavy Metal Firebox,<br />

Chile. Pelo Brasil, tocaram em muitos eventos por todo o país e dividiram<br />

o palco com Matanza, Cólera, Korzus, Garotos Podres, Velhas<br />

Virgens, Made In Brazil e muitas outras grandes bandas brasileiras de<br />

Rock.<br />

Depois de mais de 10mil CD’s vendidos, muitos quilômetros rodados,<br />

ter figurado nas listas de “Melhor Banda”, “Melhor CD” e “Melhor<br />

Show” de várias renomadas revistas e sites de Rock do país e sempre<br />

ter recebido notas altas nas resenhas de todos seus CD’s, a formação é<br />

a mesma desde o primeiro ensaio: Xande – Vocal & Guitarra, Deca –<br />

Guitarra, Soneca – Baixo & Coros, Paulão Thomaz – Bateria<br />

Ao vivo, são incendiários convictos e ocupam cada centímetro dos<br />

palcos onde tocam! Confira a seguir entrevista com o batera Paulão<br />

Thomaz para o blog Heavy Metal Breakdown.<br />

gravamos apenas um disco, isso tudo nos anos 80,<br />

gravei um CD com a banda de Rock´n roll, Cheap<br />

Tequila também com um CD isso já nos anos 90.<br />

Agora estou no Baranga desde 2000, já lançamos<br />

cinco CDs, toco também no Kamboja, e estamos<br />

gravando o CD de estreia, mas temos um EP com<br />

quatro músicas lançado, e gravei também coma<br />

banda Mano Sinistra um projeto de viola Rock do<br />

Ricardo Vignini, importante músico paulista. isso<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 31


é um resumo da minha carreira.<br />

URR: Quais são suas lembranças do cenário nos anos 80?<br />

Paulão: Muito boas! Muitas bandas autorais e em português acontecendo.<br />

Harppia, Centúrias, Salário Mínimo, Golpe de Estado, Vírus, Platina e muitas<br />

outras. Rock in Rio1. Maravilhoso, tocávamos em teatros, não havia essa coisa<br />

de bar infestado de bandas cover. Lembro que havia um teatro aqui no Paraíso<br />

(bairro tradicional aqui em São Paulo) chamava-se Teatro Mambembe, os shows<br />

eram de terça feira e lotava, vi o Sepultura lá bem no início. Enfim foi muito<br />

bacana ajudar a fazer essa história do Metal brasileiro.<br />

URR: E qual é a sua visão, hoje, do cenário da musica pesada nacional?<br />

Paulão: Como sempre estamos no Underground, o Brasil não é o país do<br />

Rock, mas existe uma cena sim, há bons festivais, produtores que fazem shows<br />

mesmo com muita dificuldade. Mas estamos ai, como fãs e músicos do bom e<br />

velho Rock´n Roll pesado, gravando, tocando música autoral e lançando CDs<br />

acho que isso já é um grande avanço, e vamos em frente, fazemos por amor ao<br />

rock.<br />

URR: Mesmo com a indústria musical em franco declínio, você acha que<br />

o fã de rock ainda é capaz de sustentar o seu cenário consumindo produtos e<br />

merchandize de suas bandas preferidas?<br />

Paulão: Consumir os produtos da banda e comparecer aos shows é a única<br />

saída.<br />

URR: Você foi batera do Firebox, banda que fez certo alarde na época do<br />

lançamento da demo Starting Fire, porém, com o lançamento do primeiro álbum,<br />

Ou of Control, você se desligou da banda, sua intenção era justamente<br />

fazer um trabalho mais voltado ao Rock´n Roll, como no Baranga?<br />

Paulão: O Firebox era uma banda muito boa, mas com a saída do Luiz Mariuitti<br />

(baixo) que foi para o Angra, a banda perdeu a química, houve alguns desentendimentos<br />

com o Michel que era o líder causando a minha saída. Eu estava<br />

desiludido com o Heavy Metal, não gostava do direcionamento músical, aquela<br />

moda do metal melódico me fez sair do estilo, na verdade eu sempre ouvi muito<br />

Rock´n Roll, Slade, Status Quo, Made in Brazil, Patrulha do Espaço e metal<br />

anos 80 que era mais cru e direto, ai resolvi tocar um som que me identificava<br />

mais e estou até hoje tocando o que eu gosto que o Rock direto sem firulas.<br />

URR: E com o Baranga você conseguiu seus objetivos musicais?<br />

Paulão: Em parte sim! Fizemos cinco ótimos discos em português, uma<br />

banda verdadeira. Abrimos para o Motorhead por duas vezes, fomos ao Chile e<br />

muitos shows bons por aqui. Então não posso reclamar. Em outro sentido, fico<br />

um pouco frustrado pela falta de profissionalismo, uma banda como a baranga<br />

devia ter crescido mais, faltou produtor, empresário, porque chega um momento<br />

que a banda para e isso não é bom! Entendeu? Coisas de Brasil.<br />

URR: Porque você resolveu não participar da volta do Centúrias?<br />

Paulão: Acho que tive o meu momento lá, tenho o maior orgulho porque o<br />

Centúrias me deu o que sou hoje, sem querer fizemos história, hoje vou ao show<br />

deles e me emociono. Como aquelas músicas são boas... Mas estou afim de outras<br />

coisas no Rock e estou fazendo, mas amo aqueles caras.<br />

URR: Como vem sendo a aceitação dos shows do Baranga?<br />

Paulão: Mesmo tendo, em alguns momentos, problemas técnicos de som,<br />

os shows da Baranga, tem muita energia e carisma e esse sempre foi o forte da<br />

banda, o lance ao vivo é muito forte, ultimamente o público tem se ausentado<br />

dos shows, devido a vários fatores, grana, bares com bandas cover, muitos shows<br />

gringos, mas estamos ai na luta, espero que seja uma fase.<br />

URR: Bandas cover se tornaram uma reclamação recorrente aqui no<br />

blog e nas midias sociais em geral. Você acha que o brasileiro é culturalmente<br />

influenciado a acreditar que os trabalhos feitos por aqui são de menos<br />

qualidade, ao ponto de valorizarem uma cópia, muitas vezes mal feita, dos<br />

seus ídolos internacionais?<br />

Paulão: Com certeza sim, as pessoas falam mal dos donos de bar, mas não é<br />

culpa deles! É cultural sim e acho que não vai mudar, o gringo é sempre melhor<br />

por incrível que pareça até o cover (risos) Já vi bandas sofríveis tocando com<br />

a casa cheia, como também tem excelentes bandas eu mesmo faço tributo ao<br />

Lynyrd Skynyrd, nada contra, o cover isso sempre existiu, mas trocar totalmente<br />

o apoio a essas bandas em detrimento ao som autoral é demais, por outro lado<br />

não ha bandas, de qualidade, suficiente para cobrir as noites em todos os bares<br />

então o cover é importante. O problema é a total desvalorização do som autoral,<br />

temos ótimas bandas por aqui cantando na nossa língua e estamos precisando<br />

disso. O país esta falindo e o Rock tem sim, seu papel social também, eu e as<br />

bandas que toco se preocupam com isso e não vamos desistir principalmente<br />

o Kamboja, que tem em seus temas algumas músicas que tratam da nossa realidade.<br />

uma forma de acentuar esse lado xenofilista que o brasileiro tem?<br />

Paulão: Sim, com certeza! Essa coisa terçeiro mundista nos afeta muito,<br />

não vamos ser hipócritas e falar em 100% nacionalistas, porque não somos!<br />

Mesmo porque o Rock não é brasileiro e eu mesmo gosto de muita coisa estrangeira.<br />

Mas estamos falando em Rock brasileiro, ai eu acho que tem que ser<br />

em português, o Ratos de Porão faz turnês há muitos anos na Europa cantando<br />

em português, ai você fala no Sepultura. Bom ai é outra história, igual a eles<br />

nunca mais.<br />

URR: Você acha que dificilmente alguma banda daqui vai chegar a um<br />

patamar equivalente ao Sepultura? Eu acredito que com a estrutura e o investimento<br />

certos, isso pode acontecer.<br />

Paulão: Não sei não! Acho muito difícil, o Sepultura estava no lugar certo<br />

na hora certa e principalmente com os caras certos, Max e Igor, eu os vi no Aeroanta<br />

(casa de shows dos anos 80 aqui de São Paulo) e nunca havia visto nada<br />

igual, era muita adrenalina e carisma juntos. Isso acho que acontece em 1000<br />

anos (risos). Temos bandas com certo sucesso, mas mano, o Sepultura influenciou<br />

os gringos, nunca mais vai acontecer isso em termos de Rock.<br />

URR: Entendi o seu pensamento. Como você se vale das redes sociais<br />

para divulgar o seu trabalho?<br />

Paulão: É o Facebook é legal pra divulgar trampo, shows, marketing pessoal,<br />

divulgar os endorses. Mas não me iludo não, neguinho fala que tem 1000<br />

likes no vídeo ou no CD, mas na hora do show vão 50 pessoas (risos), o cara<br />

não tira a bunda da cadeira pra ir ao teu show, entendeu?<br />

URR: Então não existe Rock sem muito trabalho duro?<br />

Paulão: Claro que não! A não ser com muita grana pra comprar jabá, mas<br />

mesmo assim tem que ter música boa e consistente.<br />

URR: Nada mais ligado ao rock que a santíssima trindade: cerveja, mulher<br />

e Rock... Você acha que, uma banda não tem como errar dentro desse<br />

quadro?<br />

Paulão: Acho que já esta desgastado, acho legal ter uma ou outra música<br />

com esse tema, mas não ser o principal , isso tudo já esta desgastado.<br />

URR: Quais são as diferenças líricas do Kamboja e do Baranga?<br />

Paulão: O Baranga sempre foi mais focado na diversão cerveja, mulher,<br />

carros. O Kamboja tem uma ou outra assim, isso é inerente ao Rock, mas temos<br />

também letras com temas mais sociais, como a hipocrisia da sociedade, a mentira<br />

dos políticos e realidade brasileira, acho que estamos precisando protestar<br />

uma pouco, não da pra ficar mais alienado.<br />

URR: Então, a música é um excelente veículo para o protesto?<br />

Paulão: Pode ser sim um veículo de conscientização, mas sem exageros pra<br />

não ficar panfletário e chato. Rock´n Roll é diversão também.<br />

URR: Você sente uma evasão do público nos seus shows?<br />

Paulão: Infelizmente sim, são muitos os fatores que levaram a isso , espero<br />

que melhore, situação financeira, shows gringos, covers, etc.<br />

URR: Planos para o futuro?<br />

Paulão: Continuar gravando, tocando. Enfim, continuar na estrada espalhando<br />

a ideologia Rock´ n Roll.<br />

URR: Resuma Paulão Thomaz em uma frase ou palavra.<br />

Paulão: Rocker sem pátria (risos).<br />

URR: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-<br />

-papo, deixa aqui uma mensagem para os nossos leitores.<br />

Paulão: Opa! Obrigado a você. Foi uma boa entrevista perguntas inteligentes,<br />

valeu mesmo! Prestigiem as bandas brasileiras, tem muita coisa boa, confiram<br />

algumas; Carro Bomba, Kamboja, Baranga, Cracker Blues, Salário Mínimo,<br />

Centúrias, Dr. Sin, Korzus, Torture Squad, A.V.C., Golpe de Estado, Saco<br />

de Ratos, Makinária Rock e muitas outras. Abraço a todos os leitores, obrigado!<br />

Contato: www.barangarock.com.br<br />

Foto: Fernando Yokota<br />

URR: Porque cantar essencialmente em português?<br />

Paulão: Acho que tudo é o objetivo da banda, no meu modo de ver acho<br />

legal cantar no seu país uma língua em que todos entendam, veja bem no brasil<br />

poucos falam e entendem bem em inglês, certo? Então como passar o recado se<br />

não temos uma segunda língua aqui e agora mais que nunca temos que passar<br />

o recado em português. Qual a música mais conhecida do Dr. Sin? Futebol,<br />

Mulher e Rock´n Roll. A do Korzus? Correria e Catimba! São dois exemplos<br />

muito fortes do que estou dizendo.<br />

URR: E não seria até mesmo por causa das bandas cantarem em inglês,<br />

32 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Por JP Carvalho<br />

Surgida na década de 1990, tendo sempre a frente seu<br />

líder incostestável Charlie Curcio, que além de ser um<br />

dos caras mais atuando no cenário da música pesada, leva<br />

o StomachalCorrosion mesmo com todos os trancos e mudanças<br />

de formação ao longo dos anos. E não são poucos,<br />

são 23 anos levantando a bandeira da música extrema, incontáveis<br />

lançamentos e muito história prá contar.<br />

Em 2014 a banda prepara mais uma volta aos palcos,<br />

com a nova formação prometendo para muito em breve<br />

novos e significativos lançamentos. Confira a seguir um<br />

apanhado geral da história deste ícone do cenário Heavy<br />

Metal do Brasil.<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 33


Em janeiro de 1991, Charlie Curcio surge a idéia de formar uma<br />

banda, tendo influência bandas como Agathocles, Gangrena Crucial,<br />

Carcass, Rapt, Ocult, Impetigo, Abominog, Napalm Death, Napalm<br />

e etc... Vindo de uma banda HardCore/Punk, a Diarrhea, e de<br />

outra Crossover, a Interitus, era natural a temática social, e devido<br />

às novas tendências do meio Underground na época, as nojeiras do<br />

Splatter também figuravam nas letras da banda.A primeira formação<br />

do StomachalCorrosion não chegou a executar nada, apenas a<br />

esboçar o que seria a música Holy Flesh. Esta formação não durou<br />

muito e assim o StomachalCorrosion inicia um ciclo de mudanças<br />

de formação, mesmo antes de existir direito.<br />

Antes mesmo de se iniciarem os primeiros ensaios os três membros<br />

do StomachalCorrosion são chamados pra completarem a formação<br />

de uma banda que voltara à vida, a Hóstia Podre, a banda<br />

existiu durante alguns meses, realizou dois shows na cidade de<br />

Campina Grande-PB, gravou dois ensaios em fitas Demo Ensaio, e<br />

encerrou definitivamente sua profana existência. Dentre as músicas<br />

tocadas estava Holy Flesh, que seria a primeira do StomachalCorrosion,<br />

se tornando a primeira da Hóstia Podre.<br />

Assim o StomachalCorrosion pôde voltar a trabalhar com mais<br />

dedicação, tendo ficado como um simples projeto na época em que<br />

a HP contava com seus membros de até então. Enquanto projeto o<br />

StomachalCorrosion contou com algumas pessoas em sua formação,<br />

em ensaios esporádicos e sem maiores compromissos. Depois de um<br />

desses ensaios, tiveram uma conversa para acertar a formação definitiva<br />

para a StomachalCorrosion, uma vez que se sentiam entrosados.<br />

E iniciaram os primeiros ensaios realmente, porém, ninguém<br />

na banda tinha instrumento algum e contavam com os das outras<br />

bandas, assim como usavam os locais de ensaios de outras bandas<br />

também. Mesmo com tantas dificuldades, os primeiros sons foram<br />

surgindo, A banda ensaiava com mais freqüência no local de ensaio<br />

da banda Mortífera, de Campina Grande. Mas aproveitavam as oportunidades<br />

no local do Krueger. O término das atividades da Mortífera<br />

coincidiu com uma viagem de da guitarrista Emilia para Recife, o<br />

que acarretou em uma parada momentânea e que muitas coisas foram<br />

acontecendo e moldando a banda para o que seria dali em diante.<br />

Novas mudanças de formação, novas músicas foram sendo incorporados.<br />

Atpe que foram convidados para irem a Caruaru, passar<br />

um final de semana na casa de um velho amigo, Kleber Gomes<br />

(ex- Extreme Death). Com esta visita surgiu a idéia de se fazer uma<br />

apresentação na casa de ensaios das bandas daquela cidade, uma vez<br />

que a banda aproveitou o local e equipamento para passar os sons. E<br />

foi realizada a primeira gig do StomachalCorrosion, contando com o<br />

Kleber Gomes (ex-Extreme Death) no baixo. Esta apresentação não<br />

foi gravada, mas um dos ensaios foi registrado em K7.<br />

Voltando para Campina Grande e com a volta da guitarrista Emilia<br />

que só aconteceu dois meses depois, a banda ganhou mais peso tendo<br />

duas guitarras. Mas uma nova fase de ensaios aconteceu, ou melhor,<br />

foi obrigatória devido ao término das atividades da Agression, ficaram<br />

passando o som com violões e faziam ensaios esporádicos junto a algumas<br />

bandas da cidade. Foi nessa época que tiveram uma proposta da<br />

Rotthenness Records, para o lançamento de um EP 7”. O Stomachal-<br />

Corrosion conseguiu um lugar de ensaio e equipamento para a gravação<br />

deste ensaio com a melhor qualidade possível na época. Mesmo assim<br />

não ficou bom e o compacto não saiu, aproveitaram a gravação para<br />

uma DT Ensaio, que se chamaria One And Corrosive, lançada em 1993,<br />

contendo 12 músicas, incluindo um cover de Introtyl, do Agathocles.<br />

Com o lançamento desta demo, tiveram novamente um convite de<br />

tocar em Caruaru. E em 15 de maio de 1993 a banda se apresenta pela<br />

segunda vez naquela cidade. Tocando por último, e gravando o show<br />

em K7, mesmo com muitos cortes nos inícios das músicas, cortesia do<br />

técnico que comandava o gravador, a gravação acabou não sendo aproveitada.<br />

Voltando a sua terra natal, retoma-se os ensaios em conjunto<br />

com uma nova banda a Mind Grind, e em um galpão onde aconteceria<br />

sua terceira apresentação e a primeira na cidade de Campina Grande.<br />

Novas mudanças de formação ocorreram mas, continuaram ensaiando<br />

no local por mais algum tempo, tendo ainda a nova Mind Grind como<br />

companheira de ensaios e compartilhadora de equipamentos, até que o<br />

ponto foi entregue e a banda passou a ensaiar em um quartinho nos fundos<br />

da casa da guitarrista Emilia. Desta vez só com a Mind Grind, como<br />

banda irmã, Na realidade foi feito um acordo: a StomachalCorrosion<br />

tinha o local e a Mind Grind o equipamento.<br />

A StomachalCorrosion foi convidado para um festival que tinha<br />

planos de ser anual, mas que só se realizou por dois anos, o CG<br />

Corpse Grinder Festival, tocando por último, no dia 2 de abril de<br />

1994, às 3:30 da madrugada.<br />

Logo, começaram a dividir os ensaios e o equipamento com mais<br />

uma banda, a C.U.S.P.E. Porém, pouco tempo após a Mind Grind<br />

acabou, ficando apenas a C.U.S.P.E. e a StomachalCorrosion. Destes<br />

ensaios saiu uma nova demo, a Sremichin Cettesael, gravada em<br />

março de 1994, contendo 10 músicas da banda e um cover de Deceiver<br />

do Napalm Death e Why Work For Death do Dissenssion.<br />

Em agosto de 1994 Charlie e Sergio fizeram uma viagem à São<br />

Paulo para assistirem ao Philips Monsters Of Rock, e neste meio<br />

tempo a banda foi convidada a tocar no Parque do Povo, em Campina<br />

Grande, em um Campeonato de Skate, e mesmo sem os dois<br />

membros, a banda decidiu tocar. Com o retorno dos dois voltaram<br />

aos ensaios normalmente. Com o passar do tempo, foi cogitada mais<br />

uma gravação, desta vez com recursos melhores e juntando todas as<br />

composições que a banda tinha até o momento. Mas poucos dias antes<br />

desta gravação o vocalista deixa a banda, sendo substituído pelo<br />

amigo Hugo (atual Night Candelabrum). Tiveram pouco tempo de<br />

ensaio até a gravação e em outubro de 1994 trancam-se em estúdio<br />

para o registro de World Of My God, com 24 sons, mais uma intro<br />

gravada na noite de sábado com Armênio e Afrânio nos violões e<br />

Charlie na percussão. As músicas da demo em si foram gravadas no<br />

dia posterior, um domingo, tendo o sábado apenas para o aperfeiçoamento<br />

do equipamento e testes de gravações. Na realidade World<br />

Of My god nada mais é do que a junção das músicas das duas outras<br />

demos ensaios, menos os covers.<br />

Mesmo com nova mudança na formação, realizaram um show em<br />

Campina Grande para o lançamento da nova demo, junto à banda campinense<br />

Hedra, no dia 11 de março de 1995, a gravação deste show<br />

foi lançada em um split K7 junto com os belgas do Agathocles, sendo<br />

a primeira participação de uma banda brasileira junto à banda belga.<br />

Pouco depois tocam no 1º Contra-Cultura, Não Anti-Cultura, no<br />

dia 19 de maio de 1995. Nesta apresentação houveram alguns problemas,<br />

o que gerou uma discussão no dia seguinte.<br />

A banda seguia em frente, mas perderam o local de ensaios, forçando-os<br />

a novamente, dividirem o local de ensaio com a C.U.S.P.E.<br />

e tocam pela primeira vez na cidade de Natal junto à Discarga Violenta<br />

em 23 de julho de 1995. Nesta época, Emilia resolve deixar a<br />

banda. Com sua saída, reformularam a banda e tocaram junto ao Iron<br />

Maiden Cover de Campina Grande, no Bar-Bárie.<br />

Esta gig foi filmada em VHS, e parte dela aparece na Grinded<br />

Brain Vídeo Comp., lançada pela Grinded Brain, de Sumaré-SP e na<br />

fita SC/Tapasya, lançada pela Barulheira Rec., do Rio Grande do Sul.<br />

Com esta formação ainda chegaram a tocar com a Trinca Cunhão de<br />

João Pessoa, que rendeu um convite ao StomachalCorrosion para tocar<br />

em João Pessoa no dia 17 de fevereiro de 1996, no II Eternal Torment<br />

Fest., mas como já se notava certa apatia por parte do baterista<br />

Alessandro, a banda decidiu não tocar e por conseqüência do cancelamento,<br />

a perda de uma oportunidade houveram novas mudanças de<br />

formação. Mas seguiram em frente, tocando ao vivo no 1º Embarcanção<br />

Promove, em agosto de 1996 e em Areia-PB, em dezembro do<br />

mesmo ano. A gravação em K7, do show do de agosto de 1996 sairam<br />

as fitas SC/Rot, além das quatro músicas ao vivo que aparecem no CD<br />

GrindAttack, lançado pela Mutilation Rec., de São Paulo. Gravaram<br />

quatro sons no estúdio que seria para um EP7, proposto pela Sem<br />

Nome Rec., de São Paulo, mas como esta foi apenas mais uma proposta<br />

furada, as músicas acabaram saindo mesmo no CD GrindAttack.<br />

E pela primeira vez a banda tinha sua música registrada em um<br />

vinil, era o LP Compilação “Beneficente à Mumia Abul Jamal”.<br />

Porém, com a saída repentina de Eduardo, decidiram encerrar a<br />

banda, depois de algumas tentativas inúteis de recrutar pessoas da<br />

cidade. Então Charlie muda-se para Minas Gerais no final de 1997<br />

e leva consigo a proposta da banda, uma vez que nenhum dos ex-<br />

-membros se prontificou a continua-la em Campina Grande. A banda<br />

ficou sem uma formação mas aparecendo em vários lançamentos<br />

como: CD compilação O Progresso Da Regressão (No Fashion HC<br />

Rec.), além de algumas em K7, CD e CDr e da Fita VHS Grinded<br />

Brain Vídeo.<br />

Em 1998 Charlie é convidado a tocar na banda Disarm, de Santa<br />

Bárbara D’ Oeste- SP. Em um ano exato chegaram a gravar os sons que<br />

estão no LP StomachalCorrosion/Disarm, lançado pela No Fashion<br />

HC Rec., no CD comp. Noise For Deaf II- Rotthenness Rec., o EP 7<br />

Disarm/Sub Cut No Fashion HC Rec., a K7 Disarm Promo Tape e o<br />

CD Comp. Crust X Grind. Além de tocarem em dois shows junto a<br />

bandas como Rot, Woyczech, Cut Your Hair e Intestinal Disease. Em<br />

um dos ensaios da Disarm, Charlie aproveita pra gravar dois sons do<br />

StomachalCorrosion para o CD Compilação “Esperanto Subgrunde.<br />

Mas no final de 1999 Charlie sai da Disarm pra se dedicar à<br />

StomachalCorrosion, e no começo de 2000 uma nova formação se<br />

inicia, Com esta formação chegam a gravar alguns ensaios que aparecem<br />

na fita SC/IMDL, lançada pelos selos PQñ? Rec.e Detruo<br />

Distro em setembro de 2002, a K7 lançada na França SC/Los Suppositos/StormCore/Tekken.<br />

Nesta época um baixista havia sido recrutado mas por motivos<br />

34 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


particulares não permanece na banda.. Ficando a banda como um<br />

trio e com esta formação gravam sons que estão tanto na K7 SC/<br />

IMDL quanto no CD SC/Jan AGx, lançado pela Nosferatu Rec., de<br />

Bragança Paulista. Aproveitando o convite, entram na Compilação<br />

em CD “Não Nasci pra ser Herói, por isso Não Mereço Méritos”, da<br />

Agah Rec., de Piracicaba.<br />

Logo após a gravação deste material a banda faz dois ensaios e<br />

se dissolve por dificuldades diversas para continuar. E no final de<br />

2002 voltam pra banda, logo no inicio de 2003 entram dois novos<br />

membros, algumas gravações de ensaios foram feitas. No dia 29 de<br />

março de 2003 tocam ao vivo em Carapicuíba-SP.<br />

E, junho de 2003 gravam algumas músicas para o CD Stomachal-<br />

Corrosion/Agathocles a ser lançado pela No Fashion HC Rec. No<br />

mesmo mês novas mudanças, e com a formação resumida tocam em<br />

Carapicuíba em 18 de abril de 2004.<br />

Essa foi uma pequena e horrorosa fase de instabilidade e de baixa<br />

produtividade na formação. Em 6 de dezembro de 2003 tocam na<br />

cidade de Varginha, junto a outras bandas, entre elas o Securitäte, de<br />

Machado-MG. Repetindo a dose no dia seguinte. Com uma formação<br />

provisória. Finalmente em 30 de dezembro de 2003 é lançado o CD<br />

StomachalCorrosion/Jan Agx.<br />

Em 23 de janeiro de 2004 a banda finalmente toca na cidade de<br />

Cambuí, e em 25 do mesmo mês em Pouso Alegre. Ainda sem uma<br />

definição quanto à formação. Houve uma rápida presença de um baixista<br />

convidado, que não permanceceu na banda devido a problemas<br />

pessoais, como trabalho e faculdade. Em meados de abril finalmente<br />

uma definição quanto à formação da banda.<br />

Desta vez Cleyrison volta pro vocal, Charlie continua na guitarra/vocal,<br />

e entram Felipe na guitarra solo e Manoel na bateria. Felipe<br />

não se adequa ao som e permanece na banda por pouco tempo.<br />

A banda passou alguns dias apenas com Cleyrison, Charlie e Manoel,<br />

sendo que o baixista Silas, já estava em vistas de entrar na formação.<br />

Algumas datas já estavam previstas e todas foram cumpridas<br />

sem baixista mesmo.<br />

Com a formação estabilizada, conseguem melhores resultados e<br />

seguem fazendo vários shows. Em janeiro de 2005 entram em estúdio<br />

para a gravação do que seria o debut<br />

CD da banda, depois de 15 anos, “Transtorno<br />

Obsceno Repulsivo”. Enquanto isso outros<br />

registros são lançados, como os splits CD-rs<br />

StomachalCorrosion/Violenta Dizimação. Fecham<br />

com a “Dark Stamp”, de Governador<br />

Valadares, para uma distribuição de um CD-r<br />

Promocional no catálogo da distrubuidora de<br />

camisetas. Em janeiro de 2006, fugiram no<br />

CD Compilação de uma revista do Chile, “Extreme<br />

Noise Mag. Chile”, número 3.<br />

Enquanto o lançamento do debut CD<br />

“Transtorno Obsceno Repulsivo se arrastava, a<br />

banda lança um CDr Promo, tentando manter a<br />

banda em evidência no cenário. Este contava<br />

com cinco faixas do CD que viria e mais cinco<br />

de cada um de seus principais lançamentos.<br />

Uma participação no Festival “Roça’n’Roll,<br />

no dia 27 de maio de 2006, na cidade de Varginha<br />

eleva bastante o nome da banda na região.<br />

Desta participação é tirado um clipe que entra<br />

no DVD do evento, lançado pela Cangaço Produções.<br />

Outro grande evento que a banda participa<br />

é a eliminatória para o festival Wacken<br />

Open Air, também em Varginha.<br />

O CD “Transtorno Obsceno Repulsivo” finalmente<br />

é lançado pelo selo Nosferatu Rec.,<br />

no dia em 20 de junho.<br />

Em agosto de 2007 Silas resolve sair da<br />

banda. Mesmo assim toca nos shows de Cambuí,<br />

Pouso Alegre e Bragança Paulista, no lançamento<br />

oficial do CD.<br />

Uma entrevista com a StomachalCorrosion<br />

sai no número 53 da revista Rock Hard-<br />

-Valhalla. Novos shows são marcados.<br />

Um comentário do CD Transtorno Obsceno<br />

Repulsivo na revista Cover Guitarra. Coisa<br />

rara uma banda nacional de Grind Core aparecer<br />

nessa revista. Charlie Curcio sai na seção<br />

Roadie Profile da revista Roadie Crew. Entrevista<br />

de duas páginas na revista Comando<br />

Rock. Compilação Visão Underground, com<br />

entrevista no fanzine<br />

No dia 6 de junho do 2009, é realizado o último show da banda,<br />

em Varginha, no Roça´n Roll. Essa apresentação fora gravada por<br />

uma equipe profissional, com a inteção de ser lançado um DVD. O<br />

StomachalCorrosion é capa e entrevista no jornal paulista NFL, nº22<br />

de abril de 2009.<br />

Em 14 de setembro de 2009, a banda novamente encerra suas<br />

atividades.<br />

Em março de 2010 é lançado um DVD, intitulado “Malobei”,<br />

com a gravação do último show da banda, realizado no Roça ´n Roll.<br />

Completando o DVD uma apresentação em Bragança Paulista na<br />

noite de 17 de dezembro de 2008 e um slide de fotos.<br />

Ensaiando mais uma volta no começo de 2011 a StomachalCorrosion,<br />

depois quase um ano e meio parada, e na formação contam<br />

com Lucas, nos vocais, Guilherme ‘Coruja’ na bateria e seu fundador<br />

Charlie Curcio na guitarra.<br />

O primeiro show da volta da banda já está previsto para a cidade<br />

de Paraisópolis, sul de Minas Gerais, em abril. Depois as datas<br />

seguem para Pouso Alegre, São José dos Campos, Pouso Alegre,<br />

Varginha, novamente no Roça in Roll 2011 e São Paulo. A banda<br />

também fechou endorse para camisetas oficiais com a Fenix Metal<br />

T-shirts, de Paraisópolis-MG e também um acordo com a Sujo Records<br />

de São Paulo de distribuição das camisetas.<br />

Em abril de 2011, novas mudanças de formação, após a saída do<br />

baixista Eduardo, em seu lugar entra Cauê, ex-Toxoplasmose, banda<br />

de Bragança Paulista, que contá também com Guilherme na bateria e<br />

fez uma apresentação junto ao próprio StomachalCorrosion, em sua<br />

cidade natal.<br />

A atual formação da banda conta com, além de seu fundador<br />

Charlie Curcio, com Neto Almeida, vocais, e Paulo Vieira nas guitarras,<br />

Thomas Alves no baixo e Marcio Barbosa na bateria.<br />

Com esta reformulada geral, a banda já está em processo de composição<br />

para entrar em estúdio em breve gravar dois músicas e em<br />

breve lançar um single, que contará ainda com um clipe de uma<br />

músicas.<br />

Informações:<br />

www.facebook.com/Stomachalcorrosion<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 35


DestrucTVision<br />

Por JP Carvalho<br />

36 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong><br />

No dia 8 de agosto! O estúdio Espaço Som, recebeu os convidados<br />

para o lançamento de DVD “DestrucTVision” da<br />

banda Woslom.<br />

Desde o lançamento do CD “Evolustruction” a banda vem<br />

galgando muitos degraus em sua carreira e mesmo com a perda<br />

de um de seus fundadores, o baixista Francisco Stanich Jr, o<br />

Woslom desponta como um dos representantes de peso do Heavy<br />

Metal nacional.<br />

Lançado pela Wikimetal Music este DVD conta com vídeos<br />

de todas as músicas do citado CD, desde os clipes oficiais até os<br />

lyric vídeos e claro, vem recheado de bônus, e claro, o novíssimo<br />

vídeo clipe da música Purgatory, um verdadeiro trabalho de arte,<br />

perturbador e consistente como a belíssima música. Tornando<br />

este “DestrucTVision”, um documento histórico de um dos trabalhos<br />

de maior expressão do cenário da música pesada nacional.<br />

A festa de lançamento começou próximo das 21 horas, cerca<br />

de 200 pessoas se aglomeraram no estúdio (o mesmo usado por<br />

bandas como Nervosa, Nervo Chaos em ocasiões diferente), cabe<br />

ressaltar que o som é um caso a parte, a qualidade que emana do<br />

PA´s é tão absurdamente boa, que muitas vezes causa a sensação<br />

de se estar ouvindo o próprio CD da banda.<br />

Podíamos conferir pela exposição da arte da capa e a presença<br />

do artísta Marcio Aranha a evolução da arte do DVD e ainda<br />

os convidados podiam conferir a criação de caricaturas dos convidados<br />

por Doug Dominicali. Com a apresentação de Dewwytto,<br />

seguida da apresentação do DVD e de sorteio de brindes exclusivos<br />

aos convidados. A banda ataca com um pocket show<br />

sensacional, que deixou claro para todos os presentes de o porque<br />

do Woslom ser uma banda que cresce e se destaca dia após dia.<br />

O set list foi especial para o evento e contou com vários covers<br />

e músicas que a banda não tocava há tempos. Silvano Aguilera<br />

é um frontman nato, se comunica e brinca com a platéia, e leva<br />

muito a sério sua dupla função nos palcos. André G. Mellado e o<br />

baterista Fernando Oster são muito seguros e fazem o peso emanar<br />

de seus instrumentos com muita precisão. Mas o destaque<br />

fica por conta do guitarrista Rafael Yak que demonstrou muita<br />

técnica e bom gosto em solos muito bem executados<br />

Recentemente a banda anunciou uma nova turnê europeia, a<br />

terceira, com previsão de cerca de 25 apresentações em solo europeu.<br />

A nós, a certeza de que estamos diante de um dos grandes<br />

nomes do cenário nacional, que com certeza nos representará no<br />

velho mundo com apresentações inesquecíveis. Sobre o DVD.<br />

Imperdível!


Violência Thrasher<br />

com requintes de crueldade<br />

Por Marcos “Big Daddy” Garcia<br />

Apesar de ser uma banda ainda bem jovem, o trio NERVOSA, especializado em<br />

fazer Thrash Metal bruto e tão agressivo que nos deixa com os ouvidos dando sinal de<br />

ocupado, galga o sucesso com unhas e dentes, com vontade de ferro, e seu primeiro<br />

Full Length, “Victim of Yourself”, lançado no início do ano pela Die Hard Records<br />

no Brasil (no exterior pela Napalm Records).<br />

E é um ótimo momento para ir entrevistar as garotas e saber mais do passado<br />

deles, do sucesso internacional que “Victim of Yourself” vem alcançando, e mesmo<br />

alguns shows pela América do Sul.<br />

URR: Antes de tudo, agradecemos demais pela entrevista. Começando, como<br />

foi que surgiu a idéia de formar o NERVOSA, e de onde veio o nome? E por que<br />

justamente um Power Trio de garotas? Nada contra, por favor...<br />

Prika Amaral: Agradeço primeiramente pelo espaço dado a gente. Bom, eu comecei<br />

a NERVOSA em fevereiro de 2010 quando eu tocava numa banda de death metal,<br />

o Innervoices, essa banda precisava de baterista e foi quando eu conheci a Fernanda<br />

Terra por indicação de um amigo, como sabemos o integrante mais difícil de achar é o<br />

baterista, e ela sendo mulher, vi a oportunidade de começar uma banda só de mulheres,<br />

já que baixista e vocal seria mais fácil. Ficamos um ano e meio em estúdio compondo<br />

e testando integrantes, porém nenhuma se encaixava ao que eu buscava. Já tínhamos<br />

4 músicas prontas, inclusive duas com letras e vocais. Em agosto de 2011, entrei em<br />

contato com a Fernanda Lira para ser baixista, ela topou na hora, pois era o que ela<br />

queria, e quando fomos fazer o primeiro ensaio, ele sugeriu de testar o vocal dela, e<br />

quando ela abriu a boca, eu estranhei porque achei diferente, eu gostei e ela ficou com<br />

o posto de vocalista e baixista. O fato de sermos um trio foi natural, nos adaptamos<br />

tão bem assim, e decidimos ser apenas um trio, e quando me vi sozinha na guitarra<br />

encarei como um desafio interessante, aliás, ainda é um desafio!<br />

O nome veio logo no começo da banda quando gravei bateria e guitarra da música<br />

Time of Death e mostrei para um amigo, quando ele ouviu, ele disse: ”Que som<br />

nervoso hein?!” E na hora me veio a idéia do nome NERVOSA, por ser um nome<br />

feminino e agressivo, uma palavra em português que muitos gringos entendem, pra<br />

mim era perfeito!<br />

Fernanda Lira: Eu sempre toquei em bandas autorais femininas, então sempre foi<br />

algo que eu tinha em mente. Após eu sair da minha última banda, fiquei um tempo<br />

afastada e quando voltei a todo vapor, tinha em mente que queria formar um trio<br />

feminino de thrash, primeiro porque thrash é meu estilo favorito junto com death<br />

dentro do metal, e também porque na época eu tava pirando em muitos trios ao mesmo<br />

tempo: Coroner, ZZ Top, Destruction, dentre muitas outras, o trio sempre teve uma<br />

magia que me atraiu muito e eu queria tentar isso em uma banda e assim comecei a<br />

buscar por garotas pra tocar comigo, o que foi muito difícil, porque na época (e hoje<br />

ainda um pouco) era difícil achar meninas pra tocar vertentes mais extremas do metal<br />

e mais importante, garotas que estivessem dispostas a se devotar e entregar a uma<br />

banda como eu desejava e estava disposta. Então quando eu já estava quase desistindo,<br />

a Prika entrou em contato comigo e me apresentou a esse projeto que ela tinha! Além<br />

de ser super parecido com o que eu também estava buscando, percebi que ela tinha<br />

os mesmos objetivos que eu, então decidimos unir forças. A partir daí sim passamos<br />

a encarar a NERVOSA como algo profissional, como uma banda realmente na ativa,<br />

pois unirmos forças. Por exemplo, mesmo nas músicas que já existiam, eu dei algumas<br />

ideias, inclusive mudando as linhas vocais e adaptando bem ao estilo que a Nervosa<br />

tem hoje, principalmente no que diz respeito a refrões, e etc. Além disso, trouxe comigo<br />

uma série de ideias de divulgação e planejamento além de contatos, o que se uniu com<br />

a vontade de banda, e aí polimos as músicas que já existiam, entramos em estúdio, e<br />

iniciamos um trabalho de divulgação bem forte, além de iniciarmos a rota de shows!<br />

Quando entrei na banda, o nome já existia e eu achei ideal, senão teria com certeza<br />

sugerido uma mudança, mas acho que caiu perfeitamente à proposta da NERVOSA!<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 37


URR: Parece que o NERVOSA, antes de chegar ao formato de trio, tentou ser<br />

um quarteto. Por que não chegaram a pôr alguém na segunda guitarra? Isso não<br />

chega a prejudicar vocês ao vivo?<br />

PA: A Karen foi a segunda guitarra que não pode fazer muito pela banda por<br />

morar em outra cidade e em outro estado, e devido a distância e motivos pessoais,<br />

não conseguiu se dedicar a banda e optou por sair, em dois anos ela fez apenas dois<br />

ensaios com a gente, como já estávamos habituadas a uma guitarra só, foi bem tranqüilo<br />

e natural, e no momento que ela saiu já estávamos em estúdio gravando nossa<br />

demo, não queríamos perder mais tempo procurando outra integrante e resolvemos<br />

seguir como um trio.<br />

FL: Para mim a opção de trio sempre foi uma opção bem firme. Claro que nunca<br />

forcei isso, afinal a Karen já estava lá quando eu cheguei, mas como a Prika disse,<br />

ela não se dedicou como deveria e como precisávamos pra banda e a saída dela foi<br />

inevitável. Quando chegou a hora de decidir se ficávamos como trio, a escolha foi<br />

meio natural. Primeiro porque tínhamos diversas bandas para nos inspirar, e segundo<br />

e mais importante, ser um trio facilita TUDO. Facilita decisões, facilita o convívio,<br />

principalmente quando estamos falando de mulheres, facilita logística, facilita TUDO!<br />

Além disso, eu e a Prika ambas já tínhamos muita experiência em buscar garotas pra<br />

tocar junto e sabíamos quão difícil tava sendo pra encontrar alguém que pudesse abrir<br />

de mão de muita coisa pra se dedicar ‘a banda como a gente tava fazendo, então para<br />

não arriscar perder o equilíbrio e a harmonia dentro da banda, seria a opção ideal.<br />

URR: Vamos dar uma passada pelo passado: após uns anos de labuta, veio o<br />

Demo CD “2012”, que apresentou a banda ao mundo, ainda com Fernanda Terra<br />

na bateria e já como trio. Mas ao mesmo tempo, esse Demo CD virou seu primeiro<br />

lançamento pela Napalm Records. Isso é certo, ou a própria Napalm partiu na<br />

frente e lançou o Demo em vinil lá fora? E por que justamente “Masked Betrayer”<br />

foi escolhido como vídeo de promoção?<br />

PA: Na verdade, aqui no Brasil o lançamento foi independente, pois já havíamos<br />

mandado prensar a Demo quando fechamos o contrato com a Napalm, e então eles<br />

resolveram lançar o EP em vinil em edição limitada apenas na Europa. A música<br />

“Masked Betrayer” foi escolhida por ser a música mais completa e mais trabalhada<br />

do que as outras.<br />

FL: Todo o processo de lançamento da demo de maneira independente no Brasil<br />

já estava andando, então eles decidiram fazer esse lançamento lá fora em uma versão<br />

diferente para já aproveitar a oportunidade de ir divulgando a banda na gringa, para<br />

não perder tempo! Ou seja, o EP lançado por eles lá seria um aperitivo do disco que<br />

estaria por vir no futuro, então essa versão em vinil foi muito útil para nos divulgar<br />

lá fora antes de lançarmos o disco, além de claro dar mais opções de produtos para a<br />

galera que já acompanha a banda há um tempo. Quanto ao clipe de “Masked Betrayer”,<br />

assim como o mais recente da música “Death”, para divulgar o disco “Victim of Yourself”,<br />

passaram pelo mesmo processo de escolha para ser o single: sempre gostamos<br />

de apresentar ao público primeiramente a música que mais representa e agrupa todas<br />

as principais características da banda: refrões e riffs marcantes, elementos do thrash,<br />

partes mais trabalhadas, etc.<br />

URR: Tá, o assunto é batido, mas eu sou chato mesmo (risos): o que levou a<br />

Fernanda Terra a sair da banda? E como chegaram até Pitchu Ferraz? E digamos<br />

de passagem: ela foi uma aquisição e tanto!<br />

PA: Por divergência de idéias e motivos pessoais a Fernanda Terra deixou a banda,<br />

coincidentemente a Pitchu depois de um tempo tinha acabado de sair do Hellsakura,<br />

e ela caiu como uma luva, pois ela se encaixa perfeitamente na banda, além da estabilidade<br />

que ela nos trouxe, ela renovou nossas energias.<br />

FL: Foi uma opção que partiu da própria Fernanda e devido a tudo que vínhamos<br />

passando em termos de desentendimentos entre ideias e também problemas pessoais<br />

dela, acabamos acatando a decisão dela naturalmente e sem dúvidas foi o melhor que<br />

aconteceu pra ambos os lados na época. Assim que ela saiu já começamos a buscar<br />

por novas opções de baterista, pois a máquina não podia parar, estávamos em num<br />

momento crucial para a banda. Eu listei diversas opções e acabamos conversando e<br />

testando com uma ou outra. Foi então que depois de um tempo me veio a Pitchu em<br />

mente, apesar de não ser muito próxima dele, sempre gostei muito do drumming dela,<br />

porque ela toca da mesma maneira que eu e com a Prika – com muito feeling e pegada!<br />

Ela ficou muito feliz em entrar na banda exatamente por ser o que ela sempre sonhou<br />

em tocar. Além de excelente musicista, com muita experiência, técnica, e força de<br />

vontade, ela é uma pessoa maravilhosa, uma alma pura e isso nos motivou e motiva<br />

muito a continuar firme com a essa formação!<br />

URR: Temos um assunto polêmico e bem delicado: ainda existe certa resistência<br />

a vocês que gera um disse-me-disse enorme nas redes sociais, sempre buscando tirar<br />

o mérito da banda com alegações que ou não fazem sentido, ou então denigrem a<br />

imagem profissional de vocês. Uma é que o NERVOSA não é uma boa banda ao<br />

vivo (falam muito em um show que fizeram e não foram bem). E isso sem falar em<br />

engraçadinhos no Facebook com piadas e memes imbecis como “Campanha: o<br />

NERVOSA fazendo filme pornô” ou algo assim. Mas como o Metal Samsara acredita<br />

no direito de resposta do artista, bem como no sagrado dever de resguardar sua<br />

honra, é a vez de vocês dizerem algo. Fiquem à vontade e falem o que quiserem.<br />

PA: Em primeiro lugar, respeito não significa gostar, respeito é educação. Somos<br />

como qualquer banda, estamos evoluindo, obtendo experiências e correndo atrás do<br />

que pra gente é a nossa vida. Se um dia a gente tocou mal por falta de ensaio, por<br />

som ruim, etc...Isso não significa que seremos pra sempre assim, evoluímos muito,<br />

e quem quiser conferir é só aparecer em um show, o problema é que TODOS esses<br />

que dizem que somos ruins ao vivo, nunca foram num show nosso, eles apenas viram<br />

um vídeo pela internet. Se a banda é tão ruim porque temos um contrato para 4<br />

discos com uma gravadora grande? Porque eles acreditam nas nossas composições e<br />

acreditam no nosso potencial, alguns idiotas gostam de dizer que pagamos pra tocar<br />

ou que pagamos pra Napalm assinar um contrato, e um monte de besteiras. Se alguém<br />

quiser entrar em contato pra conhecer sobre nossas vidas reais, onde moramos e como<br />

38 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong><br />

vivemos, fiquem a vontade, o site e o contato estão lá. A verdade é uma só, e com<br />

o tempo se conquista as coisas e ela aparece. A internet dá voz para os idiotas para<br />

que eles tornem a vida chata deles mais emocionante. Claro, que sabemos que temos<br />

muito a evoluir, e muito que aprender, estamos apenas no começo de nossa carreira.<br />

Eu nunca fiz aula, aprendi tudo sozinha, e agora que tive a oportunidade, comecei<br />

a fazer aula de guitarra com o Antonio do Korzus, está sendo muito importante pra<br />

mim, estou aprendendo muita coisa.<br />

FL: Agradecemos pelo direito de resposta, mas isso é algo que realmente nunca nos<br />

incomodou tanto e a qual continuamos a ignorar. Isso porque críticas fundamentadas<br />

nós não só levamos em conta, como ponderamos e compreendemos. Agora ofensas<br />

gratuitas e sem argumento nenhum só nos faz infelizmente perceber que ainda existem<br />

pessoas que para compensar o próprio fracasso ou inércia na vida pessoal, precisam<br />

denegrir o mérito dos outros. Existem diversas bandas que eu não gosto, e nem por<br />

isso saio na internet (porque é sempre na internet apenas!) fazendo propaganda contra<br />

a banda, sabe porquê? Porque existe respeito! Independente de gostar ou não do som,<br />

a pessoa tem que entender que por trás daquilo existe um trabalho, uma dedicação, e<br />

além disso, a pessoa não pode ser arrogante a ponto de achar que o gosto e a opinião<br />

dela tem que ser unânime, ou seja, não é porque você não gosta de algo, que o universo<br />

também não deve gostar, então a pessoa não só desrespeita a banda que está fazendo<br />

algo pelo metal efetivamente (ao contrário de pregar a desunião e o desrespeito), queira<br />

a pessoa aceite isso ou não, e além disso ela desrespeita o direito de cada um de ter<br />

uma opinião particular, independente do que o resto do mundo ache. Eu acho que se<br />

cada um que fizesse propagandinha contra bandas (infelizmente isso não acontece só<br />

com a gente) fizesse algo de construtivo pra cena de fato, a cena brasileira seria mais<br />

poderosa ainda do que já é. Se usassem então todo esse tempo e fervor dedicado a<br />

denegrir bandas que não gosta pra contestar o governo corrupto ou pra exigir e fazer<br />

algo pra melhorar o pais, o Brasil seria primeiro mundo, pelo menos se dependesse dos<br />

headbangers! Haha... Como eu te disse, já ouvimos coisas do tipo ‘precisam evoluir<br />

em seus instrumentos’, ‘não acho que a presença de palco está boa’, ‘ as músicas<br />

precisam ser mais trabalhadas’, e esse tipo de coisa, mesmo que possa acontecer de<br />

não concordarmos, vamos compreender que a pessoa teve motivos pra tecer aquela<br />

crítica, e muitas delas na verdade foram construtivas, pois nos ajudaram a enxergar<br />

falhas que não estávamos vendo e a melhorá-las, agora você me pedir pra considerar<br />

‘críticas’ como ‘elas são uma bosta ao vivo’ de gente que se baseia em um vídeo de<br />

mais de dois anos atrás, com formação antiga e antes de lançar a Demo, já é demais,<br />

né? As pessoas têm que compreender que não nascemos sendo uma banda perfeita,<br />

aliás, poucas bandas nascem sendo excelentes e estamos em constante evolução.<br />

Portanto, Você pegar um vídeo ou um show da banda de trocentos anos atrás como<br />

base da sua crítica ignorando os anos mais recentes de trabalho da banda e toda a<br />

estrada dela, mesmo que curta, é pedir pra sua ‘crítica’ não ter sentido nenhum! Por


isso convidamos às pessoas que queiram tirar suas dúvidas sobre nossa performance,<br />

pra conferir o show. Convidamos a quem não entende porque nossa banda ‘dá certo’<br />

pra passar uma semana na nossa rotina e ver o quanto a gente se fode pra fazer a banda<br />

rolar e do quanto abrimos mão de muita coisa em prol da banda. Então se depois<br />

disso a pessoa vier com uma crítica tipo ‘mesmo assim não gosto do som’, beleza,<br />

é um direito da pessoa, agora ficar batendo sempre na mesma tecla sem fundamento<br />

nenhum, eu acho perda de tempo. Por isso focamos sempre nossa atenção na maioria<br />

esmagadora das pessoas que nos apoia e mesmo que não goste da banda, nos respeita.<br />

Seria muito injusto não fazer isso!<br />

URR: Bem, hora de falar de “Victim of Yourself”: como o título foi escolhido, e<br />

qual a idéia que tiveram por trás dele? E por falar nisso, as composições já estavam<br />

prontas quando a Pitchu entrou, ou ela já chegou a contribuir nas músicas em<br />

termos de arranjos e compor mesmo? Mesmo porque ela adora usar uns bumbos<br />

duplos extremos de vez em quando, algo meio incomum em termos de Thrash Metal...<br />

PA: Eu tive a idéia do titulo quando uma pessoa tentou de todas as formas nos<br />

prejudicar sem motivo algum, por pura inveja e simplesmente a pessoa só se deu mal<br />

e ficou evidente pra todo mundo quem essa pessoa realmente era, e pra mim só vinha<br />

uma frase “vitima de si mesmo”. Tinha tudo a ver com o que estávamos passando, e<br />

quando sugeri a ideia para a Fe Lira, ela curtiu e já se inspirou para escrever a letra<br />

que é a da faixa título.<br />

A Pitchu, infelizmente entrou depois que tudo já estava pronto, e é exatamente<br />

por isso que não vejo a hora pra começar a compor o próximo disco já com ela. Esse<br />

pedal duplo infernal (no bom sentido) é o que fez a gente mais feliz ainda, sempre<br />

fiz as palhetadas e cavalgadas pensando no pedal duplo acompanhando, e ela faz<br />

isso muito bem!<br />

FL: Na verdade exatamente pelo fato de termos passado por um momento em que<br />

um pessoas estava tentando nos prejudicar, eu já estava escrevendo uma letra sobre<br />

isso e inclusive já tinha o título da música. Quando a Prika sugeriu uma ideia geral<br />

para o título do disco e veio com algumas ideias para esse título, apresentei pra ela o<br />

sentido da música que eu estava compondo e concordamos em usar o título “Victim<br />

of Yourself”. Ele significa muito pra gente e na verdade ele permeia boa parte das<br />

músicas, porque acreditamos que tudo de ruim que acontece, é consequência de uma<br />

atitude que foi tomada, prejudicando não só os outros, mas a própria pessoa, e todas<br />

as nossas músicas têm um pouco disso, por isso acredito que o título foi perfeito! A<br />

Pitchu não participou da composição do disco mas não só se adaptou a elas, como as<br />

executa perfeitamente e ainda inseriu traços de seu estilo de compor nelas, por isso<br />

o show ao vivo tá bem interessante, pois demonstra bem não só o que a banda é no<br />

momento, como também é um aperitivo do que está por vir!<br />

URR Em “Victim of Yourself”, vemos que Marcello Pompeu e Heros Trench<br />

trabalharam na produção. E como foi trabalhar com essas duas feras? E o resultado<br />

final das gravações chegou onde queriam?<br />

PA: Eles são os mestres do metal nacional, então foi uma escola pra gente.<br />

Chegamos com tudo pronto, e o tempero foi deles. Tive uma crise de tendinite muito<br />

séria, engessei o braço e tive que tomar antibiótico, mas eu tinha que gravar devido<br />

aos prazos da gravadora que já estavam estourados devido a troca de bateristas, então<br />

arranquei o gesso e gravei com dor, se pudesse gravaria tudo de novo, pois tive<br />

que simplificar algumas coisas porque com o braço doente era impossível executar<br />

algumas coisas. Espero muito pelo próximo disco, já que agora conto com um pedal<br />

de drive totalmente desenvolvido pra mim pelo Ed’s Mod Shop, isso influencia no<br />

timbre, além da guitarra que está sendo terminada pelo Purkott, que também foi<br />

feita pra mim exatamente como eu queria, estou para fechar uma parceria com um<br />

amplificador nacional também, se conseguir vai ser demais, pois o meu som e o meu<br />

timbre estará completo.<br />

FL: Já tínhamos trabalhado com eles na demo, e quando chegou a hora de decidir<br />

com quem gravaríamos este, optamos pelo Mr. Som primeiro porque já conhecíamos<br />

o trabalho e a maneira de trabalhar deles, e também porque o resultado da demo tinha<br />

sido bem satisfatório! Eu particularmente gostei muito do resultado final apesar de<br />

todos os contratempos que tivemos durante o período de gravação! Acho que conseguimos<br />

equilibrar bem todos os instrumentos, o que é essencial em um trio e que era<br />

minha maior preocupação, já que em uma banda com três pessoa,s os instrumentos<br />

devem estar perfeitamente em harmonia e nenhum deve aparecer mais que o outro!<br />

Além disso, o timbre de baixo,m mesmo não estando com meu equipamento quase<br />

completo como tenho hoje, consegui extrair o melhor do meu instrumento, o timbre<br />

ficou muito bom, firme, presente, pesado e ao mesmo tempo, cristalino. Quanto à<br />

voz, sempre aprendo muito quando o Pompeu me produz, ele é simplesmente um dos<br />

vocalistas de thrash brasileiro mais icônicos que existem e é sempre um aprendizado<br />

poder ter a oportunidade de ver as ideias que ele tem, e ver o quanto ele pode me<br />

ajudar a explorar melhor minha voz!<br />

URR: Em termos de sonoridade, “Victim of Yourself” realmente assusta os mais<br />

incautos. Sim, pois quando muitos esperavam algo um pouco mais “Old School”,<br />

veio um murro nos ouvidos, pois a qualidade está ótima, e a música de vocês está<br />

tão bruta e agressiva que chega a ser um abuso com ouvidos incautos. A agressividade<br />

é bem evidente, e até mesmo dá uns contornos modernos ao trabalho de<br />

vocês. Como chegaram a isso? Chegou a ser algo planejado, ou acabou surgindo<br />

mesmo durante a gravação?<br />

PA: Nós compusemos tudo naturalmente conforme nossas influencias e gostos<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 39


musicais, pra mim foi a mistura da cavalgada do thrash oitentista com algumas sequencias<br />

de notas do death metal, e é assim que eu componho, misturando o thrash com<br />

o death. A afinação que usamos também nos ajuda no peso, pois ela é bem diferente<br />

e um pouco incomum para o thrash.<br />

FL: A nossa música é um misto perfeito do que gostamos de ouvir. E nossas<br />

influências em comum na banda acabam caindo na predileção pelas bandas e álbuns<br />

mais antigos, mas também valorizando a qualidade de produção atual, então na hora<br />

de compor e também de finalizar o álbum, isso acabou ficando bem evidente.<br />

URR: O primeiro vídeo de promoção foi para “Death”. Como ela foi escolhida? E<br />

como foi trabalhar nesta produção, que ficou ótima? Só não digam que alguém na banda<br />

ou na equipe de filmagens ficou com medo de fazer o vídeo em um cemitério (risos).<br />

PA: Na verdade a tarefa mais difícil desse disco foi escolher o single...hahaha.<br />

Como o lançamento demorou a sair, e não tínhamos repertório para shows, nós já<br />

tocávamos 8 músicas das 12 do CD, então queríamos lançar algo inédito e dentre essas<br />

4 músicas a Death era a mais completa e que mais representava a banda como um<br />

todo. Um ano antes do clip, eu tinha feito uma pesquisa sobre lugares abandonados<br />

e esse cemitério era o meu favorito, e como a música fala de morte, nada melhor que<br />

um cemitério para ser um cenário, ainda mais a capa do disco sendo um cemitério<br />

também, e quando eu falei para as meninas elas piraram e fomos lá gravar.<br />

FL: Somos sempre muito cautelosas ao escolher as músicas de trabalho, exatamente<br />

porque queremos que ela seja impactante e que represente o que há de melhor<br />

no disco. Escolhemos a Death pois ela agrupa bem os melhores e mais característicos<br />

aspectos da banda, que vão desde um refrão marcante, até mescla de arranjos com<br />

batida thrash com blast beats do death metal na bateria.<br />

URR: Outro lado bem legal é a capa de Andrei Bouzikov, que tem aquele lado<br />

bem “Old School”. Como chegaram até ele, e o resultado final chegou rápido, ou<br />

houve aquelas famosas trocas de e-mail até conseguirem algo consensual?<br />

PA: Ele já havia desenhado a capa do nosso EP em vinil, e gostamos muito do<br />

trabalho dele, então ele já era o nome garantido para a capa. Para simbolizar o titulo<br />

do disco eu sugeri uma caveira esfaqueando a outra, mas as duas caveiras seriam a<br />

mesma pessoa, sendo ela vítima de si mesma. O desenho em si nós adoramos logo<br />

de cara sem pedir para alterar nada, só houve alguns ajustes de cores e tons, mas foi<br />

bem rápido sem muita discussão.<br />

FL: O que sempre me agradou no Andrei é que ele tem essa veia old school, mas<br />

além disso tem um traço bem agressivo, mas polido, o que dá uma característica mais<br />

moderna à arte dele, exatamente como nossa música, que mescla essas duas fontes de<br />

inspiração, então, principalmente depois de ele ter trabalhado com a gente na capa do<br />

EP, queríamos novamente que ele ilustrasse o que tínhamos em mente. Além dessa<br />

ideia central das duas caveiras, eu pesquisei bastante outras artes dele pra ver o que<br />

poderia servir de inspiração pro fundo, como foi o caso do cemitério! Passamos tudo<br />

bem detalhadamente pra ele e quando ele devolveu o rascunho, curtimos de cara, se<br />

tivesse usado o rascunho cru somente, eu já teria adorado! haha<br />

URR: Vocês já andam fazendo muitos shows desde que o CD foi lançado, e<br />

alguns até fora do Brasil. Como tem sido a experiência de tocar fora do país? Tem<br />

sido bem recebidas? E chegam a reparar em alguma diferença mais evidente entre<br />

o público de outros países e o do Brasil?<br />

PA: Sim! O público na Colômbia é muito mais unido, é um povo muito educado<br />

e dedicado, tocamos para quase 4 mil pessoas e foi demais! Fomos muito bem recebidas,<br />

tinha alguns que estavam com bandeiras com o logo da Nervosa, e logo mais<br />

eles vão lançar alguns vídeos. Na Bolívia foi bem legal também, eles nos acolheram<br />

muito bem, eles são pessoas bem simples e as coisas para eles são mais precárias,<br />

mas a cena é muito guerreira. Tem sido uma experiência incrivelmente maravilhosa<br />

poder tocar em vários lugares, sendo no Brasil ou fora, o fato de conhecer novas<br />

realidades é fascinante!<br />

FL: Tocar ao vivo já é umas experiências mais maravilhosas que se pode ter!<br />

Quando temos a oportunidade então de conhecer lugares novos e consequentemente<br />

suas culturas e modo de viver, é mais gratificante ainda! Fomos incrivelmente bem<br />

recebidas nos lugares fora do país (assim como somos sempre bem recebidas também<br />

nos shows na nossa terra, é claro) e o apoio que nos deram foi surpreendente. Na<br />

Colômbia, vê-se que eles tem uma cultura enorme de valorizar as bandas e a cena<br />

loca, tanto que nesse evento Bogothrash que tocamos, estava na segunda edição e<br />

tinha 4 mil pessoas, mas na primeira edição, a anterior, o evento foi feito apenas com<br />

bandas locais e haviam incríveis 3 mil pessoas, isso é lindo de se ver e serve muito<br />

de exemplo para nós brasileiros também! Qyanto à Bolívia, eles são representantes<br />

ferrenhos daquela expressão ‘guerreiros do metal’. Os caras lá tiram água de pedra pra<br />

fazer a coisa acontecer e são muito devotados ao metal! Foi muito bacana e estamos<br />

muto ansiosas também pras próximas experiências fora do Brasil que estão por vir!<br />

URR: Bem, “Victim of Yourself” teve lançamento mundial, logo, já sabem como<br />

tem sido a recepção lá pelo exterior? E fora isso, já vimos que duas revistas de fora<br />

fizeram matérias com vocês. Podem nos contar um pouco sobre essas matérias?<br />

Já estão virando divas!<br />

PA: Recebemos poucos feedbacks porque ainda é um pouco cedo, mas nossa pré<br />

venda nos EUA esgotou, uma gravadora no Japão licenciou e lançou nosso disco por<br />

lá, e no Brasil foi o disco mais vendido no primeiro dia de estréia em toda a história da<br />

40 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>


Die Hard que tem anos de estrada, já está saindo a segunda prensagem e não sabemos<br />

mais onde colocar o sorriso. Demos muitas entrevistas para o mundo todo, ainda tem<br />

muitas para sair, tem zine, rádio, revista, etc... A Napalm tem feito um ótimo trabalho<br />

de distribuição e divulgação. Nós divas? Acho que não hein?! Você tem que ver a<br />

gente depois do show.... Tudo acaba... hahahaha<br />

FL: Eu acompanho muito a repercussão nas redes sociais que tem sido incrível.<br />

Além disso, respondemos incontáveis entrevistas que não paravam mais de chegar<br />

de várias partes do mundo. Com todo o feedback que temos tido, posso afirmar que<br />

conseguimos atender às expectativas do público e também da mídia! A Napalm tem<br />

um trabalho de imprensa excelente que nos apoiou muito e nos abriu muitas portas!<br />

Eles foram a ponte entre nós e várias revistas grande de fora que tinham interesse em<br />

nos entrevistar! Estamos muito felizes sim de ter tido a oportunidade de termos tido<br />

entrevistas e matérias nas maiores revistas do gênero no mundo, como a Metal Hammer,<br />

a Rock Hard, a BURRN!, a Revolver, a Guitar World, etc, pois isso demonstrar<br />

que estamos no caminho certo, que é fruto de muita dedicação e trabalho duro! Agora<br />

não me venha com essa de diva, pra chegar lá só falta dinheiro e glamour!!! hahaha<br />

URR: E hora de falar em shows por aqui: a maioria dos shows desde o lançamento<br />

do CD foram em SP, mas já há tratativas para outros estados? E espero<br />

ANSIOSO pelo show de vocês no Rio de Janeiro!!!! Não pude ir na vez anterior<br />

em que vieram aqui...<br />

PA: Estamos fazendo alguns shows pelo país, já tocamos no Paraná, Minas e São<br />

Paulo, Mês que vem vamos para o Sul do país. Ainda estamos fechando os shows<br />

e esperamos tocar em todos os lugares possíveis, por mim eu tocava segunda-feira<br />

até! Bom, o que posso dizer é que em setembro vamos fazer uma turnê pela América<br />

Central e Sul. Logo mais anunciaremos os shows nacionais.<br />

FL: Estamos também planejando algo pelo Norte e Nordeste até o fim do ano,<br />

principalmente passando por lugares que não tivemos a oportunidade de ir ainda.<br />

Então, quando tivermos feito bastante shows por aqui e América Latina, então vai<br />

ser hora de partir pra Europa e quem sabe até América do Norte!<br />

URR: E chegou a hora da despedida... Quero agradecer muito pela oportunidade,<br />

e o espaço é todo de vocês para sua mensagem final aos seus fãs e nossos leitores.<br />

PA: Agradeço muito pelo espaço e pela oportunidade, parabenizo pelo seu trabalho<br />

e te desejo forças para que continuem. Para os leitores uma frase: Respeitem todas as<br />

bandas, mesmo que você não goste. Obrigada a todos!<br />

FL: Valeu demais pela oportunidade, e continue sempre com esse trabalho maravilhoso,<br />

as bandas e as cenas precisam disso! A todos, continuem apoiando o metal<br />

como podem pois cada um de nós é responsável por fazer o legado do metal continuar<br />

vivo por muito e muito tempo!<br />

Contato: www.nervosaofficial.com<br />

Entrevista concedida ao site Metal Samsara<br />

http://metalsamsara.blogspot.com/<br />

<strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong> - 41


Arte<br />

Fotografia<br />

Design Gráfico e Digital<br />

42 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>

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