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UNDERGROUND ROCK REPORT - 1

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é um resumo da minha carreira.<br />

URR: Quais são suas lembranças do cenário nos anos 80?<br />

Paulão: Muito boas! Muitas bandas autorais e em português acontecendo.<br />

Harppia, Centúrias, Salário Mínimo, Golpe de Estado, Vírus, Platina e muitas<br />

outras. Rock in Rio1. Maravilhoso, tocávamos em teatros, não havia essa coisa<br />

de bar infestado de bandas cover. Lembro que havia um teatro aqui no Paraíso<br />

(bairro tradicional aqui em São Paulo) chamava-se Teatro Mambembe, os shows<br />

eram de terça feira e lotava, vi o Sepultura lá bem no início. Enfim foi muito<br />

bacana ajudar a fazer essa história do Metal brasileiro.<br />

URR: E qual é a sua visão, hoje, do cenário da musica pesada nacional?<br />

Paulão: Como sempre estamos no Underground, o Brasil não é o país do<br />

Rock, mas existe uma cena sim, há bons festivais, produtores que fazem shows<br />

mesmo com muita dificuldade. Mas estamos ai, como fãs e músicos do bom e<br />

velho Rock´n Roll pesado, gravando, tocando música autoral e lançando CDs<br />

acho que isso já é um grande avanço, e vamos em frente, fazemos por amor ao<br />

rock.<br />

URR: Mesmo com a indústria musical em franco declínio, você acha que<br />

o fã de rock ainda é capaz de sustentar o seu cenário consumindo produtos e<br />

merchandize de suas bandas preferidas?<br />

Paulão: Consumir os produtos da banda e comparecer aos shows é a única<br />

saída.<br />

URR: Você foi batera do Firebox, banda que fez certo alarde na época do<br />

lançamento da demo Starting Fire, porém, com o lançamento do primeiro álbum,<br />

Ou of Control, você se desligou da banda, sua intenção era justamente<br />

fazer um trabalho mais voltado ao Rock´n Roll, como no Baranga?<br />

Paulão: O Firebox era uma banda muito boa, mas com a saída do Luiz Mariuitti<br />

(baixo) que foi para o Angra, a banda perdeu a química, houve alguns desentendimentos<br />

com o Michel que era o líder causando a minha saída. Eu estava<br />

desiludido com o Heavy Metal, não gostava do direcionamento músical, aquela<br />

moda do metal melódico me fez sair do estilo, na verdade eu sempre ouvi muito<br />

Rock´n Roll, Slade, Status Quo, Made in Brazil, Patrulha do Espaço e metal<br />

anos 80 que era mais cru e direto, ai resolvi tocar um som que me identificava<br />

mais e estou até hoje tocando o que eu gosto que o Rock direto sem firulas.<br />

URR: E com o Baranga você conseguiu seus objetivos musicais?<br />

Paulão: Em parte sim! Fizemos cinco ótimos discos em português, uma<br />

banda verdadeira. Abrimos para o Motorhead por duas vezes, fomos ao Chile e<br />

muitos shows bons por aqui. Então não posso reclamar. Em outro sentido, fico<br />

um pouco frustrado pela falta de profissionalismo, uma banda como a baranga<br />

devia ter crescido mais, faltou produtor, empresário, porque chega um momento<br />

que a banda para e isso não é bom! Entendeu? Coisas de Brasil.<br />

URR: Porque você resolveu não participar da volta do Centúrias?<br />

Paulão: Acho que tive o meu momento lá, tenho o maior orgulho porque o<br />

Centúrias me deu o que sou hoje, sem querer fizemos história, hoje vou ao show<br />

deles e me emociono. Como aquelas músicas são boas... Mas estou afim de outras<br />

coisas no Rock e estou fazendo, mas amo aqueles caras.<br />

URR: Como vem sendo a aceitação dos shows do Baranga?<br />

Paulão: Mesmo tendo, em alguns momentos, problemas técnicos de som,<br />

os shows da Baranga, tem muita energia e carisma e esse sempre foi o forte da<br />

banda, o lance ao vivo é muito forte, ultimamente o público tem se ausentado<br />

dos shows, devido a vários fatores, grana, bares com bandas cover, muitos shows<br />

gringos, mas estamos ai na luta, espero que seja uma fase.<br />

URR: Bandas cover se tornaram uma reclamação recorrente aqui no<br />

blog e nas midias sociais em geral. Você acha que o brasileiro é culturalmente<br />

influenciado a acreditar que os trabalhos feitos por aqui são de menos<br />

qualidade, ao ponto de valorizarem uma cópia, muitas vezes mal feita, dos<br />

seus ídolos internacionais?<br />

Paulão: Com certeza sim, as pessoas falam mal dos donos de bar, mas não é<br />

culpa deles! É cultural sim e acho que não vai mudar, o gringo é sempre melhor<br />

por incrível que pareça até o cover (risos) Já vi bandas sofríveis tocando com<br />

a casa cheia, como também tem excelentes bandas eu mesmo faço tributo ao<br />

Lynyrd Skynyrd, nada contra, o cover isso sempre existiu, mas trocar totalmente<br />

o apoio a essas bandas em detrimento ao som autoral é demais, por outro lado<br />

não ha bandas, de qualidade, suficiente para cobrir as noites em todos os bares<br />

então o cover é importante. O problema é a total desvalorização do som autoral,<br />

temos ótimas bandas por aqui cantando na nossa língua e estamos precisando<br />

disso. O país esta falindo e o Rock tem sim, seu papel social também, eu e as<br />

bandas que toco se preocupam com isso e não vamos desistir principalmente<br />

o Kamboja, que tem em seus temas algumas músicas que tratam da nossa realidade.<br />

uma forma de acentuar esse lado xenofilista que o brasileiro tem?<br />

Paulão: Sim, com certeza! Essa coisa terçeiro mundista nos afeta muito,<br />

não vamos ser hipócritas e falar em 100% nacionalistas, porque não somos!<br />

Mesmo porque o Rock não é brasileiro e eu mesmo gosto de muita coisa estrangeira.<br />

Mas estamos falando em Rock brasileiro, ai eu acho que tem que ser<br />

em português, o Ratos de Porão faz turnês há muitos anos na Europa cantando<br />

em português, ai você fala no Sepultura. Bom ai é outra história, igual a eles<br />

nunca mais.<br />

URR: Você acha que dificilmente alguma banda daqui vai chegar a um<br />

patamar equivalente ao Sepultura? Eu acredito que com a estrutura e o investimento<br />

certos, isso pode acontecer.<br />

Paulão: Não sei não! Acho muito difícil, o Sepultura estava no lugar certo<br />

na hora certa e principalmente com os caras certos, Max e Igor, eu os vi no Aeroanta<br />

(casa de shows dos anos 80 aqui de São Paulo) e nunca havia visto nada<br />

igual, era muita adrenalina e carisma juntos. Isso acho que acontece em 1000<br />

anos (risos). Temos bandas com certo sucesso, mas mano, o Sepultura influenciou<br />

os gringos, nunca mais vai acontecer isso em termos de Rock.<br />

URR: Entendi o seu pensamento. Como você se vale das redes sociais<br />

para divulgar o seu trabalho?<br />

Paulão: É o Facebook é legal pra divulgar trampo, shows, marketing pessoal,<br />

divulgar os endorses. Mas não me iludo não, neguinho fala que tem 1000<br />

likes no vídeo ou no CD, mas na hora do show vão 50 pessoas (risos), o cara<br />

não tira a bunda da cadeira pra ir ao teu show, entendeu?<br />

URR: Então não existe Rock sem muito trabalho duro?<br />

Paulão: Claro que não! A não ser com muita grana pra comprar jabá, mas<br />

mesmo assim tem que ter música boa e consistente.<br />

URR: Nada mais ligado ao rock que a santíssima trindade: cerveja, mulher<br />

e Rock... Você acha que, uma banda não tem como errar dentro desse<br />

quadro?<br />

Paulão: Acho que já esta desgastado, acho legal ter uma ou outra música<br />

com esse tema, mas não ser o principal , isso tudo já esta desgastado.<br />

URR: Quais são as diferenças líricas do Kamboja e do Baranga?<br />

Paulão: O Baranga sempre foi mais focado na diversão cerveja, mulher,<br />

carros. O Kamboja tem uma ou outra assim, isso é inerente ao Rock, mas temos<br />

também letras com temas mais sociais, como a hipocrisia da sociedade, a mentira<br />

dos políticos e realidade brasileira, acho que estamos precisando protestar<br />

uma pouco, não da pra ficar mais alienado.<br />

URR: Então, a música é um excelente veículo para o protesto?<br />

Paulão: Pode ser sim um veículo de conscientização, mas sem exageros pra<br />

não ficar panfletário e chato. Rock´n Roll é diversão também.<br />

URR: Você sente uma evasão do público nos seus shows?<br />

Paulão: Infelizmente sim, são muitos os fatores que levaram a isso , espero<br />

que melhore, situação financeira, shows gringos, covers, etc.<br />

URR: Planos para o futuro?<br />

Paulão: Continuar gravando, tocando. Enfim, continuar na estrada espalhando<br />

a ideologia Rock´ n Roll.<br />

URR: Resuma Paulão Thomaz em uma frase ou palavra.<br />

Paulão: Rocker sem pátria (risos).<br />

URR: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-<br />

-papo, deixa aqui uma mensagem para os nossos leitores.<br />

Paulão: Opa! Obrigado a você. Foi uma boa entrevista perguntas inteligentes,<br />

valeu mesmo! Prestigiem as bandas brasileiras, tem muita coisa boa, confiram<br />

algumas; Carro Bomba, Kamboja, Baranga, Cracker Blues, Salário Mínimo,<br />

Centúrias, Dr. Sin, Korzus, Torture Squad, A.V.C., Golpe de Estado, Saco<br />

de Ratos, Makinária Rock e muitas outras. Abraço a todos os leitores, obrigado!<br />

Contato: www.barangarock.com.br<br />

Foto: Fernando Yokota<br />

URR: Porque cantar essencialmente em português?<br />

Paulão: Acho que tudo é o objetivo da banda, no meu modo de ver acho<br />

legal cantar no seu país uma língua em que todos entendam, veja bem no brasil<br />

poucos falam e entendem bem em inglês, certo? Então como passar o recado se<br />

não temos uma segunda língua aqui e agora mais que nunca temos que passar<br />

o recado em português. Qual a música mais conhecida do Dr. Sin? Futebol,<br />

Mulher e Rock´n Roll. A do Korzus? Correria e Catimba! São dois exemplos<br />

muito fortes do que estou dizendo.<br />

URR: E não seria até mesmo por causa das bandas cantarem em inglês,<br />

32 - <strong>UNDERGROUND</strong> <strong>ROCK</strong> <strong>REPORT</strong>

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