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Relação Entre o Significado Atribuido a Palavra e o Processamento ...

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Análise Psicológica (1991), 2 (IX): 211-217Relação <strong>Entre</strong> o <strong>Significado</strong> <strong>Atribuido</strong> a<strong>Palavra</strong> e o <strong>Processamento</strong> de Informaçãona Esquizof reniaVICTOR CLÁUDIO (*)Para a compreensão do processamento deinformação na esquizofrenia, é importantedestacar o papel de algumas teorias. Bleuler(1911), considerou as dificuldades da atençãocomo potenciais responsáveis pelas alteraçõesobservadas na esquizofrenia. Posteriormente,reformula esta teoria, defendendo a inexistênciade uma alteração dos processos sensoriaisbásicos, na esquizofrenia. A partir daqui,grande parte dos autores consideram que odéfice primário da esquizofrenia, ocorre apenasa nível cortical. É com os trabalhos de Venables(1964) e de Silverman (1964), que se recolocaa possibilidade de que a alteração da atençãoestaria na base dos défices cognitivos observadosna esquizofrenia. Venables estabelece umarelação entre as teorias do alerta e a atenção.Para isto utiliza duas teorias do alerta.A teoria de Weckowicz (1958), que preconizaum desequilíbrio na actividade do sistemanervoso autónomo, como responsável pelasalterações cognitivas na esquizofrenia. Estaafirmação encontra suporte empírico, nosresultados dos trabalhos sobre constância dadimensão (em que se observa que osesquizofrénicos agudos fazem uma sobreconstância enquanto que os esquizofrénicoscrónicos apresentam uma redução da constância(*) Assistente, ISPA.da dimensão). Ele vai distinguir duas fases naesquizo frenia:Fase aguda, caracterizada por umincremento da actividade parasimpática, quelevaria a um aumento da sensitividade, ideiasde auto-referência, hipersignificação deestímulos, incremento da ansiedade;Fase crónica em que a actividade se deslocapara os centros simpáticos, este facto implicao embotamento afectivo, isolamento, autismoe reacções emocionais fora do contexto dosacontecimentos externos.A existência de alterações nos primeirosestádios do processamento de informação naesquizofrenia, está implicita em Weckowicz(1959) quando afirma: «Na esquizofrenia háalgumas alterações na filtragem dos estímulos ...as portas abrem-se imenso, e o cortex éinundado com informação irrelevante».Outra teoria do alerta utilizada por Venablesé a de Mednick (1958). Para esta teoria umesquizofrénico em fase aguda está em estadode hiperactividade o que aumentaria o seu nívelde ansiedade perante a ocorrência de umacontecimento desagradável. O aumento daansiedade vai originar um incremento dageneralização de estímulos, que passam a servivênciados como geradores de ansiedade. Paratentar reduzir a ansiedade, o sujeito vai procurar211


teste de Stroop, por sujeitos esquizofrénicos,deprimidos e voluntários normais. Osresultados, indicam que os sujeitosesquizofrénicos (que apresentam mais erros emais tempo na resposta), utilizam os princípiosdos sistemas de relação simbólica, enquanto queos voluntários normais dão respostasautomatizadas, i.e., icónicas.Realizámos também (Cláudio, 1987), umaanálise dos erros, tomando como referente ateoria dos Modelos Mentais, elaborada porJohnson-Laird (1987). Observou-se que aocontrário dos voluntários normais, osesquizofrénicos e depressivos apresentam ummodelo de representação da cor, que não lhespermite secundarizar o seu significadosimbólico. Esta afirmação é suportada peloaparecimento de um grande número de errosnestes dois grupos, e também pela suaocorrência significativamente mais elevada, empares de estímulos (palavra-cor), em que oconflito de significados simbólicos é maisacentuado.Depois desta introdução, que teve comoobjectivo situar-nos nas teorias iniciais e naaplicação do paradigma do processamento deinformação a esquizofrenia, faremos referênciaas hipóteses que colocamos para este trabalho:Hipótese 1 - O processamento deestímulos verbais - palavras -, quanto arapidez e exactidão de registo na memóriaa curto termo, depende da activação da redesemântica que lhe corresponde;Hipótese 2 - Os estímulos verbais,constituídos por palavras com conteúdoameaçador, activando núcleos semânticos damemória a longo termo, com significadosassociados a preposições verbais e a respostasemocionais, desorganizam o padrãoindividual de atenção selectiva e a memóriaa curto termo;Hipótese 3 - Numa tarefa em que épedido ao sujeito que designe a cor em quea palavra está escrita - discriminação deestímulos -, comparando as respostas aosestímulos com palavras ameaçadoras, comos de palavras não ameaçadoras, é de esperarque: (1) Aumente o tempo de reprodução dacor, sob solicitação; (2) O registo de memóriaa curto termo seja facilitado.MÉTODONeste trabalho, estudámos uma amostra de13 sujeitos com o diagnóstico de esquizofreniaparanóide, sem terapia farmacológica. O grupode controle, era constituído por 13 sujeitosvoluntários normais. Ambos os grupos estavamequiparados a nível de sexo - 6 sujeitos sexomasculino e 7 do sexo feminino - e idade.Utilizámos uma versão transformada do testede Stroop. Esta versão foi construída, com basena tradução das palavras referênciadas porMathews e Macleod (1985).O teste de Stroop, que utilizámos, eracomposto por quatro cartões:- Um com palavras de ameaça física (porexemplo: Doença, Cancro).- Um com palavras de ameaça social (porexemplo: Inferior, Criticado).- Dois de control (por exemplo: Satisfação,Férias).Cada cartão é composto por 96 palavras,divididas em 8 grupos de 12 palavras.As palavras podem ser impressas a uma dequatro cores - verde, vermelho, preto ou azul.Xinto a disposição das palavras em cadagrupo, como a cor a que estão impressas aspalavras, é aleatória.A ordem de apresentação dos cartões, étambém aleatória.Pede-se ao sujeito, que diga a cor a que estãoimpressas as palavras. No fim do cartão, anota--se o tempo e o número de erros.Depois de retirar o cartão, pede-se ao sujeitoque diga as palavras de que se lembra.RESULTADOSAnalisando o tempo de resposta ao Stroop,i.e., o tempo de reprodução da cor (quadro i),podemos observar:1P - Independentemente do tipo deameaça, física ou social, os esquizofrénicosapresentam tempos médios mais elevados,que os sujeitos voluntários normais.2P - Nos cartões que contêm palavras nãoameaçadoras, os tempos médios obtidospelos esquizofrénicos, são mais elevados.213


QUADRO 2Médias, Desvio-Padrão e análise da variância (Anova), dos resultados obtidos na evocação depalavras, pelos grupos de esquizofrénicos (Esq) e de sujeitos voluntários normais (Nor).EVOCAÇÃO DE PALAVRAS Nor: X - 4.77DP - 2.24DEF - 2.12AMEAÇA FÍSICA Esq: X - 3.54DP - 2.06EVOCAÇÃO DE PALAVRAS Nor: X - 3.23DP - 2.05DEF - .73AMEAÇA SOCIAL Esq: X - 2.61DP - 1.61EVOCAÇÃO DEPALAVRASAMEAÇADORASNor: X - 8.00DP - 2.88Esq: X - 6.15DP - 2.88F - 1.89EVOCAÇÃO DE PALAVRAS Nor: X - 7.15DP - 2.48NÃOF - .15AMEAÇADORAS Esq: X - 6.69DP - 3.47afirmar que as diferenças encontradas entre osdois grupos, se devem a uma alteração globaldo processamento de informação nosesquizofrénicos, e não a influências dosignificado atribuido a palavra, i.e., osesquizofrénicos são globalmente mais lentos noprocessamento de informação e consequenteementena resposta apropriada aos estímulos.Este facto confirma a existência de um déficeno processamento de informação naesquizofrenia. .Em relação h hipóteses colocadas, estas nãose confirmam. Uma explicação para este facto,pode estar relacionada com o significadoatribuido as palavras, pelos sujeitosesquizofrénicos. Assim, as palavras utilizadasnão teriam um significado ameaçador para estessujeitos, i.e., estas palavras não activam, nosesquizofrénicos, núcleos semânticos da memóriaa longo termo, com significados associados apreposições verbais e a respostas emocionais.Contudo, é interessante verificar a ausênciade diferenças entre o número de palavrasevocadas pelos dois grupos. Já que, mesmo queo significado da palavra seja irrelevante paraos esquizofrénicos, era de esperar diferenças,tomando em consideração o défice de memóriaa curto termo, que existe na esquizofrenia.Parece-nos interessante uma continuação doestudo nesta linha, com o objectivo de encontrar215


QUADRO 3Média (em segundos) e Desvio Padrão, doTempo de Reprodução da corTempo de Reproduçãoda corPALAVRAS X - 323.15AMEAÇADORAS DP - 66.87PALAVRAS X - 326.30NÃOAMEAÇADORAS DP - 63.54Utilizar uma amostra de esquizofrénicosmais homogénea a nível cultural e a nívellexical, já que estes factores podemdeterminar significados idiossincráticos daspalavras;Tomar em consideração as redessemânticas construídas pelos sujeitos, jáque é determinante para a forma como osujeito activa uma ou outra rede;Modificar o contexto de suporte doestímulo. Por exemplo, em vez de palavrasimpressas num cartão, apresentá-lasprojectadas num ecrã ou em computador;Passar do nível de processamento dapalavra para o nível de processamento dafrase. Um estudo exploratório, nestesentido, está actualmente a decorrer.QUADRO 4Média e Desvio-Padrão do número de palavrasevocadas pelo grupo de esquizofrénicos<strong>Palavra</strong>s EvocadasPAi AVRAS X - 6.46AMEAÇADORAS DP - 2.76PALAVRAS X - 6.69NÃoAMEAÇADORAS DP - 3.47urna explicação para este facto. Sobre isto, éimportante referir que a maioria dos estudosutilizam estímulos, mais ou menos neutros, naavaliação da memória dos esquizofrénicos.Julgamos também pertinente, continuar esteestudo levando em conta os seguintes factores:216o Utilizar palavras que estejam relacionadascom a história do sujeito, i.e., construirBIBLIOGRAFIABeech, A., et col. (1989). Evidence of reducedcognitive inhibition in schizophrenia. BritishJournal of Clinical Psychology, 28: 109-116.Broen, W. & Storms, L. (1977). A theorie ofresponse interference in schizophrenia. InContributions to the psychopathology ofschizophrenia (B.A. Maher, Ed.), New York:Academic Press.Cláudio, V. (1986). Padrões de adaptação aoconflito cognitivo experimentalmente induzido:aspectos do reconhecimento social da atenção.Actas de1 I congresso Hispano Portugues dePsiquiatria: 83-91.Cláudio, V. (1987). Para a análise da relação entrea atenção e a significação. Actas do III Encontroda Associação Portuguesa de Lingubtica: 463-412.Cláudio, V. (1988). Padrões de atenção naesquizofrenia paranóide. Análise Psicológica,(VI)2: 235-243.Cláudio, V. (1989). Relação entre o déficite noinput de informação e as alterações da atençãona esquizofrenia paranoide. Análise Psicológica,(V11)1/2/3: 379-381.Hemsley, D. (1982). Cognitive impairment inschizophrenia. In The Pathologv and psychologyOf cwnition (Andrew Burton, Ed.), New York:Methuen.Johnson-Laird, P. (1987). Mental Modeis.para cada "jeito um Stroop Cambridge: Cambridge University Press.individualizado, contendo palavras a que Mathews, A. & Macho& C. (1985). Selectiveeste atribua um significado ameaçador processing of threat cues in anxiety states.(por exemplo, palavras relacionadas com Behavior Research Therapy, 5: 563-569.o delírio persecutório do sujeito);McChie, A. & Chapman J. (1961). Disorders of


attention and perception in early schizophrenia.British Journal of Medical Psychology, 103-116.Ohman, A., Norby, H. & d’Elia, G. (1986).Orienting and schizophrenia: Stimulussignificance, attention, and distraction in asignaled reaction time task. Journal of AbnormalPsychology, 95(4): 326-334.Rosenbaum, G., Shore, D. & Chapin, K. (1988).Attention deficit in schizophrenia and schizotypy:Marker versus symptom variables. Journal ofAbnormal Psychology , 97(1): 41-47.RESUMONeste trabalho pretendemos estudar a influênciada activação de redes semânticas da memória a longotermo, no processamento de estímulos verbais,efectuado por esquizofrénicos paranóides evoluntários normais.Utilizámos uma adaptação do Teste de Stroop,constituída por palavras relacionadas com ameaça- física e social - e palavras neutras.Verificámos que existem diferenças entre os doisgrupos em estudo, a nível da reprodução de cor, oque está relacionado ao défice esquizofrénico.Contudo, não se encontram diferenças na evocaçãodos estímulos.Discutimos a possibilidade de os estímulos -palavras - utilizados não serem representados comoameaçadores pelos esquizofrénicos.Avançamos várias hipóteses a estudar, com oobjectivo de clarificar alguns dos resultados obtidos.ABSTRACTIn this experiment we attempted study the role ofsemantic network’s activation in evocation memory,in the processing of verbal stimulus, make byschizophrenics and normal voluntiers.We used a Stroop adaptation, with words relatedto threat - physicai and social - and neutral words.We found differences between the two groups inthe color time reproduction. This result can beassociated with the schizophrenic deficit.However we don’t find any differences in thestimulus evocation. May be these results can berelated with the following explanation: theschizophrenics don’t represent as threatening thestimulus used.We also advance some hypothesis to future studyin the sense to clarify the results.217

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