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Jonas BlochO Ofício de uma PaixãoNilu LebertSão Paulo - 2009


GovernadorJosé Serra<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São PauloDiretor-presidenteHubert AlquéresColeção AplausoCoordenador GeralRubens Ewald Filho


ApresentaçãoSegundo o catalão Gaudí, não se deve erguermonumentos aos artistas porque eles já o fizeramcom suas obras. De fato, muitos artistas sãoimortalizados e reverenciados diariamente pormeio de suas obras eternas.Mas como reconhecer o trabalho de artistasge niais de outrora, que para exercer seu ofíciomuniram-se simplesmente de suas própriasemoções, de seu próprio corpo? Como mantervivo o nome daqueles que se dedicaram àmais volátil das artes, escrevendo, dirigindo einterpretando obras-primas, que têm a efêmeraduração de um ato?5Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguemesquecidos, quando os registros de seu trabalhoou se perderam ou são muitas vezes inacessíveisao grande público.A Coleção Aplauso, de iniciativa da <strong>Imprensa</strong><strong>Oficial</strong>, pretende resgatar um pouco da memóriade figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveramparticipação na história recente do País, tantodentro quanto fora de cena.Ao contar suas histórias pessoais, esses artistasdão-nos a conhecer o meio em que vivia todauma classe que representa a consciência crítica


da sociedade. Suas histórias tratam do contextosocial no qual estavam inseridos e seu inevitávelreflexo na arte. Falam do seu engajamentopolítico em épocas adversas à livre expressão eas consequências disso em suas próprias vidas eno destino da Nação.6Paralelamente, as histórias de seus familiaresse en tre la çam, quase que invariavelmente, àsaga dos milhares de imigrantes do começo doséculo pas sado no Brasil, vindos das mais variadasorigens. En fim, o mosaico formado pelosdepoimentos com põe um quadro que reflete aidentidade e a imagem nacional, bem como oprocesso político e cultural pelo qual passou oPaís nas últimas décadas.Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própriavoz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpreum dever de gratidão a esses grandes símbolosda cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens,trazendo-os de volta à cena, tambémcumpre função social, pois garante a preservaçãode parte de uma memória artística genuinamentebrasileira, e constitui mais que justa homenagemàqueles que merecem ser aplaudidos de pé.José SerraGovernador do Estado de São Paulo


Coleção AplausoO que lembro, tenho.Guimarães RosaA Coleção Aplauso, concebida pela <strong>Imprensa</strong>Ofi cial, visa a resgatar a memória da culturanacio nal, biografando atores, atrizes e diretoresque compõem a cena brasileira nas áreas decine ma, teatro e televisão. Foram selecionadosescri tores com largo currículo em jornalismo culturalpara esse trabalho em que a história cênicae audiovisual brasileira vem sendo re constituídade ma nei ra singular. Em entrevistas e encontrossuces sivos estreita-se o contato en tre biógrafos ebio gra fados. Arquivos de documentos e imagenssão pesquisados, e o universo que se recons tituia partir do cotidiano e do fazer dessas personalidadespermite reconstruir sua trajetória.7A decisão sobre o depoimento de cada um na primeirapessoa mantém o aspecto de tradição oraldos relatos, tornando o texto coloquial, como seo biografado falasse diretamente ao leitor .Um aspecto importante da Coleção é queos resul ta dos obtidos ultrapassam simplesregistros bio grá ficos, revelando ao leitor facetasque também caracterizam o artista e seuofício. Bió grafo e bio gra fado se colocaram emreflexões que se esten de ram sobre a formaçãointelectual e ideo ló gica do artista, contex tualizada na história brasileira , no tempo e espaçoda narrativa de cada biogra fado.


São inúmeros os artistas a apontar o importantepapel que tiveram os livros e a leitura em sua vida,deixando transparecer a firmeza do pensamentocrítico ou denunciando preconceitos secularesque atrasaram e continuam atrasando nossopaís. Muitos mostraram a importância para asua formação terem atuado tanto no teatroquanto no cinema e na televisão, adquirindolinguagens diferenciadas – analisando-as comsuas particularidades.8Muitos títulos extrapolam os simples relatos bio -gráficos, explorando – quando o artista permite –seu universo íntimo e psicológico , reve lando suaautodeterminação e quase nunca a casua lidadepor ter se tornado artista – como se carregassedesde sempre, seus princípios, sua vocação, acomplexidade dos personagens que abrigou aolongo de sua carreira.São livros que, além de atrair o grande público,inte ressarão igualmente a nossos estudantes,pois na Coleção Aplauso foi discutido o processode criação que concerne ao teatro, ao cinema e àtelevisão. Desenvolveram-se te mas como a construçãodos personagens inter pretados, a análise,a história, a importância e a atua lidade de algunsdos perso nagens vividos pelos biografados. Foramexami nados o relacionamento dos artistas comseus pares e diretores, os processos e as possibilidadesde correção de erros no exercício do teatroe do cinema, a diferença entre esses veículos e aexpressão de suas linguagens.


Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleçãoe a opção por seu formato de bolso, a facili dadepara ler esses livros em qualquer parte, a clarezade suas fontes, a icono grafia farta e o regis trocronológico de cada biografado.Se algum fator específico conduziu ao sucessoda Coleção Aplauso – e merece ser destacado –,é o interesse do leitor brasileiro em conhecer opercurso cultural de seu país.À <strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> e sua equipe coube reunirum bom time de jornalistas, organizar com eficáciaa pesquisa documental e iconográfica econtar com a disposição e o empe nho dos artistas,diretores, dramaturgos e roteiris tas. Com aColeção em curso, configurada e com identidadeconsolidada, constatamos que os sorti légios queenvolvem palco, cenas, coxias, sets de fil magem,textos, imagens e pala vras conjugados, etodos esses seres especiais – que nesse universotransi tam, transmutam e vivem – também nostomaram e sensibilizaram.9É esse material cultural e de reflexão que podeser agora compartilhado com os leitores de todoo Brasil.Hubert AlquéresDiretor-presidente da<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São Paulo


ApresentaçãoAs duas biografias que tive o prazer de escreverpara a Coleção Aplauso foram as dos atores SérgioViotti e Beatriz Segall. Sou amiga de amboshá décadas, e já havia uma aliança sedimentadaentre nós, uma espécie de cumplicidade explícitaque facilitou nosso trabalho.Com Jonas foi diferente, já que eu só o conheciaatravés de seu trabalho como ator. Mesmosendo amiga de Deni, filha caçula e fã ardorosado pai, nunca havia visto Jonas fora das telasou dos palcos, e nosso primeiro encontro se deuaqui em São Paulo, na minha casa. Mas, talvezem função dos muitos e-mails e telefonemastrocados antes disso, ao vê-lo entrar senti queestava recebendo um amigo de velha data. Essesentimento foi-se fortalecendo enquanto conversávamose eu pude perceber – na sua formade olhar – toda a transparência de um caráterfirme, honesto e direto.11Escrever um livro a quatro mãos é como dançarum tango: exige confiança, sincronismo, maleabilidadee, sobretudo, o prazer dos parceiros envolvidospela música/texto. Requer também ensaios,para acompanhar o ritmo sem atropelar a narrativa,numa coreografia que envolve – mais do quepassos – pesquisas e muitos parágrafos recheadospelas experiências da vida do biografado.Jonas, morando e trabalhando no Rio de Ja-


neiro. Eu, em São Paulo, diante do computador.Ele, do outro lado da tela. Aos poucos,fomos acertando pausas, eliminando o supérfluo,percorrendo o salão/tela com passoscada vez mais sincronizados. A trajetória deJonas é uma partitura cheia de nuances, e onosso tango/livro precisava ser fiel a ela. Ouvire narrar, privilegiar emoções, buscar fatose sentimentos, obedecer à música do relato.Era necessário marcar outro encontro.12Ele veio à terra do profeta novamente. No intervaloentre o primeiro e este segundo encontro,trocamos dezenas de e-mails, bordamos o texto,procurando privilegiar os fatos mais relevantes.Relemos, ponderamos, refizemos os acordesdo tango obedecendo à sua musicalidade.Jonas chegou carregando uma pasta recheadade fotos (a maioria você verá nesse livro) e,descrevendo cada uma delas, ele alternava diferentessentimentos diante das imagens quese sucediam. Pude ouvi-lo relatar saudades,alegrias, algumas tristezas, orgulho e gratidão,uma espécie de caleidoscópio de emoções formadopelas suas vivências. Percebi então queJonas se jogou sem rede de segurança em todaselas e, outra vez, me curvei em respeito a essaintensidade, a essa integridade.Assistimos juntos ao DVD de um programa deTV a cabo que ele fez com a filha Debora al-


guns anos atrás. Separadamente, pai e filhaderam depoimentos sobre o mesmo tema: acasa onde moraram, a relação com o teatro, aslembranças de infância e, sobretudo, a certezado amor incondicional que os une. Quandoo programa terminou, emocionado, Jonas nãoconteve as lágrimas. Lágrimas de orgulho, defelicidade por ver suas sementes germinadas ejá florescendo.Confesso que também fiquei comovida comessa sua sensibilidade sempre à flor da pele, amesma sensibilidade que ele tem ao pintar suastelas ou ao fazer suas esculturas. Muitas delasdecoram a pousada que ele tem com a mulher,Sylvia, em Minas Gerais. Outros desenhos foramfeitos especialmente para as camisetas, bolsas,bonés e mochilas que são vendidos por lá. Umadessas camisetas ele me deu como lembrançado nosso trabalho. Ela é preta e traz o desenhoum cavalo veloz, elegante, galopando pela vidacom alegria, vigor e coragem. Essa imagem,para mim, é um autorretrato do autor. Porqueé exatamente assim que ele vive, percorrendoos mais diversos campos da Arte e da Vida comgarbo, energia e muito, muito valor.13Me envolvi nesse nosso livro/tango procurandoacompanhar os passos de Jonas, passos que eleconduziu ouvindo músicas vindas do coração.Sendo assim, fica aqui o convite para que vocêse junte a nós e participe dessa dança conosco.


Em Senhor das Flores


IntroduçãoQue sentido tem a vida de um ator? Será ela semelhantea um espetáculo de teatro que, findaa temporada, não resta nada além de algunsrecortes de jornais? Me fiz várias vezes essa pergunta,sobretudo ao lembrar de alguns atoresque já se foram. Pensava na energia e paixãoque eles dedicaram aos seus trabalhos, no suore na angústia, no empenho que tinham em daro melhor de si para – através de sua arte – tocara mente e o coração do público, numa tentativade despertar sua consciência e transformar asociedade. No entanto, as novas gerações nemsabem da existência deles.Segundo um personagem de Shakespeare: Avida é uma fábula contada por algum idiota,cheia de sons e fúria significando nada (Life is atale told by an idiot full of sound and fury meaningnothing). Não, não posso concordar. Minhavisão de mundo, assim como a da minha geração– que viveu os terríveis dias da Ditadura – foiampliada pelo teatro. Foi ele que nos alimentoucom o ideal de Liberdade e nos ajudou a mudaro País, hoje mais livre e mais aberto, um Brasilque essa nova juventude usufrui e não sabe quedeve isto também a tantos artistas ignorados.Recorro então ao mestre Guimarães Rosa, e concordoquando ele diz que a realidade não estána partida, nem na chegada, mas na travessia.Nesse terceiro ato de minha vida, tendo vivido15


uma bela travessia nas Artes, espero ter passadoadiante o que recebi desses abençoados artistas,deixando também minha semente, sejaatravés dos espetáculos que fiz, dos cursos queministrei, das atividades políticas, ou simplesmentedos meus atos. Tomara que eles ajudema criar melhores dias no futuro.16A felicidade, ao contrário do que se propagapor aí, não se restringe à simples busca de bensmateriais. Existem outras dimensões na vida, apoesia e o afeto, a magia e a solidariedade, e éatravés da arte que podemos percebê-las. Esperoter revelado esse caminho em meus trabalhos, edesejo que esse conceito seja levado adiante. Senão consegui atingir plenamente esse objetivo,ainda assim sinto que deixei meu recado e meulegado ao menos no coração de duas pessoas extraordináriase que dão um permanente encantoà minha vida: minhas filhas Debora e Deni.Acredito que, para os leitores em geral, o relatode uma experiência de vida sempre traz algumaprendizado, além da oportunidade de viajarpor universos ainda não visitados. Para aquelesque sonham em se tornar profissionais destaArte e têm poucas fontes de informação sobrea carreira, desejo sinceramente que possam tirarproveito dos meus acertos e tropeços.É hora de começar nossa viagem no tempo.


Capítulo IÁlbum de FamíliaEra um dia ensolarado de verão e Leon Bloch,meu avô, chegava ao Rio de Janeiro com o coraçãopulsando de esperança e a sensação dealívio por estar longe do pesadelo que o ameaçavana Ucrânia. Nascido e criado na cidadede Zytomir, ele finalmente encontrara o lugarideal para construir uma nova vida, em paz.Tudo começou naquele início de século, quandoo mundo passava por grandes transformações eas conturbações sociais do seu país deixavam aaristocracia em desespero. O clima era de revolta,e o czar, não achando outra solução, lançou mãodo artifício de encontrar um bode expiatório. E,como a História da Humanidade registra, os judeusseriam outra vez os escolhidos. Podendoconfiscar seus bens, o czar melhoraria as finançasdo país e poderia se esquivar de sua responsabilidade,jogando a culpa em ombros inocentes. Opovo, indignado, teria em quem descarregar suarevolta, e sua autoestima ficaria inabalada. Nãoseria a primeira vez que isto ocorreria na História,enquanto o povo judeu não tivesse uma pátria.17A vida de Leon se tornara insustentável e ele fugiupara a Áustria. Nas pequenas aldeias europeias,era difícil encontrar um noivo judeu quandouma moça judia estava em idade de se casar.


Jonas com sua mãe, Bertha


Assim como era costume na aristocracia (porrazões políticas e econômicas), os casamentosdessas moças também eram feitos através deprofissionais encarregados de trazer um pretendenteque recebia um dote do pai da moça.Era cultural, não havia espaço para romances.Não sei se foi isso que aconteceu com Leon,mas minha avó, Sabina, sendo de família abastada,casou-se com ele. Tiveram dois filhos,Gusty e Henrique. Com o tempo, o antissemitismocrescia na Áustria e Leon, outra vez, sentiuque era hora de fugir. Sabendo de tantosjudeus que migraram para a América do Sul,escolheu a Argentina.Sob o protesto de Sabina, foram com os filhospara Buenos Aires, levando uma vida bem maisdifícil da que tinham na Europa. E Sabina, grávidado terceiro filho (Leopoldo), não suportouviver em condições tão piores e resolveu voltarpara a Áustria, abandonando o marido.19Depois de algum tempo, a comunicação com aÁustria esteve censurada, mas Leon, que nãosabia disso, imaginou que a falta de respostade Sabina às suas cartas significasse o fimdo casamento. Leon decidiu trocar a Argentinapelo Brasil e foi morar em Salvador. Lá, umsentimento novo tomou conta de seu coração:ele apaixonou-se por Tânia. Não podendo seseparar oficialmente de Sabina, Leon se tornoubígamo.


Movido pelo entusiasmo de um homem apaixonado,somado à felicidade de estar num paísacolhedor, trabalhou com afinco e começou afazer o seu patrimônio, o que permitiu que elese mudasse com Tânia para o Rio de Janeiro.O tempo foi passando e as notícias da Europacomeçaram a chegar. As cartas de seu irmão Joseph,da Ucrânia, davam conta de que os bensda família haviam sido confiscados e que elespassavam fome. Da Áustria, Sabina comunicavao nascimento do novo filho.20Um novo pensamento começou a povoar os sonhosde Leon: trazer os filhos e toda a famíliada Ucrânia para o Brasil. Através de um parentede Tânia, que foi para Europa providenciaro resgate de todos, ele enviou dinheiro e, aospoucos, foi trazendo o restante da família, ouseja, dezoito parentes, além de seus três filhos!Seu irmão Joseph montou – logo que chegouao Rio de Janeiro – uma pequena gráfica quese desenvolveu rapidamente. Anos depois, seusfilhos a transformaram na Bloch Editores quepublicava, entre muitas outras, a famosa revistaManchete. Posteriormente, ela deu origem àTV e Rádio Manchete, a atual Rede TV!Depois de muita burocracia, do envio de dinheiroe documentos, finalmente chegou o dia tãoesperado da chegada dos filhos. No cais do porto,para recebê-los, estavam Tânia, meu avô ealguns parentes dela, inclusive Naum, irmão de


Tânia, que ao ver Gusty (a filha de Leon) ficouencantado por ela. Casaram-se pouco depois etiveram três filhas, Paulina, Greta e Mary, que desempenharamimportante papel na minha vida.Muito emocionado, Leon abraçou os filhos e oslevou para casa, mas os parentes de Tânia permaneceramno cais, esperando alguém desembarcar.Minha avó Sabina, a primeira mulher deLeon, havia chegado escondida no mesmo navio.Mais ou menos na mesma época, e também foragidada Ucrânia, a família Lerman, compostapor David, Rosa e os filhos Samuel, Albertina eBertha (minha mãe) instalou-se em Porto Alegre,onde montou um pequeno armazém nobairro do Bonfim. Talvez pelo medo de seremidentificados como judeus muitos trocavamseus nomes ao chegar ao Brasil. Minha mãe,por exemplo, chamava-se Basia e virou Bertha;Sabina era Sima. Riwka, minha avó materna,passou a se charmar Rosa. Quando minha mãeveio passar as férias no Rio, conheceu um rapazalegre, sedutor e boêmio, que cantava tangose se vestia elegantemente. Era Henrique, meupai. O casamento veio logo a seguir. Nasci umano depois, a 8 de fevereiro de 1939, no HospitalSão Sebastião, no bairro carioca da Glória.21Não me lembro do meu pai, ele faleceu antesque eu completasse três anos. Além de algumasfotos, as informações que tenho são da sua ale-


gria, da sua vida boêmia, de seu gosto em sevestir bem. Dizem também que ele foi um grandecantor amador e que, nas boates, pegava omicrofone e cantava tangos muito bem. Morreucedo, por ainda não existir a penicilina.Jonas com os avós maternos, Rosa e David, e seus pais nocasamento, Bertha e Henrique


Seus pais, Bertha e Henrique


Seus pais


Com a avó Sabina no Bar Mitzvá


Capítulo IIPão, Amor e FantasiaMinha mãe, ao ficar viúva e precisando trabalhar,me colocou num colégio interno, já que nãotinha como cuidar de mim. Fui para o ColégioCarlos Werneck, em Petrópolis, o único colégioque aceitava meninos tão pequenos. As visitaseram quinzenais e, algumas vezes, eu ia para oRio. Lembro-me de um fim de semana em que todosos alunos tinham ido para suas casas, menoseu. O colégio era imenso e eu estava no pátio, só,esmagado pela noite escura e pelo silêncio insuportável.Comecei a chorar. Um funcionário ouviumeu choro e, sem saber o que fazer, comprouuma bisnaga de pão e uma lata de leite condensadopara me consolar. Aquilo fez com que eume sentisse, de fato, menos infeliz. Na época, eudevia ter quatro ou cinco anos. Bem mais tarde,fiz algumas parcerias na vida que não deveriater feito. Metaforicamente falando, creio que asaceitava por medo de ficar sozinho, o estar juntoera como o pão com leite condensado, ou seja,dava a sensação de me sentir protegido e acolhido.Hoje percebo que poderia ter sido mais seletivo.Não havia mais o muro do internato.29Na época, ultrapassar o muro daquele internatoe alcançar a rua era tudo o que eu desejava,e estava disposto a fazer qualquer coisa parasair dali e sentir o gosto da Liberdade. Foi as-


sim que, mesmo sendo judeu, ia à missa aosdomingos e cheguei até a ser coroinha numaprocissão para não ficar confinado no colégio.Mas a suprema felicidade era quando nos levavam,aos domingos, ao cinema Dom Pedro,mais tarde transformado em teatro. Abro aquium parênteses para dizer que mais de 50 anosdepois, senti uma forte emoção ao me apresentarlá como ator no espetáculo Hilário.30Fiquei interno até os 10 anos, quando minhamãe, que já estava casada com um médico amazonense,me trouxe de volta ao Rio. Deste segundocasamento nasceu minha irmã Eleonora,de quem tomei conta inúmeras vezes e porquem tenho um enorme carinho. Quando saído internato, a minha maior alegria era quandoeu alugava uma bicicleta e saía pedalando, ovento no rosto, a liberdade até então proibidade percorrer as ruas, de ver as pessoas sentindoo cheiro do mar. Era como se eu fosse o Senhordos Céus, um pássaro voando sem limites.Minha mãe era uma pessoa alegre, cheia deenergia. Cozinhava bem e chegou a publicarum livro de receitas. Frequentemente dava jantaresbeneficentes para entidades de amparosocial, tanto judaicas como cristãs, e tambémorganizava desfiles de fantasias de carnavalque ela mesma apresentava e, com isso, arrecadavafundos para trabalhos sociais. Quantoao meu padrasto, eu logo pressenti que ele


era uma fraude. Uma farsa encoberta pela rigidez,por uma conduta religiosa, e pelo moralismoexacerbado (a ponto de rejeitar umasobrinha porque tinha se desquitado). Ele atéproibiu minha mãe de usar calças compridas...Só foi desmascarado depois que morreu, aodescobrirmos que ele, durante muito tempo,manteve um apartamento para uma amante.A primeira coisa que minha mãe fez após suamorte foi colocar uma calça comprida e umablusa bem colorida. Ele era dono de uma clínicade doenças venéreas em plena Lapa, redutodo meretrício e marginalidade. Além disso, eramédico da antiga penitenciária Lemos de Brito,o que dá para se ter uma ideia do universo emque ele vivia e da carga desfavorável que eletrazia pra casa. Sobretudo, para a formação deum adolescente recém-saído de um colégio interno(ou inferno?).31Em compensação, encontrei aconchego e grandecalor humano na casa de minha tia Gusty, jáviúva, onde também moravam minha avó Sabinae suas três filhas, que me enchiam de carinho.Ali eu me sentia feliz. Eu e minhas primasnos divertíamos muito, especialmente quandocriávamos shows para apresentar nas festas dafamília. Os comentários das pessoas sobre minhaatuação eram tão carinhosos que, às vezes,penso ter escolhido esta profissão para continuara ter esse carinho que tanta falta me fez nainfância. Minhas primas se instalaram em meu


coração. Elas sempre foram uma mistura deamigas, irmãs e mães, minhas fadas-madrinhas.Até os nomes, Paulina, Greta e Mary, parecemser nomes de fadas. Foi uma etapa da minhavida em que passei dividido entre a casa da minhamãe e da minha tia, convivendo com as primase tendo a felicidade de ter várias mães.Com o tio Leopoldo, Paulina, Mary e Greta (atrás)


Capítulo IIIAurora da Minha VidaEu frequentava o CIB, um clube judeu em Copacabana,onde jogava basquete. Lá, fui convidadopara participar de um show infanto-juvenil queestava sendo montado. Num dos números musicaiseu cantava Boneca de Piche, fazendo duplacom a Flora Purim, que se tornou uma consagradacantora de jazz nos Estados Unidos. A partir daí,passei a criar e a apresentar shows nos bailes defim de semana do clube, uma trajetória que nãoteria volta. Não passei pela angústia que a maioriados adolescentes passa ao decidir qual carreira devemseguir: eu já sabia meu destino desde cedo.33Aos 14 anos, meu padrasto exigiu que eu trabalhassenas férias, e meu primeiro empregofoi como atendente numa oficina de carros...Quando completei 16 anos, ele me disse que eutinha que estudar à noite e trabalhar duranteo dia, aprendendo uma profissão. E completou:Você pode ser o que quiser, até mesmo sapateiro,mas terá que ser um bom profissional. Oque é que você quer ser? Ator, respondi. A casacaiu! Para a minha família, aquela era uma escolhainviável. Naquela época, os atores eramvistos como marginais, uma profissão para homossexuaisou prostitutas, e os salários não davampara sobreviver. E não davam mesmo!


O show no CIB


Meu padrasto trouxe folhetos de inscrição emconcursos para admissão na Escola Naval, deonde eu sairia oficial, e poderia viajar pelomundo todo, um jeito para me desviar do caminhojá traçado na minha alma. Cheguei apensar que entrar para a Escola Naval seria umaforma de ele se livrar de mim e eu dele, alémdo fascínio que seria viajar pelo mundo. Olhandopara trás, imagino que, naquela época, estarcasado com uma viúva que já tinha um filho eraconstrangedor. Recusei todas as propostas oferecidaspor ele e insisti em trabalhar em algoque gostasse.Foi quando surgiu a promessa de que eu dirigiriashows de Natal na Mesbla (uma loja dedepartamentos), onde meu padrasto conheciao chefe de pessoal. O show é para o Natal e, porenquanto, você irá trabalhar em outro departamento.Qual você prefere? Respondi que gostariade algo na área artística, como, por exemplo,desenho de propaganda. Disseram então que –enquanto não chegasse o Natal – eu trabalhariaem uma seção onde iria desenhar cartazes,mas, em vez disso, eu passava o dia colocandotipos de metal numa máquina para imprimircartazes manualmente e desenhava pequenospreços para serem colocados nas mercadorias.35Na mesma sala em que eu trabalhava, funcionavaa seção de Vitrines e Decoração. A decoradora,vendo meu interesse em desenho, con-


36vidou-me a ajudá-la e fui aprendendo a fazerplantas e projetos, o que tornou meu empregomenos árido. Foi então que descobri um cursode teatro da Fundação Brasileira de Teatro, daDulcina de Moraes. Como era após o expediente,me inscrevi. Fui aluno de ícones do teatro,como Adolfo Celli, Henriette Morineau, MariaClara Machado, Junito Brandão e Dulcina deMoraes e, na escola, havia estudantes como RubensCorrea e Ivan de Albuquerque, que tiveramuma linda trajetória no Teatro Ipanema.


Capítulo IVUm Gosto de MelPassei a trabalhar na seção de decoração e, comojá estava desenhando, pedi um aumento – queme foi negado porque eu não era formado emArtes. Então, prestei vestibular para a Escola deBelas Artes da Universidade do Brasil, que aceitavaalunos do segundo grau, e entrei na faculdade,passando a trabalhar na loja só em meioexpediente. Pela manhã, estudava Artes Plásticas,à tarde desenhava projetos de decoração e,à noite, fazia o curso de teatro. Ah, devo dizerque o prometido show de Natal nunca existiu.A escola de teatro costumava montar espetáculoscom atores profissionais e aproveitavaseus alunos para completar o elenco. Quandoencenaram O Auto da Compadecida, de ArianoSuassuna, um dos atores ficou doente durantea temporada. Mesmo estando no primeiro ano,fui convidado a substituí-lo no papel do palhaçoaté que ele pudesse voltar. E foi assim que sedeu a minha estreia no teatro profissional.37Para completar, e creio que por uma artimanhado destino, certo dia, viajando num microônibus(lotação), vi que lá estava Jaci Campos,o diretor e apresentador do Câmera Um, programade suspense da TV Tupi, que eu assistiasempre e adorava. Chovia muito, e só eu tinhaum guarda-chuva.


Quando desci do lotação, eis que Jaci Campostambém desce e pega carona em meu guardachuva.Não resisti e disse a ele que não perdiaseu programa, e também que eu deveria termais crédito no elogio porque era estudante deteatro. Ele me respondeu que, por coincidência,precisava de um ator para fazer um garçom alemão,uma pontinha, e tendo eu o tipo físico adequado,me convidou para o papel. O texto doprograma era entregue aos atores na terça-feirapara ir ao ar, ao vivo, na sexta seguinte. Assim,nervoso e tentando incorrrporrrarrr um sotaquealemão, fiz minha estreia ao vivo na televisão...38Durante quase dois anos permaneci no programainterpretando pequenos papéis. Os colegasde Belas Artes e do curso de teatro faziamchacota, perguntando o que eu seria na próximasemana... Garçom, porteiro, ou o quê? Atéque um dia Jaci Campos me telefona dizendoque eu faria o papel-título do programa. Aviseia todos para que não deixassem de assistir.O programa começou e, antes de entrarem oscréditos, eu aparecia numa bicicleta, como estafeta(carteiro), trazendo quatro telegramas namão. Surgia um caminhão, me atropelava, eumorria, e aí apareciam os créditos de aberturacom o título do programa A Morte do Estafeta.A história era baseada em quatro personagenscujos destinos foram mudados porque não receberamos telegramas. Mas ainda assim eu erao estafeta, o papel-título...


Na TV Tupi, programa Câmera Um: A Morte do Estafeta


40Pleno de realizações, eu estava feliz. Havia atéjogado no time juvenil de basquete de clubescomo o Flamengo e o Fluminense, cursava osegundo ano de Belas Artes, atuava em TV eestudava teatro. Mas chegou a idade em quedeveria me alistar no Exército, o que significavainterromper minhas atividades. A única soluçãoseria fazer o CPOR, um curso para formar oficiaisda reserva em horário especial e, assim, eunão precisaria abandonar tudo que fazia. Noentanto, meu padrasto não permitiu. Ser soldadode tropa é que fará de você um homem, disseele. Revoltado, tive que aceitar. Foram trêsmeses de tropa no Forte Copacabana e maisnove meses como tradutor na Escola Superiorde Guerra. Para nada. Depois disso, e com osconstantes desrespeitos que sofri, saí de casa efui morar em uma pensão.Foram tempos difíceis. Eu dividia um quartocom mais dois vendedores de uma loja de roupase me sentia deprimido e triste. Não conseguiadormir e andava pelas areias de Copacabanamadrugada adentro até ficar exausto. Éclaro que não era nada fácil sobreviver de teatroe TV, e havia muita dificuldade em se conseguirum trabalho. Eu já era muito grande parafazer papel de menino e muito menino para fazerpapel de adulto. Nunca me esqueço do diaem que coloquei minha última moeda no balcãode um bar para pagar um café-com-leite,pão e manteiga.


Naquele momento, achei que seria melhor desistirda ideia de ser ator.Quando a fome apertava, eu tinha a certeza queminha avó me salvaria, porque uma das alegriasdas mulheres judias é dar comida às visitas, aosfilhos e aos netos. Guardo na memória o sorrisode satisfação de minha avó Sabina vendo o netoque nunca queria comer (a não ser o cachorroquentede lanchonetes) agora se deliciandocom as costeletas que ela costumava fazer.Minha prima e madrinha Paulina, sabendo deminha situação, sugeriu que eu fosse para BeloHorizonte, onde morava sua irmã Mary, casadacom um arquiteto. Eles poderiam me acolher e,assim, começou uma nova etapa em minha vida.41


Capítulo VOh! Oh! Oh! Minas Gerais!Cheguei a Belo Horizonte em 1959. Com a experiênciaadquirida em decoração e com oaprendizado da Escola de Belas Artes, alugueiuma mesa de desenho no escritório de Henri,meu primo arquiteto, e comecei a fazer projetosde decoração. Como eu era jovem, tinhaalgum talento, cobrava barato e havia poucosdecoradores na cidade, tudo deu certo. Mary setornou a minha grande referência familiar, elae o marido me deram calor humano e o sentimentode ter uma família, era tudo que eu precisava.Mantemos, até hoje, uma cumplicidadede amigos íntimos. Seu marido, Henri, sempreme apoiou e se tornou um querido irmão.43O tempo foi passando e eu já havia desistido daprofissão de ator quando vi, numa vitrine, umcartaz anunciando testes para obtenção de bolsasde estudo no teatro universitário da UniversidadeFederal de Minas Gerais. Aquele cartazoferecendo a chance de estudar teatro e aindaganhar algum dinheiro parecia um sonho. Impossívelperder uma oportunidade como aquela!Passei no teste, e nossa primeira encenação foia da poesia O Caso do Vestido, de Carlos Drummondde Andrade, num Festival de Estudantesde Brasília, quando a cidade ainda nem tinhasido inaugurada.


As ruas estavam em construção, com muito barroe muita poeira, parecia o cenário de um filmede faroeste.44Chegou o ano de 1964, época em que JoãoGoulart (eleito vice-presidente democraticamente)substituía o presidente Jânio Quadros,que havia renunciado. Jango, como eraconhecido, tentava implantar as reformas debase, contrariando os interesses da elite e dogoverno americano. Veio então o golpe militarque implantou a ditadura, o início de umaera de obscurantismo, medo e barbárie, queemporcalhou nossa História. Naquele anodirigi e atuei em Os Fuzis da Sra. Carrar, deBertold Brecht. Era a primeira vez que se montavaBrecht em Minas Gerais. Vale dizer quea peça se passa na Espanha e conta a históriada Sra. Carrar, que perdera o marido na lutaarmada contra a ditadura de Francisco Franco.Ela não deixa seus filhos entrarem na luta e serecusa a entregar os fuzis do marido ao seu irmãorevolucionário. A peça começa com a Sra.Carrar colocando um pão no forno, e terminacom ela vendo o filho morto, assassinado peloregime, mesmo sem ter se participado da luta.Percebendo que não existe posição neutra, elaentrega ao irmão o pão e os fuzis. Como ela, opão havia ficado pronto.Alguns amigos me alertaram para o perigo queeu corria por encenar uma peça com este tema.


Fui ao comando do Exército e disse ao responsável,um subtenente, que haviam me alertadoda inconveniência em montar o espetáculo, masque eu achava um absurdo alguém ver perigoem algo que se passava na Espanha, e em outraépoca. No fundo, eu esperava ser chamado decínico e de atrevido, e cheguei a temer a ira dosubtenente. Mas, para meu espanto, ele disse:Tudo bem, você encena a peça, só que antesde começar o espetáculo você tem que avisar aplateia que ela não tem nada a ver com o Brasil.Respondi prontamente: Juro ao senhor que voufazer isto. E fiz. A plateia, ao ouvir aquela informação,dava uma gostosa gargalhada.Naquele mesmo ano passei a escrever duas colunasno jornal Correio de Minas, uma sobreteatro, outra, sobre decoração. O editor-chefedo jornal era Fernando Gabeira. Na coluna deteatro, comecei um movimento para que fosseformada uma Associação Mineira de Teatro.Convoquei os grupos para uma reunião, mascomo não tínhamos onde nos reunir, fizemosnosso primeiro encontro em um bonde que ficavaestacionado durante a noite em frente àredação. Tempos depois, Gabeira, já editor doJornal do Brasil, deu ampla cobertura ao nossoespetáculo Oh! Oh! Oh! Minas Gerais, quandofizemos uma temporada no Rio de Janeiro. Suamaneira afável e tranquila não dava qualquersinal de que pertencesse a um grupo revolucionário,e que viesse a participar do sequestro45


do embaixador norte-americano para trocá-lopor prisioneiros políticos, seus companheirosde luta. Anos depois nos encontramos de novo,em um palanque, quando fui o apresentadorde um comício de sua campanha política.46Haydée Bittencourt era a diretora do teatrouniversitário. Ela havia voltado da Inglaterra,onde estudara na Royal Academy of DramaticArts (Rada), e decidiu montar Sonhos de umaNoite de Verão, de William Shakespeare. Eu jáhavia saído da universidade, mas fui chamadopara fazer o papel de Oberon como ator convidado.Era uma montagem clássica, muito bemcuidada, graças ao empenho de Haydée paraque tudo tivesse o máximo de profissionalismo.Com aquele papel ganhei o prêmio de melhorator pela Associação Mineira de Teatro. Contudo,achei que tinha feito uma interpretaçãoempostada. Não tendo esperanças em ganhara vida como ator, fiz vestibular para arquiteturae, mesmo tendo desenhado diariamentedurante dois anos na Escola de Belas Artes, tivepéssima nota em desenho artístico e fui reprovado,sinal evidente de que não era aquela aprofissão que eu queria ou nascera.


Capítulo VITempo de DespertarComecei a frequentar os bares de Belo Horizonteonde a classe artística e intelectual se encontrava.Eu tinha simpatia especial por determinados intelectuaisos quais me fascinavam com suas discussõessobre autores e pensadores que eu não havialido, o que, para mim, era uma nova experiência.Fui aprendendo, me desenvolvendo. Percebi quenos tempos de internato e nos anos que se seguiramnão tive informação ou formação sobre a vida,sobre cultura, sobre nada. Eu era uma espécie debugre, que precisava descobrir tudo sozinho. Aomesmo tempo em que me envolvia com o grupo,me sentia inseguro pela minha falta de preparointelectual, mas algo me dizia que eu deveria repensaresta insegurança. Com o tempo, comecei aentender o que me intrigava naquelas conversas.Percebi que grande parte do grupo não tinha umpensamento próprio, nenhuma ideia original, seusintegrantes eram simples repetidores de frases epensamentos de autores consagrados. Davam aimpressão de que passavam o dia se preparandopara fazer citações à noite, tal qual um passaportepara seu reconhecimento como intelectuais.47Para minha surpresa, foi um dos verdadeirosintelectuais da turma, Jota Dangelo, quem meconvidou a fazer uma parceria com seu grupo,o Teatro Experimental.


Dangelo, homem de múltiplos talentos e comuma enorme garra e determinação em tudoque faz, lecionava anatomia na Faculdade deMedicina, organizava a Escola de Samba QualquerNome Serve, de São João Del Rey (ondedesfilei e fomos bicampeões), atuava em peçasde Beckett e, ao mesmo tempo, fazia sambas,escrevia e dirigia o show da Faculdade de Medicina.Nossa parceria durou sete anos, com encontrosdiários. Escrevíamos espetáculos, dirigíamose atuávamos, dávamos cursos de iniciaçãoao teatro. Nestes cursos surgiram vários talentos,hoje profissionais. Talvez aquele tenha sidoum dos períodos mais férteis do teatro mineiroe uma escola para mim.48Convivendo com meu primo no escritório o diainteiro, à noite eu sentia vontade de ir para arua, como fazia no Rio de Janeiro, quando ficavaaté tarde nos bares, conversando e terminandoa noite leve, relaxado. Belo Horizonte, naquelaépoca, ainda não tinha bares que ficassem abertosaté tarde. Tudo fechava muito cedo, a noiteficava vazia, silenciosa, as ruas desertas me remetiamàs noites do internato, o que me deprimia.Comecei a namorar Rebeca, que também haviaperdido o pai cedo e tinha sido criada pelos irmãos.Ela era tão carente quanto eu. A identidadede carências, o relacionamento carinhosoe o clima familiar aconchegante resultaram emum pedido de noivado, mas fui ameaçado pelafrase: Ou eu ou o teatro. Respondi: O teatro.


Com o tempo, ela mudou de ideia e noivamos.O irmão dela, comerciante próspero que trabalhavacom produtos populares, querendo darapoio ao provável futuro cunhado e, ao mesmotempo, de olho em um novo tipo de negócioque o faria entrar num mercado com maior poderaquisitivo, me propôs sociedade em umaloja de decoração. Aleguei que não entendianada de comércio, mas ele insistiu, prometendoque me daria a orientação necessária e colocariafuncionários experientes para me ancorar.Acabei aceitando.Passei alguns anos de angústia nesta loja, já queas promessas não foram cumpridas e fui obrigadoa conviver com um universo que eu nãoconhecia e com o qual não me identificava. Eusofria com os roubos, calotes e, principalmente,com as pressões econômicas. Quase fui à falência.49Só os projetos de decoração não eram suficientespara cobrir as despesas, e tive que transformara proposta inicial da firma. Passei a venderprodutos fabricados em grande escala, comandandouma empresa que não era compatívelcom os meus ideais. Mas, àquela altura, não haviaalternativa: eu já estava casado, tinha duasfilhas, precisava ganhar a vida. Passei a frequentarum curso de administração de empresasoferecido aos funcionários do meu cunhadoe, a partir destas primeiras noções, comeceiuma nova orientação do negócio.


Recuperei as finanças reestruturando a firma eacabei conseguindo comprar as cotas de meucunhado na sociedade. Mas o fato de poder fazerteatro compensava todo o desgaste causadopela empresa. Mas há males que vêm parao bem, e a experiência naquela loja acabousendo uma escola para mim. Depois de tantasvivências, desilusões e desafios, fiquei menosingênuo, mais sagaz, e adquiri um olhar maiscrítico. Descobri funcionários que me roubavam,fregueses que não pagavam suas prestações,e o contato com gerentes de banco,contadores e o público em geral, me trouxe oamadurecimento e uma enorme bagagem para,depois, interpretar os meus personagens.50A loja ficava embaixo da redação da revista Alterosae próxima da antiga redação do jornalEstado de Minas, caminho de muita gente daclasse artística, que sempre parava para umaprosa. Terminado o expediente, às seis horas, aloja se transformava em ponto de encontro deartistas e intelectuais. Lá foi feita a primeira exposiçãodo artista plástico Chanina, e era o centrode produção e divulgação de vários espetáculosdo nosso grupo. Nesse clima intelectual eartístico, retomei o curso de desenho na UniversidadeFederal de Minas Gerais, estudandodesenho com Álvaro Apocalipse, que mais tardefundaria o Grupo Giramundo, de teatro de bonecos,entre outros professores de qualidade.


Com as filhas Debora e Deni


Capítulo VIIHappeningNa década de 1960, foi criado o monoquíni, umbiquíni que, no lugar do sutiã, tinha um suspensório,cujas tiras passavam pelos bicos dosseios, deixando-os à mostra. Resolvi fazer como monoquíni uma performance provocativa,algo que mexesse com o moralismo mineiro.Foi assim: coloquei um manequim de plásticona vitrine da loja, um corpo de mulher vestidocom o monoquíni e, na porta, deixei uma mesa,papel e caneta, para que as pessoas votassem seeram a favor ou contra a nova moda. Foi notícianacional. Repórteres vinham buscar os resultadosda pesquisa e a publicavam diariamente.53Um belo dia chega à loja um grupo de mulheres,com terço na mão, pedindo que eu retirasse omanequim, que diziam ser imoral. Aleguei queera uma boneca e que não via razão para serretirada. Elas, então, insinuaram que poderiamquebrar a vitrine. Diante da ameaça, revoltado,disse que não a tiraria de jeito nenhum (ao contráriodo que narrou Roberto Drummond emseu livro Hilda Furacão, dizendo que eu teria cedidoàs pressões). Só retirei quando se esgotouo tempo viável para o evento. Foram mulherescomo essas que marcharam pelas ruas, de terçona mão, dando apoio à ditadura, na famosaMarcha com Deus e a Família pela Liberdade...


Capítulo VIIIUm Equilíbrio DelicadoMeu entusiasmo pelo teatro era tão grande,que eu costumava viajar para o Rio em algunsfins de semana para ver cinco peças em três dias(naquela época havia duas sessões aos sábadose domingos).Eu saía de carro de Belo Horizonte às sextas-feiraspela manhã e ia ao teatro à noite. Aos sábados,assistia dois espetáculos e, aos domingos, maisdois. Voltava na segunda-feira para trabalhar impregnadode teatro e feliz da vida. Fiz boas amizadescom profissionais da classe teatral, amizadesque me foram muito úteis quando me mudeide Belo Horizonte. Sem imaginar em tirar algumproveito disso, em Belo Horizonte, eu emprestavamóveis e objetos para peças vindas do Rio e, porisso, alguns atores e diretores (de lá) iam ver nossosespetáculos. Além disso, eu oferecia jantaresem minha casa para alguns elencos, sem qualquersegunda intenção, o que valia era meu entusiasmopelo teatro. Mais tarde, muitas portas do profissionalismose abriram por causa dessa postura.55Flavio Rangel e Paulo Autran se tornaram amigose Flavio me viu em cena. Quando me mudeipara São Paulo, Flavio me deu o papel de Laertes,em sua montagem de Hamlet, com WalmorChagas no papel principal.


O Teatro Experimental, para arrecadar fundospara nossas produções, fazia shows. FernandaMontenegro e Fernando Torres assistiram umdesses shows. Anos depois, quando voltei ao Rio,eles me convidaram para um papel numa peçade grande sucesso – É..., de Millor Fernandes.56Em outra ocasião, ainda em Minas, havíamospreparado um coquetel para a imprensa, nolançamento de uma peça, e convidei CacildaBecker – que se encontrava na cidade. E elaaceitou. Encantado com a sua presença e mesentindo muito prestigiado, não conseguiadeixá-la sozinha e, para retribuir, quis levá-laaos jornalistas, convidando-a para aproveitaro evento e divulgar sua peça que estrearia nacidade. Num gesto típico de sua grandeza, elame disse que agradecia, mas que estava ali sópara o lançamento da nossa peça e me pediuque fosse atender aos repórteres sem me preocuparcom ela.Durante os dez anos em que morei em Minasnão parei de produzir, de escrever, dirigir e atuar,numa atividade febril.Alguns trabalhos foram marcantes pela qualidadee por fatos significativos que aconteceramnas temporadas. Dirigi a peça Halewin, deGhelderode, e usei técnicas inovadoras paraaquela época, numa cidade em que não haviarecursos para produção.


Outro mérito desta montagem que me atribuo,sem falsa modéstia, foi ter conseguido conciliara classe teatral de Belo Horizonte, que vivia emum ambiente típico de uma cidade pequena,numa rivalidade cheia de futricas provincianase desgastantes. Consegui convencer alguns atoresde diversos grupos (muitos acostumados aserem protagonistas) a participar de nosso espetáculoem pequenos papéis, o que foi umverdadeiro milagre.Outro espetáculo marcante do qual participei,O Escorial, também de Ghelderode, foi a primeiraprogramação do primeiro Festival de Invernode Ouro Preto, realizado na escadaria da igrejaque fica defronte do lindo Teatro Municipal,numa noite inesquecível. Desse espetáculo participavaEzequiel Neves, que depois ficou famosopor sua participação na vida de Cazuza. Atravésdos anos, voltei aos Festivais de Inverno deOuro Preto, ora como ator, ora como professor.57


O elenco de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais


Capítulo IXMuito Além do JardimO Brasil estava amordaçado pela Censura. Opovo não podia expressar seu clamor por liberdade,mas ainda tinha voz através da música e doteatro. Em São Paulo, o Teatro de Arena, além deencontrar sintonia com uma linguagem brasileira,encenou textos que traziam a liberdade comotema. No Rio, o Grupo Opinião fazia a mesmacoisa. O Teatro Experimental, como o próprionome sugere, tinha um repertório sofisticado, deautores especiais, alguns herméticos, como Beckett.Mas este tipo de teatro não tinha sintoniacom Belo Horizonte e nem com o momento históricoque vivíamos. Ao fazer a proposta ao nossogrupo para encenarmos o mesmo que o Arenae o Opinião em Minas, me senti um herege.59Meu argumento era o de que havia chegadoa hora do engajamento, da resistência ao regimede opressão, precisávamos buscar umalinguagem popular, um texto que mobilizasseo público. Parece que todos sentiam omes mo, mas não tinham coragem de dizer.Como grande parte da História do Brasil se passouem Minas ou através de políticos mineiros,eu e Dangelo começamos a criar um texto abordandoo passado mineiro, sua história, sua gente,seu jeito.


E utilizamos artimanhas para burlar a censura,como fazia Chico Buarque com suas letrascheias de metáforas.Escrevemos um texto fazendo um paralelo entrea história do passado com o que aconteciano momento, conseguindo dizer aquilo que nãoera permitido por meio dos discursos de personagensdo passado e de fatos semelhantes aosque vivíamos. Para dar a ideia de que era umespetáculo de humor, fizemos uma brincadeira,já no título, com a música-hino de Minas, Oh,Minas Gerais e colocamos um nome que já erarisonho – Oh! Oh! Oh! Minas Gerais.60Para os cenários e figurinos chamamos, do Riode Janeiro, Napoleão Moniz Freire, e para coreografar,o mineiro Klauss Vianna, que tambémtrabalhava no Rio. Nós, que fazíamos espetáculospouco compreensíveis para a maioria dopúblico, estávamos acostumados a uma plateiamínima e ficávamos espreitando a porta do teatro,para ver se chegava mais um carro, o quegarantiria um mínimo de espectadores paraque se desse a apresentação. Porém, na temporadade Oh! Oh! Oh! Minas Gerais levamosum susto ao ver a fila da bilheteria dar voltasem torno do quarteirão. Um sucesso enorme,inacreditável. O santo de casa fazia o milagre.Em 1968, depois de uma temporada em BeloHorizonte, começamos a viajar com a peça pelo


Brasil. Em nossas viagens, eu e Dangelo fomoselogiados, como atores, pelos maiores críticosdo País, como Yan Michalski, do Jornal do Brasil,que escreveu: o elemento mais positivo danoite é a surpreendente qualidade do elenco.Os sete atores são excelentes, sendo que doisdeles, justamente os autores e diretores doespetáculo, Jota Dangelo e Jonas Bloch, poderiamfazer brilhante carreira em qualquercompanhia profissional do Rio ou de São Paulo.Em São Paulo, Alberto D’Aversa escreveu: JotaDangelo e sobretudo Jonas Bloch se destacampelo profissionalismo das execuções e a inteligênciada participação.Essas críticas reviveram em mim o sonho de viversó de teatro, sair daquela loja e me tornarum profissional da arte.61


Capítulo XÀ Flor da PeleOs militares e a elite estavam amedrontadoscom os crescentes movimentos de rua, as reivindicaçõesde estudantes e da classe artística queexigiam mudanças. A ditadura aumentava a repressãoe o teatro, que naquela época se tornaraporta-voz dos sentimentos de liberdade que todasociedade sentia, virou um de seus alvos prediletose, por isso, era minado através da censura.Numa cena da peça Oh!Oh! Oh! Minas Geraisenfocamos a Conjuração Mineira e o exílio dosinconfidentes. Em seguida, apresentávamos umexilado atual, banido pela ditadura. Eu lia umacarta de Juscelino Kubistcheck, que havia conquistadoa simpatia de todo o Brasil e, mesmosem ser de esquerda, tinha sido obrigado a seexilar. Ele fora mandado para os Estados Unidoscom a família e, na carta, falava de sua tristezapor estar longe da pátria que tanto amava.Para que o público identificasse o autor da carta,colocamos no fundo do palco um pequenocoro cantando, em bocca chiusa, a música PeixeVivo, que todos identificavam como a músicade JK, por ser a preferida do ex-presidente.63A censura de Brasília mandou cortar a música,o que impossibilitava a identificação de JK. Fomospara os jornais, que ainda podiam publicar


os cortes da censura. Foi quando um grupo deestudantes me procurou no teatro, perguntandocomo era a cena cortada e eu expliquei. Edurante toda a temporada em Brasília, nós nãocantávamos a música, mas sempre havia umgrupo de estudantes na plateia que, em todasas sessões, cantava por nós...64Algum tempo depois, quando voltamos a nosapresentar em Belo Horizonte, fomos surpreendidoscom a presença na plateia de JuscelinoKubistchek, que havia voltado ao Brasil. Ele nosaplaudiu de pé e veio falar conosco no camarim,não parando de elogiar tudo com entusiasmo.Depois da apresentação saiu conosco paraum longo bate-papo num bar, onde cantamosjuntos. JK não poupava elogios, especialmentepara a cena em que, ao ser citado o ano dogolpe – 1964 – todos caíamos ao chão. Ele nosdeixou um autógrafo no cartaz da peça e tivemosa ingenuidade de deixar exposto na portado teatro. Foi roubado.


Capítulo XIUm Sonho de LiberdadeFoi a dura realidade daqueles tempos e o teatroque me levaram às primeiras atuações políticas,sempre presentes em toda a minha vida.Ninguém, com um mínimo de discernimento,poderia ficar indiferente aos tempos difíceis emque vivíamos. Paralelamente ao grupo de teatro,começamos a fazer parte de reuniões e manifestaçõessem ter consciência do perigo quecorríamos. Participei de inúmeras passeatas.No Rio, houve uma passeata histórica, com cemmil pessoas, numa importante demonstração derepudio à ditadura. Tentamos repetir a marchaem Minas, mas sua divulgação era impossível, jáque era proibida qualquer reunião ou manifestação.As rádios e jornais estavam sob censurae todos os lugares onde haveria a possibilidadede divulgação estavam fortemente vigiados.65No Teatro Marília, uma peça paulista estavaem cartaz e era um dos poucos lugares onde sepoderia fazer uma divulgação, apesar de saberque estariam lá os agentes do DOPS (o famigeradoDepartamento de Ordem Política e Social)vigiando. De cada lado da lateral da plateia haviaum corredor.Num gesto desesperado, colocamos dois judocasnas poltronas extremas da primeira fila do


teatro, que se levantariam enquanto eu fazia aconvocação, barrando a vinda dos policiais parao palco, dando tempo suficiente para que eufugisse pelos fundos do teatro. E foi o que fiz.Depois de algum tempo, recebemos um recadodo pai de Dangelo, general, de que estávamosna lista-negra dos Serviços de Informação e queseria melhor sumir por um tempo.


Capítulo XIIMinas Não Há MaisO sucesso de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais foitão grande que virou livro. Fomos convidadospara nos apresentar em muitas cidades. Mudoua vida do grupo. Apresentamos a peça em algumascapitais e tivemos vinte e duas críticasdurante a temporada, sendo vinte favoráveise duas contra. Um jornalista mineiro, de umjornal muito lido, só publicou as duas contra.Como tínhamos dinheiro em caixa, fomos aojornal e colocamos um anúncio, exigindo quefosse publicado ao lado da coluna deste jornalista.No anúncio estavam as frases elogiosasdos maiores críticos do país. Abaixo, o texto:67Críticas do espetáculo: 22A favor: 20Contra: 2Publicadas por jornalistas mineiros: Só as duascontra.Anos depois, eu estava numa festa em NovaYork, onde encontrei o tal jornalista, que mefez elogios por ter conquistado um bom espaçoprofissional. Me limitei a ouvi-lo em silêncio...Do dinheiro arrecadado, os atores do TeatroExperimental recebiam uma quantia simbólicae o restante ficava para futuras montagens enecessidades do grupo.


Como era muito dinheiro, compramos uma salapara ensaios e produção, uma Kombi, um cofre,e guardamos uma parte para a produçãodo próximo espetáculo. Todo mundo nos aconselhavaa capitalizar o sucesso e a montar umapeça de apelo popular, o que faria com que nostornássemos o grupo profissional da cidade, vivendounicamente do teatro. Em vez disso, decidimosencenar Numância, de Cervantes.68Chamamos Amir Haddad para nos dirigir e o excelentecenógrafo e figurinista Joel de Carvalho.Diante do que a peça mostrava e da situação política,Amir acrescentou um subtítulo: Ou ficar apátria livre. Numância conta uma história, baseadaem fatos verídicos, de um povo que resistiuao poder militar romano. A montagem foi grandiosa,com figurinos artesanais, palco giratórioe uma produção que deveria ser um orgulhopara a cidade. Um crítico do jornal Última Horapublicou uma crítica destruindo o espetáculo deestreia. Só que, por um problema técnico, a estreiatinha sido adiada e não houve o espetáculoque ele ousou criticar. Ou seja, o Não vi e nãogostei daquele profissional foi a gota d’água.Para mim, Minas havia terminado ali.Como não tínhamos parâmetro para avaliarnosso trabalho, convidamos um dos críticosmais respeitados do País, Yan Michalsky, doJornal do Brasil, para ver o espetáculo e fazera crítica. Yan definiu a montagem como sendo


um dos espetáculos mais importantes do Paísnos últimos cinco anos. Nessa época forammontados alguns espetáculos históricos, comoO Rei da Vela e Roda Viva, entre outros. Perdemostodo o dinheiro que havíamos ganhado eainda ficamos com dívidas. Mas faríamos tudode novo.O elenco de Numância


Cena de Numância


Capítulo XIIIPauliceia DesvairadaVi que não podia fugir do meu destino. O provincianismodas cidades mineiras daquela épocaera insuportável e, pior, eu não aguentavamais o cotidiano daquela loja. Tinha chegadoao meu limite e amadurecido o suficiente paraser um ator profissional. Resolvi vender tudo eir embora.Mais uma vez o teatro viraria o grande vilão.Minha ex-mulher se recusava a mudar de cidade.Novamente fui obrigado a ser inflexível e adizer: Eu vou. Precisando optar entre Rio e SãoPaulo, e sabendo que o melhor teatro estavasendo feito em São Paulo (mesmo que todos medissessem que a TV Globo estava no Rio e fazeruma novela lá seria o passaporte para ser conhecidonacionalmente), não tive dúvidas de que eudeveria ir para São Paulo e, mesmo contrariada,minha ex-mulher foi comigo. Comecei a vendertudo e a fazer contatos em São Paulo, avisandoa todos os meus amigos da classe teatral que euestava chegando e procurando trabalho.71Antes mesmo de me mudar, Flavio Rangel já meprometia um papel em Hamlet, que ele iria dirigirem breve. Na mesma época, recebi um telefonemade José Celso Martinez, do Teatro Oficina,me convidando para sua próxima produção,


Na Selva das Cidades, o que me deixou transtornado.Eu era fascinado pelo Teatro Oficina.Zé Celso me daria um pequeno papel na peça e,caso saísse alguém do elenco de Galileu Galilei,em cartaz na época, eu seria o substituto. Comeceientão a trabalhar com o elenco, em exercícios,na preparação física e em leituras do texto.À noite, assistia à encenação do Galileu Galilei.72Não tive coragem de comunicar ao Flavio Rangelque não mais iria trabalhar com ele. Certanoite, Flavio foi assistir à peça Galileu e nosencontramos. Quando o vi na plateia, corri atéZé Celso, contei da promessa de Flavio, e pediuma certeza de que seria aproveitado. Ele disseque eu ficasse com o Teatro Oficina, que minhaparticipação estava confirmada. Ao contar paraFlavio, ele disse: Acho um absurdo o que vocêestá fazendo. Eu estou te dando um papel emHamlet, a peça mais importante da dramaturgiamundial, e você vai fazer uma pontinha napeça do Zé Celso?! Respondi que esperava queele compreendesse e que me desculpasse. Suafrase final foi generosa: Até domingo o papelainda é seu, depois, vou procurar outro ator.Dez anos em Minas marcam uma pessoa. O grupodo Oficina já era considerado transgressor emseu comportamento até para as pessoas mais ousadas,e era duzentas vezes mais ameaçador paraquem vinha de um meio como o de Belo Horizontedaquela época. Ali, eu me sentia um caipira.


Fiquei tímido demais, trancado, sentindo queainda não estava pronto para fazer parte daquelaturma, mas ia tentando, como quem aindabusca desesperadamente o personagem de umapeça. Uma amiga, que fazia parte do Oficina,talvez por perceber minhas dificuldades, insistiapara que eu não abandonasse o Hamlet, meaconselhando a não confiar em Zé Celso, porqueele mudava de opinião a toda hora e poderiame deixar sem nada. Um ator, Renato Machado,que depois se tornou jornalista e apresentadorda TV Globo, saiu do elenco de Galileu e não fuieu quem o substituiu. Minhas suspeitas de que ogrupo percebia que eu era um peixe fora d’águapareciam se confirmar.O grupo ia viajar com Galileu e, antes disso, coloqueiZé Celso contra a parede. Ele disse que estavacom dificuldades para a próxima montagem e queiria viajar com o Oficina para levantar finanças esó na volta poderia me dizer alguma coisa. Diantedisto, me coloquei à disposição para um futurotrabalho, mas esclareci que estava começandouma carreira, tinha família, não podia perder aoportunidade que tinha nas mãos. Envergonhado,fui até Flavio Rangel e voltei para o Hamlet.73Nessa época chegou ao Brasil o Living Theatre,de Julian Beck e Judith Malina, um grupo americanoque superava o Oficina em transgressão.Os atores viviam sua vida de uma maneira teatral,causando espanto pelas ruas.


Eles iriam trabalhar com o Teatro Oficina, mas,enquanto o grupo viajava, fariam um trabalhocom atores profissionais. Seria uma ótima oportunidadepara eu aprender e me soltar. FlavioImpério, excelente cenógrafo, figurinista e umapessoa maravilhosa, era o responsável pelasinscri ções. Assim, participei desses trabalhos enquantoos ensaios de Hamlet não começavam.Quando Zé Celso voltou de viagem e soube queeu estava na turma, mandou que me dispensassemporque eu havia abandonado o grupo.74Ao ver os trabalhos do Zé Celso após esse período,me decepcionei. Lamento que um artista detanto talento tenha trocado sua arte por umabusca pretensamente transgressora e parecendo,a meu ver, um adolescente que quer chamaratenção a qualquer custo.


Capítulo XIVUm Estranho no NinhoDesenhar sempre foi uma atividade constanteem minha vida. Ao mudar para São Paulo, euhavia comprado uma casa e, para compensar aida de minha mulher para São Paulo a contragosto,a decoração foi burguesa, como ela gostava,mas cada vez que eu instalava minha mesade desenho em alguma parte da casa, aquelelugar era reclamado para alguma finalidade.Não havia espaço para mim naquela casa.Construí um pequeno telhado nos fundos doterreno e lá instalei minha mesa de desenho.Certo dia chuvoso, encontro um varal de roupaspassando sobre a minha mesa, com a águadas roupas pingando em cima de meus desenhos.Furioso, coloquei a mesa de desenho nomeio da sala de visitas, e ameacei quebrar tudocaso alguém ousasse mexer ali. Aquela sala erao fiel retrato de dois mundos diferentes, quenão conseguiam conviver em harmonia. A sala,toda formal, e a minha mesa, cheia de tintas.Foi o fim do casamento.75Deixei para ela tudo o que tínhamos: casa, carro,economias e fui morar num conjugado, numprédio da Rua Paim, reduto de prostitutas epessoas sem recursos.


Capítulo XVPãe(ou como conjugar as funções de pai e demãe)Três anos depois da separação, minha ex-mulherficou doente, e minhas filhas – na épocacom 6 e 9 anos – vieram morar comigo. A partirdaí, eu as criei sozinho. Virei pai e mãe, pãe. Sefoi difícil? Muito! Eu mal sabia cuidar de mim,mas a nova situação despertou algo profundona minha alma, aliando o enorme desejo deprotegê-las e de fazê-las felizes.Apesar de toda a experiência em Minas, eu eraconsiderado um ator em início de carreira, ganhavamuito pouco, não tinha qualquer reservafinanceira. São Paulo é o lugar onde o dinheirocircula e isso gera um número maior de oportunidades.Cheguei a ter cinco empregos aomesmo tempo: gravava aulas de Ciências na TVCultura, às quartas; ensinava teatro numa escolade dança, durante o dia; fazia teatro comoator; à noite, dava cursos em Santo André e SãoCaetano. Nos fins de semana, dirigia um grupode teatro na região, época em que nascia o PT.Às vezes, fazia comerciais, vídeos institucionaise pontinhas em televisão.77Os juros daquela época eram baixos e eu haviacomprado uma casa de vila. Com a perspectivada vinda das meninas, eu queria preparar umCom as filhas Debora e Deni


ambiente em que elas se sentissem bem. Comohavia um porão, serrei o piso de madeira, coloqueium alçapão e fiz uma passagem da salapara o porão, onde coloquei mesas para desenhoe artesanato, almofadas para fazer guerrade travesseiros, uma rede, etc. A chegada dasmeninas naquela casa foi um dos momentosmais emocionantes de minha vida.78Procurando educá-las para serem autossuficientes,excluí o transporte escolar. Elas me acordavammuito cedo (apesar de eu dormir tarde,porque jantava após o término do teatro), entãoeu me levantava sonolento para levá-las atéo metrô, que parava perto do colégio. Eu acreditavaque, assim, elas desenvolveriam maiorautonomia. Acho que fiz a coisa certa, vivemosuma época muito feliz. O clima era de alegria,com muitos amigos meus e delas nos visitando.Como nas folgas da empregada eu não tinhacom quem deixá-las, a solução era levá-las comigopara o teatro. Foram inúmeras as vezes emque elas assistiram à mesma peça ou dormiramem camarins enquanto eu atuava. Talvez istotenha influenciado a escolha profissional delas,já que eu nunca exerci influência nessa decisão.Debora acabou se dedicando à profissão,mas não foi uma opção feita como a de muitagente hoje em dia, na procura da fama baseadano glamour que as revistas vendem. Conhecendoas dificuldades pelas quais passamos, adecisão dela foi feita por puro amor ao teatro.


Debora e o pai


Jonas em Odeio Hamlet


Capítulo XVITécnicaAssim como Freud é o grande mestre da psicanálise,o mestre do teatro é Stanislavsky, efoi com ele que desenvolvi meu trabalho e deimeus cursos. As aulas que eu dava eram umcomplemento para sobrevivermos, as quais meobrigavam a estudar muito mais do que eu estudaria,caso não tivesse que ensinar.Com o passar dos anos fui criando o meu próprioprocesso de trabalho, sempre aproveitandoos ensinamentos de Stanislavsky, numa buscada essência do personagem, da sua carga.81Todo o trabalho de ator começa com a compreensão,tanto a intelectual (as circunstâncias dadas)quanto a afetiva, mais difícil, e que se devebuscar usando todas as alternativas. Depoisvem a fase de exposição, a qual envolve todo oarsenal do ator, que precisa ter maleabilidadecorporal, vocal e emocional, transformando-seem um instrumento afinado para uma boa execuçãode sua partitura.Nossa carreira exige um equilíbrio entre o artísticoe os apelos do mercado de trabalho, mascorremos o risco de cair em uma armadilha. Algunsatores e atrizes de televisão fizeram sucessocom seu apelo sensual, sua personalidade, e


acabaram abandonando o necessário percursoda procura de seus personagens. Usando sempresuas próprias características, viraram mercadoria.Eles deveriam ser instrumentos, mas secolocam como se fossem a música....


Capítulo XVIIO Tempo e o VentoA TV Record estava no auge do sucesso, ganhandoenorme audiência com O Fino da Bossa, Festivaisde música e a novela Algemas de Ouro.Fui escalado para participar dela já no meio datrama, e aquele foi o meu primeiro trabalhoem novelas. Devido ao sucesso, todo o elencofoi convidado a participar de um dos grandeseventos que a TV Record costumava produzirno Teatro Paramount. Quando estávamos nospreparando para entrar no palco, chegou a notíciade que estariam barrando alguns atoresdo elenco na entrada do teatro. Atrapalhadocom a organização, o diretor pediu que eu fosseaté a entrada dos artistas e tentasse resolvero problema.83Ao chegar lá, vi um segurança de costas, toqueiseu ombro e disse: Ô, meu nego, o diretor pedepara que não impeça a entrada do elenco danovela. Ele se virou e respondeu: Eu não souseu nego! Só então percebi que ele era mulatoe que poderia ter me interpretado mal. Tenteiacalmá-lo, dizendo: Foi só uma maneira carinhosade falar. Não deu resultado. Ele aumentouo tom de voz e disse, agressivamente: Eunão gosto de carinho de homem, e se quiser falarcomigo, me chama de Dr. Fleury! Ele era umdos mais terríveis delegados da Polícia Política,


com fama de torturador e de assassino, e tambémera o chefe de segurança da TV Record.Como eu não fazia ideia de quem se tratava, eme sentindo desrespeitado pela agressividade,ingenuamente comecei a ironizar: ExcelentíssimoDr. Fleury, poderia atender às reivindicaçõesdo digníssimo diretor Dionísio Azevedo paraque os digníssimos atores não sejam barrados,se não for um incômodo para Vossa Excelência?O ator Sérgio Mamberti, que fazia parte doelenco e assistiu àquela cena, me puxou rapidamentepara o lado e disse: Você está louco?!Esse homem, se quiser, te tortura e te mata porqualquer coisa. Ele é o Fleury!!!84


Capítulo XVIIIAdivinhe Quem Vem Para…Quando morava em São Paulo, lecionei e dirigiespetáculos na Universidade de São Paulo (USP)e fui convidado para dar um curso no Festivalde Inverno de Ouro Preto. Ao começar uma dasaulas, uma bailarina, que na época era assistentedo coreógrafo argentino Oscar Arraiz (professorde dança no Festival), pediu para assistirà minha aula e eu concordei.Depois da aula ela me disse que achava o meuprocesso muito importante para os bailarinosdo curso de dança e pediu para que eu desse algumasaulas para eles. Aceitei e, bem mais tarde,aqueles bailarinos formaram o Grupo Corpo.85Mais de vinte anos depois decidi montar ummonólogo, uma experiência que eu ainda nãotivera, a de segurar sozinho uma plateia. Hilárioera um espetáculo popular em que eu fazia20 personagens, e cada um deles deveria terum desenho corporal. Eu precisava de um coreógrafo.Debora Colker, com quem eu já haviatrabalhado três vezes, estava ocupada e eu nãosabia a quem recorrer. Comentei com um amigo,Paulo Rogério, a dificuldade de encontraralguém. Ele me disse: O Digo tem muito humor,ele faria isto com prazer. O Digo era o RodrigoPederneiras, coreógrafo do Grupo Corpo.


Eu respondi que achava impossível que um coreógrafoque fazia uma turnê internacional tãoimportante com seu grupo fosse se interessarpor um espetáculo como o meu, popular e semgrandes pretensões. Para minha surpresa, recebium telefonema do Paulo dizendo que Rodrigohavia topado. Talvez a lembrança do cursode Ouro Preto tivesse pesado.86Sabendo que a agenda de Rodrigo era lotadade compromissos internacionais, liguei para elee disse que eu iria a qualquer parte do mundoonde ele estivesse, mas que eu não abriria mãode trabalhar com ele. Ele respondeu que teriauma semana disponível em Belo Horizonte. Fuipara lá e trabalhamos o dia inteiro durantetoda a semana.O espetáculo foi convidado para o Festival deCabo Verde, o Festival de Comédias da Maia,Portugal, e ficou mais de um ano em cartaz.Rodrigo é um artista maravilhoso, um ser humanoadmirável, um orgulho para o Brasil. Aele, minha gratidão.


Capítulo XIXMúsica no ArTive uma namorada que era fã ardorosa do espetáculoHair, um musical de grande sucessoque mostrava o movimento hippie, suas ideias,seu modo livre de ser. Vimos o espetáculo diversasvezes, e, observando o personagem Claude,imaginei uma interpretação diferente daquelavista no palco, apesar de Armando Bógus (quefazia o papel) ser um ótimo ator. Era um espetáculoalegre, cheio de energia, com músicase coreografias tão bonitas que era impossívelnão querer participar dele. O elenco era grande,a temporada longa e, às vezes, alguns dosatores tinham que pedir para ser substituídos.Assim, havia a chance de que eu pudesse mecandidatar a um papel.87Apesar de já estar fazendo aulas de dança naacademia em que eu ensinava teatro, de ter aulasde expressão corporal e de voz, eu ainda nãome sentia pronto para entrar em Hair. Temposdepois, fiz um teste para o musical Jesus CristoSuperstar, uma megaprodução com 60 atoresno elenco. Fui o primeiro a ser escolhido, porter a voz de barítono baixo e o tipo judeu, idealpara o papel de Caifás.O produtor era o mesmo de Hair, Altair Lima.O custo da produção era tão grande que ele


não podia me oferecer um salário razoável, eme fez uma oferta que não cobriria as minhasdespesas. Além do mais, não seria possível completarmeu orçamento com um trabalho extra,porque os ensaios começavam de manhã e iamaté a noite. Recusei. Altair, não encontrandoum ator com as minhas características, insistiamuito para que eu aceitasse o papel, mas eucontinuava a recusar explicando que – com osalário oferecido – eu não poderia resolver meuproblema financeiro.88Até que um dia ele me telefonou novamentefazendo a seguinte proposta: Vai sair um atorque faz parte da tribo do Hair, o grupo de hippies.Se você topar ensaiar Superstar durante odia e substituir o ator do Hair à noite, eu possopagar o que você me pede. Aceitei e fiqueifeliz da vida, mesmo tendo ficado exausto emagérrimo por causa daquela imensa carga detrabalho. O importante é que eu me sentia feliz,apesar do cansaço. Uma semana depois eleme pediu para substituir o ator que fazia o personagemClaude e propus fazer o papel à minhamaneira. Altair respondeu que nem teriatempo para ensaiar e que confiava no que eufizesse. Foi um momento emocionante de minhacarreira. A tribo, uma espécie de coro compostopor atores jovens que haviam entrado noespetáculo substituindo os atores do primeiroelenco, não tiveram direção ou qualquer explicaçãosobre os papéis que estavam fazendo e se


limitavam a copiar o que tinham visto o primeiroelenco fazer. Quando estreei no papel, já eraamigo de toda a tribo. O espetáculo começou,e logo nas primeiras músicas, entre uma frasemusical e outra, eu fui improvisando um texto,falando com os colegas como Claude e dizendocoisas concernentes à situação, o que fez comque começassem a entender o significado doque estavam fazendo na peça. Essa compreensãoprovocou uma emoção no grupo, que meatingiu e, creio, também atingiu a plateia – querespondeu com aplausos entusiasmados.89


Capítulo XXO Espelho Tem Duas FacesMinha mãe teve um salão de beleza perto doCassino da Urca, e as vedetes do show do Cassinoeram suas clientes. Ainda menino, eu assistia(levado pela minha mãe e escondido) aosespetáculos do teatro de revista. Ela ganhavaconvites das vedetes, e o teatro de revista erasensacional. Apresentava um show variado,com cenas cômicas, sátiras políticas, númerosmusicais, muitas mulheres bonitas e uma produçãocaprichada. Me encantava ver os excelentesatores que faziam a revista, tão soltos ebrincalhões que conseguiam estabelecer um canalde cumplicidade com a plateia. Recebi delesuma ótima influência, e acho que isso me fezconseguir os bons resultados nas comédias emque atuei.91Há muito preconceito com a comédia no Brasil.E, a meu ver, a comédia consegue desarmar oespectador e fazer com que ele receba melhoras ideias apresentadas. É um ritual de celebraçãoda vida, um exercício da alegria, tão característicosno Brasil. Basta ver o comportamentoe a maneira como o nosso povo reage a todosos fatos, por mais dramáticos que sejam, semprecom humor, fazendo piadas. A intelectualidadebrasileira acredita que a Europa seja o parâmetroideal e que a educação de lá nos levará


a níveis melhores de civilização. Ledo engano.Os ingleses, por exemplo, com toda a sua educaçãocontinuam a se esmurrar por causa do futebol,e a intolerância e o preconceito de váriospaíses europeus civilizados são uma vergonha.Seus interesses justificam as guerras, e o dramatem a ver com a sua cultura.92Minhas tentativas ao escrever teatro, sempreforam feitas sob a óptica do humor. Talvez eutenha tido uma má influência do rádio quantoao drama. Vale dizer aqui que quando euera menino não havia televisão, só o rádio. Eos atores das radionovelas tinham um jeito deinterpretar melodramático, empostado, quecertamente me influenciou mal. Quando tiveconsciência do fato, iniciei uma luta contra esseranço antigo, uma luta que atravessou toda aminha carreira.Foi com a peça Peer Gynt, de Henrik Ibsen, sobdireção de Antunes Filho, que essa transformaçãose deu em maior grau. Os atores faziam váriospapéis, e cada um de nós pesquisava algunsdos temas da peça, além fazermos exercícios elaboratórios, sob supervisão de Eugênio Kusnet.Todos nós mergulhamos no universo da Noruegae do conteúdo da peça, resultando num dosespetáculos mais bonitos dos que participei.Coube a mim fazer sete papéis e três pesquisas,uma delas sobre Henrik Ibsen. Fiquei tão inteiradoda obra de Ibsen que Antunes me deu a


honra de escrever o único texto do programada peça, que mostrava lindos desenhos de MariaBonomi. Peer Gynt foi um marco na minhavida, significou um avanço. Mas uma transformaçãototal, tanto no teatro como na vida, nãose consegue com um trabalho só. Exige tempoe perseverança. Segui lutando.93


Capítulo XXITrês MosqueteirosEugênio KusnetKusnet era russo, veio para o Brasil e trabalhoumuito tempo no Teatro Oficina. Na Rússia, trabalhouno Teatro de Arte de Moscou, fundadopor Constantin Stanislavsky. Tive a felicidade detrabalhar algumas vezes com ele, uma pessoa especial,um apaixonado pelo teatro. Além do seuenvolvimento na peça Peer Gynt, ele também foio preparador dos atores no musical Jesus CristoSuperstar, do qual participei. Na Escola de Artesde São Caetano, Kusnet ensinava para uma turmae eu para outra. Conversávamos muito sobreo método Stanislavsky, sua especialidade.95Um dia, Kusnet pediu que eu fosse ao seu apartamento,dizendo que precisava falar comigo.Curioso, fui até lá. Ele me entregou uma pastaque continha a peça Iegor Bulitchov, de MáximoGorki, que ele havia traduzido e acreditavaque eu seria o ator ideal para representar oprotagonista. Os textos de Gorki são ricos emsentimentos, e tinham sintonia com aquele momentoem que vivíamos. O Teatro Oficina tinhaencenado duas peças de Gorki, Os PequenosBurgueses e Os Inimigos, ambas com montagensmagníficas.


Li vorazmente a peça e fiquei estarrecido como que Kusnet havia me dito. O personagem eraum velho patriarca e eu me sentia muito jovempara o papel. Guardei a peça com carinho, sempreplanejando encená-la.Plínio Marcos96Era em frente do Teatro de Arena (que, posteriormente,passou a se chamar Eugênio Kusnet)que Plínio Marcos costumava ficar, e foi lá quetivemos longas conversas que nos ajudaram aconstruir uma bela amizade. Plínio me convidoupara dirigir sua peça Quando as MáquinasParam. O elenco era formado por Tony Ramos,protagonista de novelas e ótimo ator de teatro,e Walderez de Barros, também grande atrizque, na época, era casada com Plínio.O projeto tinha o seguinte formato – trazíamosde ônibus os alunos do curso de alfabetizaçãode adultos – o Mobral – até o auditório do Sindicatodos Têxteis, onde a peça era apresentada,e, depois do espetáculo, havia um debatecom a plateia, quando procurávamos conscientizá-la.Cobrávamos um preço simbólico e atemporada ia muito bem. Estávamos em plenaditadura militar, e havia uma luta armada deresistência, feita por grupos de esquerda, comobjetivos revolucionários.


Num dos espetáculos, o teatro foi invadidopor um grupo de esquerda que interrompeua apresentação da peça. Um dos componentesdesse grupo colocou um revólver na cabeça deWalderez, enquanto fazia um discurso e outrosdistribuíam panfletos. Depois disso, foramembora. A diretoria do sindicato tinha componentesdo Partido Comunista, odiado pelosmilitares e extinto pela repressão. Os serviçosde informação desconfiavam que o nosso espetáculotivesse ligação com o Partido Comunistae com os guerrilheiros que invadiram o teatro.Plínio foi chamado para depor no famigeradoDOPS. Lá, Plínio disse que não havia qualquerenvolvimento de nossa equipe pelo ocorrido, eque se houvesse qualquer culpa, ele seria o únicoresponsável.97Foi publicado um livro da peça especialmentepara esta montagem. Na dedicatória feita porPlínio, as seguintes palavras: Para o Jonas, umcara ponta firme que enriqueceu bastante estapeça, com amizade e agradecimento de coração.Plínio Marcos. Alguns anos depois de suamorte, atuei em outra peça sua – Barrela – queficou censurada para menores de 21 anos. Meupapel foi de um português, o Portuga. Dediqueia estreia a Plínio. Com muita saudade.


Fotos de cena de Barrela


Fauzi ArapA peça Pano de Boca, de Fauzi Arap, aborda arelação dos atores com o teatro e com a vida.O texto faz uma referência a alguns fatos ocorridosno Teatro Oficina, onde Fauzi trabalhou,mas transcende a essas histórias. A direção foido próprio Fauzi e, apesar de eu gostar muitodele, entrávamos em conflito algumas vezes.Acontecia muita coisa errada nos ensaios, mas,quando eu reclamava, os outros atores (mesmoconcordando comigo) ficavam calados.100Fauzi, durante uma discussão que tivemos, disseque eu era o único insatisfeito. Insisti que todoo grupo pensava como eu. Ele não acreditou e,generosamente, disse: É comum um único atorprotagonizar um sentimento que é do grupo.Os outros atores não reclamam, porque alguémestá assumindo o problema por eles. Isto podeestar acontecendo. Fica quieto por um tempo,e vamos ver se alguém se manifesta. Se isto nãoacontecer, o problema é você.Depois de algum tempo explodiram as reclamações,ora com um ator, ora com outro. E eufiquei em paz e agradecido ao Fauzi por estalição que me serviu para toda a vida.


Capítulo XXIIPersonaPara fazer o musical Hair tive que deixar crescero cabelo mais ainda, porque era a marca doshippies e título do espetáculo. Deixei crescera barba também, criando uma imagem completamentediferente da que eu tinha quandocheguei de Minas. Este novo visual me acompanhouem Jesus Cristo Superstar, em que eufazia o papel de um rabino e ainda numa novamontagem, paulista e moderna, de Sonho deuma Noite de Verão, onde mais uma vez fiz opapel de Oberon, só que com uma interpretaçãobem diferente daquela feita em Minas. Useiessa imagem ainda em Peer Gynt e Marta deTal, mas, depois destas montagens, não recebiamuitos convites para trabalhar porque essevisual só servia para um número muito restritode papéis.101A minha despesa mensal, somada ao colégioe cursos de dança de minhas filhas, além daprestação da casa que eu havia comprado, medeixou em uma situação financeira tão difícilque fui obrigado a vender o telefone. Naquelaépoca, as linhas telefônicas eram muito caras,e ter um telefone era essencial para meu trabalho,pois era por telefone que os contatoseram feitos.


Em cena de Sonhos de uma Noite de Verão


Em cena de Marta de Tal


Até que, felizmente, fui chamado para fazer umpapel em uma novela da TV Tupi, Ovelha Negra,com a condição de cortar o cabelo e a barba. Sendoator, meu corpo e minha voz têm que servirao personagem. Então, cortei o cabelo e raspeia barba. A partir daí, o número de convites paratrabalhar aumentou, especialmente em comerciais.Finalmente obtive a tão necessária melhorafinanceira e pude recomprar o telefone!104Outras portas foram se abrindo. Após o fimdo Teatro de Arena e com uma crise no TeatroOficina, surgiu a proposta da formação de umnovo grupo reunindo elementos saídos do Oficinae do Arena, com outros atores que tivessemidentificação ideológica com eles. A iniciativafoi de Maurício e Beatriz Segall, que eramdonos do Teatro São Pedro, e a peça escolhidafoi Franck V, de Durenmatt, na qual interpreteidois papéis que me valeram a indicação paramelhor ator coadjuvante do ano. A direção foide Fernando Peixoto, um dos fundadores doTeatro Oficina. Durante os ensaios, MaurícioSegall foi preso, acusado de financiar gruposde esquerda. Sua mulher, Beatriz, bravamentedeu continuidade à produção. A peça era ummusical que só usava percussão, o texto eraengajado politicamente, apresentando o cotidianoda diretoria de um banco, mas que, naverdade, era uma máfia. Impossível não fazerum paralelo com a realidade que vivíamos (eque vivemos até hoje).


Capítulo XXIIIUm Lugar ao SolChegou o momento em que me senti insatisfeitopor morar em São Paulo. Era como se o Riode Janeiro estivesse me chamando de volta, ecomo eu havia juntado algum dinheiro para amudança (e até para poder tirar férias!), fiz asmalas e fui. O que acontecia no Rio repercutiaem todo o País, era a minha hora de fortalecera carreira, de voltar às minhas raízes.Assim como fiz quando cheguei a São Paulo, fuiavisando aos amigos da classe artística que estavachegando na cidade e procurando trabalho.Fiz uma previsão de que teria que esperar unstrês meses para receber algum convite, mas, emmenos de um mês, Fernanda Montenegro meconvidou para o elenco de É..., de Millor Fernandes.Era muito mais do que eu poderia sonhar,e a peça foi um grande sucesso. Consegui alcançaruma soltura em cena que buscava há muitotempo, recebendo elogios de muitos colegas. Napeça existiam os personagens de dois professores.Fernando Torres interpretava o mais velho e, eu,o mais jovem. Dezenove anos depois fui convidadopor Elizabeth Savalla para representar o papeldo professor mais velho, mas não pude aceitar...105Sempre que se muda de cidade, parece que háuma mudança também na disposição e na ener-


gia, e as portas costumam se abrir com mais facilidade.Pelo menos é assim que acontece comigo.O sucesso de É... atraiu muita gente daclasse artística, provocou comentários, e resultounum convite da TV Globo para que eu participasseda novela Sem Lenço e Sem Documento.Além disso, fui convidado para o filme CasoCláudia, baseado no caso verídico que comoveuo País, a história de Cláudia Lessin Rodrigues.Fiz o papel de Michel Frank, acusado de ser oassassino de Cláudia e de esconder seu corpo,que depois foi descoberto.Cenas de Dois Pontos, com Tânia Alves


Entusiasmado pelo ritmo intenso de trabalho,escrevi um espetáculo chamado Dois Pontos,uma coletânea de textos que misturava humor,textos engajados, música e dança. Como costumavafazer em Minas, além de escrever, dirigie atuei. Já estava em cartaz com É... há novemeses quando pedi substituição para fazer DoisPontos, um espetáculo de ator, com produçãomuito simples, já que tinha apenas um varalcom roupas dependuradas e que iam sendo retiradaspelos atores para vestir cada personagem.Convidei Tânia Alves para atuar comigo.


Crítica de Tania Pacheco ao espetáculo Dois Pontos


Dizíamos textos de Mayakovsky, Brecht, Ionesco,García Lorca, além de cenas de humor popular,canções e danças. O espetáculo foi consideradoum dos cinco melhores espetáculos doano, o que me deu enorme alegria. Dois Pontosé um daqueles trabalhos que ficam marcadosem nossas vidas e, muitos anos depois, as pessoasainda se lembram e comentam. Apesar deter muito humor, o início é emblemático, retratauma época e o clima de contestação que povoavaos palcos. Com os pulsos cruzados, dandoa ideia de estar algemado, e respondendo auma voz gravada, num interrogatório, a peçacomeçava assim:Voz – Nome?Ator – Jonas BlochVoz – Nome artístico?Ator – Inconformado.Voz - Raça?Ator – A raça humana.Voz – Profissão?Ator – Meu ofício é, cantando, revelar a palavraque serve aos companheiros...109


Cena de Paraíso Proibido, com Patrícia Scalvi


Capítulo XXIVCinema ParadisoLogo que voltei a morar no Rio de Janeiro comeceia receber convites para trabalhar em cinemae em televisão. Isso me deixou feliz, porque erasinal de que meu trabalho alcançara uma solturaque eu buscava, o que é fundamental paraum ator, especialmente em cinema e TV.O teatro traz uma emoção enorme pelo encontroao vivo com o público, pela energia queemana naquele momento único. Mas uma dasmaravilhas de se fazer cinema é a paixão comque as equipes se entregam ao trabalho, alémdo processo artesanal com que é feito, o quecompensa o fato de não ter a mesma característicado teatro.111Em São Paulo e em Minas, o teatro predominavaem minha vida, ainda que já tivesse participadode alguns filmes. Dois deles, em quefaço papéis significativos, para minha falta desorte, os produtores não permitem exibições ounovas cópias. Em Paraíso Proibido, dirigido porCarlos Reichenbach, eu fui protagonista, e noutro– Santa Donzela – dirigido por Flavio Porto,faço dupla com Plínio Marcos. Uma pena!Por pressão dos americanos, alguns filmes nacionaisnão conseguiam (e a maioria ainda não


consegue) ficar em cartaz mais do que uma ouduas semanas. Mas depois que surgiu o CanalBrasil (na TV a cabo), os filmes que fiz começarama ser vistos e, com isso, recebi duas homenagensem festivais de cinema (Guarnicê,no Maranhão, e no de Canoa Quebrada) pelaminha trajetória em cinema.112Amarelo Manga, O Dia da Caça, Cabra-Cega,Nossa Vida Não Cabe Num Opala e o curta Arabescoforam alguns filmes que tive o prazer departicipar. E muito me orgulho disso, tanto pelocuidado com que foram feitos, quanto pelospapéis que tive, assim como pela relação comos diretores e equipes, e também pelas viagenspelo mundo em festivais.


Capa do disco com a trilha sonora de Paraíso Proibido


Cena de Cabra-Cega


Cena de Amarelo Manga


Com as filhas e os netos


Capítulo XXVO Feijão e o SonhoSer ator é uma aventura cheia de surpresas. Enquantoqualquer pessoa fica angustiada com apossibilidade de perder o emprego, os atores sepredispõem a viver com a possibilidade de ficardesempregado a cada seis meses e, talvez, denunca chegar a ter um patrimônio mínimo parasua velhice. No entanto, quando menos se espera,acontecem situações em que essas expectativassão contrariadas. Antes de voltar para o Rioeu havia sido chamado para fazer uma campanha-relâmpagodo sabão em pó Omo por todoo Brasil. O apresentador oficial do produto nãopodia fazer esta campanha e, pouco tempo depois,seu contrato terminou. Diante do bom resultado,recebi a proposta de outra campanha,grande, nacional. Era uma espécie de contratode risco, onde eu trabalharia muito e, se tudodesse certo, ganharia muito bem. Caso não desse,teria um cachê por aquela experiência. Masdeu certo. Apesar de ficar algum tempo identificadocom o produto (o que me fez perderalguns trabalhos), com o dinheiro ganho com apropaganda comecei a realizar um sonho quaseimpossível no Rio de Janeiro, o de construir umacasa perto da praia. Diante dos preços absurdos,comprei um terreno no Recreio dos Bandeirantesque, na época, ainda era barato. Ele fica bem emfrente a uma reserva florestal e perto da praia.117


A cada trabalho que fazia eu ia construindomais um pedaço da casa e batizando: paredeCorpo Santo, banheiro Top Model... É a minhacasa até hoje, um sonho realizado.Com Michael York, em cena de Discretion Assured


Capítulo XXVILuz, Câmera, Ação!Michael YorkMais uma vez o acaso me levou a caminhosinesperados. Eu fazia o papel de John Barrymore,na comédia Odeio Hamlet e estava emexcursão pelo País, passando por São Paulo. Aochegar ao hotel, recebi um roteiro de cinemaescrito em inglês, com um recado pedindo queeu telefonasse para a produção, pois queriamque eu fizesse o papel do Inspetor Santos.Quando o filme é falado em inglês é comumse fazer um teste com os atores (mesmo quesejam conhecidos) porque a produção estrangeiranão conhece os atores brasileiros e, também,para saber se eles falam inglês com desenvoltura.Então, telefonei para a produção eperguntei se havia pressa, se eu poderia ir atélá alguns dias depois. Concordaram. Eu queriaganhar tempo e fazer aulas particulares de inglêspara garantir que minha pronúncia estivessecorreta no dia da entrevista. Mas quando fuifalar com o diretor, ele sequer conferiu o meuinglês e disse: Você faz um policial brasileiroque fala um inglês macarrônico, fala mal. Nãoera verdade. Na hora da filmagem, havia umprodutor americano, um coach e ainda MichaelYork, que me corrigiam a pronúncia.119


120No primeiro dia em que fui à produtora paraexperimentar os figurinos, me disseram queMichael York já estava lá, provando algumasroupas. Quando cheguei ao camarim, feitas asapresentações, eu quis ser simpático e, sendoele inglês, o convidei para assistir uma montagemde um Shakespeare que estava em cartaz,Macbeth. Ele ficou transtornado e disse: Jonas,me desculpe, mas, para nós, este nome dá azar.Você faria a gentileza de sair, fechar a porta,dar três voltinhas, bater de novo, entrar e nãodizer mais este nome? Quando quiser se referira esta peça, diga aquela peça, por favor. Consideroum privilégio ter participado de DiscretionAssured (Sigilo Absoluto) que tem no elencoDee Wallace (a atriz que representou a mãe domenino, em E.T.) e Jeniffer O’Neal (do Verãode 42), tendo ainda Julia Jones (Passagem paraÍndia) como roteirista.Não é comum ver atores brasileiros em produçõesestrangeiras, e eu fui privilegiado por tertido essa experiência. O povo brasileiro estáacostumado a reverenciar mais os artistas estrangeiros,mas não tem ideia de como somosrecebidos lá fora. O aplauso e o respeito que encontreinos países onde me apresentei são aindamaiores dos que recebo de plateias brasileiras.Com teatro, estive no Uruguai, com a peça BesameMucho. Com Hilário estive em Cabo Verde ePortugal. Também em Portugal, me apresentei


em vinte e duas cidades portuguesas com a peçaSenhor das Flores, uma produção portuguesa,em que interpretei um dos melhores papéis deminha vida. Com essa peça, participei de trêsfestivais internacionais. No de Vianna do Castelo,por exemplo, voltamos ao palco sete vezespara agradecer os aplausos. Foi emocionante.Em cinema, além de Discretion Assured, umaprodução americana, participei do filme Butterfly,para a italiana TV RAI. E integrei o elencode Woman on Top (no Brasil, Sabor da Paixão),onde contracenei com Penélope Cruz em duascenas, fazendo uma pequena participação.121


Com Louise Cardoso em cena de Besame Mucho


Capítulo XXVIIBodas de OuroEm 2008 completei 50 anos de trabalho, data demeu primeiro recorte de jornal como profissional.Nesta trajetória, vi o Brasil evoluir e a classe artísticamudar seus contornos. A invasão do capitalnas artes contaminou os meios de produção, queperderam a noção do limite entre o artístico e ocomercial. A televisão e alguns patrocínios transformaramos meios de produção e, se por umlado isso significou benefícios, por outro trouxegrandes malefícios, como se vê em vários exemplosde desrespeito pelo aspecto artístico.Narrei neste livro muitas alegrias, mas as decepçõesnão foram poucas.125Quando eu morava em São Paulo, um diretorme disse que eu era o ator ideal para fazer oprotagonista da peça que iria dirigir, mas o produtorexigia alguém de televisão... Hoje, umapessoa bonita e muitas vezes com fama conquistadasem méritos, ocupa o lugar de profissionaiscompetentes. Uma tristeza! Não é regrageral, mas sinal dos tempos de economia liberal.Nossas produções de cinema, teatro e TV têmconquistado prestígio nacional e internacional,temos uma rica diversidade de tendências, umaafirmação crescente de nossos valores, sem


aquele sentimento provinciano de que tudo queé de fora é bom e o que é nosso, de segunda.Sinto-me feliz por pertencer a uma classe detantos talentos especiais, que têm honrado oPaís com seus trabalhos, retratando nossa realidadecom coragem e ajudando a repensá-la,provocando sua transformação.A família reunida


Capítulo XXVIIIUm Lugar no CoraçãoSou também um homem privilegiado pela famíliaque tenho. Assumo: sou um pai babão (eavô, mais ainda), mas tenho razões para isso.Minhas filhas são duas criaturas especiais: alémde talentosas, são afetivas e mães exemplares.Ambas têm uma conduta ética e uma garraprofissional que me traz um enorme sentimentode realização.Debora se tornou uma grande atriz, dedicada,perfeccionista, e uma produtora de primeiríssimalinha, trilhando uma trajetória cada vez melhor.127Deni, que vive em São Paulo, apesar de ser umaótima atriz e sapateadora, não quis seguir a nossacarreira, preferiu uma vida mais perto de suafamília, e tem prazer em se dedicar à sua firmade assessoria de imprensa, com enorme sucesso.Como se não bastasse, Debora me deu dois netos,Júlia e Hugo. E Deni, o Tomás. Todos representamuma alegria nas nossas vidas.O que pode mais querer um pai e um avô?


Capítulo XXIXAs FilhasDifícil falar algo sobre meu pai, uma pessoa tãomúltipla. Poderia falar tantas coisas...Queria ter herdado aqueles olhos azuis, aqueladádiva de nunca envelhecer, sua saúde impecávele a energia com que faz as coisas.Mas muito do que sou certamente herdei delee, principalmente, os valores e o estilo que metransmitiu por toda a vida.129O principal legado: se entregar com paixão eenvolvimento a tudo o que faz. A persistência ea capacidade de acreditar e realizar!É como se nada fosse impossível e, de fato, paraele, poucas coisas são.Deni Bloch


Com DeboraCom ele aprendi a ter um olhar de compreensãosobre o mundo e as pessoas. Ele é uma pessoajusta, ética, que tem um olhar compreensivo eafetuoso sobre o outro.Meu pai sempre acreditou que podia e deviamudar o mundo através da arte, do teatro, da


sua atitude na vida. E sempre fez questão denos impregnar deste sentimento e quase dever.E, o mais importante: meu pai me ensinou agostar de teatro!Debora Bloch


Em Lavras Novas, com Sylvia


Capítulo XXXSylviaDepois de muitas decepções amorosas, quandojá me sentia desencantado, tive o grande encontroda minha vida. Conheci Sylvia num espetáculoda Campanha contra a Fome, no TeatroMunicipal do Rio. Eu fazia parte do elenco e ela,atriz mineira em temporada no Rio com Mulheresde Hollanda, de Chico Buarque, tambémparticipou. Tempos depois, fui dar um cursoem Belo Horizonte e Sylvia foi minha aluna. Naépoca, ela estava casada e, apesar de impressionadopela sua maneira de ser, sua beleza e seucaráter, respeitei e não demonstrei que ela meatraía. Mas, quando soube que ela tinha se separado,nos reencontramos e o namoro começou.133Sylvia é uma pessoa iluminada, generosa, quemudou a minha maneira de me relacionar com omundo, me tornou uma pessoa melhor. Ela veiomorar comigo depois de dois anos de namoro,com Pedro, seu filho, por quem tenho um imensocarinho. Sylvia resolveu estudar no Rio e formouseem Jornalismo, mas não exerceu. Nestes 13 anosde convivência tenho vivido uma relação intensa,cheia de emoções, como nunca experimentei antes.Pedro ficou conosco durante 7 anos, mas, nãose adaptando ao Rio, quis voltar para Belo Horizonteonde tinha grandes amigos e viver com opai uma convivência que nunca tivera.


Capítulo XXXIDepoimentoO meu JonasA primeira vez em que vi o Jonas, até então oJonas Bloch, foi na TV. Me recordo com clarezade registrar que aquele era o Jonas, que faziaparte dos meus estudos sobre o teatro mineiroe que era o pai da Debora Bloch.Pouco tempo depois dessas minhas descobertas,eu fui ao Rio assistir ao espetáculo BesameMucho. Eu tinha 20 anos e estava encantadacom teatro. E foi muito impressionante ver aatuação de Jonas neste espetáculo – era impactanteo trabalho dele! Talvez essa tenha sidouma das atuações mais interessantes que já tenhavisto. Fomos apresentados um ao outro, alina porta do teatro.135De tempos em tempos a gente se reencontravaalgumas vezes. Lógico, que eu lembrava e elenão. Normal. Quando ele foi assistir ao espetáculoem que atuei no Rio, ele foi cumprimentaras atrizes (eram 14!) e nós o convidamos paradar um curso em BH. Começamos aí uma amizade.Encantei-me com seu humor, sua disponibilidadee com seu vigor.Essa amizade evoluiu. Ele se tornou meu companheiro.Meu amor. Foi um pouco pai de meu


filho (ele o conheceu aos 8 anos). Um pouco paide meu irmão. Amigo de meus amigos.Esse é o meu Jonas. Esse Jonas lutador e cheio deideais e de ideias, forte, bravo, mas também umeterno menino, manhoso, carente e afetivo .Sylvia Vianna136


Capítulo XXXIIUma PousadaNo período de namoro, fomos várias vezes paraLavras Novas, distrito de Ouro Preto, em MinasGerais, e ficávamos hospedados na casa de umatia de Sylvia, Leonor, a querida Tia Nonô. Umdos sonhos de Sylvia era ter uma pequena casanaquela cidade, que ela adora.Pedi a Nonô, sem que Sylvia soubesse, que procurasseum lote que estivesse à venda, e elaachou, justamente ao lado de sua casa, comuma vista linda.No Natal, coloquei umas pequenas ferramentasde jardim numa caixa de papelão e dei depresente a Sylvia. Sem entender muito bem, elaagradeceu com um sorriso amarelo, até que eudisse: É para você cultivar suas terras. Sua reação,emocionada, é inesquecível.137Construí dois quartos, para passarmos os diasde folga por lá.A vontade de ter uma fonte de renda paralelaà profissão, que nos permita escolher os papéis,além de nos garantir na entressafra de trabalhoe na aposentadoria, é um dos sonhos de todoator. Nessa profissão, estamos acostumados aficar desempregados de tempos em tempos e,


muitas vezes, somos obrigados a aceitar trabalhosque preferiríamos recusar. Vendo o potencialturístico de Lavras Novas, comprei outrolote para construir um chalé, que alugaria parater uma fonte de renda.Eu fazia uma peça de sucesso que viajava peloBrasil e Sylvia tinha medo de ficar sozinha noRio. Nossa casa no Rio é grande, feita com muitamadeira, que estala à noite e deixava Sylviaem pânico. Por isso ela propôs ficar em LavrasNovas enquanto eu viajava.138Durante a longa temporada da peça fui construindomais chalés, depois um café para atender aoshóspedes e ela, como adora fazer doces e bolos,foi se envolvendo com o café e a pousada, que foicrescendo e pegando fama. Construí oito chalés eampliamos o café, transformando aquilo em umapequena empresa: Pousada Menestrel. A necessidadede ficar atenta ao café e o envolvimentocom a cidade, tornou difícil a volta de Sylvia parao Rio. Passamos a viver em duas cidades e, de temposem tempos, um de nós visita o outro.Em um dos Festivais de Inverno de Ouro Preto,fui convidado a dar uma oficina de interpretação.Pedi para que fosse feita em Lavras Novas,e que fossem dadas bolsas de estudo para osnativos. Ao findar o curso, os nativos ficaramapaixonados pelo teatro e exigiram que eumontasse um espetáculo com eles.


Mas eu não podia. Sylvia se propôs a fazê-lo eficou dez meses pesquisando os costumes e acultura local antes de escrever e montar doisespetáculos, apresentados nos fins de semana eque ficaram quatro anos em cartaz.No Brasil, quando um músico toca vários instrumentosé considerado uma qualidade, mas seum ator resolve cantar ou fazer artes plásticas,a imagem que se tem é de que é uma pretensão,ou de que está em baixa na carreira, tentandosobreviver com outra coisa. Talvez emfunção disso eu tenha evitado misturar as duasatividades, raramente divulgando o meu trabalhode artista plástico. Formado em desenho,também tenho grande atração pela escultura,que exercito quando posso.139Como havíamos começado uma seção de artesanatona pousada, alguém sugeriu que eu desenhassea camiseta da pousada para vender.Foi o que fiz. O sucesso foi tão grande que crieioutros desenhos, a maioria de figuras de teatro,dança e circo. Hoje, tenho vários modelos emcamisetas, bolsas, bonés, chaveiros, etc., alémde algumas esculturas decorando a pousada.


A Arte de JonasNesta e nas páginas seguintes, esculturas e desenhos deJonas Bloch


Capítulo XXXIIILáEra a véspera da estreia da peça Senhor das Floresem Portugal e minha prima-mãe-irmã-amigaMary estava de passagem por Lisboa e foiassistir ao ensaio geral. Quando terminou, elame disse, muito comovida e sem poder conteras lágrimas: Você chegou lá!Como ela havia acompanhado toda a minha trajetória,entendi que este lá significava que, alémde ter realizado o meu sonho de ser ator, eu haviaalcançado um padrão de qualidade que a deixavaemocionada. Ao ouvir aquela frase fiqueifeliz, especialmente porque no início de minhacarreira ela tinha restrições ao meu trabalho. Masnão pude deixar de me perguntar o que este lásignificava para mim. No começo de carreira, estarlá era estar em cena, e isto bastava.151Mais tarde, depois de estar constantemente emcena, o lá significava estar em bons trabalhos,interpretando papéis que me dessem a chancede ir mais longe artisticamente, conquistar ummaior espaço profissional.Na carreira de um ator a sorte pode jogar afavor ou contra, e temos que nos submeter aela. Quando estamos compromissados com umdeterminado trabalho não podemos aceitar


outros convites para projetos que poderiam sermais gratificantes, tanto artisticamente, quantoem prestígio. Faz parte do jogo. Mas e agora,já tendo conquistado o espaço e o prestígio(que nunca achamos que é o suficiente), o queseria este lá?A maturidade nos traz uma consciência maiorde nossos limites e transcendê-los é parte dochegar lá. Continuar trabalhando com constância,mesmo com a idade avançando, é chegarlá. Acompanhar o crescimento dos netos, o sucessodas filhas, continuar a viver com Sylvia,preservar nossa relação carinhosa de um amorintenso, é estar lá.152Espero vocês todos em meu próximo trabalho.Até lá.


Antes de terminar, não posso deixar de agradecera Mary Friedlaender por ter me contado asaga da família Bloch, mas, principalmente, porme ter amparado num momento tão difícil deminha vida.A Sylvia Vianna, que cedeu sua pesquisa sobrea vinda dos Bloch ao Brasil, e à sua luz, que iluminaminha vida.A Rubens Ewald Filho, pelo convite para queeste livro fosse feito.A Nilu Lebert, que, com grande carinho e respeito,como ela diz, dançou comigo este tangosem que nenhum de nós dois pisasse no pédo outro.153Aos jornalistas mineiros, que foram canalhascomigo, por terem provocado a minha saída deMinas. Se não fossem eles, talvez eu não tivessetido esta trajetória.


Jonas Bloch • CurriculumCinema• 28 longas-metragens• 6 participações• 4 curtas-metragensTeatro• 39 peças como ator e muitas outras como diretore/ou autorTelevisão• 16 novelas• 4 minisséries• 18 especiais/participaçõesResumoJonas Bloch é um artista cuja carreira ficou marcadacomo uma das trajetórias mais diversificadasque um artista brasileiro poderia ter. Àsvésperas de completar 50 anos de carreira, eleé formado em Artes Visuais e em vários cursosde teatro. Lecionou interpretação em diversasuniversidades. É ator, diretor e autor.155Trabalhou em cinema, teatro e televisão com osmais variados tipos de diretores. Em seu vastocurriculum, há uma enorme variedade de experiências,indo de Shakespeare a comédias decostumes, de filmes ambiciosos a novelas levese musicais, sempre com o empenho de um artistaapaixonado pela sua arte.


Entre seus trabalhos de teatro incluem-se Hamlet,Sonhos de uma Noite de Verão (Shakespeare),Peer Gynt (Ibsen), Franck V (Durrematt), aparticipação na Mostra Internacional de Teatrode Montevidéu com Besame Mucho, Festival deCabo Verde, Mindelact, com Hilário, em Portugalno Festival do Porto e de Vianna do Castelocom Senhor das Flores, e em dezenas de peçascomo ator, às vezes como diretor e autor.156Atuou em filmes internacionais, como SigiloAbsoluto (Discretion Assured), ao lado de MichaelYork, Woman on Top; o italiano Butterfly,além dos nacionais como Caso Cláudia, Avaeté,O Homem da Capa Preta, A Terceira Mortede Joaquim Bolívar, O Dia da Caça, AmareloManga, Cabra-Cega (prêmio Fiesp, de melhorcoadjuvante), entre muitos outros.Foi homenageado no 28º Festival de CinemaGuarnice, Maranhão, e no de Canoa Quebrada,por sua trajetória.Com uma constante presença na televisão, vemparticipando de novelas e minisséries, comoCorpo Santo, Mulheres de Areia, A Viagem,Bicho do Mato, Você Decide. Participou da minissérieGarret, da RTP, TV portuguesa, entretantas produções que o fizeram conhecido dopúblico em todo o Brasil e em alguns países.


CinemaAtor2006• Minha Vida não Cabe Num Opala, de ReinaldoPinheiro2002• Cabra-Cega, de Toni Venturi• Filhas do Vento, de Joel Zito Viana2001• Apolônio Brasil, de Hugo Carvana• Amarelo Manga, de Cláudio Assis2000• Histórias do Olhar, de Isa Albuquerque1999• Woman on Top (Sabor da Paixão), de FinaTorres• O Circo das Qualidades Humanas, de PauloAugusto GomesCurtas:• Texas Hotel, de Cláudio Assis• Sal da Terra, vídeo de José Louzeiro1998• Uma Aventura do Zico, de A. C. Fontoura1997• Kenoma, de Eliane Caffé.• A Terceira Morte de Joaquim Bolívar, de FlávioCândido• O Dia da Caça, de Alberto Graça1996• Policarpo Quaresma, de Paulo Thiago1995• Doces Poderes, de Lúcia Murat157


1581994• Caligrama, de Eliane Caffé1993• Butterfly, de Nino Cervi (TV RAI - Itália)1992• Discretion Assured, de Odorico Mendes• 1999, de Tony Venturi1990• Sampaku, de J. Joffily1989• Arabesco, de Eliane Caffé1987• Com o Diabo na Cama, de M.Tarancini1985• O Homem da Capa Preta, de Sérgio Rezende• Tropclip, de Luís Fernando Goulart.1984• Avaeté, de Zelito Vianna1983• Quilombo, de Cacá Diegues1982• Doce Delírio, de Manoel Iraldo Paiva.1981• Paraíso Proibido, de Carlos Reichenbach• Retrato Falado, de Hélio Porto1979• Caso Cláudia, de Miguel Borges1977• Inquietações de uma Mulher Casada, de A.Salva1976• À Flor da Pele, de F. Ramalho


• Tenda dos Milagres / Ouro Sangrento, deCésar Ladeira Filho1973• Santa Donzela, de Flávio Porto1971• Marta de Tal, de J. Rubens SiqueiraEm cena de Marta de Tal


TeatroAtor – Rio de Janeiro1602005/2006• Senhor das Flores, Portugal e Brasil - Festivaldo Porto (Fitei) e de Vianna do Castelo (Festeixo),além de mais 19 cidades portuguesas2004• Barrela e Senhor das Flores, de Plínio Marcos,em Portugal2003• Hilário, Festival de Comédia da Maia – Porto,Portugal2001/2002/2003• Três Homens Baixos, de Rodrigo Murat2000• Hilário, de Jonas Bloch1998• Brasil S.A., de Antônio Ermírio de Moraes1995• Te Buscando pelo Avesso, de Ari Chen1994• Terceiro Sinal, de Jonas Bloch1992• Odeio Hamlet, de P. Rudnick, dir: J. Wilker1990/91• Cabaré Maravilha, coletânea de Jonas Bloch1990• Não Explica que Complica, dir: Bibi Ferreira1989• Annos Loucos, dir: Márcio Augusto


Em cena de Senhor das Flores


Em cena de Terceiro Sinal


1987• Camas Redondas, Casais Quadrados, dir: J. Renato1986• Larga do Meu Pé, de Feideau, dir: Luiz deLima1984• Besame Mucho, de M. Prata, dir: Aderbal Freire- 1 a Mostra Internacional de Teatro Montevidéu1983• Besame Mucho, de M. Prata, dir: Aderbal Freire1982• A Eterna Luta Entre o Homem e a Mulher, deMillôr Fernandes, dir: Gianni Ratto1980• Campeões do Mundo, de Dias Gomes, dir: A.Mercado1979• Investigação na Classe Dominante, J. Priestley,dir: Flávio Rangel1978• Curral das Maravilhas, coletânea1977• Dois Pontos, coletânea• É..., de Millôr Fernandes1958• Auto da Compadecida, de A. Suassuna163


Cartaz de Larga do MeuPé (ao lado) e em cenade A Eterna Luta Entre oHomem e a Mulher, comTetê Medina (abaixo)


TeatroAtor – São Paulo1976• Pano de Boca, de F. Arap, dir: F. Arap1975• Os Executivos, de M. Chaves, dir: S. Siqueira1974• Lulu, de Wedekind. dir: Ademar Guerra1973• Franck V, de Durrematt, dir: F. Peixoto1972• Sonhos de uma Noite de Verão, de W.Shakespeare• Hair, musical• Jesus Cristo Superstar, musical1971• Peer Gynt, de H. Ibsen, dir: Antunes Filho1970• Álbum de Família, de N. Rodrigues, dir: J. Barcelos• Marta de Tal, de G. Mello1969• Hamlet, de W. Shakespeare, dir: F. Rangel165TeatroAtor – Minas Gerais1968• Numância, de Cervantes, dir: Amir Haddad


1661967• Oh! Oh! Oh! Minas Gerais• Canto ao Amanhã1966• O Homem e seu Grito, textos de Brecht• Bolota Contra o Bruxo1965• Escorial, de M. Ghelderode1963• Esquina Perigosa, de J.Priestley• Sonhos de uma Noite de Verão, de W. Shakespeare,dir: Haydée Bittencourt1961• Os Fuzis da Sra. Carrar, de B. Brecht1959• O Caso do Vestido, de C. Drummond de AndradeTeatroDiretor2000• Hilário, de Jonas Bloch1996• Baby Game, de Margareth Elliot1995• Fulustreca e Paspalhão, musical infantil1994• Terceiro Sinal1990• Cabaré Maravilha1981• Pequenos Burgueses, de M.Gorki


1978• Curral das Maravilhas1977• Dois Pontos1975• Ripió Lacraia, de Chico de Assis1974• A Noite dos Assassinos, de J. Triana• Rastro Atrás, de J. Andrade• O Circulo de Giz Caucasiano, de B.Brecht(EAD/USP)1973• Dança Lenta no Local do Crime, de W. Hanley• O Inspetor Geral, de Gogol• Um Alicate no Arame Farpado (Escola de Artes/SãoCaetano)1972• Os Pequenos Burgueses, de M. Gorki1971• Quando as Máquinas Param, de P. Marcos167TeatroDiretor – Minas Gerais1968 - em parceria com Jota Dangelo:• Oh! Oh! Oh! Minas Gerais• Canto ao amanhã• O Homem e seu Grito, de B. Brecht• Bolota e o Segredo do Tesouro Verde1965• Halewin, de M. Ghelderode


Cartaz de Jonas para Pequenos Burgueses


1964• Os Fuzis da Sra. Carrar, de B. Brecht1963• O Namorador, de M. Pena1962• Pinóquio, de A. CasonaTelevisãoAtor2008• Amor e Intrigas, novela TV Record2007• Bicho do Mato, novela TV Record2006• Avassaladoras, episódio da série, Fox e Record2005• Os Ricos Também Choram, novela SBT2004• Senhora do Destino, participação, novela TVGlobo2003• Jamais te Esquecerei, participação, novelaSBT2000• Garret, minissérie, RTP - TV portuguesa1999• Mulher, série, TV Globo• Você Decide: Amélia, série, TV Globo• Zorra Total, humorístico, TV Globo• Megatom, humorístico, TV Globo169


Cartaz promocional de Bicho do Mato, e em cena deSenhora do Destino


172• Santo de Casa, série, TV Bandeirantes1998• Malhação, seriado, TV Globo• Você Decide: Amor Eterno, TV Globo1997• Você Decide: O Intruso, TV Globo• Você Decide: Culpado ou Inocente, TV Globo1996/97• Perdidos de Amor, novela, TV Plus / TV Bandeirantese RTP1996• Quem é Você?, novela, TV Globo1995• Irmãos Coragem, novela, TV Globo• Você Decide: Paixão Bandida1994• Você Decide: Último Desejo• A Viagem, novela, TV Globo• Incrível, Fantástico, especial TV Manchete1993• Mulheres de Areia, novela, TV Globo1992• Você Decide: Tabu, TV Globo1991• O Dono do Mundo, novela, TV Globo• O Portador, minissérie, TV Globo1989/90• Top Model, novela, TV Globo1988• Olho Por Olho, novela, TV Manchete1987• Corpo Santo, novela, TV MancheteEm cena de Malhação


Em cena de Franck V


Em cenas de A Viagem (ao lado) e Mulheres de Areia(acima)


Em cenas de O Dono do Mundo, com Antonio Fagundes(acima) e O Portador (ao lado)


1801986• Novo Amor, novela, TV Manchete• Estrela do Mar, minissérie, TV Globo• O Russo Desaparecido, minissérie, TV Globo• Seguro Morreu de Velho, minissérie, TV Globo• Carne de Sol, especiais, TV Bandeirantes• Selva de Pedra, novela, TV Globo1985• Projeto Z, minissérie, TV Manchete1984• Santa Marta Fabril, TV Manchete1983• Familionária, show, TV Bandeirantes1982• Sétimo Sentido, novela, TV Globo• Especiais: O Assalto / O Homem que Incendiouo Maracanã / Circo de Escavalinho, TV Globo1980• Olhai os Lírios do Campo, novela, TV Globo1979• Pai Herói, novela, TV Globo• David e Golias, minissérie, TV Globo1977• Sem Lenço e Sem Documento, TV Globo1976• Canção para Isabel, novela, TV Tupi - SP• Ovelha Negra, novela, TV Tupi SP1969• Algemas de Ouro, novela, TV Record1958• Câmera Um, especiais, TV Tupi Rio


Em cena de Annos Loucos


Em cenas de Sétimo Sentido (ao lado) e Olhai os Lírios doCampo (acima)


Acima, em cena de Pai Herói, e à direita, com D. MarisaLetícia, Dira Paes, o presidente Lula e Leona Cavalli


Prêmios2007• Homenagem pela carreira no Festival de CanoaQuebrada2006• Prêmio Fiesp de Cinema: Melhor Coadjuvantepor Cabra-Cega2005• Homenagem no 28 o Festival de Cinema-Guarnice,Maranhão2004• Wizo Gold Award


1862003• Prêmio Tam / Academia Brasileira de Cinema:indicação a Melhor Coadjuvante, por AmareloManga1993• Internacional Export Services Qualidade Brasil1992• Internacional Export Services Qualidade Brasil1978• SNT - Curral das Maravilhas (um dos 5 melhoresdo ano)1977• SNT - Dois Pontos (um dos 5 melhores do ano)1975• Governador do Estado/SP: Melhor espetáculoRipió Lacraia1974• Governador do Estado/SP: Melhor espetáculoA Noite dos Assassinos, de José Triana1973• Indicação: Melhor Coadjuvante por Franck V1972• Festival Cotaesp - 2º lugar: Os Pequenos Burgueses1971• Índio de Ouro (TV Tupi/SP) Melhor direção1963• AMT - Melhor Ator: Sonhos de uma Noite deVerão1962• AMT - Melhor Cenário: O Santo e a Porca


Autor1999• Hilário1995• Fulustreca e Paspalhão - musical infantil1993• Terceiro Sinal1990• Cabaré Maravilha, show1979• Dois Pontos: coletânea1978• Curral das Maravilhas: coletânea1973• Um Alicate no Arame Farpado.Em parceria com Jota Dangelo:• Oh! Oh! Oh! Minas Gerais (1968)• Canto ao Amanhã (1967)• O Homem e seu Grito (1966)1965• Bolota Contra o Bruxo - musical infantil• Bolota e o Segredo do Tesouro Verde187Professor2004/5• Workshop em Lisboa, Portugal – VOC prod.2002• Workshop - Festival de Inverno de Mariana• UniBh - em Lavras Novas/MG


1882000• Workshop – Fafi – Vitória• Sesc - Campos1999• Workshop – Colégio Arnaldo – Belo Horizonte1997• Workshop - Instituto Hebraico - São Paulo1995• Workshop Secretaria de Cultura de Itabira1994• Workshop em Fortaleza / Secretaria Estadualde Cultura• Workshop em Belo Horizonte1975• Universidade de S. Paulo/ECA1974• Universidade de S. Paulo/EAD• 8 o Festival de Inverno de Ouro Preto1973• 7 o Festival de Inverno de Ouro Preto• Fundação de Artes de S. Caetano1972• Escola Ruth Rachou - S.Paulo


IndiceApresentação – José Serra 5Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7Apresentação 11Introdução 15Álbum de família 17Pão, Amor e Fantasia 29Aurora da Minha Vida 33Um Gosto de Mel 37Oh! Oh! Oh! Minas Gerais! 43Tempo de Despertar 47Happening 53Um Equilíbrio Delicado 55Muito Além do Jardim 59À Flor da Pele 63Um Sonho de Liberdade 65Minas Não Há Mais 67Pauliceia Desvairada 71Um Estranho no Ninho 75Pãe 77Técnica 81O Tempo e o Vento 83Adivinhe Quem Vem Para… 85Música no ar 87


O Espelho Tem Duas Faces 91Três Mosqueteiros 95Persona 101Um Lugar ao Sol 105Cinema Paradiso 111O Feijão e o Sonho 117Luz, Câmera, Ação! – Michael York 119Bodas de Ouro 125Um Lugar no Coração 127As Filhas 129Sylvia 133Depoimento 135Uma Pousada 137A Arte de Jonas 140Lá 151Jonas Bloch • Curriculum 155


Créditos das fotografiasCedoc TV Globo 171, 173, 174, 175, 176, 177, 178,181, 182, 184Jorge Baumann/Cedoc TV Globo 179Nelson Di Rago/Cedoc TV Globo 183Fotos Amaral 110Mauro S. V. Gomes 67, 68Revista Contigo 154Sylvia Vianna 98, 99TV Record 170Xico Lima 122, 123A presente obra conta com diversas fotos, grande parte de autoriaidentificada e, desta forma, devidamente creditada. Contudo, a despeitodos enormes esforços de pesquisa empreendidos, uma parte dasfotografias ora disponibilizadas não é de autoria conhecida de seusorganizadores, fazendo parte do acervo pessoal do biografado. Qualquerinformação neste sentido será bem-vinda, por meio de contatocom a editora desta obra (livros@imprensaoficial.com.br/ Grande SãoPaulo SAC 11 5013 5108 | 5109 / Demais localidades 0800 0123 401),para que a autoria das fotografias porventura identificadas seja devidamentecreditada.


Coleção AplausoSérie Cinema BrasilAlain Fresnot – Um Cineasta sem AlmaAlain FresnotAgostinho Martins Pereira – Um IdealistaMáximo BarroO Ano em Que Meus Pais Saíram de FériasRoteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaerte Cao HamburgerAnselmo Duarte – O Homem da Palma de OuroLuiz Carlos MertenAntonio Carlos da Fontoura – Espelho da AlmaRodrigo MuratAry Fernandes – Sua Fascinante HistóriaAntônio Leão da Silva NetoO Bandido da Luz VermelhaRoteiro de Rogério SganzerlaBatismo de SangueRoteiro de Dani Patarra e Helvécio RattonBens ConfiscadosRoteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e CarlosReichenbachBraz Chediak – Fragmentos de uma vidaSérgio Rodrigo ReisCabra-CegaRoteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e RicardoKauffmanO Caçador de DiamantesRoteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo BarroCarlos Coimbra – Um Homem RaroLuiz Carlos MertenCarlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de ViverMarcelo Lyra


A CartomanteRoteiro comentado por seu autor Wagner de AssisCasa de MeninasRomance original e roteiro de Inácio AraújoO Caso dos Irmãos NavesRoteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio PersonO Céu de SuelyRoteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício ZachariasChega de SaudadeRoteiro de Luiz BolognesiCidade dos HomensRoteiro de Elena SoárezComo Fazer um Filme de AmorRoteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José RobertoToreroCríticas de Edmar Pereira – Razão e SensibilidadeOrg. Luiz Carlos MertenCríticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção:Os Anos do São Paulo ShimbunOrg. Alessandro GamoCríticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – AnalisandoCinema: Críticas de LGOrg. Aurora Miranda LeãoCríticas de Ruben Biáfora – A Coragem de SerOrg. Carlos M. Motta e José Júlio SpiewakDe PassagemRoteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo EliasDesmundoRoteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina AnzuateguiDjalma Limongi Batista – Livre PensadorMarcel NadaleDogma Feijoada: O Cinema Negro BrasileiroJeferson De


Dois CórregosRoteiro de Carlos ReichenbachA Dona da HistóriaRoteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel FilhoOs 12 TrabalhosRoteiro de Cláudio Yosida e Ricardo EliasEstômagoRoteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da NatividadeFernando Meirelles – Biografia PrematuraMaria do Rosário CaetanoFim da LinhaRoteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboardsde Fábio Moon e Gabriel BáFome de Bola – Cinema e Futebol no BrasilLuiz Zanin OricchioGeraldo Moraes – O Cineasta do InteriorKlecius HenriqueGuilherme de Almeida Prado – Um Cineasta CinéfiloLuiz Zanin OricchioHelvécio Ratton – O Cinema Além das MontanhasPablo VillaçaO Homem que Virou SucoRoteiro de João Batista de Andrade, organização de ArianeAbdallah e Newton CannitoIvan Cardoso – O Mestre do TerrirRemierJoão Batista de Andrade – Alguma Solidão eMuitas HistóriasMaria do Rosário CaetanoJorge Bodanzky – O Homem com a CâmeraCarlos Alberto MattosJosé Antonio Garcia – Em Busca da Alma FemininaMarcel Nadale


José Carlos Burle – Drama na ChanchadaMáximo BarroLiberdade de <strong>Imprensa</strong> – O Cinema de IntervençãoRenata Fortes e João Batista de AndradeLuiz Carlos Lacerda – Prazer & CinemaAlfredo SternheimMaurice Capovilla – A Imagem CríticaCarlos Alberto MattosMauro Alice – Um Operário do FilmeSheila SchvarzmanMiguel Borges – Um Lobisomem Sai da SombraAntônio Leão da Silva NetoNão por AcasoRoteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski eEugênio PuppoNarradores de JavéRoteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de AbreuOnde Andará Dulce VeigaRoteiro de Guilherme de Almeida PradoOrlando Senna – O Homem da MontanhaHermes LealPedro Jorge de Castro – O Calor da TelaRogério MenezesQuanto Vale ou É por QuiloRoteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio BianchiRicardo Pinto e Silva – Rir ou ChorarRodrigo CapellaRodolfo Nanni – Um Realizador PersistenteNeusa BarbosaO Signo da CidadeRoteiro de Bruna LombardiUgo Giorgetti – O Sonho IntactoRosane Pavam


Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejasno PlanaltoCarlos Alberto MattosViva-VozRoteiro de Márcio AlemãoZuzu AngelRoteiro de Marcos Bernstein e Sergio RezendeSérie CinemaBastidores – Um Outro Lado do CinemaElaine GueriniSérie Ciência & TecnologiaCinema Digital – Um Novo Começo?Luiz Gonzaga Assis de LucaSérie CrônicasCrônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeçasMaria Lúcia DahlSérie DançaRodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – DançaUniversalSérgio Rodrigo ReisSérie Teatro BrasilAlcides Nogueira – Alma de CetimTuna DwekAntenor Pimenta – Circo e PoesiaDanielle PimentaCia de Teatro Os Satyros – Um Palco VisceralAlberto GuzikCríticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como OficioOrg. Carmelinda Guimarães


Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas eUma PaixãoOrg. José Simões de Almeida JúniorJoão Bethencourt – O Locatário da ComédiaRodrigo MuratLeilah Assumpção – A Consciência da MulherEliana PaceLuís Alberto de Abreu – Até a Última SílabaAdélia NicoleteMaurice Vaneau – Artista MúltiploLeila CorrêaRenata Palottini – Cumprimenta e Pede PassagemRita Ribeiro GuimarãesTeatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBCNydia LiciaO Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: ÓperaJoyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso– Pólvora e PoesiaAlcides NogueiraO Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatroveloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantosde Maldoror – De Profundis – A Herança do TeatroIvam CabralO Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e DonaCoisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista VilmaNoemi MarinhoTeatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o ArNeyde VenezianoO Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor– A Terra PrometidaSamir YazbekTeresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadasem CenaAriane Porto


Série PerfilAracy Balabanian – Nunca Fui AnjoTania CarvalhoArllete Montenegro – Fé, Amor e EmoçãoAlfredo SternheimAry Fontoura – Entre Rios e JaneirosRogério MenezesBete Mendes – O Cão e a RosaRogério MenezesBetty Faria – Rebelde por NaturezaTania CarvalhoCarla Camurati – Luz NaturalCarlos Alberto MattosCelso Nunes – Sem AmarrasEliana RochaCleyde Yaconis – Dama DiscretaVilmar LedesmaDavid Cardoso – Persistência e PaixãoAlfredo SternheimDenise Del Vecchio – Memórias da LuaTuna DwekElisabeth Hartmann – A Sarah dos PampasReinaldo BragaEmiliano Queiroz – Na Sobremesa da VidaMaria LeticiaEtty Fraser – Virada Pra LuaVilmar LedesmaGeórgia Gomide – Uma Atriz BrasileiraEliana PaceGianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no ArSérgio RoveriGlauco Mirko Laurelli – Um Artesão do CinemaMaria Angela de Jesus


Ilka Soares – A Bela da TelaWagner de AssisIrene Ravache – Caçadora de EmoçõesTania CarvalhoIrene Stefania – Arte e PsicoterapiaGermano PereiraIsabel Ribeiro – IluminadaLuis Sergio Lima e SilvaJoana Fomm – Momento de DecisãoVilmar LedesmaJohn Herbert – Um Gentleman no Palco e na VidaNeusa BarbosaJosé Dumont – Do Cordel às TelasKlecius HenriqueLeonardo Villar – Garra e PaixãoNydia LiciaLília Cabral – Descobrindo Lília CabralAnalu RibeiroLolita Rodrigues – De Carne e OssoEliana CastroLouise Cardoso – A Mulher do BarbosaVilmar LedesmaMarcos Caruso – Um ObstinadoEliana RochaMaria Adelaide Amaral – A Emoção LibertáriaTuna DwekMarisa Prado – A Estrela, O MistérioLuiz Carlos LisboaMiriam Mehler – Sensibilidade e PaixãoVilmar LedesmaNicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em FamíliaElaine Guerrini


Nívea Maria – Uma Atriz RealMauro Alencar e Eliana PaceNiza de Castro Tank – Niza, Apesar das OutrasSara LopesPaulo Betti – Na Carreira de um SonhadorTeté RibeiroPaulo José – Memórias SubstantivasTania CarvalhoPedro Paulo Rangel – O Samba e o FadoTania CarvalhoRegina Braga – Talento é um AprendizadoMarta GóesReginaldo Faria – O Solo de Um InquietoWagner de AssisRenata Fronzi – Chorar de RirWagner de AssisRenato Borghi – Borghi em RevistaÉlcio Nogueira SeixasRenato Consorte – Contestador por ÍndoleEliana PaceRolando Boldrin – Palco BrasilIeda de AbreuRosamaria Murtinho – Simples MagiaTania CarvalhoRubens de Falco – Um Internacional Ator BrasileiroNydia LiciaRuth de Souza – Estrela NegraMaria Ângela de JesusSérgio Hingst – Um Ator de CinemaMáximo BarroSérgio Viotti – O Cavalheiro das ArtesNilu Lebert


Silvio de Abreu – Um Homem de SorteVilmar LedesmaSônia Guedes – Chá das CincoAdélia NicoleteSonia Maria Dorce – A Queridinha do meu BairroSonia Maria Dorce ArmoniaSonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana?Maria Thereza VargasSuely Franco – A Alegria de RepresentarAlfredo SternheimTatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte OutraSérgio RoveriTony Ramos – No Tempo da DelicadezaTania CarvalhoVera Holtz – O Gosto da VeraAnalu RibeiroVera Nunes – Raro TalentoEliana PaceWalderez de Barros – Voz e SilênciosRogério MenezesZezé Motta – Muito PrazerRodrigo MuratEspecialAgildo Ribeiro – O Capitão do RisoWagner de AssisBeatriz Segall – Além das AparênciasNilu LebertCarlos Zara – Paixão em Quatro AtosTania CarvalhoCinema da Boca – Dicionário de DiretoresAlfredo Sternheim


Dina Sfat – Retratos de uma GuerreiraAntonio GilbertoEva Todor – O Teatro de Minha VidaMaria Angela de JesusEva Wilma – Arte e VidaEdla van SteenGloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda doMaior Sucesso da Televisão BrasileiraÁlvaro MoyaLembranças de HollywoodDulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo SternheimMaria Della Costa – Seu Teatro, Sua VidaWarde MarxNey Latorraca – Uma CelebraçãoTania CarvalhoRaul Cortez – Sem Medo de se ExporNydia LiciaRede Manchete – Aconteceu, Virou HistóriaElmo FrancfortSérgio Cardoso – Imagens de Sua ArteNydia LiciaTV Tupi – Uma Linda História de AmorVida AlvesVictor Berbara – O Homem das Mil FacesTania CarvalhoWalmor Chagas – Ensaio Aberto para Um HomemIndignadoDjalma Limongi Batista


Formato: 12 x 18 cmTipologia: FrutigerPapel miolo: Offset LD 90 g/m 2Papel capa: Triplex 250 g/m 2Número de páginas: 208Editoração, CTP, impressão e acabamento:<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São Paulo


Coleção Aplauso Série PerfilCoordenador GeralCoordenador Operacionale Pesquisa IconográficaProjeto GráficoEditor AssistenteEditoraçãoTratamento de ImagensRevisãoRubens Ewald FilhoMarcelo PestanaCarlos CirneFelipe GoulartAna Lúcia CharnyaiJosé Carlos da SilvaDante Pascoal Corradini


© 2008Dados Internacionais de Catalogação na PublicaçãoBiblioteca da <strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São PauloLebert, NiluJonas Bloch : o ofício de uma paixão / Nilu Lebert – SãoPaulo : <strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São Paulo, 2009.208p. : il. – (Coleção aplauso. Série Perfil/ Coordenadorgeral Rubens Ewald Filho)ISBN 978-85-7060-701-01. Atores e atrizes cinematográficos – Brasil 2. Cinema –Produtores e Diretores. 3. Bloch, Jonas, 1939 I. Ewald Filho,Rubens II. Titulo. III. Série.CDD 791.0921Índices para catálogo sistemático:1. Atores brasileiros : Biografia e Obra 791.092Proibida reprodução total ou parcial sem autorizaçãoprévia do autor ou dos editoresLei nº 9.610 de 19/02/1998Foi feito o depósito legalLei nº 10.994, de 14/12/2004Impresso no Brasil / 2008Todos os direitos reservados.<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São PauloRua da Mooca, 1921 Mooca03103-902 São Paulo SPwww.imprensaoficial.com.br/livrarialivros@imprensaoficial.com.brGrande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109Demais localidades 0800 0123 401


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