exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010Como se verifica pela <strong>de</strong>scrição e análise <strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong>, a <strong>consciência</strong><strong>fonológica</strong> <strong>de</strong>stas crianças necessita <strong>de</strong> um treino mais eficaz a diversos níveis. Sãopertinentes, sobretu<strong>do</strong>, exercícios em suporte oral <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a concretizar nas criançasalgo a que elas já são sensíveis: a diversida<strong>de</strong> sonora. Activida<strong>de</strong>s em que os alunostenham <strong>de</strong> encontrar sílabas que rimem, i<strong>de</strong>ntificar concordâncias fónicas, <strong>de</strong>scobrirdissemelhanças e compreen<strong>de</strong>r efectivamente que a relação entre fonema e grafema éarbitrária.Conclusões: a importância <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>lá</strong>Tanto a activida<strong>de</strong> aplicada ao segun<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> como aquela <strong>de</strong>senvolvidano quarto ano <strong>de</strong>monstraram que, <strong>de</strong> uma forma geral, as crianças <strong>não</strong> tomamo plano fonológico da língua como ponto <strong>de</strong> partida. As turmas observadas evi<strong>de</strong>nciaramum forte condicionamento da ortografia na execução <strong>de</strong> tarefas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, emprimeiro lugar, <strong>do</strong>s sons linguísticos. No final <strong>do</strong> momento inicial <strong>de</strong> aprendizagens<strong>do</strong> primeiro ciclo, o segun<strong>do</strong> ano, os discentes <strong>não</strong> revelam, ainda, <strong>de</strong>streza suficientena segmentação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s intrassi<strong>lá</strong>bicas e na conclusão <strong>de</strong>ste ciclo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s,o quarto ano, <strong>não</strong> se <strong>de</strong>nota um conhecimento <strong>do</strong> sistema fonológico reflecti<strong>do</strong> quepropicie a distinção precisa entre variações fonéticas e representações grafemáticas.Todavia, nos <strong>do</strong>is casos, as intervenções das crianças, motivadas pela existência<strong>de</strong>stes exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica, mostram que o conhecimento implícitoda realida<strong>de</strong> fónica da sua língua materna lhes permite inferir que a relação fonema/grafema é opaca. Os exercícios foram significativos para os alunos pois no seu <strong>de</strong>cursoforam capazes <strong>de</strong> avaliar criticamente a sua prestação e a <strong>do</strong>s outros. Assim,é importante que o <strong>do</strong>cente aproveite a motivação da turma em realizar activida<strong>de</strong>sneste âmbito, crian<strong>do</strong> momentos na sala <strong>de</strong> aula que <strong>de</strong>senvolvam a sensibilida<strong>de</strong> aossons da língua, transforman<strong>do</strong>-a em conhecimento explícito. As crianças, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>lá</strong>, precisam que o professor as conduza na <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> plano fonológico da língua.Assim, os alunos po<strong>de</strong>m enten<strong>de</strong>r que as unida<strong>de</strong>s mínimas significativas <strong>do</strong> sistemalinguístico <strong>não</strong> são as letras, mas sim os fonemas. As crianças <strong>de</strong>vem perceber que ossegmentos fónicos po<strong>de</strong>m ter organizações diferentes, que o seu lugar na estrutura dapalavra gera significa<strong>do</strong>s distintos e origina padrões fónicos com graus <strong>de</strong> coincidênciadiferencia<strong>do</strong>s que <strong>não</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> realizações gráficas iguais.Se, como vimos, os alunos evi<strong>de</strong>nciam sensibilida<strong>de</strong> ao plano fonológico da língua,<strong>não</strong> é conveniente esquecer que o <strong>do</strong>cente também necessita que a prática lectivaem torno da realida<strong>de</strong> sonora se revista <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> no contexto <strong>do</strong> ensino-aprendizagem<strong>do</strong> português. Para isso, contribuirá o PNEP enquanto formação que possibilitaa reflexão sobre meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> ensino, propon<strong>do</strong> uma abordagem efectivana Consciência Fonológica. Desta forma, to<strong>do</strong>s, alunos e professores, compreen<strong>de</strong>rãoefectivamente que os recursos fonológicos servem <strong>não</strong> apenas para construir pala-128
“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.vras, frases e histórias, como também têm eles a sua própria história para contar. Essahistória, certamente, soará bem aos ouvi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.(Endnotes)1 Conhecimento Implícito é o Conhecimento [intuitivo] da língua falada pelacomunida<strong>de</strong> linguística a que [se] pertence”. ( SIM-SIM, I; DUARTE,I; FERRAZ, M,1997, p.19).2 Para uma listagem mais <strong>de</strong>talhada das Competências atribuídas ao primeirociclo, consulte-se SIM_SIM, I, DUARTE, I & FERRAZ, M.J. , A Língua Materna naEducação Básica. Competências Nucleares e Níveis <strong>de</strong> Desempenho, Lisboa, Ministérioda Educação, 1997, p.53.3 Por Conhecimento Explícito entenda-se “progressiva consciencialização esistematização <strong>do</strong> conhecimento implícito no uso da língua (SIM-SIM, Inês, 1998,p12).4 A sílaba é o conjunto <strong>de</strong> um ou mais fonemas pronuncia<strong>do</strong>s numa únicaemissão <strong>de</strong> voz. Os fonemas que integram a sílaba constituem-se como unida<strong>de</strong>s.Fonema é a menor unida<strong>de</strong> sonora (fonética) <strong>de</strong> uma língua que estabelece contraste<strong>de</strong> significa<strong>do</strong> para diferenciar palavras. Por exemplo os fonemas /p/ e /b/ opõe-se poisdiferem no traço vozeamento crian<strong>do</strong> palavras diferentes como “pato” e “bato” graçasa essa diferença.5 Veja-se, por exemplo, GAIL (2007); GONZALEZ, J. &GONZALEZ, M.R(2001).6 Por opacida<strong>de</strong> da língua entenda-se a <strong>não</strong> correspondência entre fonema/grafema e vice-versa.7 Assinalamos a negrito o constituinte específico a que nos reportamos. A representaçãográfica <strong>do</strong>s exemplos transcritos foneticamente é: casa; flocos; prato; pato;pau;8 Para uma <strong>de</strong>scrição mais pormenorizada da estrutura si<strong>lá</strong>bica <strong>do</strong> portuguêsveja-se FRITEAS & SANTOS (2001).9 As siglas usadas correspon<strong>de</strong>m a Consoante/Vogal; Vogal; Consoante/Vogal; Consoante/Vogal/Gli<strong>de</strong>; Consoante/Consoante/Vogal e Consoante/Vogal/Consoante. Empregamos o termo gli<strong>de</strong> para <strong>de</strong>signar a semivogal, isto é, o elementosonoro vocálico <strong>de</strong> duração e intensida<strong>de</strong> menores que faz parte <strong>do</strong> ditongo.10 É comum que as crianças omitam ataques ramifica<strong>do</strong>s, dizen<strong>do</strong>, muitas vezes[patu] por [pɾatu] ou que acrescentem um som intermédio [pəratu]. Semelhantesprocedimentos se observam para o constituinte coda e também para o ditongo <strong>de</strong> quese omite a gli<strong>de</strong>.11 Consulte-se, por exemplo, MARTINS ( 2000); SILVA (2003); VIANA(2002)12 As activida<strong>de</strong>s foram concebidas por Rita Gonzalez e pela autora <strong>de</strong>ste artigo,Isabel Correia.13 Agra<strong>de</strong>cemos às professoras Rita Gonzalez, Helena Ferreira e Maria Emília129