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“Isso não Soa Bem”. A consciência fonológica do lado de lá - Exedra

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“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.mesmo discente e outros colegas acrescentaram: “ o acento é diferente, lê-se diferente”.Um <strong>do</strong>s grupos retorquiu: “mas a letra é a mesma”.A leitura <strong>de</strong> outro grupo foi particularmente interessante <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista dasestratégias empregues para transformar algumas rimas que se sabia “<strong>não</strong> soarem bem”em palavras que rimassem <strong>de</strong> facto. Assim, uma das meninas leu os vocábulos “velha”e “telha” como [vɐλɐ] e [tɐλɐ] e <strong>não</strong> como [vɛλɐ] e [teλɐ], pronuncias esperáveisna cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto 18 . O aluno que dissera anteriormente que as rimas <strong>do</strong>s colegas<strong>não</strong> soavam bem, afirmou: “isso <strong>não</strong> se diz assim!”. Outros discentes concordaram,dizen<strong>do</strong> que se <strong>de</strong>via pronunciar [vɛλɐ] e [teλɐ], “ que <strong>não</strong> rimam”.Várias consi<strong>de</strong>rações se po<strong>de</strong>m fazer da prestação <strong>do</strong>s alunos. Em primeiro lugar,a construção <strong>do</strong>s poemas evi<strong>de</strong>ncia que os estudantes estão muito condiciona<strong>do</strong>s pelaescrita uma vez que to<strong>do</strong>s colocaram as palavras “velha/telha” e “atleta/chupeta” emposição <strong>de</strong> rima. O caso <strong>de</strong> “pó/champô” como par rimático levanta várias hipóteses.Po<strong>de</strong>ria ter havi<strong>do</strong> alguma hesitação entre os sons das vogais finais, uma vezque apenas variam num parâmetro, o grau <strong>de</strong> abertura, que a acentuação gráfica <strong>não</strong><strong>de</strong>sambiguou. Outra possibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ter si<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> os alunos estarem preocupa<strong>do</strong>sem colocar a par palavras semelhantes, que acabassem na mesma letra, ten<strong>do</strong>ignora<strong>do</strong> o acento gráfico. Além disso, ten<strong>do</strong> em conta que o grupo que incluiu estestermos, usou todas as palavras listadas, a formação <strong>de</strong>ste conjunto po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ver-se àpreocupação em utilizar a lista completa o que revela que o objectivo <strong>do</strong> exercício <strong>não</strong>foi totalmente compreendi<strong>do</strong>.O facto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os grupos terem coloca<strong>do</strong> azul/tule em posição <strong>de</strong> rima <strong>não</strong> sepren<strong>de</strong>, a nosso ver, com a influência da escrita mas revela que, ao dizerem as duaspalavras, terão acrescenta<strong>do</strong> um som final, [ə], na palavra [ɐzuɬ], <strong>não</strong> i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> acoda e transforman<strong>do</strong> o padrão si<strong>lá</strong>bico irregular CVC no regular CV.A estratégia <strong>de</strong> leitura da menina <strong>de</strong>monstra que, provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos comentáriosprévios em relação aos outros grupos, se apercebeu, já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> teremfeito o poema, que as rimas <strong>não</strong> eram completas. Assim, usou uma pronúncia que <strong>não</strong>lhe era natural, mas que seria, certamente, conhecida para anular as dissemelhançasfonéticas.O que nos parece sobremaneira interessante é o tipo <strong>de</strong> intervenções <strong>do</strong> aluno que,constantemente, dizia que os poemas <strong>não</strong> “soavam bem”. Curiosamente, a produção<strong>do</strong> seu grupo continha o mesmo tipo <strong>de</strong> ocorrências <strong>do</strong>s outros, mas o menino foitambém autocrítico. Quan<strong>do</strong> a professora lhe perguntou se achava que o poema <strong>do</strong>seu grupo “soava bem”, respon<strong>de</strong>u: “<strong>não</strong>, mas tínhamos <strong>de</strong> pôr as letras juntas parafazer o poema”. Assim, o menino mostra ter sensibilida<strong>de</strong> às variações e diferençasentre o sons quan<strong>do</strong> está a ouvir e a reflectir sobre eles, mas <strong>não</strong> se abstrai da escritao suficiente para construir as rimas aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> apenas à imagem acústica das palavras.A criança i<strong>de</strong>ntifica as divergências das sílabas finais <strong>do</strong>s vocábulos no tocante à rima,mas <strong>não</strong> consegue manipular os sons <strong>de</strong> forma a que eles in<strong>de</strong>pendam da grafia.127

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