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174 Revista Brasileira de Literatura Compara<strong>da</strong>, n.11, 2007 “A vi<strong>da</strong> e os prêmios que ela comporta”: <strong>da</strong>rwinismo social e... 175resistência diante dos caracteres de outros povos”. SegundoEuclides <strong>da</strong> Cunha, o Brasil encontrava-se em umacondição de debili<strong>da</strong>de deriva<strong>da</strong> de uma formação racialinstável, ain<strong>da</strong> em curso, e que tenderia a promover a dispersão<strong>da</strong>s diversas energias raciais que se punham em fusão.Esse fato tornar-se-ia particularmente inquietante apartir do momento em que se considerava “o pendor atuale irresistível <strong>da</strong>s raças fortes para o domínio, não pela espa<strong>da</strong>,efêmeras vitórias ou conquistas territoriais – mas pelainfiltração poderosa do seu gênio e <strong>da</strong> sua ativi<strong>da</strong>de”(ibidem, p.223).Restaria ao povo brasileiro, portanto, buscar um difícilequilíbrio entre a aceitação <strong>da</strong> colaboração do estrangeiro,dotado do conhecimento técnico-científico, e umadefesa <strong>da</strong> originali<strong>da</strong>de de suas características formadoras,<strong>da</strong> qual dependeria a manutenção de sua soberaniapolítica. Naquele momento, portanto, o autor consideranecessário adotar “medi<strong>da</strong>s que contrapesem ou equilibrem,a nossa evidente fragili<strong>da</strong>de de raça ain<strong>da</strong> in<strong>completa</strong>,com a integri<strong>da</strong>de absorvente <strong>da</strong>s raças já constituí<strong>da</strong>s”(ibidem, p. 224). Segundo ele, se não eram claras quaisas políticas defensivas a serem adota<strong>da</strong>s contra a pressão<strong>da</strong> expansão européia, cabia rejeitar qualquer proposta quepermitisse maior influência estrangeira na vi<strong>da</strong> políticanacional.Nesse sentido, o pensamento de Euclides <strong>da</strong> Cunhaparece dialogar com sua própria interpretação <strong>da</strong> guerrade Canudos. Como vimos, na luta entre os “sertanejos retrógrados”,mas não degenerados, contra os “mestiços instáveisdo litoral”, havia prevalecido a superiori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> técnicae <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> moderna civilização que, um tantocontraditoriamente, era porta<strong>da</strong> pela guerra. Esses mestiçosbrasileiros, capazes de esmagar as “raças mais fracas”,ou, no caso, as mais “atrasa<strong>da</strong>s” do território brasileiro,estariam, no entanto, por sua vez, em situação de evidente“inferiori<strong>da</strong>de” ante os povos europeus, étnica, biológicae culturalmente estáveis, munidos ain<strong>da</strong> de um poderiomilitar capaz de submeter povos ain<strong>da</strong> em formação aosseus propósitos. A lógica que move o escritor reflete comnitidez a articulação entre o discurso <strong>da</strong> luta entre gruposhumanos pelos recursos naturais necessários à sobrevivência,e um discurso político que justifica a ação imperialistapor considerar simplesmente natural a uma nação como aAlemanha, “expandir-se, sistematicamente conquistadora,arriscando-se às maiores lutas” (Cunha, 1923b, p.34).Observa-se, portanto, o caráter genérico e impreciso<strong>da</strong> retórica <strong>da</strong>rwinista, capaz de, ao mesmo tempo, conferirsentido a uma briga de “patos, gansos, galinhas, pequenose grandes”, e à política internacional. Resta saber se umadoutrina que tudo explica, servindo-se <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong>superiori<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> força, do conflito e <strong>da</strong> conquista, é realmentecapaz de explicar alguma coisa. No entanto, o papel<strong>da</strong> “sociologia <strong>da</strong> luta” na condução dos rumos <strong>da</strong> históriaa partir do final do século XIX recomen<strong>da</strong> não menosprezarseu poder, senão analítico, retórico e ideológico.“Uma ver<strong>da</strong>deira saga <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> sua vitóriasobre o homem”Na literatura brasileira de extração naturalista-realista,adquire destaque o terceiro aspecto <strong>da</strong> luta pela sobrevivênciaprevisto por Spencer e Darwin, referente à lutade uma espécie (ou o conjunto delas) de um <strong>da</strong>do ambientecontra as limitações que esse lhe impõe. Esse sentido <strong>da</strong>luta, pouco desenvolvido teoricamente pelos dois maioresexpoentes do evolucionismo, foi amplamente representadono Brasil, mediante uma literatura que tem como temarecorrente a luta do homem contra a natureza do país. Defato, é peculiarmente excêntrica no panorama intelectualbrasileiro a visão encomiástica de Porque me ufano do meupaís – right or wrong, my country, de Affonso Celso (1900),em que parte significativa dos louvores ao Brasil está fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>na exaltação <strong>da</strong> grandiosi<strong>da</strong>de e riqueza de seumeio físico.Mais representativo <strong>da</strong> visão de sua época é outro livrobastante popular e também direcionado à formação

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