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VolareClub: Você foi uma espécie de tradutor <strong>do</strong> budismotibetano, então, aqui no Brasil?Lama: Eu tenho essa sensação, de que minha funçãoé essa, mais de um tradutor, um facilita<strong>do</strong>r, alguémque ajuda as pessoas a compreender a riqueza destacultura, não só <strong>do</strong> budismo tibetano, mas das diferenteslinhagens e abordagens que o budismo apresenta, paraque elas consigam, de algum mo<strong>do</strong>, fazer surgir essebudismo contemporâneo, que vai responder às questões daatualidade, porque o budismo não é algo que vem prontototalmente. Ele vem num nível sutil, mas no nível temporalde manifestação, ele se adapta às culturas e se organiza emdiferentes regiões e nacionalidades de uma forma autônoma,com ensinamentos e ênfases um pouco diferentes. Há umnúcleo comum, mas com algumas aptidões particulares, pelopróprio encontro cultural com as regiões onde se manifesta.O ponto central <strong>do</strong> budismo é beneficiar as pessoas ondeelas estão.VolareClub: Sua caminhada espiritual não lhe impediu detrabalhar, ter mais de um casamento e cinco filhos, fundaruma comunidade alternativa e defender o meio ambiente.Essa inserção na vida mundana é uma característica <strong>do</strong>budismo ou <strong>do</strong> lama brasileiro?Lama: Essa é uma feição mais ocidental. Aqui os alunossão to<strong>do</strong>s leigos, enquanto no Oriente, os alunos, por umtempo, são alunos monásticos. Agora, a linhagem Ningma,que é a linhagem a qual pertenço, é umpouco assim também, porque ela surgiuda junção de um monge, um yogue e umleigo, o impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tibete. Eles fundaramo budismo tibetano. Mais adiante surgiramoutras linhagens, e esse budismo ficou sen<strong>do</strong>conheci<strong>do</strong> como budismo antigo, até queum impera<strong>do</strong>r posterior decidiu restituiro bongo, a religião antiga <strong>do</strong> Tibete, eproscreveu o budismo. Então os mongesforam obriga<strong>do</strong>s a voltar para o mun<strong>do</strong>,constituíram família, se transformaramem senhores de terra, forman<strong>do</strong> em voltadeles uma estrutura de pessoas, comouma comunidade. Isso dá uma face para obudismo tibetano, onde os lamas não sãoapenas monges, mas líderes grupais, sociais.Isso é uma característica especialmenteNingma. O Chagdud Rinpoche era isso, eleveio para o Brasil e montou uma comunidadeNingma, em Três Coroas, com muitasfamílias. Eles são maiores <strong>do</strong> que nós, elestêm 45 hectares, e nós aqui, 12 hectares.A quantidade de famílias não difere muitoentre as duas, em torno de 60, mas eles têmmais reservas, mais bosques.VolareClub: Então pode-se dizer que entre o Aveline, olíder das causas ambientais <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s anos 70, início<strong>do</strong>s anos 80, e o lama Padma Samten de hoje não existeuma ruptura, mas uma continuidade...Lama: O que houve foi uma transição <strong>do</strong> aspecto externopara o interno. Se queremos alguma transformaçãoexterna, precisamos de uma transformação interna,essencialmente isso. Me dei conta que a questãoambiental e ecológica necessitava de uma transformaçãointerna. Eu vivia uma dicotomia: uma visão espiritual,em faixa três, e uma necessidade de agir no mun<strong>do</strong>, emfaixa <strong>do</strong>is. Então cruzei para a faixa três em ação social, eisso foi o início da comunidade Caminho <strong>do</strong> Meio. Me deiconta que a transformação ecológica e a transformação<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> precisava de núcleos onde a transformaçãoda consciência já estivesse em marcha. Então, há umacontinuidade. Estamos aqui, hoje, construin<strong>do</strong> este teci<strong>do</strong>social que veio a partir de um trabalho de transformaçãointerna, e que se estabelece como um embrião deterra pura, que acolhe outras pessoas, e onde vamostransforman<strong>do</strong> as relações e as tecnologias.VolareClub: Faixa <strong>do</strong>is, faixa três, terra pura. Queconceitos são esses?Lama: Terra pura é um conceito budista, orienta aEscola Caminho <strong>do</strong> Meio e penetra as várias ações<strong>do</strong>s CEBBs. Refere-se a um ambiente que é físico ematerial, mas também é mental e emocional, ondepodemos manifestar de forma mais natural as melhoresqualidades <strong>do</strong> nosso coração. É uma visão que nosimpulsiona a constituir um mun<strong>do</strong> melhor, está voltadaa promover a vida humana preciosa e as boas conexõesemocionais, que transformam nossa vida em uma vidamelhor. Dentro dessa perspectiva, a nossa vida setransforma, fican<strong>do</strong> mais disponível para o caminhoespiritual. Já, operação em faixa um, <strong>do</strong>is e três sãoexpressões que venho usan<strong>do</strong> nas palestras e aulas, quese referem à maneira como os indivíduos funcionam nomun<strong>do</strong>. Faixa um é quan<strong>do</strong> nós respondemos de formaautomatizada a tu<strong>do</strong> que acontece. Quem opera emfaixa um não tem nenhum pensamento a respeito dascoisas, simplesmente se move, seguin<strong>do</strong> um impulsoque brota <strong>do</strong>s cinco senti<strong>do</strong>s. Na faixa <strong>do</strong>is, as pessoastêm uma compreensão da causalidade e uma visãoestratégica, mas essa visão estratégica se dá pordentro de realidades limitadas, como se fossem bolhasde realidade – o trabalho, a família, visões locais decultura, etc. Nesta faixa, as pessoas treinam, avançam,têm a sensação de um real progresso, mas toda essasensação se dá dentro de bolhas de realidade. A faixa3 vai além da causalidade, ela traz a compreensão dainseparatividade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> interno e externo, que vaipermitir a visão de terra pura. É um méto<strong>do</strong> de olharas coisas internas e externas. Em faixa três, quan<strong>do</strong>olhamos alguma coisa, não só vemos aquilo, comovemos que a nossa mente responde àquilo de um certomo<strong>do</strong>, e não de outro, percebemos que a mente poderesponder de várias formas, e que é possível escolher omo<strong>do</strong> como nossa mente vai responder. Em faixa três,temos familiaridade com nosso mun<strong>do</strong> interno, e issonos permite direcionar a nossa ação.VolareClub: E o lama opera em qual faixa?Lama: To<strong>do</strong>s nós operamos as três, mas o centro daminha operação é a faixa três. Quan<strong>do</strong> opero em faixa<strong>do</strong>is, com os assuntos de administração, por exemplo,opero em faixa <strong>do</strong>is, mas inspira<strong>do</strong> pela três. Opero emtrês e quatro, porque a quatro é o aspecto da inspiração,então o centro é faixa quatro, é onde aparece a energia,o foco e o impulso de ação, a intenção iluminada, asabe<strong>do</strong>ria primordial, tu<strong>do</strong> isso é faixa quatro.VolareClub: Como a espiritualidade, de um mo<strong>do</strong> geral,e o budismo, em particular, podem ajudar as pessoas eo mun<strong>do</strong>?Lama: A espiritualidade funde este mun<strong>do</strong> internoonírico com o mun<strong>do</strong> externo, ela opera com outrasrealidades que se refletem sobre a nossa, como sefossem outras inteligências que atuam em planos quenós não vemos e atuam sobre nós. É como as coisas<strong>do</strong> planeta Terra, por exemplo, elas não dizem respeitosó ao planeta Terra, porque a vida aqui depende <strong>do</strong>Sol. O nosso mun<strong>do</strong> interno, da mesma forma, tambémé sustenta<strong>do</strong> por outras regiões sutis que emanam etrazem, por exemplo, a compaixão. Quan<strong>do</strong> começamosa olhar o mun<strong>do</strong> interno, descobrimos que existemcentros de radiação positiva, que nos energiza. Aespiritualidade nos permite compreender essas forçasamplas. As pessoas estão imaginan<strong>do</strong> que a história éfeita pelas guerras, mas a história é feita de compaixão,compaixão é o que há de permanente. O budismo etodas as tradições contemplativas observam o nossomun<strong>do</strong> interno, que é muito profun<strong>do</strong>, muito sutil, e quetermina comandan<strong>do</strong> o que nós vemos. Essas tradiçõesolham como a nossa mente opera, onde os obstáculose as visões limitadas surgem, de mo<strong>do</strong> que possam serpercebidas e trabalhadas. O budismo atua neste ponto,ele ajuda a perceber e remover os obstáculos internos,o que pode nos ajudar em vários campos, desde asquestões ambientais, tecnológicas, a psicologia, ciência,arquitetura, nas formas de viver.Perfil4243

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