(Figura 1, 6 e 7). O que se observa, em aspectosgerais, é que os espécimes estão distribuídos fora dazona <strong>de</strong> caminhamento estabelecida pelo turismo, seconcentrando em regiões que não sofremdiretamente com a compactação do solo porpisoteamento. Em cavida<strong>de</strong>s naturais, a faunageralmente se distribui por todo o sistema, já que osmicrohabitats estão, em sua maioria, distribuídos portodo o piso e pare<strong>de</strong> das cavernas (FERREIRA,2004; FERREIRA et al., 2009). A distribuição <strong>de</strong>invertebrados por todo o sistema, também ocorre emcavida<strong>de</strong>s subterrâneas artificiais não turísticas(Bernardi, dados não publicados), e em locais naMina do Chico Rei on<strong>de</strong> não há fluxo intenso <strong>de</strong>visitantes. Desta forma, a maneira como o turismo éconduzido po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar os locais on<strong>de</strong> osespécimes po<strong>de</strong>m se abrigar e estabelecer suaspopulações. Por outro lado, tais zonas <strong>de</strong>caminhamento <strong>de</strong>vem sempre ser <strong>de</strong>terminadas emfunção da distribuição original das espécies no meiosubterrâneo. Para isso <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados ospadrões <strong>de</strong> distribuição das espécies durante nomínimo um ano, abrangendo estações <strong>de</strong> seca echuva. Além disso, é importante <strong>de</strong> sejam feitosacompanhamentos periódicos da fauna, já queativida<strong>de</strong>s turísticas po<strong>de</strong>m alterar a distribuição <strong>de</strong>invertebrados em sistemas subterrâneos(FERREIRA, 2004).Além dos fatores ligados à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>habitats, a presença <strong>de</strong> recursos alimentares tambémpo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante na distribuição daspopulações. As comunida<strong>de</strong>s presentes emcavida<strong>de</strong>s subterrâneas artificiais, como emcavernas, também apresentam gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> material orgânico proveniente dosistema epígeo. Em ambos os sistemas a ausência <strong>de</strong>luz não permite o crescimento <strong>de</strong> organismosfotossintetizantes, tornando os mesmos, na maiorparte dos casos, oligotróficos (FERREIRA, 2004). AMina do Chico Rei passa periodicamente porvistorias que visam melhorar a condição do turismoe <strong>de</strong>ixar o ambiente mais ―agradável‖ ao público.Nestas ocasiões a pouca matéria orgânica quepenetra no sistema é removida, no intuito <strong>de</strong>melhorar a aparência da cavida<strong>de</strong> e evitar aproliferação <strong>de</strong> insetos que possam incomodar osturistas. Desta forma, esta cavida<strong>de</strong> apresenta-seextremamente pobre em recursos orgânicos. Assim,é <strong>de</strong> se esperar que as populações mantenham umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos concentrados nasproximida<strong>de</strong>s da entrada, on<strong>de</strong> existem musgos ealgas. Além disso, locais on<strong>de</strong> existem restosorgânicos <strong>de</strong>ixados pelos turistas tambémconcentram invertebrados.A quantida<strong>de</strong> e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursosalimentares em sistemas subterrâneos po<strong>de</strong>mBernardi, Souza-Silva & Ferreira. Consi<strong>de</strong>rações sobre os efeitos do turismo. .influenciar diretamente o tamanho das populaçõesno meio subterrâneo (FERREIRA, 2004;MARTINS, 2009). Desta forma, quando se visa oestabelecimento do turismo em uma cavida<strong>de</strong>, éimportante que se possibilite a manutençãoa<strong>de</strong>quada do fluxo <strong>de</strong> energia. Este é certamente umfator <strong>de</strong>cisivo na manutenção <strong>de</strong> populações <strong>de</strong>invertebrados, mesmo em sistemas que recebemmilhares <strong>de</strong> visitantes (EBERHARD, 2001).Na Caverna Lapa Nova <strong>de</strong> Maquiné(Cordisburgo, MG), foi observada uma situaçãosemelhante à encontrada na Mina do Chico Rei(FERREIRA, 2004). Nesta caverna, a fauna tambémten<strong>de</strong> a se abrigar em zonas adjacentes às áreas <strong>de</strong>visitação, on<strong>de</strong> são encontrados recursos carreadospor turistas. A maior parte <strong>de</strong>stes recursoscompreen<strong>de</strong> restos orgânicos, como objetos <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira (e.g. fósforo, palitos <strong>de</strong> sorvete), restos <strong>de</strong>alimento e papel, e permanecem ali após a realizaçãoda ativida<strong>de</strong> turística (FERREIRA, 2004).Com o <strong>de</strong>correr das ativida<strong>de</strong>s antrópicas nacavida<strong>de</strong>, era esperado que a fauna se <strong>de</strong>slocassepara áreas <strong>de</strong> pouca visitação, ao longo do dia.Entretanto, observou-se que, com a entrada dosturistas, as populações se mantiveram concentradasnos mesmos locais, não havendo alterações emrelação à distribuição prévia à realização das visitas.Tal fato sugere que as comunida<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a sea<strong>de</strong>quar ao turismo não por meio <strong>de</strong> contínuas―expansões‖ e ―retrações‖ cíclicas das populações. Asolução aparentemente conseguida <strong>de</strong>corre dapermanência das populações em áreas que não sãodiretamente afetadas pela ação <strong>de</strong> impactos diretoscomo pisoteamento.Embora indiscutivelmente importante, oturismo, se realizado <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada, po<strong>de</strong>levar à redução populacional <strong>de</strong> certas espécies oumesmo à extinção local <strong>de</strong> certos grupos. Destaforma, é fundamental, durante o planejamentoprévio da utilização turística <strong>de</strong> uma dada cavida<strong>de</strong>,que aspectos bióticos sejam consi<strong>de</strong>rados. Em certascavernas, on<strong>de</strong> o manejo é a<strong>de</strong>quado, é possível amanutenção das condições <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> energia parao sistema e a manutenção da fauna (EBERHARD,2001). Além disso, existem casos on<strong>de</strong> elementos dafauna acabam tornando-se um dos principaisatrativos turísticos. Como exemplo po<strong>de</strong>-se citar ascavernas da Nova Zelândia, on<strong>de</strong> o principal atrativoé uma pequena larva <strong>de</strong> diptera bioluminescente(Diptera: Keroplatidae: Arachnocampa sp.), mesmoem cavernas on<strong>de</strong> há um gran<strong>de</strong> nível <strong>de</strong> cargaturística (EBERHARD, 2001).Campinas, SeTur/SBE. Turismo e Paisagens Cársticas, 3(2), 2010.74
Bernardi, Souza-Silva & Ferreira. Consi<strong>de</strong>rações sobre os efeitos do turismo. .4.2. Variação no microclimaVillar e colaboradores (1984) em um estudo<strong>de</strong>senvolvido na caverna <strong>de</strong> Altamira, Espanha,mostraram que o fluxo <strong>de</strong> pessoas po<strong>de</strong> produzir, emmédia, uma energia equivalente à 170W. Estaliberação <strong>de</strong> energia po<strong>de</strong> alterar pontualmente ascondições climáticas dos sistemas subterrâneos(PULIDO-BOSH et al., 1997; LOBO, 2006b). Omesmo foi observado na Mina do Chico Rei, on<strong>de</strong>com a entrada <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> turistas e ofuncionamento do sistema <strong>de</strong> iluminação nacavida<strong>de</strong> elevou os valores <strong>de</strong> temperatura e aumida<strong>de</strong> relativa. Segundo Pulido-Bosch ecolaboradores (1997) o fluxo <strong>de</strong> turistas e ailuminação elétrica são responsáveis pelo aumentoda temperatura na Caverna <strong>de</strong> Marvels. Nestacaverna, o número <strong>de</strong> turistas mostrou-sepositivamente correlacionado com a elevação datemperatura e a umida<strong>de</strong>. É importante ressaltar queno estudo conduzido por Pulido-Bosch ecolaboradores (1997), o período <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dadosfoi realizada durante 23 horas, ao contrário <strong>de</strong>steestudo on<strong>de</strong> foi realizada apenas uma coleta após ointervalo <strong>de</strong> 30 minutos <strong>de</strong> funcionamento dailuminação. Por este motivo po<strong>de</strong>m ter sidoobservado estas diferenças nas variações dosparâmetros abióticos.Em sistemas muito isolados, tais como geodosgigantes, mesmo um pequeno número <strong>de</strong> turistaspo<strong>de</strong> alterar o microclima, elevando a temperaturanestes ambientes (FERNÁNDEZ-CORTÉS et al.,2006). Além disso, os espaços confinados nãopermitem uma rápida dispersão dos impactos, osquais acabam resultando em interferências maisintensas e durante prazos maiores <strong>de</strong> tempo(FERNÁNDEZ-CORTÉS et al., 2006; LOBO,2006b).Trabalhos relacionados aos impactos sonorosem sistemas subterrâneos ainda são muito escassos(LOBO; ZAGO. 2009). Mas em um estudo pioneirono Brasil realizado por Lobo e Zago (2009) naCaverna Morro Preto no Petar, mostrou através <strong>de</strong>monitoramento <strong>de</strong> variações ambientais indícios queapontam para a incidência <strong>de</strong> poucos impactosambientais negativos <strong>de</strong>rivados da emissão sonora.Mas apesar <strong>de</strong> não existirem estudos maisespecíficos, alguns organismos po<strong>de</strong>m serinfluenciados tanto pela presença <strong>de</strong> turistas comopelos distúrbios causados por estes. Souza-Silva eFerreira (2009) apontam que o turismo na Caverna<strong>de</strong> Ubajara <strong>de</strong>ve ser conduzido em silêncio e comcautela, nos locais com agregações <strong>de</strong>ssesorganismos. Evitando assim, afugentar os mesmos episotear em seu guano.4.3. Consi<strong>de</strong>rações sobre a implantação <strong>de</strong>turismo em cavida<strong>de</strong>sComo anteriormente mencionado, ativida<strong>de</strong>sturísticas po<strong>de</strong>m acarretar em alterações climáticas,nas condições <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microhabitats enas vias <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> recurso em cavida<strong>de</strong>ssubterrâneas artificiais. Desta forma, algumasmedidas <strong>de</strong>vem ser tomadas previamente e durante oestabelecimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s turísticas emcavida<strong>de</strong>s subterrâneas para que seja feito ummanejo efetivo da fauna.A manutenção <strong>de</strong> espaços on<strong>de</strong> existemmicrohabitats passíveis <strong>de</strong> serem colonizados porinvertebrados é algo que po<strong>de</strong> auxiliar namanutenção das espécies em sistemas subterrâneos.Segundo Ferreira (2004) a gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>microhabitats po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o número <strong>de</strong> espéciesem sistemas subterrâneos. Cavernas extensas e queapresentam uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microhabitatsten<strong>de</strong>m a ser mais ricas que cavernas <strong>de</strong> pequenoporte e com microhabitats limitados. Como apontadopor Ferreira e colaboradores (2009), oestabelecimento <strong>de</strong> rotas turísticas bem <strong>de</strong>limitadas éimprescindível durante a elaboração do plano <strong>de</strong>manejo <strong>de</strong> um sistema subterrâneo. Para tal, <strong>de</strong>ve-seevitar que o turismo seja conduzido por locais on<strong>de</strong>haja uma elevada riqueza. Além disso, áreas com apresença <strong>de</strong> espécies raras, endêmicas e ameaçadas<strong>de</strong> extinção, tais como os troglóbios, <strong>de</strong>vem serprotegidas da ação do turismo (SESSSEGOLO et al.,2004b; FERREIRA et al., 2009; SOUZA-SILVA,2009; FERREIRA, 2009). Como observado porSouza-Silva e Ferreira (2009), locais comagregações <strong>de</strong> morcegos <strong>de</strong>vem ser evitados, paraque estes organismos não sejam afugentados pelotrânsito <strong>de</strong> pessoas, já que eles são importantesprovedores <strong>de</strong> recursos alimentares para os sistemassubterrâneos.O estabelecimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga <strong>de</strong>um sistema também é <strong>de</strong> suma importância emsistemas subterrâneos (LOBO et al., 2009). Uma vezque as ativida<strong>de</strong>s turísticas geram alterações natemperatura e umida<strong>de</strong> relativa dos sistemassubterrâneos, grupos muito gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> turistaspo<strong>de</strong>m vir a prejudicar o crescimento <strong>de</strong>espeleotemas e alterar o formato <strong>de</strong> rochas(SHOPOV, 2004).O planejamento prévio da utilização <strong>de</strong>cavernas para o turismo é essencial, tendo em vistaque estas ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m interferir em diversasestruturas e processos inerentes a estes sistemas(EBERHARD, 2001; FERNÁNDEZ-CORTÉS etal., 2006). Nesta perspectiva, estudos realizados emsistemas subterrâneos artificiais são essenciais, poisCampinas, SeTur/SBE. Turismo e Paisagens Cársticas, 3(2), 2010.75
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