Richardson (1999, p.70) consi<strong>de</strong>ra que esse “método<strong>de</strong> pesquisa significa a escolha <strong>de</strong> procedimentossistemáticos para <strong>de</strong>scrição e explicação <strong>de</strong>fenômenos”.Esse estudo foi realizado por meio <strong>de</strong> umacombinação <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica e <strong>de</strong> pesquisa<strong>de</strong> campo. Essa pesquisa foi realizada por meio <strong>de</strong>visitas às cavernas: Lapa D´Água, Lapa Gran<strong>de</strong>,Lapa Claudina e o Vale do Peruaçuzinho,localizadas na região do Norte <strong>de</strong> Minas Gerais.Como suporte a essa pesquisa, também foi realizadoum levantamento bibliográfico em diversas fontes,tais como livros, artigos em períodos especializadose bases eletrônicas <strong>de</strong> dados. A pesquisabibliográfica proporcionou uma melhor discussão dotema a ser investigado, que permitiu orientar osquestionamentos <strong>de</strong>sse estudo.Participaram dos trabalhos <strong>de</strong> campo oEspeleogrupo Peter Lund, <strong>de</strong> Montes Claros, MG.As observações participantes (BRUYNE et al.,1977) foram realizadas durante as ativida<strong>de</strong>splanejadas pelo grupo estudado EPL. Para arealização das coletas <strong>de</strong> dados, foram realizadas aobservação participante durante visitas às cavernas.Foram observados o comportamento dos integrantesdo EPL com relação as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas esua interação com o ambiente cavernícola.Essas observações foram planejadas,sistematicamente registradas e submetidas àsverificações e ao controle <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> precisão.Além disso, os participantes foramentrevistados, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dado,proporcionando uma maior exploração do universo<strong>de</strong> significações dos envolvidos.A área escolhida para a coleta <strong>de</strong> dados foi omunicípio <strong>de</strong> Montes Claros - MG, por ser ummunicípio <strong>de</strong> geomorfologia cárstica, on<strong>de</strong> a práticado espeleismo po<strong>de</strong> ser vivenciada. A escolha daamostra para a realização <strong>de</strong>sse estudo <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>forma intencional e levou em conta critérios <strong>de</strong>representativida<strong>de</strong> e acessibilida<strong>de</strong> (BRUYNE et al,1977). O grupo pesquisado foi composto por <strong>de</strong>za<strong>de</strong>ptos da ativida<strong>de</strong> do espeleismo, <strong>de</strong> ambos osgêneros, pertencentes ao Espeleogrupo Peter Lund -EPL.A escolha pelo EPL se <strong>de</strong>u em função doprazer, da alegria e do entusiasmo <strong>de</strong> seusintegrantes em realizar as suas ativida<strong>de</strong>s emcavernas. Parece que, ao realizar as ativida<strong>de</strong>s emcavernas, os integrantes do EPL estão totalmenteentregues a essas ativida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo ser percebidopor meio da satisfação individual <strong>de</strong> cada um. Umoutro ponto importante a ser <strong>de</strong>stacado nessa escolha<strong>de</strong>ve-se à gran<strong>de</strong> experiência <strong>de</strong>sses atores sociais naMen<strong>de</strong>s, et al. A contribuição da prática do espeleismo no bem-estar corporalexploração <strong>de</strong> caverna, na pesquisa e na preservaçãodo patrimônio espeleológico, arqueológico e culturalmineiro, no seu contexto físico e histórico, bemcomo no ecossistema, buscando divulgar o seu valorcientífico e a conscientização das pessoas acerca daimportância da natureza. Destaca-se, ainda, opioneirismo do grupo no norte <strong>de</strong> Minas, comrelação às ativida<strong>de</strong>s na área <strong>de</strong> caverna.O EPL é uma Organização nãoGovernamental sem fins lucrativos, com se<strong>de</strong> emMontes Claros, Minas Gerais. Atualmente, o EPL éuma entida<strong>de</strong> filiada ao Instituto Gran<strong>de</strong> Sertão-IGS 4 , on<strong>de</strong> exerce um importante papel na áreatécnica e operacional em cavernas.O Espeleogrupo Peter Lund – EPL foifundado em 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1989. O EPL, alémda homenagem nominal a Peter Lund, um precursorda pesquisa em cavernas no Brasil, tem comopatrono o historiador e professor montesclarenseSimeão Ribeiro Pires. A criação do grupo se <strong>de</strong>u apartir do Clube Excursionista <strong>de</strong> Montes Claros-CEMC, entida<strong>de</strong> responsável por ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>montanhismo na região.A criação do EPL também se <strong>de</strong>u em virtu<strong>de</strong>do gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> cavernas naregião. Preocupado com a preservação <strong>de</strong>ssascavernas, foi criado o EPL, <strong>de</strong>ntro do CEMC, como<strong>de</strong>rivação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>partamento que respon<strong>de</strong>ria porativida<strong>de</strong>s em cavernas.Segundo o objetivo do estatuto do EPL, ogrupo foi criado para pesquisa e preservação dopatrimônio espeleológico, arqueológico e culturalbrasileiro, no seu contexto físico e histórico, bemcomo o ecossistema, buscando divulgar o seu valorcientífico e a conscientização.De acordo com o estatuto do EPL, as açõesestão pautadas em <strong>de</strong>senvolver e implementar basesconceituais e estratégicas, metodologias,mecanismos e instrumentos, em cooperação comentida<strong>de</strong>s, órgãos, autorida<strong>de</strong>s competentesnacionais, estrangeiras e internacionais, naimplementação <strong>de</strong> políticas ambientais, sociais eeconômicas proponentes à conservação dos recursosnaturais, da diversida<strong>de</strong> biológica, e ao<strong>de</strong>senvolvimento sustentável do país, bem comoplanejar, executar ações que objetivem a preservaçãoambiental, através <strong>de</strong> encontros, eventos, pesquisas,e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intercâmbio com órgãos, entida<strong>de</strong>s einstituições nacionais e estrangeiras, sobre termos <strong>de</strong>interesse comum.São quinze anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação do EPL emativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caverna. Foram vários trabalhosrealizados em cursos básicos <strong>de</strong> espeleologia,exploração do potencial espeleológico <strong>de</strong> MontesCampinas, SeTur/SBE. Turismo e Paisagens Cársticas, 3(2), 2010.82
Men<strong>de</strong>s, et al. A contribuição da prática do espeleismo no bem-estar corporalClaros, registrando cerca <strong>de</strong> cento e cinquentaocorrências <strong>de</strong> cavernas e <strong>de</strong> abrigos. Esse grupo<strong>de</strong>scobriu e mapeou a Lapa Sem Fim, localizada nomunicípio <strong>de</strong> Luislândia, no Norte <strong>de</strong> Minas Gerais.A exploração da Lapa Sem Fim, emLuislândia, Norte <strong>de</strong> Minas Gerais, foi realizada peloEspeleogrupo Peter Lund e a União Paulista - UP <strong>de</strong><strong>Espeleologia</strong>, que, em conjunto, iniciaram o trabalho<strong>de</strong> exploração e <strong>de</strong> topografia.A parceria do EPL com a União Paulista foimuito importante, pois resultou em váriaspublicações <strong>de</strong> revistas, divulgando o trabalho <strong>de</strong>topografia da Lapa do Sem Fim. O Grupo Bambuítambém fez incursões na Lapa do Sem Fim, o qualpublicou um livro intitulado Como as gran<strong>de</strong>scavida<strong>de</strong>s naturais subterrâneas. Ronaldo Lucrécio,integrante do EPL, aparece nesse livro como um dosprecursores dos estudos da Lapa Sem Fim.Além disso, essa parceria incentivou afundação <strong>de</strong> outras ONGs na região, como oEspeleogrupo Vale do Peruaçu (EVP), emItacarambi-MG, que está em plena ativida<strong>de</strong>. EssaONG tem um vínculo com a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Lavras, fazendo diagnóstico e inventário regionalsobre as cavida<strong>de</strong>s naturais subterrâneas nas áreas daJaíba, <strong>de</strong> Itacarambi e <strong>de</strong> Januária, cida<strong>de</strong>spertencentes ao norte <strong>de</strong> Minas Gerais. Há, ainda, OEspeleogrupo Brasília <strong>de</strong> Minas (EBM), que temuma ativida<strong>de</strong> restrita, o Grupo <strong>de</strong> <strong>Espeleologia</strong>Orientada (GEO), em Januária - MG, e o Grupo <strong>de</strong>São João das Missões, que compartilha, junto com oGrupo Peruaçu e o Grupo GRUCAVE, o qual oRonaldo Lucrécio, integrante do EPL, formou <strong>de</strong>ntroda Instituição FUNORTE SOEBRÁS, em MontesClaros, e o Instituto Gran<strong>de</strong> Sertão (IGS), com se<strong>de</strong>em Montes Claros, Minas Gerais, criado paraincentivar e promover a cidadania, a educação e acultura, a preservação do meio ambiente e o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, por meio <strong>de</strong> palestraseducativas.Recentemente, a maior conquista do EPL foicriar junto ao município e ao Estado o ParqueEstadual Lapa Gran<strong>de</strong>, localizado no município <strong>de</strong>Montes Claros - MG, que possui um gran<strong>de</strong>potencial arqueológico e espeleológico em MinasGerais.4 Resultados e DiscussãoPara a análise do bem-estar corporal entre osintegrantes do EPL, foram criados cinco indicadorescom base nos resultados das entrevistassemiestruturadas e da observação participante. Oprimeiro indicador foi relativo aos significados dacaverna. O segundo indicador referiu-se aossignificados do espeleismo. O terceiro indicadortratou dos motivos para a prática do espeleismo. Oquarto indicador referiu-se à relação serhumano/caverna, por meio da prática do espeleismo.O quinto indicador referiu-se aos sentidos corporaispresentes no espeleismo. Esses indicadoresvincularam-se ao bem-estar corporal <strong>de</strong>correntes daprática do espeleismo.Houve um consenso entre os entrevistados,quanto ao bem-estar corporal, em função da práticado espeleismo. Os benefícios vincularam-se à paz, àtranquilida<strong>de</strong>, à harmonia, à existência <strong>de</strong> umcansaço bom; ao lazer; à sociabilida<strong>de</strong>, à religião; àemoção e aos sentidos corporais;O primeiro indicador refere-se aossignificados da caverna. Os significados atribuídos àcaverna, por parte <strong>de</strong>sses integrantes, foram: paz;tranquilida<strong>de</strong>; harmonia e a sociabilida<strong>de</strong>.No que se refere à paz e a tranquilida<strong>de</strong>como benefícios para o bem-estar corporal,<strong>de</strong>corrente da prática do espeleismo, os sujeitos 07 e08 fazem consi<strong>de</strong>rações importantes.O sujeito 07 associa caverna a um ambiente<strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> paz, em que o visitanteencontra-se consigo mesmo:[...] on<strong>de</strong> ele encontra a paz, eu <strong>de</strong>slocodo mundo <strong>de</strong>ssa correria que a gente tem aquifora. Lá eu fico mais tranquilo, relaxo, euviajo ali <strong>de</strong>ntro. Seria esse momento <strong>de</strong> meencontrar, <strong>de</strong> paz mesmo, <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong>[..] (Sujeito 07) (grifo nosso)O sujeito 08 também consi<strong>de</strong>ra acaverna como lugar <strong>de</strong> paz, <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong>absoluta, ambiente <strong>de</strong> introspecção, <strong>de</strong> aventura, <strong>de</strong>mistério, <strong>de</strong> magia, <strong>de</strong> beleza, <strong>de</strong> sensações, muitodiferente do mundo urbano:[...] um lugar on<strong>de</strong> reina tranquilida<strong>de</strong>absoluta. Não tem luz, não tem barulho. A luze o barulho é você quem leva (...). É umambiente <strong>de</strong> introspecção. Tem esse lado mais<strong>de</strong> introspecção. Tem o lado <strong>de</strong> aventura etem o lado <strong>de</strong> mistério. Ambiente mágico<strong>de</strong>vido às belezas cênicas, sensação <strong>de</strong> paz,<strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> silêncio. (Sujeito 08)(grifo nosso)Dentre os vários significados atribuídos àcaverna pelo o sujeito 08, ressalta-se a caverna como“um ambiente <strong>de</strong> introspecção, que po<strong>de</strong> buscarmeditação, po<strong>de</strong> buscar a tranquilida<strong>de</strong>”. (Sujeito08)Campinas, SeTur/SBE. Turismo e Paisagens Cársticas, 3(2), 2010.83
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