Isso faz com que a coluna d’água <strong>de</strong>ssa ensea<strong>da</strong> mantenha-se oxigena<strong>da</strong>, apesar <strong>de</strong> frequentementese apresentar levemente sub-satura<strong>da</strong> (Baumgarten et al., 1995). Ao canal <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>,segue a área central <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> média é <strong>de</strong> 1,5 metros.Fernan<strong>de</strong>z et al. (2007) mencionam que, <strong>de</strong>vido ao maior tempo <strong>de</strong> residência <strong>da</strong>s águas doSaco <strong>da</strong> Mangueira em relação às áreas <strong>de</strong> canal do estuário, esta ensea<strong>da</strong> funciona na estocagem e,no caso <strong>de</strong> vazante (Figura 2), na exportação <strong>de</strong> nutrientes para o eixo do estuário. Ventos <strong>da</strong> direçãosul causam o <strong>de</strong>créscimo do nível <strong>da</strong> água <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> e ventos <strong>de</strong> nor<strong>de</strong>ste causam a elevação<strong>de</strong>sse nível, o que é também favorecido pelo aumento do índice pluviométrico na região.A instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na hidrodinâmica <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> explica as variações espaciais etemporais na salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> coluna d’água. Na Figura 3 se observa uma relativa salinizaçãodo Saco <strong>da</strong> Mangueira no inverno <strong>de</strong> 1995, quando ocorreram ventos do quadrante sul naregião e entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> água do estuário na ensea<strong>da</strong>, numa situação diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong> que é maiscomum, com as águas doces e mixohalinas predominando no inverno, apesar <strong>de</strong> as águasmixohalinas serem mais freqüentes na ensea<strong>da</strong>.A instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> espaço-temporal também é observa<strong>da</strong> no nível trófico <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> e écausa<strong>da</strong> por vários processos que po<strong>de</strong>m melhorar ou piorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental em algumasépocas do ano. Dentre aqueles que promovem melhorias, se <strong>de</strong>staca a entra<strong>da</strong> e permanência <strong>da</strong>água marinha oligotrófica, pobre em fitonutrientes, que proporciona uma diluição e um <strong>de</strong>créscimonas concentrações dos nutrientes e <strong>da</strong> DBO e, consequentemente, uma menor eutrofização.Entretanto, quando há ressuspensão <strong>da</strong> coluna sedimentar contamina<strong>da</strong>, o efeito é inverso. AFigura 3 mostra a o acréscimo <strong>de</strong> amônio nas águas marginais à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (muita matéria orgânica<strong>de</strong>posita<strong>da</strong> sobre o fundo) e <strong>de</strong> fosfato e amônio na área junto ao Distrito Industrial (<strong>de</strong>pósito <strong>de</strong>emissões industriais), quando a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> água marinha ressuspen<strong>de</strong>u os sedimentos <strong>de</strong> fundo.Figura 3 – Variaçõesmensais <strong>da</strong>sconcentrações <strong>de</strong>amônio, fosfato esalini<strong>da</strong><strong>de</strong> na água <strong>de</strong>dois locais no Saco <strong>da</strong>Mangueira e no Sacodo Justino (Baumgartenet al., 2001).38<strong>Fepam</strong> em <strong>Revista</strong>, Porto Alegre, v.3, n.2, p.34-42, 2010.
Figura 4 – Floração<strong>de</strong> Aphanothece sp. noSaco <strong>da</strong> Mangueira. A)acumula<strong>da</strong> e em<strong>de</strong>composição namargem <strong>da</strong> indústria<strong>de</strong> processamento <strong>de</strong>grãos vegetais. B)colônias mucilaginosasdispersas na água. C)<strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>ssascolônias.A eutrofização é reforça<strong>da</strong> quando há acréscimo dos aportes <strong>de</strong> efluentes domésticos,por exemplo, com o aumento <strong>de</strong> chuvas na região, como no inverno e primavera. Issofoi documentado na Figura 5, que mostra elevação na clorofila a e consequente aumento <strong>da</strong>eutrofização em algumas áreas mais contamina<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong>.Em geral, os resultados salientam que o Saco <strong>da</strong> Mangueira se divi<strong>de</strong> em áreasdistintas em termos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água, em função dos tipos <strong>de</strong> aportes que ca<strong>da</strong> umarecebe. Na área central e nas áreas <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> e do fundo <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> a eutrofização é menospronuncia<strong>da</strong>, pois nas duas primeiras, a maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a maior hidrodinâmica e amaior influência <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> água marinha conferem maior potencial <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>puraçãodos aportes que aí chegam. O fundo <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> é a área mais distante do estuário, sendo alimaior a distância <strong>da</strong>s fontes antrópicas urbanas e industriais.As duas áreas laterais <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> são mais eutrofiza<strong>da</strong>s, o que ficou evi<strong>de</strong>nte pelacomparação <strong>de</strong>ssa com outra ensea<strong>da</strong>, o Saco do Justino, on<strong>de</strong> não há aportes <strong>de</strong> efluentes(Figura 3). Uma <strong>de</strong>ssas áreas fica junto à margem <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> e aí há intensos lançamentos<strong>de</strong> efluentes domésticos diretamente ou ligados na re<strong>de</strong> pluvial. Nessa área também são lançadosos efluentes <strong>de</strong> duas indústrias <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> pescados. Tudo isso gera um enriquecimentona água dos fitonutrientes amônio e fosfato, além <strong>de</strong> uma alta DBO, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>composição<strong>da</strong> matéria orgânica presente nesses efluentes e ain<strong>da</strong>, a presença <strong>da</strong> bactéria E. coli,indicando contaminação fecal recente <strong>de</strong>ssas águas na ocasião amostra<strong>da</strong> (Figura 5).A eutrofização <strong>de</strong>ssa área resulta em florações <strong>da</strong> cianobactéria Aphanothecesp. (Araújo, 2005), conheci<strong>da</strong> como ranho-<strong>de</strong>-marinheiro, <strong>de</strong>vido a aparência gelatinosae esver<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>da</strong>s colônias mucilaginosas <strong>de</strong> suas florações. Quando empurra<strong>da</strong>spelo vento e on<strong>da</strong>s (Figura 4), essas colônias acumulam-se nas margens on<strong>de</strong>bóiam ou se <strong>de</strong>positam sobre o fundo, impedindo a oxigenação <strong>da</strong> coluna sedimentaratravés <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>nso tapete biológico sobre a mesma. Estas floraçõestêm um crescimento explosivo exponencial, autolimitante e <strong>de</strong> curta duração, sendoque quando dominam o ambiente, baixam a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> natural, apesar <strong>de</strong> nãoliberarem toxinas. Após morrerem, aumentam a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria orgânica aser <strong>de</strong>composta no ambiente que já estava eutrófico, proporcionando uma poluiçãovisual e alterações no odor e gosto <strong>da</strong> água. Além disso, o excesso <strong>de</strong> matéria orgânicaem <strong>de</strong>composição gera subsaturações intensas <strong>de</strong> oxigênio na coluna sedimentar,o que resulta na liberação <strong>de</strong> compostos gasosos (amônia. metano, sulfetos), tóxicose mal cheirosos.<strong>Fepam</strong> em <strong>Revista</strong>, Porto Alegre, v.3, n.2, p.34-42, 2010.39