AGRICULTURAVESPASA importância das vespas como agentes no controle biológico de pragasProfº Fábio PrezotoDepartamento de Zoologia.Universidade Federal de Juiz de Forafprezoto@icb.ufjf.brFotos cedidas pelos autoress insetos são o mais numerosogrupo de animaissobre a face da Terra e,devido a sua influêncianas mais diferentes atividadeshumanas, têm sido objeto deestudo há muitos anos. Com o passardo tempo, a relação dos insetos como homem levou-os a serem classificados,do ponto de vista econômico,em insetos úteis ou nocivos.Entre os insetos, a ordem Hymenopteraé uma das que mais chamaa atenção, com cerca de 103 milespécies conhecidas, compreendendoinsetos como formigas (15 milespécies), abelhas (20 mil espécies)e vespas (cerca de 68 mil espécies)(GILLOTT, 1995).As vespas ou marimbondos sãoinsetos abundantes, que apresentamum alto grau de sinantropismo, ouseja, de associação com o homem. Émuito comum encontrar ninhos devespas construídos ao redor de edificaçõeshumanas. Embora todo oconhecimento popular sobre as vespasgire em torno de suas dolorosasferroadas e do seu grande númerode indivíduos, que saem do ninhopara atacar, cabe dizer que a açãonociva desses insetos é extremamenteirrelevante quando levamosem conta a contribuição deles tantono aspecto ecológico quanto no econômico.A grande maioria das vespas épredadora de inúmeras pragas agrícolase, consequentemente, agentesvaliosos no controle biológico destas.Mesmo em baixos níveis populacionais,os predadores contribuem nadiminuição da quantidade de pragas,reduzindo os picos de infestação quandomuitos inimigos naturais de hospedeirosespecíficos são ineficientes(DeBACH, 1951).Dentre as vespas sociais, o gêneroPolistes se destaca como um importanteagente de controle biológico,devido principalmente à facilidadede manipulação e translocação desuas colônias para abrigos artificiais.Na Carolina do Norte, RABB & LAW-SON (1957), verificaram que a introduçãode colônias de vespas dessegênero na cultura do fumo reduziuem 68% o dano causado pela lagartaProtoparce sexta (Johan). SegundoMORIMOTO (1961), uma única colôniade Polistes pode predar 2.000lagartas de Pieris rapae L., praga dacouve, durante seu ciclo de desenvolvimento.No Brasil, estudos recentes feitospor PREZOTO et al. (1994) e GIAN-NOTTI et al. (1995) trazem um levantamentodetalhado de presas capturadaspelas vespas Polistes simillimuse P. lanio lanio, respectivamente,sugerindo a utilização das mesmas nocontrole biológico de pragas agrícolas,uma vez que, em ambas as espécies,a maioria das presas capturadas24 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
Figura 2: Distribuição dos abrigosartificiais de madeira com colôniasde Polistes simillimus ao redor deuma quadra de milho experimental.Figura 1: Vespa forrageadora dePolistes simillimus trazendo pedaçode presa para a colônia (na Seta).correspondeu a lagartas de Lepidopteraque estavam presentes nas plantaçõespróximas aos ninhos estudados.O Japão e os E.U.A. possuemprogramas de manejo de colônias devespas desse gênero para abrigosartificiais instalados ao redor de plantações,com a finalidade de controledas pragas dessas culturas.A primeira pesquisa brasileira envolvendoa utilização de uma espéciede vespa social do gênero Polistes nocontrole biológico de pragas agrícolas,foi realizado por PREZOTO(1997), no Município de Piracicaba,SP. Nesta pesquisa, o autor procurouavaliar a ação predatória da vespasocial Polistes simillimus sobre aspragas do milho (Zea mays L.) emcampo, verificando os efeitos dessaassociação na produtividade da lavourae na incidência de pragas.O trabalho de PREZOTO (1997)foi realizado em duas etapas: a primeiradurante o período de novembrode 1994 a março de 1995 e asegunda de novembro de 1995 amarco de 1996. A primeira etapa dotrabalho avaliou o efeito da açãopredatória da vespa P. simillimus naprodutividade de uma lavoura demilho infestada com a “lagarta-docartucho”(Spodoptera frugiperda).Para tanto, infestou-se uma lavouraexperimental de milho de 500 m 2 (5quadras de 10 x 10 metros, distantes8 metros entre si) na sua fase inicialcom lagartas de primeiro ínstar dareferida lagarta. Após a completainfestação da lavoura, foram translocadas20 colônias de P. simillimus,em estágio inicial, de localidadespróximas para abrigos artificiais demadeira, distribuídos um em cadalado das 5 quadras -experimento.Também foram mantidas duas quadras-controles(sem infestação e semvespas), distantes cerca de 750 metrosda área experimental. Ao final dociclo da cultura, em março de 1995, acomparação da produção média dasquadras-experimento e quadras-controlerevelou que, devido à ação dasvespas, a produtividade das quadrasexperimentofoi 15,94% maior doque a produção das quadras controlepara o peso bruto de espigas e 13,07%maior em relação ao peso de grãos.A segunda etapa do trabalho quantificoua ação predatória das vespasP. simillimus sobre as pragas da culturado milho (5 quadras experimento)em relação à ocorrência naturaldas mesmas em uma cultura em condiçõesnormais (2 quadras-controle).O experimento seguiu a mesma metodologiada primeira etapa, comexceção da infestação com lagartasde S. frugiperda. Pela amostragemsemanal de 5 plantas em cada umadas quadras experimento e controle,estimou-se a incidência de pragas nasduas áreas e, por meio da coletasemanal de presas capturadas pelasvespas (5 horas por semana), identificou-sequais as pragas da cultura domilho estavam sendo predadas (TabelaI).Os resultados obtidos nas 12 coletasrealizadas durante o ciclo da culturado milho (novembro de 1995 amarço de 1996) revelaram que apredação de pragas exercida pelas 20colônias de P. simillimus na áreaexperimental, contribuiu para umaredução de 77,16% na incidência deS. frugiperda e 80% na população deHelicoperva zea (“lagarta-da-espiga”)em relação à área de controle.Esses resultados confirmam a excelenteatuação dessa espécie de vespano controle biológico das pragas esignificam uma economia para o agricultor,uma vez que acabam predandocom sucesso as pragas mais abundantesda cultura e diminuindo o gastocom inseticidas, que, muitas vezes,não controlam com eficiência a espéciedanosa, além de contribuir para apreservação do meio ambiente pelaprodução de produtos sem agrotóxicos.As vespas de P.simillimus encontrarame predaram de maneira eficienteas lagartas de S frugiperda, mesmoas escondidas dentro de partes daplanta, onde os produtos químicosnão atuam. A lagarta-do-cartucho é apraga mais importante e disseminada