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Jorge Luiz do Amaral - PPG-PMUS - Museu de Astronomia e ...

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iiFOLHA DE APROVAÇÃOA PRODUÇÃO DE RENDA IRLANDESA E SEUAPRENDIZADO EM CAMPOS DOSGOYTACAZES / RJDissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> submetida ao corpo <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-graduaçãoem Museologia e Patrimônio, <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas e Sociais daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro – UNIRIO e <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Astronomia</strong> eCiências Afins – MAST/MCT, como parte <strong>do</strong>s requisitos necessários à obtenção <strong>do</strong>grau <strong>de</strong> Mestre em Museologia e Patrimônio.Aprovada porProfª. Drª. ______________________________________________Maria Cecilia <strong>de</strong> Castello Branco FantinatoProfª. Drª. ______________________________________________Diana Farjalla Correia LimaProf. Dr. _____________________________________________________Marcio D’Olne Campos (Orienta<strong>do</strong>r)Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011


ivANEXO ICAPA/LOMBADA<strong>Amaral</strong>,<strong>Jorge</strong> <strong>Luiz</strong>A produção<strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>saeseuaprendiza<strong>do</strong>emCampos<strong>do</strong>s Goytacazes,RJUNIRIO-MAST2011


vAGRADECIMENTOSAgra<strong>de</strong>ço aos professores <strong>do</strong>utores Tereza C. Scheiner, Marcus Granatto, DianaF. C. Lima, Lena Vânia, Ivan Coelho <strong>de</strong> Sá, <strong>Luiz</strong> C. Borges, Heloisa Costa e NilsonMoraes que contribuíram na minha formação nesse mestra<strong>do</strong>. À professora mestreAvelina Ad<strong>do</strong>r que sem medir esforços me incentivou e me preparou para o início <strong>de</strong>ssacaminhada. Agra<strong>de</strong>ço em especial ao meu orienta<strong>do</strong>r prof. Dr. Marcio D’Olne Camposque <strong>de</strong> forma incansável se <strong>de</strong>dicou pacientemente na minha orientação acadêmica. Aosmeus familiares e amigos pela compreensão <strong>de</strong> minha ausência durante o curso.


viÀ Maria da Penha Ângelo Manhães (foto) <strong>de</strong>dico este trabalho como prova <strong>de</strong>agra<strong>de</strong>cimento pela sua atenção e carinho com que me recebeu. Sua <strong>de</strong>dicação ao ensinoda renda irlan<strong>de</strong>sa é contagiante e envolvente. Maria da Penha é um Patrimônio Vivo.


viiRelembrar a importância da continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processocultural a partir <strong>de</strong> nossas raízes não representa uma aceitaçãosubmissa e passiva <strong>do</strong>s valores <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, mas a certeza <strong>de</strong> queestão ali os elementos básicos com que contamos para aconservação <strong>de</strong> nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural.Aloísio Magalhães


viiiAMARAL, <strong>Jorge</strong> <strong>Luiz</strong> <strong>do</strong>. A Produção <strong>de</strong> Renda Irlan<strong>de</strong>sa e seu Aprendiza<strong>do</strong> em Campos <strong>do</strong>sGoytacazes/RJOrienta<strong>do</strong>r: Marcio D’Olne Campos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: <strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong>-UNIRIO/ MAST, 2011. Diss.RESUMOEsse trabalho refere-se à renda irlan<strong>de</strong>sa cujo mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer é reconheci<strong>do</strong> peloPrograma Nacional <strong>do</strong> Patrimônio Imaterial (PNPI) <strong>do</strong> IPHAN. Além da consi<strong>de</strong>raçãodas origens <strong>de</strong>ssa renda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Europa até a chegada ao Brasil, especialmente emDivina Pastora (SE), discorre-se sobre os diversos tipos <strong>de</strong> pontos utiliza<strong>do</strong>s na suaconfecção. Um breve histórico <strong>do</strong> que levou à inscrição no PNI é apresenta<strong>do</strong> e sãodiscuti<strong>do</strong>s aspectos patrimoniais e <strong>de</strong> classificação da renda irlan<strong>de</strong>sa com relação àcomparação com a similar renda renascença. É apresentada uma pesquisa sobre umprograma <strong>de</strong> ensino da renda irlan<strong>de</strong>sa e suas repercussões em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes(RJ).


ixAMARAL, <strong>Jorge</strong> <strong>Luiz</strong> <strong>do</strong>. The production of Irish Lace and its Learning in Campos <strong>do</strong>sGoytacazes/RJAdvisor: Marcio D’Olne Campos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: <strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong>-UNIRIO/ MAST, 2011. MSc.ABSTRACTThis work refers to the Irish lace whose way of <strong>do</strong>ing is recognized by theNational Program of Immaterial Heritage (PNPI) of IPHAN. The origins of this lacefrom Europe until its introduction in Brazil, particularly in Divina Pastora (SE), arediscussed together with the various types of stitches used in its manufacture. A briefhistory of what led to the inscription on the PNPI is presented and are also discussedsome aspects and Irish lace classification compared to the similar renascence lace. Aresearch about the teaching of the techniques of the Irish lace and its repercussions onthe production of this lace in Campos <strong>do</strong>s Goytacazes (RJ) is presented.


xLISTA DE FIGURAS


xiLISTA DE FIGURASPÁG.Figura 1- Borda<strong>do</strong> em ponto cheio..............................................................................22Figura 2- Borda<strong>do</strong> em ponto vaza<strong>do</strong>...........................................................................22Figura 3- Borda<strong>do</strong> Richelieu.......................................................................................23Figura 4- Borda<strong>do</strong> crivo ou labirinto...........................................................................23Figura 5- Borda<strong>do</strong> em teci<strong>do</strong>.......................................................................................24Figura 6- Borda<strong>do</strong> em teci<strong>do</strong> e tule.............................................................................24Figura 7- Borda<strong>do</strong> em tule...........................................................................................25Figura 8- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda turca...........................................................................25Figura 9- Ponto <strong>de</strong> Veneza ou ponto <strong>de</strong> Burano........................................................26Figura 10- Broche em filigrana em ouro e pedra preciosa.........................................40Figura11- Borda<strong>do</strong> em macramê ou Abrolhos............................................................41Figura 12- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer borda<strong>do</strong> labirinto ou crivo................................................41Figura 13- Borda<strong>do</strong> labirinto ou crivo.........................................................................42Figura 14- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer borda<strong>do</strong> ren<strong>de</strong>ndê ou Hardanger........................................42Figura 15- Tricô...........................................................................................................43Figura 16- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda turca.........................................................................44Figura 17- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer ponto <strong>de</strong> Irlanda.................................................................45Figura 18- Crochê........................................................................................................45Figura 19- Renda irlan<strong>de</strong>sa..........................................................................................46Figura 20- Renda renascença.......................................................................................46Figura 21- Renda <strong>de</strong> bilro............................................................................................47Figura 22- Navete (instrumento utiliza<strong>do</strong> para a confecção da renda frivolité...........48Figura 23- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda frivolité....................................................................48Figura 24- Renda frivolité...........................................................................................49Figura 25- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda nhanduti...................................................................50Figura 26- Renda nhanduti..........................................................................................50Figura 27- Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda filé............................................................................51Figura 28- Renda filé...................................................................................................51Figura 29- Maria da Penha Ângelo Manhães..............................................................60Figura 30- Rosângela <strong>do</strong>s Santos Cabral.....................................................................63Figura 31- Teonília Maria Rangel Simão (à direita)....................................................64Figura 32- Maria José <strong>de</strong> Souza Santos.......................................................................65


xiiLISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASARTESOL – Programa <strong>de</strong> Artesanato SolidárioASDEREN – Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong> DivinaPastoraCE - CearáCNFCP – Centro Nacional <strong>do</strong> Folclore e Cultura PopularDPI – Departamento <strong>de</strong> Patrimônio ImaterialDVD – Digital Vi<strong>de</strong>o Disc ou Digital Versatile DiscGTPI _ Grupo <strong>de</strong> Trabalho Patrimônio ImaterialINEP – Instituto Nacional <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas EducacionaisIPHAN – Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalNE - Nor<strong>de</strong>stePE – PernambucoPNPI – Programa Nacional <strong>de</strong> Patrimônio Imaterial<strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong> - Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em MuseologiaPRONAC – Programa Nacional <strong>de</strong> Apoio à CulturaRJ – Rio <strong>de</strong> JaneiroSE – SergipeUNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a culturaUNIRIO - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro


xiiiLISTA DE QUADROSQuadro 1- Materiais e instrumentos para as rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascença................53Quadro 2- Tratamentos e beneficiamentos para as rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascença......53


10 THE TRIBAL PARTICIPANTS OF THE EXODUSBut as evi<strong>de</strong>nt from the lack of agreement, these factors wereina<strong>de</strong>quate and unsatisfactory to <strong>de</strong>termine the tribal participants.for, although the Joseph tribes were admitted to themost prominent in the sojourn traditions of Genesis 37–49,this tradition was dismissed by the advocates of the Sinai-Rachel group as a late invention.The <strong>de</strong>termining of the tribal relationship of Moses wasalso non-conclusive. For, as Paton summarized, Ex. 2:1 (E)and 6:16–20 (P) consi<strong>de</strong>r Moses as a Levite, but Ju 7:17mentions a Levite from Bethlehem-Judah, and 18:30 says ofhim, “Jonathan, the son of Gershom, the son of Moses, 44 heand his sons were priests to the tribe of Danites unto the dayof the captivity of the land,” thus witnessing to a tradition thatthe Levites of Dan were <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>d from Moses. 45Paton also maintains that J never refers to Moses as aLevite, but rather (after Luther) refers to him as an Ephramite.Likewise, the attempt to i<strong>de</strong>ntify Moses with either of the twosites was unsuccessful. On the one hand Ex. 2:15f (J) and 3:1(E), which state respectively that Moses fled from Egypt toMidian and lived with the priest of Midian and that Mosesatten<strong>de</strong>d the flocks of his Midianite father-in-law in Horeb,i<strong>de</strong>ntify him with Sinai. On the other hand, Meyer joined Ex.2:33 with 4:19 and asserted that the revelation of Yahwehcame to Moses on his way to Egypt from Midian, and arguedthat the burning bush (Ex. 3:2) was a thorn bush in Ka<strong>de</strong>shwhich burned from natural gas in the area. 46The conclusion of these earlier scholars as to the originof the Mosaic religion was also unsuccessful in <strong>de</strong>finitelyi<strong>de</strong>ntifying the tribal participants of the sojourn and exodus.While maintaining that Judah and the Kenites worshipedYahweh prior to the exodus 47 and that the Mosaic concept ofYahweh was introduced to the Joseph tribes in consequence


17Iguaçu, Moreira Car<strong>do</strong>so e Rio das Ostras. Ao contrário <strong>do</strong> que ocorreu em 2001quan<strong>do</strong> os artesãos <strong>de</strong>senvolviam ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção muito diversas, em 2002 tivesomente alunas que se <strong>de</strong>dicavam à costura e aos borda<strong>do</strong>s,Nessa experiência com os artesãos <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> conheci em Campos <strong>do</strong>sGoytacazes a aluna Maria da Penha Ângelo Manhães. A mesma apren<strong>de</strong>u a técnica <strong>de</strong>renda irlan<strong>de</strong>sa na Escola Nilo Peçanha e, uma vez formada, passou a ser instrutoranum programa <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>iras da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Cultura. Com ela,conheci a renda irlan<strong>de</strong>sa, e passei a me interessar por essa técnica, ten<strong>do</strong> me torna<strong>do</strong>aprendiz da mesma naquele programa ao longo <strong>de</strong> 2002. A partir daí me sentiestimula<strong>do</strong> a elaborar um plano <strong>de</strong> trabalho para o mestra<strong>do</strong> em Museologia ePatrimônio <strong>do</strong> <strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong> da UNIRIO, visan<strong>do</strong> primordialmente as ativida<strong>de</strong>s relativasà renda irlan<strong>de</strong>sa em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes.Des<strong>de</strong> 2002 venho me <strong>de</strong>dican<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> da renda irlan<strong>de</strong>sa, e a partir <strong>de</strong>2009, manten<strong>do</strong> contato com Maria da Penha Manhães, minha interlocutora maisimportante neste projeto. Mais tar<strong>de</strong>, nas ativida<strong>de</strong>s educativas <strong>de</strong>sempenhadas porMaria da Penha, em momentos diversos, me coloquei como observa<strong>do</strong>r e também comoaluno/observa<strong>do</strong>r-participanteEste aprendiza<strong>do</strong> me estimulou a buscar informações sobre as origens da rendairlan<strong>de</strong>sa bem como sobre a sua chegada ao Brasil. De origem europeia, sobre o quediscorreremos mais tar<strong>de</strong>, esta se <strong>de</strong>senvolve a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX no nor<strong>de</strong>stebrasileiro e <strong>de</strong> forma pre<strong>do</strong>minante a partir <strong>do</strong> século XX em Divina Pastora (SE), assimcomo em outras cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sergipe.A renda irlan<strong>de</strong>sa e a renda renascença, bem como todas as outras quesurgiram no século XV, resultam <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong> borda<strong>do</strong>, peloqual inicialmente se usava somente teci<strong>do</strong>s como suporte que gradativamente foramsen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>s pelas tramas finas, chamadas <strong>de</strong> renda.No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ssa pesquisa foi proposta uma alternativa à classificação <strong>do</strong>sgrupos <strong>de</strong> rendas (DANTAS, 2001 e NÓBREGA, 2005) consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os materiais einstrumentos utiliza<strong>do</strong>s, assim como os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> fazer. Além disso, foram


20que abordam as origens da renda irlan<strong>de</strong>sa e da renda renascença com seus aspectossimilares, bem como a prática da renda irlan<strong>de</strong>sa em Divina Pastora (SE), tornan<strong>do</strong>-sereferência para o Registro no Livro <strong>do</strong>s Saberes <strong>do</strong> IPHAN.No terceiro capítulo, que é composto por três seções, são apresentadas ações <strong>de</strong>caráter patrimonial, tais como a conservação e preservação que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram osprocessos para o reconhecimento <strong>do</strong>s saberes populares/patrimônio imaterial e registroda renda irlan<strong>de</strong>sa. É proposta uma nova divisão das rendas em três grupos eapresentadas algumas reconsi<strong>de</strong>rações sobre a classificação das rendas. Indica-sepublicações e meios eletrônicos utiliza<strong>do</strong>s na transmissão <strong>do</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>sa<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI até o presente.No quarto capítulo composto por duas seções, discorre-se a respeito da construção<strong>do</strong> conhecimento sobre a renda irlan<strong>de</strong>sa, assim como o ensino e o aprendiza<strong>do</strong> naformação das borda<strong>de</strong>iras em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes.2. ASPECTOS HISTÓRICOS E PATRIMONIAIS DAS ATIVIDADESRENDEIRAS E DA RENDA IRLANDESAAs rendas originaram-se historicamente da confecção <strong>de</strong> borda<strong>do</strong>s, os quaisteriam surgi<strong>do</strong> posteriormente à invenção da agulha no perío<strong>do</strong> neolítico. As fibrasnaturais vegetais e animais, como, o linho, o algodão, a lã e a seda, foram as primeiras aserem usadas pelo homem para a confecção <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s e assim utiliza<strong>do</strong>s como suportepara o borda<strong>do</strong>.Há referências ao borda<strong>do</strong> por volta <strong>do</strong> século VIII a. C. na obra Ilíada, canto III<strong>de</strong> Homero, quan<strong>do</strong> fala <strong>de</strong> Helena: “Ela estava em seu palácio, traçan<strong>do</strong> um borda<strong>do</strong>sobre uma gran<strong>de</strong> tela que tinha a brancura <strong>do</strong> alabastro; representava os numerososcombates que os troianos, hábeis em <strong>do</strong>mar os corcéis, e os gregos, couraça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ferro,haviam sustenta<strong>do</strong> por amor daquela mulher” (DREYFFUS, 1959, p. 197-199).


21A renda aparece por um processo <strong>de</strong> transformação no qual são reduzidas astramas <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> para dar lugar à renda. Em alguns casos, o teci<strong>do</strong> <strong>de</strong>saparececompletamente manten<strong>do</strong>-se como base apenas o cadarço que dá suporte aos pontos.Esse é o caso da renda irlan<strong>de</strong>sa que é tipicamente confeccionada com agulha <strong>de</strong>costura, linha e cadarço.Este processo <strong>de</strong> transformação ocorre por uma evolução na utilização <strong>de</strong> váriostipos <strong>de</strong> pontos feitos com agulha <strong>de</strong> costura e fios <strong>de</strong> algodão. Assim <strong>de</strong>screve ChristusNóbrega (2005, p. 28-30), a partir <strong>de</strong> quem apresentamos a seguir uma síntese daevolução <strong>de</strong>sses pontos até chegar às rendas, renascença e irlan<strong>de</strong>sa, com o ponto noar.O referi<strong>do</strong> processo é ilustra<strong>do</strong> abaixo por diversos tipos <strong>de</strong> rendas e imagens,tomadas pelo autor <strong>de</strong>sta dissertação, para exemplificar essa transformação.Nos primeiros borda<strong>do</strong>s se utiliza comumente <strong>do</strong> teci<strong>do</strong>, geralmente linho oualgodão, como suporte para trabalhar o ponto cheio. Com agulha <strong>de</strong> costura e linha <strong>de</strong>algodão ou seda, são preenchidas as partes previamente <strong>de</strong>finidas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho (risco) noteci<strong>do</strong>. Os pontos percorrem um movimento <strong>de</strong> vai-vem resultan<strong>do</strong> num relevo <strong>de</strong> faixas<strong>de</strong> formas diversas, preenchidas por um conjunto <strong>de</strong> linhas paralelas.


23Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 3 – borda<strong>do</strong> Richelieu.Evolui-se então para o borda<strong>do</strong> com fios puxa<strong>do</strong>s (fili tirati) que consiste em<strong>de</strong>sfiar partes <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> visan<strong>do</strong> estruturar e interligar os <strong>de</strong>senhos <strong>do</strong> borda<strong>do</strong> pelatrama <strong>de</strong> fios remanescentes. Os encontros <strong>do</strong>s fios e as bordas <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> sãoarrematadas com agulha e linha <strong>de</strong> algodão dan<strong>do</strong> lugar à técnica conhecida no Brasilcomo renda <strong>de</strong> crivo ou renda labirinto;Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 4 – borda<strong>do</strong> crivo ou labirinto.


24Nos processos <strong>de</strong> transformação há outros borda<strong>do</strong>s nos quais o teci<strong>do</strong> vai<strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> completamente para dar lugar ao entrelaçamento <strong>do</strong>s pontos <strong>do</strong> borda<strong>do</strong>.Há casos em que se utiliza o tule como base <strong>do</strong> borda<strong>do</strong> em substituição ao teci<strong>do</strong>;Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 5 – borda<strong>do</strong> em teci<strong>do</strong>.Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 6 – borda<strong>do</strong> em teci<strong>do</strong> e tule.


25Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 7 – borda<strong>do</strong> em tule.A partir da redução paulatina <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> suporte chega-se ao tipo <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>ponto no ar (punto in aire) na qual não se usa mais qualquer teci<strong>do</strong> como suporte.Utiliza-se apenas agulha <strong>de</strong> costura e linha <strong>de</strong> algodão para a elaboração <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>renda e como exemplo temos o ponto <strong>de</strong> Valsesia (puncetto valsesiano) confecciona<strong>do</strong>na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valsesia na região <strong>de</strong> Piemonte (Itália) e conheci<strong>do</strong> no Brasil como rendaturca.Fonte: http://www.alagna.it/m/home.php?sid=163&n=Il-PuncettoFig. 8 – mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda turca/ ponto <strong>de</strong> valsesia


26Esse perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transformações e aparecimento <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> rendas incluiaquelas nas quais há somente nastros ou fitas finas <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s que serão unidas eentrelaçadas por pontos <strong>de</strong> borda<strong>do</strong>. Este ponto é conheci<strong>do</strong> também como ponto <strong>de</strong>Veneza e ponto <strong>de</strong> Burano.Fonte: http://www.sbngs.it/italia--veneto--venezia/arte--da-non-per<strong>de</strong>re/merletti-filostrumento-<strong>de</strong>llarte-6-13-giugno-a-mestre-ve/7139Fig. 9 – ponto <strong>de</strong> Veneza ou ponto <strong>de</strong> Burano.Devi<strong>do</strong> ao surgimento <strong>de</strong> vários pontos utiliza<strong>do</strong>s na confecção <strong>de</strong> diferentestipos <strong>de</strong> rendas, foram edita<strong>do</strong>s entre os séculos XV e XVI, na Itália, os livros <strong>de</strong>padrões. Isso torna o artesanato <strong>de</strong> rendas conheci<strong>do</strong> em outras localida<strong>de</strong>s,principalmente o da renda renascença que recebe esse nome por ter surgi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong><strong>do</strong> Renascimento. (NÓBREGA, 2005, p.33).saber:Segun<strong>do</strong> Nóbrega (2005, p. 35-36), as rendas são classificadas em <strong>do</strong>is grupos, a- rendas <strong>de</strong> bilro: são confeccionadas com o auxílio <strong>de</strong> bilros, pequenosinstrumentos nos quais se enrolam as linhas que serão entrelaçadas forman<strong>do</strong> a textura<strong>de</strong> renda- rendas <strong>de</strong> agulha: são confeccionadas com agulhas.


27A renda irlan<strong>de</strong>sa como qualquer outra renda artesanal requer várias etapas emsua confecção, as quais fazem parte <strong>de</strong> um processo no qual há principalmente a criação<strong>do</strong> <strong>de</strong>senho e a confecção da renda.Para a execução da renda irlan<strong>de</strong>sa, o cadarço, também conheci<strong>do</strong> como lacêconsiste num cordão <strong>de</strong> algodão <strong>de</strong> secção ovalada revesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> fios <strong>de</strong> viscose. Essarenda requer outros materiais como: linha mercer-crochet constituída em 100% <strong>de</strong>algodão merceriza<strong>do</strong> fabrica<strong>do</strong> com fibras <strong>de</strong> algodão <strong>do</strong> Egito, linha <strong>de</strong> costura, papeltransparente, papel grosso, agulha <strong>de</strong> costura e riscos (também conheci<strong>do</strong>s como mol<strong>de</strong>,<strong>de</strong>senho ou <strong>de</strong>buxo). Na elaboração <strong>de</strong>sta renda são utiliza<strong>do</strong>s vários pontos distintosque formam figuras, texturas e relevos diversos. Algumas figuras com pontos sãoconhecidas como: abacaxi, aranha <strong>de</strong> parte, aranha meia lua, aranha re<strong>do</strong>nda, barrete,cocada, ponto, tijolinho, linha passada, casea<strong>do</strong>, <strong>de</strong>nte <strong>de</strong> jegue, entre outrasA confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa obe<strong>de</strong>ce a diversas etapas. Inicialmente <strong>de</strong>ve-se“riscar” ou copiar em papel transparente o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>; em seguida cola-se opapel risca<strong>do</strong> sobre um papel grosso no qual vai ser alinhava<strong>do</strong> o lacê que acompanhaas formas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho. Depois, com o lacê já alinhava<strong>do</strong>, enrola-se o papel em pequenaalmofada cilíndrica ou travesseiro. Esse procedimento é mais usual em Divina Pastora(SE), quan<strong>do</strong> se trabalha com peças gran<strong>de</strong>s. Feito isto se preenche os espaços vaziosentre o lacê utilizan<strong>do</strong> vários pontos teci<strong>do</strong>s com agulha <strong>de</strong> costura e linha <strong>de</strong> algodãomercer-crochet. Desse mo<strong>do</strong> são interligadas as formas contornadas com o lacê.Termina<strong>do</strong> o trabalho, separa-se a renda <strong>do</strong> papel e <strong>do</strong> risco sobre os quais elafoi executada, cortan<strong>do</strong> os alinhavos que os prendiam. A peça <strong>de</strong> renda é limpacortan<strong>do</strong>-se os fiapos <strong>de</strong> linha e os restos <strong>do</strong> alinhavo (DANTAS, 2001, p.22-23).Assim, se realiza o processo <strong>de</strong> produção da renda irlan<strong>de</strong>sa. Processo este quejá faz parte <strong>do</strong> acervo <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Artes e Ofícios (Belo Horizonte/MG) apresenta<strong>do</strong>em forma <strong>de</strong> etapas individuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o alinhavo <strong>do</strong> cadarço à peça <strong>de</strong> rendaconfeccionada. Este processo ilustrativo das etapas foi <strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo autor <strong>de</strong>stadissertação após uma visita ao referi<strong>do</strong> museu em 2009.Além <strong>de</strong> caráter patrimonial imaterial, como já <strong>de</strong>scrito através <strong>do</strong> saber fazerrenda irlan<strong>de</strong>sa, a renda, em geral, também tem seu lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque como patrimônio


28material 2 em diversas coleções encontradas em instituições públicas e privadas. Comoexemplo temos em Messejana/Fortaleza (CE) a Casa <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Alencar que abriga o<strong>Museu</strong> Arthur Ramos. Este possui a coleção <strong>Luiz</strong>a Ramos composta <strong>de</strong> rendas <strong>de</strong> bilronacionais e internacionais formada entre os fins <strong>do</strong> século XIX e a primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>século XX. Essas rendas “ganharam o estatuto <strong>de</strong> peças museológicas e se tornaramobjetos <strong>de</strong> tratamento especial, constituin<strong>do</strong>-se num <strong>do</strong>s repositórios da memóriaartesanal brasileira” (DANTAS, 2003, p.212).2.1 – AS ORIGENS DA RENDA IRLANDESAA renda irlan<strong>de</strong>sa tem sua origem na Europa a partir <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s por volta <strong>do</strong>sséculos XV e XVI. Des<strong>de</strong> então esta foi apresentan<strong>do</strong> características distintas pelosdiferentes materiais utiliza<strong>do</strong>s como suporte para confecção em diferentes localida<strong>de</strong>s.Essas diferenças são <strong>de</strong>vidas ao aparecimento <strong>de</strong> novos produtos e materiaisindustrializa<strong>do</strong>s no século XX, promoven<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma dúvidas e contradiçõesrelacionadas ao seu nome original.Alguns autores consi<strong>de</strong>ram que a renda irlan<strong>de</strong>sa tem origem na Itália 3 e outrosatribuem sua origem à França (DILLMONT, s/d, p. 475). Essas opiniões são bastantedivergentes em alguns autores e Nóbrega (2005, p. 25) refere-se a uma disputa entreFlandres que luta pela autoria da renda <strong>de</strong> bilro e a Itália que reivindica a renda <strong>de</strong>agulha.No Brasil, especialmente em Divina Pastora (SE) a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ocorreu to<strong>do</strong> oprocesso <strong>de</strong> registro da renda irlan<strong>de</strong>sa no Livro <strong>do</strong>s Saberes (IPHAN) fala-se que foiintroduzida em escolas religiosas. No entanto não há informações coerentes sobre a suaintrodução no Brasil. Algumas fontes consultadas a relacionam com a renda renascença2 O patrimônio material “é composto por um conjunto <strong>de</strong> bens culturais classifica<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> suanatureza nos quatro Livros <strong>do</strong> Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; edas artes aplicadas. Eles estão dividi<strong>do</strong>s em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos epaisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos,<strong>do</strong>cumentais, bibliográficos, arquivísticos, vi<strong>de</strong>ográficos, fotográficos e cinematográficos”. Disponívelem: www.iphan.gov.br. Acesso em 18 jun. 2011.3 Várias páginas eletrônicas italianas que tratam <strong>do</strong> assunto rendas se referem às rendas renascença eirlan<strong>de</strong>sa como sen<strong>do</strong> originárias <strong>de</strong> Veneza, Itália.


uma vez que essas duas rendas apresentam características similares as quais serãodiscutidas na seção 2.1.1.Segun<strong>do</strong> Beatriz Góis Dantas a renda irlan<strong>de</strong>sa surge nos conventos <strong>de</strong> Sergipe,no início <strong>do</strong> século XX, com freiras irlan<strong>de</strong>sas que vieram <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>spedagógicas junto à população local e também com as sinhás que aprendiam a rendaratravés das publicações <strong>de</strong> trabalhos manuais que chegavam da Europa (DANTAS,2001, p. 14-15).Um exemplo <strong>de</strong> publicação é a “Encyclopédie <strong>de</strong>s Ouvrages <strong>de</strong> Dames” <strong>de</strong>Thérèze <strong>de</strong> Dillmont, na qual ela afirma a origem da renda irlan<strong>de</strong>sa da seguinte forma:29A renda irlan<strong>de</strong>sa, chamada também <strong>de</strong> renda renascença, porque é no séculoXVI que se começa a sua execução, é uma imitação das primeiras rendas embilro. Devia-se chamá-la <strong>de</strong> renda francesa, já que ela foi inventada naFrança, <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>ste país, foi levada para a Inglaterra e Irlanda 4(DILLMONT, s/d, p.475, tradução <strong>do</strong> autor).Outras <strong>de</strong>nominações também são dadas à renda irlan<strong>de</strong>sa que segun<strong>do</strong> AntonioArantes, referi<strong>do</strong> por Dantas, recebe o nome <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> Divina Pastora e também <strong>de</strong>ponto <strong>de</strong> Irlanda (DANTAS, 2001, p. 11).Além da renda renascença que às vezes é confundida com a renda irlan<strong>de</strong>satambém a renda ou ponto <strong>de</strong> Irlanda recebe a mesma nomenclatura, o que causa certos<strong>de</strong>sencontros em sua classificação tipológica e morfológica, o que veremos mais afrente.Muitas vezes se confun<strong>de</strong> a classificação das rendas quan<strong>do</strong> se utiliza <strong>de</strong> duastécnicas para a confecção <strong>de</strong> uma peça da mesma renda. Por algum tempo na Itália e nonor<strong>de</strong>ste brasileiro se produziu o lacê (fitilho ou cadarço) com a técnica <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>bilro para <strong>de</strong>pois utilizá-la como suporte para a confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa e tambémpara a renda renascença (DANTAS, 2005, p. 227-228). Com isso, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> dalocalida<strong>de</strong>, as rendas recebem nomes diferentes associa<strong>do</strong>s a uma <strong>de</strong>ssas técnicas.Retoman<strong>do</strong> a referência <strong>de</strong> Dillmont, po<strong>de</strong>mos verificar que são apresenta<strong>do</strong>s<strong>de</strong>z tipos diferentes <strong>de</strong> cadarços, aos quais ela se refere como galões (passamanaria) que4 « La <strong>de</strong>ntelle irlandaise, appellée aussi <strong>de</strong>ntelle Renaissance, parce que c’est au XVI siècle qu’on acommencé à la faire, une imitation <strong>de</strong>s premières <strong>de</strong>ntelles aux fuseaux. On <strong>de</strong>vrait plutôt l’appeler<strong>de</strong>ntelle française, attendu qu’elle fut inventée en France, puis, <strong>de</strong> ce pays, importée en Angleterre et enIrlan<strong>de</strong>” (DILLMONT, s/d, p.475).


30eram comercializa<strong>do</strong>s nos armarinhos. Desses, sete apresentam bordas vazadas que seassemelham ao fitilho utiliza<strong>do</strong> atualmente para a confecção da renda renascença(DILLMONT, s/d, p. 476).A instrutora Maria da Penha também em seus comentários, durante asentrevistas, fez alusão à utilização <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> materiais como suporte (cadarço)para a confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa que ela às vezes improvisa, em suas aulas, na falta<strong>do</strong> cadarço ovala<strong>do</strong> como é exemplifica<strong>do</strong> por ela na seção 4.2.Hoje no Brasil, usa-se um cadarço industrializa<strong>do</strong> <strong>de</strong> algodão e viscose <strong>de</strong>secção oval, produzi<strong>do</strong> pela fábrica Ypu (Nova Friburgo/RJ). Este é utiliza<strong>do</strong> comosuporte somente para a confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa. Nesse caso, não há mais anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se produzir tal suporte em bilro; essa inovação surge como característicainconfundível da textura da renda irlan<strong>de</strong>sa, fazen<strong>do</strong> com que a mesma se diferencie darenda renascença.2.1.1 A RENDA RENASCENÇA NA EUROPA - PRIMÓRDIOS DA RENDAIRLANDESA“No final <strong>do</strong> século XVI as rendas se tornaram acessórios <strong>de</strong> moda muitoimportantes e assim iniciou uma produção <strong>de</strong> enormes proporções em Burano. Venezaexportava para toda a Europa e tinha encomendas também <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> França Luis XIV(jabô para a sua coroação)” 5 (tradução <strong>do</strong> autor).A renda renascença tem sua origem também em Veneza, mas sua datação nãopo<strong>de</strong> ser confirmada já que, encontramos nas fontes consultadas os séculos XV, XVI eXVII.Esse tipo <strong>de</strong> renda faz parte <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> rendas <strong>de</strong> agulha e se caracteriza pelautilização <strong>de</strong> vários pontos distintos <strong>de</strong> borda<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> tapeçaria que são separa<strong>do</strong>s poruma fita estreita <strong>de</strong> algodão com furos nas bordas laterais, também conhecida como lacê5 “Alla fine <strong>de</strong>l XVI sec. I merletti divennero accessori di moda molto importanti e quindi iniziòuna produzione di enormi proporzioni a Burano. Venezia esportava in tutta Europa e aveva commesseanche dal re di Francia Luigi XIV (collare per la sua incoronazione)”. Disponível em:www.ilmerlettoveneziano.org Acesso 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z. <strong>de</strong> 2010.


31ou fitilho que serve <strong>de</strong> suporte para a confecção da renda, forman<strong>do</strong> <strong>de</strong>senhosfitomórficos, arabescos ou geométricos.Vale ressaltar que Nóbrega (2005, p. 154 et seq) menciona 108 pontos utiliza<strong>do</strong>sna confecção da renda renascença. Estes são em maior número e mais diversifica<strong>do</strong>sque os utiliza<strong>do</strong>s na confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa para a qual Dantas (2001, p. 27) conta16 pontos. Note-se que há vários pontos em comum nas duas técnicas <strong>de</strong> manufatura.Antes <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> lacê que conhecemos hoje, se confeccionava estesuporte para a execução da renda renascença em diferentes técnicas como bilro,pontinho (puncetto) e mais tar<strong>de</strong> em crochê.A renda renascença chegou ao Brasil no século XIX trazida por freiras francesasque se instalaram em conventos em Olinda (PE), mas se tornou <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio públicosomente a partir <strong>de</strong> 1930 e por volta da década <strong>de</strong> 50 chegou ao esta<strong>do</strong> da Paraíba, on<strong>de</strong>até hoje é produzida e comercializada (NÓBREGA, 2005, p. 44).No esta<strong>do</strong> da Bahia a renda renascença recebe o nome <strong>de</strong> renda inglesa <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aocomércio <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> manufaturas, incluin<strong>do</strong> o fitilho, oriundas da Inglaterra(NÓBREGA, 2005, p. 38).A renda renascença tem semelhanças com a renda irlan<strong>de</strong>sa, pois apresenta emsua elaboração a mesma técnica, mas sua textura, tratamentos e beneficiamentosrealiza<strong>do</strong>s a diferenciam, o que veremos adiante.No Brasil, o lacê utiliza<strong>do</strong> na renda renascença é produzi<strong>do</strong> por ArtesanatoNoemy Ltda (Poção, PE) que distribui para os <strong>de</strong>mais esta<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> artesãos se <strong>de</strong>dicama este fazer.2.1.2 DIVINA PASTORA (SE) E O ARTESANATO DA RENDA IRLANDESA NOBRASILDivina Pastora, pequena cida<strong>de</strong> localizada a 38 quilômetros <strong>de</strong> Aracaju na região<strong>de</strong> Cotinguiba que é uma antiga zona açucareira <strong>de</strong> Sergipe e conhecida pelaperegrinação ao Santuário <strong>de</strong> Divina Pastora e pela sua produção <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa(DANTAS, 2001, p.13).Há diferentes versões sobre a disseminação <strong>de</strong>sta técnica também em Sergipe.Alguns afirmam que foi através <strong>de</strong> freiras irlan<strong>de</strong>sas que se instalaram na região e


outros indicam que foi a Dona Ana Rolemberg no início <strong>do</strong> século XX, conformeapresenta Beatriz Góis Dantas, numa citação <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Cedran.Fomos informa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que a pessoa que introduziu a renda irlan<strong>de</strong>sa emSergipe foi Da. Ana Rolemberg, já falecida, que a apren<strong>de</strong>u com Da. VioletaSayão Dantas e a ensinou a Júlia Franco. Esta, por sua vez, a transmitiu aMarocas, Ercília, e Sinhá. Estas últimas três mulheres, já beiran<strong>do</strong> os oitentaanos, ensinam até hoje o ofício da renda a quase todas as outras artesãs <strong>de</strong>Divina Pastora (CEDRAN, 1979, in DANTAS, 2001, p. 15).Mesmo não haven<strong>do</strong> uma certeza sobre a origem da renda irlan<strong>de</strong>sa, o fato éque Divina Pastora vem se <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo na produção, na propagação<strong>do</strong> saber e na divulgação <strong>de</strong>ssa renda.Em Divina Pastora, o aprendiza<strong>do</strong> da renda irlan<strong>de</strong>sa, além <strong>de</strong> se fazer nasescolas, também ocorre por meio da transmissão oral nas ativida<strong>de</strong>s cotidianas emgrupos familiares ou <strong>de</strong> vizinhança (DANTAS, 2005, p.228). Além <strong>de</strong>ssas formas <strong>de</strong>aprendiza<strong>do</strong> há também a publicação <strong>de</strong> revistas especializadas em rendas que sãoencontradas em bancas <strong>de</strong> jornal, a preços acessíveis, as quais oferecem mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>peças <strong>de</strong> vestuário e <strong>de</strong> utilitários para serem copia<strong>do</strong>s, inclusive ensinan<strong>do</strong>, por etapas,a técnica <strong>de</strong> confecção e diferentes pontos <strong>de</strong> borda<strong>do</strong> (Anexo 1).Frequentemente há um intercâmbio <strong>de</strong>ssas publicações entre as ren<strong>de</strong>iras, que serevezam emprestan<strong>do</strong> as revistas para que se atualizem ou então aprendam outrospontos. Desse mo<strong>do</strong>, os antigos livros <strong>de</strong> padrões, direciona<strong>do</strong>s aos trabalhos <strong>de</strong>borda<strong>do</strong>s e rendas, que começaram a ser publica<strong>do</strong>s no século XVI, continuaram através<strong>do</strong>s anos chegan<strong>do</strong> à atualida<strong>de</strong> e manten<strong>do</strong> vivo este saber-fazer.Des<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> século XX foi toman<strong>do</strong> importância no cenário nacional acida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Divina Pastora, como um <strong>do</strong>s centros principais <strong>de</strong> transmissão da rendairlan<strong>de</strong>sa pelo Brasil (Renda Irlan<strong>de</strong>sa, 2010), além <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> o local principal parato<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> registro da renda irlan<strong>de</strong>sa, no Livro <strong>de</strong> Saberes, junto ao Iphan. Láas ren<strong>de</strong>iras criaram a Associação para o Desenvolvimento da Renda <strong>de</strong> Divina Pastora(ASDEREN) para que pu<strong>de</strong>ssem, <strong>de</strong> forma efetiva, divulgar e comercializar seus pro-dutos. Mas antes <strong>de</strong> se concretizar a organização <strong>de</strong>ssa cooperativa, o caminho foi longoe difícil, ten<strong>do</strong> em vista algumas dificulda<strong>de</strong>s relacionadas ao apoio governamental, àcomercialização e à divulgação. Entre as décadas <strong>de</strong> 70 e 80 houve políticas públicasque beneficiaram a divulgação e comercialização <strong>do</strong>s produtos confecciona<strong>do</strong>s em32


33renda irlan<strong>de</strong>sa, geran<strong>do</strong> exposição no Paço das Artes em São Paulo (1979) e fazen<strong>do</strong>parte <strong>do</strong> Catálogo <strong>do</strong> Artesanato Sergipano (1983) (DANTAS, 2005, p. 227).O perío<strong>do</strong> correspon<strong>de</strong>nte aos anos 70 e 80 foi <strong>de</strong> intensa comercializaçãoinclusive com o exterior, mas na década <strong>de</strong> 90 a cooperativa se <strong>de</strong>sfez fazen<strong>do</strong> com quea loja que as ren<strong>de</strong>iras mantinham no Centro <strong>de</strong> Comercialização <strong>de</strong> Artesanato emAracaju fosse fechada. Apenas, a partir <strong>de</strong> 2000 com o apoio <strong>do</strong> Artesanato Solidário sereiniciou um programa <strong>de</strong> cadastramento das ren<strong>de</strong>iras, em Divina Pastora, para aretomada das iniciativas <strong>de</strong> produção e comercialização <strong>de</strong> seus produtos (DANTAS,2005, p. 227-228).Além <strong>de</strong> Divina Pastora outras cida<strong>de</strong>s sergipanas também são conhecidas pelaprodução da renda irlan<strong>de</strong>sa, como Laranjeiras, Rosário <strong>do</strong> Catete, Riachuelo, SantaRosa <strong>de</strong> Lima, São Cristóvão e Aracaju.3. RENDA IRLANDESA COMO PATRIMÔNIO: INSCRIÇÃO NO LIVRO DOSSABERES E ASPECTOS PATRIMONIAIS E EDUCACIONAIS.A renda irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong> Divina Pastora se mantém através <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong>ren<strong>de</strong>iras pertencentes à Associação para o Desenvolvimento da Renda <strong>de</strong> DivinaPastora (ASDEREN). Esta foi fundada em 2000 com o apoio <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong>Artesanato Solidário/ARTESOL (IPHAN, 2005, p. 228). O ARTESOL “busca valorizaro artesanato tradicional como patrimônio cultural brasileiro, além <strong>de</strong> promover o<strong>de</strong>senvolvimento humano e técnico <strong>do</strong>s artesãos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sfavorecidas” 6 .6 Disponível em: http://www.artesol.org.br/site/institucional Acesso em 10 <strong>de</strong>z. 2010.


A renda irlan<strong>de</strong>sa teve sua importância reconhecida pelos órgãos responsáveispela conservação e preservação <strong>do</strong> patrimônio cultural brasileiro como bem culturalimaterial ou intangível.Enten<strong>de</strong>-se por bens culturais imateriais34as criações culturais <strong>de</strong> caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição emanifestadas por indivíduos ou grupos <strong>de</strong> indivíduos como expressão <strong>de</strong> suai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural e social; e ainda toma-se tradição no seu senti<strong>do</strong>etimológico <strong>de</strong> ‘dizer através <strong>do</strong> tempo’, significan<strong>do</strong> práticas produtivas,rituais e simbólicas que são constantemente reiteradas, transformadas eatualizadas, manten<strong>do</strong>, para o grupo, um vínculo <strong>do</strong> presente com o seupassa<strong>do</strong>.O conceito <strong>de</strong> patrimônio cultural imaterial é, portanto, amplo, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong><strong>de</strong> forte viés antropológico, e abarca potencialmente expressões <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s osgrupos e camadas sociais (CAVALCANTI, 2008, p. 12).Dessa forma, iniciou-se um processo para que o saber-fazer renda irlan<strong>de</strong>safosse reconheci<strong>do</strong> e inscrito como Patrimônio Imaterial junto ao Instituto <strong>de</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN). Assim, em 28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2009, a rendairlan<strong>de</strong>sa entra para o Livro <strong>de</strong> Registro <strong>do</strong>s Saberes <strong>do</strong> IPHAN como Bem Cultural:Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Fazer Renda Irlan<strong>de</strong>sa, ten<strong>do</strong> como referência este ofício em Divina Pastora(SE).O registro, segun<strong>do</strong> o IPHAN é,antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, uma forma <strong>de</strong> reconhecimento e busca a valorização <strong>de</strong>ssesbens, sen<strong>do</strong> visto mesmo como um instrumento legal. Registram-se saberes ecelebrações, rituais e formas <strong>de</strong> expressão e os espaços on<strong>de</strong> essas práticas se<strong>de</strong>senvolvem. [...] correspon<strong>de</strong> à i<strong>de</strong>ntificação e à produção <strong>de</strong> conhecimentosobre o bem cultural. Isso significa <strong>do</strong>cumentar, pelos meios técnicos maisa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, o Patrimônio Imaterial no Brasil: legislação e políticas estaduaispassa<strong>do</strong> e o presente da manifestação e suas diferentes versões (IPHAN,2006b, p. 22).Para compreen<strong>de</strong>rmos melhor esse processo <strong>de</strong> registro <strong>de</strong>vemosconsi<strong>de</strong>rar várias ações que <strong>de</strong>ram início ao reconhecimento da cultura popular comopatrimônio cultural e que geraram <strong>do</strong>cumentos patrimoniais que segun<strong>do</strong> Diana FarjallaCorreia Lima,enten<strong>de</strong>-se por Documentos Patrimoniais: textos normativos – Convenções,Recomendações, Declarações, Cartas, Compromissos, Normas e similares –representan<strong>do</strong> a produção internacional e ou nacional que, em especial,<strong>de</strong>staca o conjunto relativo às normas/procedimentos para tratamento <strong>do</strong> temapatrimônio, quer seja indican<strong>do</strong> a interpretação conceitual como o exercícioprático e oriun<strong>do</strong>s das instâncias especializadas tais como ICOM- ConselhoInternacional <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s; ICOMOS – Conselho Internacional <strong>de</strong>Monumentos e Sítios; UNESCO – Organização das Nações Unidas para aEducação, Ciência e Cultura e IPHAN – Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico eArtístico Nacional, entre outras entida<strong>de</strong>s (LIMA, 2008, p. 181-199).


Um <strong>do</strong>s primeiros <strong>do</strong>cumentos é a Constituição <strong>de</strong> 1988 cujo Artigo 216estabelece que “o patrimônio cultural brasileiro é constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> ‘bens <strong>de</strong> naturezamaterial e imaterial, porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> referência à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira’” (BO, 2003, p. 78).Nesse Artigo incluem:I- as formas <strong>de</strong> expressão;II- os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> criar, fazer e viver;III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV- as obras, objetos, <strong>do</strong>cumentos, edificações e <strong>de</strong>mais espaços <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s àsmanifestações artístico-culturais;V- os conjuntos urbanos e sítios <strong>de</strong> valor histórico, paisagístico, artístico,arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (CAVALCANTI, 2008,p.14).Em 1989 realizou-se em Paris a Conferência Geral da UNESCO, a qualestabeleceu recomendações aos países membros, inclusive o Brasil, visan<strong>do</strong> medidaslegislativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição, i<strong>de</strong>ntificação, conservação, salvaguarda, difusão e proteção dacultura tradicional e popular (IPHAN, 2004, pp. 294-299).Em 1991, foi instituí<strong>do</strong> o Programa Nacional <strong>de</strong> Apoio à Cultura (Pronac), parapromover a captação e a canalização <strong>de</strong> recursos, assim como fomentar a preservação<strong>do</strong>s bens culturais materiais e imateriais 7 .Em 1997, foi promovi<strong>do</strong> em Fortaleza (CE) o “Seminário Patrimônio Imaterial:Estratégias e Formas <strong>de</strong> Proteção” visan<strong>do</strong> recolher subsídios para a elaboração <strong>de</strong>diretrizes com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se colocar em prática o Artigo 216 da ConstituiçãoBrasileira <strong>de</strong> 1988. Esse Seminário resultou no conjunto <strong>de</strong> diretrizes que recebeu onome <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Fortaleza (IPHAN, 2004, p. 294-299). Dentro das diretrizes propostaso Plenário consi<strong>de</strong>rou, entre outros, que os “bens <strong>de</strong> natureza imaterial <strong>de</strong>veriam serobjeto <strong>de</strong> proteção específica” e também se recomen<strong>do</strong>u “que fossem buscadasparcerias com entida<strong>de</strong>s públicas e privadas com o objetivo <strong>de</strong> conhecer asmanifestações culturais <strong>de</strong> natureza imaterial sobre as quais já existam informaçõesdisponíveis” (IPHAN, 2004, p. 363-365).No mesmo ano <strong>de</strong> 1997, ocorreu a “Jornada <strong>do</strong> Mercosul sobre PatrimônioIntangível” (Mar Del Plata/Argentina). Nela enfatizou-se nas recomendações anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aceitar a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas, reconhecer as contribuições afro-357 Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8313cons.htm Acesso em 10 <strong>de</strong>z. 2010.


36asiáticas, estimular nos currículos escolares <strong>do</strong> ensino formal conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> PatrimônioCultural Intangível, entre outros.Em 1998, foi criada uma Comissão composta por membros <strong>do</strong> ConselhoConsultivo <strong>do</strong> Patrimônio Cultural e o Grupo <strong>de</strong> Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI)on<strong>de</strong> se apresentou a proposta técnica <strong>do</strong> Decreto n° 3551, <strong>de</strong> 04 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000, quecriou o registro <strong>de</strong> bens culturais <strong>de</strong> natureza imaterial e o Programa Nacional <strong>do</strong>Patrimônio Imaterial (PNPI) 8 .Com base no Decreto nº 3551 <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000 instaurou-se o conjunto <strong>de</strong>políticas públicas <strong>de</strong> cultura que configuram o contexto contemporâneo <strong>do</strong> PatrimônioCultural Imaterial.O conjunto <strong>de</strong> políticas voltadas para o patrimônio cultural imaterial tem comoprincipais instrumentos o Registro 9 , o Inventário Nacional <strong>de</strong> Referências Culturais(INRC) que é “uma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>senvolvida pelo Iphan que tem comoobjetivo produzir conhecimento sobre os <strong>do</strong>mínios da vida social aos quais sãoatribuí<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e valores e que, portanto, constituem marcos e referências <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo social; o Programa Nacional <strong>de</strong> Patrimônio Imaterial(PNPI)instituí<strong>do</strong> pelo Dec. Nº 3.551, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000, viabiliza projetos <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensãoimaterial <strong>do</strong> patrimônio cultural. É um programa <strong>de</strong> fomento que buscaestabelecer parcerias com instituições <strong>do</strong>s governos fe<strong>de</strong>ral, estadual emunicipal, universida<strong>de</strong>s, organizações não governamentais, agências <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e aofinanciamento 10Além disso, há os Planos <strong>de</strong> Salvaguarda, conforme estabeleci<strong>do</strong> pelo IPHAN quepropõemsalvaguardar um Bem Cultural <strong>de</strong> Natureza Imaterial é apoiar suacontinuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> sustentável. É atuar no senti<strong>do</strong> da melhoria das8 Disponível em: http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/conInformacaoPatrimonialPoliticaE.jsf Acesso em10 <strong>de</strong>z. 2010.9 Instrumento legal para reconhecimento e valorização <strong>do</strong> Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Osbens registra<strong>do</strong>s são inscritos nos Livros <strong>de</strong> Registro <strong>do</strong>s Saberes, das Celebrações, das Formas <strong>de</strong>Expressão e <strong>do</strong>s Lugares. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.<strong>do</strong>?id=201Acesso em: 10 <strong>de</strong>z. 2010.10 Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.<strong>do</strong>?id=201 Acesso em 10 <strong>de</strong>z. 2010.


38Enten<strong>de</strong>-se por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, representações,expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos,artefatos e lugares que lhes são associa<strong>do</strong>s – que as comunida<strong>de</strong>s, os grupose, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante <strong>de</strong> seupatrimônio cultural. Esse patrimônio cultural imaterial, que se transmite <strong>de</strong>geração em geração, é constantemente recria<strong>do</strong> pelas comunida<strong>de</strong>s e gruposem função <strong>de</strong> seu ambiente, <strong>de</strong> sua interação com a natureza e <strong>de</strong> sua história,geran<strong>do</strong> um sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>, contribuin<strong>do</strong> assimpara promover o respeito à diversida<strong>de</strong> cultural e à criativida<strong>de</strong> humana(CURY, 2004, p. 373).Ao longo da década foram, aos poucos, entran<strong>do</strong> para o Livro <strong>de</strong> Registro <strong>do</strong>sSaberes alguns Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Fazer, como Viola-<strong>de</strong>-Cocho (2005), Ofício das Baianas <strong>de</strong>Acarajé (2005), Queijo <strong>de</strong> Minas (2008). Com isso, também começaram a se expandiras pesquisas em torno <strong>do</strong> patrimônio cultural imaterial brasileiro consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pordiversas áreas acadêmicas como, por exemplo, a antropologia e a museologia.No final <strong>de</strong> 2007 a Associação <strong>de</strong> Ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Divina Pastora/ASDEREN-SEentrou junto ao IPHAN com pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> registro <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>sa.Consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> em 2008 pelo IPHAN, esse pedi<strong>do</strong> recebeu um parecer <strong>de</strong> Ulpiano T.Bezerra <strong>de</strong> Meneses que muito contribui para a valorização <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer rendairlan<strong>de</strong>sa 13 . No seu início ele cita como importante referência nos estu<strong>do</strong>s sobre renda aspublicações da antropóloga Beatriz Góis Dantas <strong>do</strong> qual muito nos servimos no presentetrabalho. Com isso, em 2009 entra para o Livro <strong>de</strong> Registro <strong>do</strong>s Saberes o Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>Fazer Renda Irlan<strong>de</strong>sa em Divina Pastora (SE) 14 .No caso da presente dissertação, estamos consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> vários aspectosassocia<strong>do</strong>s ao fazer renda irlan<strong>de</strong>sa remeten<strong>do</strong>-nos também a essas ativida<strong>de</strong>sartesanais <strong>de</strong>senvolvidas em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes (RJ).Dentro <strong>de</strong>ssa iniciativa <strong>de</strong> se <strong>do</strong>cumentar a transmissão <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> fazer rendairlan<strong>de</strong>sa surgiram indagações referentes à classificação em que as rendas são inseridasbem como à nomenclatura <strong>de</strong>las.3.1 Revisitan<strong>do</strong> a classificação das rendas13 O parecer está disponível na seção <strong>do</strong>s Anexos em:http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.<strong>do</strong>;jsessionid=55D55C08F72DB20D67658E9B2C38E415?id=967 Acesso em 25 mar. 2011.14 Disponível em:http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.<strong>do</strong>?id=12456&retorno=paginaIphan Acesso em 10<strong>de</strong>z. 2010.


39Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que nem todas as técnicas artesanais <strong>de</strong> rendas po<strong>de</strong>m ser classificadasem nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos conheci<strong>do</strong>s como o <strong>de</strong> agulhas e o <strong>de</strong> bilros, propõe-se umanova divisão em três grupos. Esta divisão permite a inclusão <strong>de</strong> todas as rendasconhecidas ten<strong>do</strong> em vista os instrumentos e as matérias-primas utilizadas em suaconfecção bem como o seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer. É proposta ainda, uma subdivisão nos <strong>do</strong>isgrupos <strong>de</strong> rendas para que se possa refletir, inclusive <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> vista museológico einformacional, sobre os campos da classificação e registro, referentes às técnicas <strong>de</strong>manufatura, instrumentos e materiais que envolvem as rendas e os borda<strong>do</strong>s.Essa classificação é encontrada na página eletrônica <strong>do</strong> Centro Nacional <strong>do</strong>Folclore e Cultura Popular/CNFCP. Ao buscar-se renda irlan<strong>de</strong>sa somos remeti<strong>do</strong>s ãclassificação <strong>do</strong> Tesauro <strong>de</strong>ssa instituição. Este “é uma linguagem <strong>do</strong>cumentária,controlada e dinâmica, que contém termos relaciona<strong>do</strong>s genérica e semanticamente,cobrin<strong>do</strong> um <strong>do</strong>mínio específico <strong>do</strong> conhecimento” 15 .Passamos a discutir e apresentar algumas reconsi<strong>de</strong>rações o Tesauro sobrealguns aspectos relativos à ativida<strong>de</strong> ren<strong>de</strong>ira.Na Parte Alfabética <strong>do</strong> Tesauro encontra-se que “renda é uma técnica artesanalque consiste em entrelaçar ou recortar fios <strong>de</strong> linho, seda, algodão, ouro e prata,forman<strong>do</strong> <strong>de</strong>senhos varia<strong>do</strong>s, geralmente <strong>de</strong> aspecto transparente ou vaza<strong>do</strong>”.Note-se que na <strong>de</strong>finição acima, não é menciona<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong> instrumentos comoagulha <strong>de</strong> costura, bilro, tesoura e/ou gilete. Além disso, a renda está inserida nacategoria <strong>de</strong> borda<strong>do</strong> e isso po<strong>de</strong> confundir sua classificação. As rendas foramdissociadas <strong>do</strong> borda<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> momento em que se criou o ponto no ar através <strong>do</strong>processo que originou a renda a partir <strong>do</strong> borda<strong>do</strong> como é explica<strong>do</strong> no capítulo 1.A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> renda 16 menciona o uso <strong>de</strong> fios metálicos como ouro ou prata emsua confecção. Essa menção também é válida para a elaboração da filigrana 17 que porser confeccionada com fios muito finos <strong>de</strong>sses metais solda<strong>do</strong>s, a sua aparência remete à15 Disponível em http://www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_Secao=30. Acesso em 18 jun. 2011.16 “Enten<strong>de</strong>-se por ‘renda’ um tipo teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> malha aberta elabora<strong>do</strong> pelo artesão manualmente ou àmáquina, que se entrelaçan<strong>do</strong> diversos tipos <strong>de</strong> fios, tais como <strong>de</strong> algodão, linho, seda e até mesmo ouro eprata, formam-se <strong>de</strong>senhos e motivos segun<strong>do</strong> a sua criativida<strong>de</strong> pessoal”. Disponível em:http://artenor<strong>de</strong>stina.orgfree.com/in<strong>de</strong>x.php/Rendas-e-Borda<strong>do</strong>s.html Acesso em: 10 Jan. 2011.17 “Filigrana é um trabalho ornamental feito <strong>de</strong> fios muito finos e pequeninas bolas <strong>de</strong> metal, soldadas <strong>de</strong>forma a compor um <strong>de</strong>senho. O metal é geralmente ouro ou prata, mas o bronze e outros metais tambémsão usa<strong>do</strong>s. A filigrana foi utilizada na joalheria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> greco-romana, sen<strong>do</strong> ainda


enda. Em certos trajes civis, militares e religiosos os fios <strong>de</strong> ouro e prata são tambémutiliza<strong>do</strong>s nos seus borda<strong>do</strong>s 18 .40Fonte: http://www.novodistribuciones.com/lang-pt/prega<strong>de</strong>iras-casamento-c-147.htmlFig. 10 – broche em filigrana.Ainda na Parte Alfabética há a seção Termos Específicos on<strong>de</strong>, embora seja <strong>de</strong>se estranhar, relaciona-se outras técnicas e produtos às rendas. Exemplos são a Abrolhos(também conhecida como macramê 19 ) crivo 20 (ou labirinto), ren<strong>de</strong>ndê 21 e tricô 22 . Oproblema é que estes exemplos <strong>de</strong>veriam ser inseri<strong>do</strong>s em tecelagem e borda<strong>do</strong>s, nãoem rendas.empregada em gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong>corativos”. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Filigrana Acesso em 18 <strong>de</strong>z. 2010.18 Exemplos encontra<strong>do</strong>s nas coleções <strong>de</strong> indumentária <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> Histórico Nacional (RJ) e <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>Imperial (RJ).19 “O Macramé é uma técnica <strong>de</strong> tecer fios que não utiliza nenhum tipo <strong>de</strong> maquinaria ou ferramenta. Éuma forma <strong>de</strong> tecelagem manual. Trabalhan<strong>do</strong> com os <strong>de</strong><strong>do</strong>s, os fios vão se cruzan<strong>do</strong> e ficam presos pornós, forman<strong>do</strong> cruzamentos geométricos, franjas e uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>corativas”. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Macram%C3%A9 , Acesso em 18 <strong>de</strong>z. 2010.20 “Borda<strong>do</strong> <strong>de</strong> basti<strong>do</strong>r para o qual se prepara o pano tiran<strong>do</strong>-lhe alguns fios interpola<strong>do</strong>s, tanto nalargura como no comprimento, até formarem uma espécie <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>”. Disponível em:http://www.museu.ufsc.br/setor_cultura_popular_16.php Acesso em 18 <strong>de</strong>z. 2010.21 “O Borda<strong>do</strong> é um ornamento executa<strong>do</strong> sobre teci<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong> agulha e linhas coloridas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>ser trabalha<strong>do</strong> com as mãos ou feitos em máquinas apropriadas. [...] O ‘re<strong>de</strong>ndê’ é elabora<strong>do</strong> com agulha,linha e tesoura. A borda<strong>de</strong>ira corta o teci<strong>do</strong> em quadra<strong>do</strong>s, losangos ou triângulos. Com o auxílio <strong>de</strong> umbasti<strong>do</strong>r vai unin<strong>do</strong>-os com linhas brancas ou coloridas, forman<strong>do</strong> barras”. Disponível em:http://www.artesanatomirere.com.br/artesanato/ Acesso em 18 <strong>de</strong>z. 2010.22 “O tricô é uma técnica para entrelaçar o fio (<strong>de</strong> lã ou outra fibra têxtil) <strong>de</strong> forma organizada, crian<strong>do</strong>-seassim um pano que, por suas características <strong>de</strong> textura e elasticida<strong>de</strong>, é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> malha <strong>de</strong> tricô ousimplesmente tricô”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tric%C3%B4 Acesso em 18 <strong>de</strong>z.2010.


41Fonte: http://vilamulher.terra.com.br/izabelmolina/macrame-toalha-feita-por-mim-9-2312911-26104-pf.phpFig. 11 – borda<strong>do</strong> em macramê ou Abrolhos.Fonte: http://criecologico.blogspot.com/2010_04_22_archive.htmlFig. 12 - mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer borda<strong>do</strong> labirinto ou crivo.


42Fonte: http://www.acasa.org.br/arquivo_objeto.php?reg_mv=OB-00087Fig. 13 – borda<strong>do</strong> labirinto ou crivo.Fonte:http://agulhaspinceisemais.blogspot.com/2008/05/hardanger-ponto-<strong>de</strong>-cor<strong>do</strong>.htmlFig. 14 – mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer borda<strong>do</strong> ren<strong>de</strong>ndê ou Hardanger


43Fonte: http://<strong>do</strong>napontomaria.blogspot.com/2010/01/como-fazer-aumentos-em-tricotsem-fazer.htmlFig. 15 – Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer tricôOutro aspecto discutível é a referência sobre a renda irlan<strong>de</strong>sa que quan<strong>do</strong>solicitada no Tesauro nos reporta à renda renascença como se fossem sinônimas.As rendas, como foram mencionadas no capítulo 1, são em geral divididas em<strong>do</strong>is grupos:a) Rendas <strong>de</strong> agulhab) Rendas <strong>de</strong> bilroEsses <strong>do</strong>is grupos não contemplam todas as técnicas <strong>de</strong>senvolvidas na confecçãodas rendas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer bem como os materiais utiliza<strong>do</strong>s. Assim,faz-se necessária a inserção <strong>de</strong> cada técnica em seu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> lugar.A proposta apresentada aqui obe<strong>de</strong>ce ao esquema seguinte correspon<strong>de</strong>nte a <strong>do</strong>istipos básicos <strong>de</strong> rendas (artesanais e mecânicas) in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>s por algarismos romanos:I - Rendas artesanais1.1- Com uso <strong>de</strong> agulhas1.1.1- Com agulhas <strong>de</strong> costura1.1.1.1 - Ponto no ar1.1.1.2 - Com suporte <strong>de</strong> papel1.1.2 - Com agulhas <strong>de</strong> gancho1.2 – Com uso <strong>de</strong> bilro1.2.1 – com uso <strong>de</strong> navete


1.3 - MistasII - Mecânicas2.1- fibras naturais2.2- fibras sintéticas44As rendas artesanais se divi<strong>de</strong>m em três grupos (<strong>de</strong> agulha, <strong>de</strong> bilro e mistas) ese utiliza pre<strong>do</strong>minantemente as fibras naturais vegetais como principal elemento,po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, no entanto, conter alguma porcentagem <strong>de</strong> material sintético. Os grupos <strong>de</strong>técnicas são:I - Rendas Artesanais1.1- rendas <strong>de</strong> agulhas – Este grupo compõe todas as rendas que são elaboradas comagulhas.1.1.1- Agulha <strong>de</strong> costura1.1.1.1- Ponto no ar (punto in aire)São as rendas confeccionadas apenas com agulha <strong>de</strong> costura e linha <strong>de</strong> algodão.A renda turca faz parte <strong>de</strong>ste grupo.Fonte: http://www.alagna.it/m/home.php?sid=163&n=Il-PuncettoFig. 16 – mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda turca


451.1.1.2 - Com suporte <strong>de</strong> papel (e agulha <strong>de</strong> costura)Para a confecção das rendas utiliza-se um suporte <strong>de</strong> papel no qual é alinhava<strong>do</strong>o lacê (cadarço) para bordar os pontos com o uso <strong>de</strong> agulha <strong>de</strong> costura. A rendairlan<strong>de</strong>sa e a renda renascença são exemplos <strong>de</strong>ssa categoria.Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 17 - renda irlan<strong>de</strong>saFonte: http://<strong>de</strong>mo<strong>de</strong>moda.wordpress.com/2010/05/02/renda-renascenca/Fig. 18 - renda renascença1.1.2 - Agulha <strong>de</strong> ganchoAs rendas <strong>de</strong> agulha <strong>de</strong> gancho se caracterizam pela ausência <strong>de</strong> suporte para asua confecção e o uso <strong>de</strong> agulha comprida geralmente em metal com pequena


curvatura numa extremida<strong>de</strong>. Neste grupo se insere o ponto <strong>de</strong> Irlanda e ocrochê.46Fonte: http://www.artdutricot.info/crochet/irlan<strong>de</strong>.phpFig. 19 - mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda <strong>de</strong> IrlandaFonte: http://belartesanato.arteblog.com.br/42448/Barra<strong>do</strong>s-em-Croche/Fig. 20 - crochêTécnicas <strong>de</strong> rendas <strong>de</strong> bilro e <strong>de</strong> navete


471.2.- com bilro – Rendas confeccionadas com bilros (pequenas peças emma<strong>de</strong>ira em forma <strong>de</strong> pêra alongada) on<strong>de</strong> neles a linha é enrolada para, aospoucos, ir entrelaçan<strong>do</strong> e forman<strong>do</strong> os pontos sobre uma base <strong>de</strong> papel comalfinetes e sustentada por uma almofada. Exemplifican<strong>do</strong> temos a renda <strong>de</strong> bilroou renda <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, também conhecida como renda <strong>do</strong> Ceará.Fonte: www.ian<strong>de</strong>.art.brFig. 21 - renda <strong>de</strong> bilro1.2.1- com navete – Navete é o instrumento em forma elíptica, geralmente,em plástico, metal ou ma<strong>de</strong>ira conten<strong>do</strong> no interior um cilindro ou carretel noqual a linha é enrolada. Na medida em que a linha se entrelaça em movimentoscirculares, forma-se a renda. Sua função é a mesma que a <strong>do</strong> bilro, mas não seusa nenhuma base ou suporte para a confecção <strong>de</strong>sta renda. A renda frivolitéexemplifica este grupo.


48Fonte: http://tattean<strong>do</strong>.blogspot.com/Fig. 22 -naveteFonte: http://mol<strong>de</strong>s-e-etc.blogspot.com/2009/08/enfeitecom-frivolite.htmlFig. 23 - mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda frivolité


49Fonte: http://biaper.blogue<strong>do</strong>bebe.com/8995/Frioleiras/Fig. 24 - renda frivolité1.3-Técnicas <strong>de</strong> rendas mistas – Consi<strong>de</strong>ram-se rendas mistas aquelas que além <strong>do</strong>uso <strong>de</strong> agulha <strong>de</strong> costura para a sua confecção também se utiliza outras técnicasartesanais. Po<strong>de</strong>mos exemplificar com a renda nhanduti e com a renda filé. Para aconfecção da renda nhanduti se utiliza um suporte circular ou quadra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira ou plástico para executar a base da renda. É sobre esse suporte que setece, sem uso <strong>de</strong> agulha, uma trama com linha que se fixa na borda <strong>do</strong> suporte.Essa trama serve <strong>de</strong> base para a confecção da renda que é realizada com agulha <strong>de</strong>costura e linha <strong>de</strong> algodão.


50Fonte: http://coisasdalily.blogspot.com/2008/01/<strong>de</strong>senrole-o-fio-palha-que-estavana.htmlFig. 25 - mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda nhandutiFonte: www.ian<strong>de</strong>.art.brFig. 26 - renda nhanduti


51Outro exemplo <strong>de</strong> renda mista é a renda filé on<strong>de</strong> o suporte geralmenteretangular que se parece com um basti<strong>do</strong>r serve <strong>de</strong> apoio para a confecção da base darenda. Esta base é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> entrelaçamento manual (sem agulha) da linha ligan<strong>do</strong>em direções perpendiculares to<strong>do</strong>s os pregos das bordas laterais <strong>do</strong> suporte. Esta baseentrelaçada, também conhecida como re<strong>de</strong>, recebe o borda<strong>do</strong> com agulha <strong>de</strong> costura.Fonte: http://www.vila<strong>do</strong>artesao.com.br/blog/page/49/Fig. 27 - mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda filéFonte: http://renatabatata.wordpress.com/2009/05/21/o-mun<strong>do</strong>-das-rendas/renda-file/Fig. 28 - renda filéII - As rendas mecânicas são <strong>de</strong> <strong>do</strong>is tipos conten<strong>do</strong> ou fibras naturais ou fibrassintéticas. Elas são confeccionadas integralmente com o uso <strong>de</strong> máquinas industriais.Geralmente, as rendas sintéticas compõem-se <strong>de</strong> poliamida (náilon). Esta renda po<strong>de</strong>


52ter, por um la<strong>do</strong>, o polipropileno (plástico) como matéria prima, por outro, o polietilenoque é conheci<strong>do</strong> como rayon ou teci<strong>do</strong> não teci<strong>do</strong> 23 .Além das questões acima discutidas relativas à nomenclatura e classificação dasrendas e suas técnicas, restam interrogações relacionadas a diferenças e semelhançasentre os tipos <strong>de</strong> rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascença quan<strong>do</strong> produzidas nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Divina Pastora(SE) ou Campos <strong>do</strong>s Goytacazes (RJ).3.1.1 Renda irlan<strong>de</strong>sa e renascença: O que as distingue?Na publicação Artesanato Brasileiro (Funarte, 1986, p.30) o processo <strong>de</strong>produção da renda irlan<strong>de</strong>sa no nor<strong>de</strong>ste brasileiro é <strong>de</strong>scrito segun<strong>do</strong> a mesmasequência <strong>de</strong> operações como propõem Dantas (DANTAS, 2001, p.22-23) e Nóbrega(NÓBREGA, 2005, p.112). No entanto no último item, apenas a publicação da Funarteindica que a peça (produto acaba<strong>do</strong>) é engomada e passada a ferro.Por outro la<strong>do</strong>, em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes não se engoma nem passa a ferro.A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> aqui um maior <strong>de</strong>talhamento em relação ao que propuseram Dantas eNóbrega enten<strong>de</strong>mos que a confecção artesanal da renda irlan<strong>de</strong>sa segue as seguintesetapas: Risca-se o <strong>de</strong>senho escolhi<strong>do</strong> no papel manteiga; Cola-se as bordas <strong>do</strong> papel manteiga em cartolina branca; Alinhava-se o lacê (cadarço), seguin<strong>do</strong> as linhas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho nos <strong>do</strong>is papéisque estão uni<strong>do</strong>s; Costuram-se as interseções e justaposições <strong>do</strong> cadarço, para melhor fixação,comumente chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “passeio”; Preenche-se os espaços <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s aos pontos que serão borda<strong>do</strong>s, com agulha<strong>de</strong> costura nº 9 e linha mercer-crochet nº 60; Ao completar o borda<strong>do</strong>, retira-se to<strong>do</strong> o alinhavo; Verifica-se algum resquício <strong>de</strong> linha <strong>do</strong> alinhavo; Finalmente a peça está acabada e pronta para ser usada.23 Curso Introdução à Conservação em Têxteis ministra<strong>do</strong> pela prof. Dra. Teresa Cristina Tole<strong>do</strong> <strong>de</strong>Paula, no <strong>Museu</strong> Histórico Nacional/RJ, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 4 a 18/06/2010.


53Apesar <strong>de</strong> se encontrar em quase todas as fontes <strong>de</strong> informações pesquisadasuma classificação que indica a renda irlan<strong>de</strong>sa como sen<strong>do</strong> a mesma que a rendarenascença, foram constatadas algumas diferenças que permitem levantar dúvidas sobreconsi<strong>de</strong>rá-las a mesma renda.Inicialmente, aparecem no Quadro 1 as indicações sobre os materiais einstrumentos utiliza<strong>do</strong>s para a confecção das peças:Quadro 1. Materiais e instrumentos para as rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascençaItem Material/Instrumento Renda Irlan<strong>de</strong>sa/Campos<strong>do</strong>s Goytacazes/RJ1 Suporte têxtil Lacê – cordão ou cadarço <strong>de</strong>algodão revesti<strong>do</strong> com fio <strong>de</strong>viscose.2 Risco, <strong>de</strong>senho, mol<strong>de</strong> Utiliza-se papel manteiga eou <strong>de</strong>buxocaneta esferográfica3 Suporte e papel paracolar o papel manteiga4 Cola para unir os <strong>do</strong>ispapéisCartolina brancaRendaRenascença/NELacê – fita <strong>de</strong>algodão com furosnas bordas.Utiliza-se papelmanteiga e canetapilot/pincelSaco <strong>de</strong> cimentoCola plástica Gru<strong>de</strong> ou mingau –mistura <strong>de</strong> água efarinha <strong>de</strong> trigoMercer-crochet n° 60 Mercer-crochet n°5 Linha para a confecção<strong>do</strong>s pontos20,40 ou Âncora6 Suporte para confecção Não se usaUsa-se almofadadas peçascilíndrica e cavaleteEm seguida aparecem no Quadro 2 as indicações sobre os tratamentos e beneficiamentosda<strong>do</strong>s às peças prontas:Quadro 2. Tratamentos e beneficiamentos para as rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascençaItem Tratamentos ebeneficiamentosRenda Irlan<strong>de</strong>sa/ Campos<strong>do</strong>s GoytacazesRenda Renascença/ NE1 Tingimento caseiro <strong>do</strong> Raramente se tingeTinge-sesuporte têxtil2 Engomagem Não se engoma * Engoma-se sempre3 Passar a ferro Não se passa ** Passa-se sempre4 Lavagem À mão, com sabão neutrolíqui<strong>do</strong> ou <strong>de</strong> cocoÀ mão, comqualquer sabão5 Costura para fixação emteci<strong>do</strong>À mãoÀ máquina


54Segun<strong>do</strong> as anotações com asteriscos no quadro, vale comentar que no caso da rendairlan<strong>de</strong>sa, a textura não permite que se engome (*), mas no caso da renascença éfundamental que ela seja engomada. No caso da irlan<strong>de</strong>sa torna-se inviável passar aferro (**), <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à composição sintética <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s materiais (cadarço) e pelatextura que se apresenta com relevo.Os quadros comparativos acima foram confecciona<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> informaçõescontidas em Nóbrega (2005), auxiliadas pela experiência <strong>do</strong> autor <strong>de</strong>sta dissertação, nãosó em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes (RJ), mas também junto a ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> rendarenascença em Olinda (PE). Portanto, parece <strong>de</strong> fato existirem diferenças, como<strong>de</strong>staca<strong>do</strong>, entre as rendas irlan<strong>de</strong>sa e renascença.Dessa forma espera-se ter inicia<strong>do</strong> uma discussão sobre esse importante, ereconheci<strong>do</strong> patrimônio imaterial que é a renda irlan<strong>de</strong>sa não só a partir <strong>do</strong> centro on<strong>de</strong>ela foi inscrita no Livro <strong>do</strong>s Saberes, mas também se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a discussão <strong>de</strong> formacomparativa a outros centros como Olinda e Campos <strong>do</strong>s Goytacazes. Além disso, <strong>de</strong>um ponto <strong>de</strong> vista museológico, foi interessante ter lança<strong>do</strong> as discussões acima sobreproblemas relativos à nomenclatura e classificação das rendas assim como, <strong>de</strong>spertaraqui e nos próximos capítulos uma maior atenção sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticaspúblicas <strong>de</strong> preservação e salvaguarda <strong>de</strong>sse patrimônio imaterial.É claro que essas consi<strong>de</strong>rações nos levam a procurar enten<strong>de</strong>r como se opera oaprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas técnicas, assunto ao qual nos <strong>de</strong>dicamos na seção seguinte.3.2 A EDUCAÇÃO NA TRANSMISSÃO DO SABER E DO FAZER RENDAIRLANDESAA transmissão <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>sa, como foi visto na seção2.1.2, se dá <strong>de</strong> diferentes formas. Essas formas <strong>de</strong> ensino e aprendizagem sãoestabelecidas através da educação formal e não formal que <strong>de</strong>terminam <strong>de</strong> que maneirao saber e o fazer serão conduzi<strong>do</strong>s.Pierre S. Dassen encontra em Yves Barel e Marie- Nöell Chamoux pontosdiscutíveis sobre essa condução/transmissão <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> fazer quan<strong>do</strong> afirma oseguinte:


55o artesão sabe fazer, mas ele não sabe completamente como ele sabe. Osaber-fazer incorpora<strong>do</strong> não é então transmissível através <strong>do</strong> ensino. Ele étransmissível somente pelo aprendiza<strong>do</strong>, isto é (...) durante o própriotrabalho.O suporte [apoio] <strong>do</strong> saber-fazer é humano e biológico. Mas quan<strong>do</strong> o saber éanalisável e separável até o fim, o saber e o fazer po<strong>de</strong>m se <strong>de</strong>sconectar. Osaber se incorpora num suporte não humano: um livro, um trata<strong>do</strong>, umprograma, uma ficha <strong>de</strong> instrução, um croqui, etc”(Barel, Y. cita<strong>do</strong> porChamoux, M.N., 1981, p. 74, in Dassen, 1987, p. 39, tradução nossa) 24 .Verifica-se então que o saber-fazer está intimamente relaciona<strong>do</strong> à percepção eimitação quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong>. Assim, po<strong>de</strong>mos encontrar elementos que<strong>de</strong>monstram a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e aprendiza<strong>do</strong> nas técnicas artesanais ensinadas emescolas instituídas também no Brasil.Os caminhos percorri<strong>do</strong>s sobre fazer a renda irlan<strong>de</strong>sa chegaram ao Brasil, noinício <strong>do</strong> século XX, através da educação formal, a qual estabelece um “programasistemático e planeja<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo e segue normas e diretrizes <strong>de</strong>terminadas pelo governofe<strong>de</strong>ral. É oferecida por escolas regulares, centros <strong>de</strong> formação técnica e tecnológica esistemas nacionais <strong>de</strong> aprendizagem 25 ”. Foi através <strong>de</strong> escolas religiosas, inicialmente,que o ensino da renda irlan<strong>de</strong>sa se propagou, sen<strong>do</strong> incluí<strong>do</strong> na gra<strong>de</strong> curricular oaprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalhos manuais. Esta prática já era <strong>de</strong>senvolvida no século XIX,quan<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> Decreto-Lei Imperial, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1827 se estabeleceu nosartigos 11 e 12 o seguinte:Artigo 11. Haverão escolas <strong>de</strong> meninas nas cida<strong>de</strong>s e vilas mais populosas,em que os Presi<strong>de</strong>ntes em Conselho, julgarem necessário esteestabelecimento.Artigo 12. As Mestras, [...] com exclusão das noções <strong>de</strong> geometria e limita<strong>do</strong><strong>de</strong> aritmética só às suas quatro operações, ensinarão também as prendas queservem à economia <strong>do</strong>méstica [...]Verifica-se aqui a instituição <strong>do</strong> ensino e aprendizagem <strong>de</strong> trabalhos manuais, osquais eram chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prendas. Ensinava-se culinária, borda<strong>do</strong>s, crochê e rendas. Por24 “Le travailleur sait faire mais Il ne sait pas complètement comment Il sait. Le savoir-faire incorporén’est <strong>do</strong>nc pas transmissible par enseignement. Il n’est transmissible que par apprentissage, c’est à dire(…) au cours du travail lui-même. Le support du savoir-faire est humain et biologique. Mais quand lesavoir-faire est analysable et <strong>de</strong>composable jusqu’au bout, le savoir et le faire peuvent se déconnecter. Lesavoir s’incorpore alors dans un support non humain: un livre, un traité, un programme, une fiched’instruction, un croquis, etc.” (DASSEN, 1987, p. 39)25 Disponível em:http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37488 Acesso 5 jul. 2010.


esse processo <strong>de</strong> aspecto não formal os saberes se difundiram fazen<strong>do</strong> com que astécnicas artesanais aprendidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas escolas fossem gradativamentepopularizadas. Segun<strong>do</strong> o Instituto Nacional <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e PesquisasEducacionais/INEP 26 a educação não formal se estabelece através <strong>de</strong> “Ativida<strong>de</strong>s ouprogramas organiza<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> sistema regular <strong>de</strong> ensino, com objetivos educacionaisbem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s”. Além disso, “A educação não-formal po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>instituições educacionais, ou fora <strong>de</strong>las, e po<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a pessoas <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s.”Em Veneza, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> alguns autores pensam ser a origem da renda irlan<strong>de</strong>sa, oensino <strong>de</strong> técnicas artesanais, no século XIX, mantinha ainda características marcantes<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> medieval quan<strong>do</strong> existiam as Corporações 27 . Um exemplo significativo quevale a pena ser cita<strong>do</strong> na íntegra é o da Escola <strong>de</strong> Rendas <strong>de</strong> Burano que56abriu em 1872 por vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Paolo Fambri, da con<strong>de</strong>ssa AndrianaMarcello e com o patrocínio da rainha Margherita, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>relançar a histórica ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> agulha na ilha em ummomento marca<strong>do</strong> por uma grave crise econômica. O ensino se iniciava nainfância e era articula<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as várias classes e níveis; as jovens tinhama possibilida<strong>de</strong> não só <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, mas também <strong>de</strong> realizar e ven<strong>de</strong>r, atravésda escola, seus produtos manufatura<strong>do</strong>s e em cada caso a freqüência garantiaa alimentação diária,coisa não indiferente em uma realida<strong>de</strong> caracterizada por uma extremapobreza.A escola instituiu imediatamente uma produção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>dican<strong>do</strong>-se à re<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> pontos e mo<strong>de</strong>los (riscos) e também àserieda<strong>de</strong> no trabalho das alunas; uma produção <strong>de</strong>stinada essencialmente aosenxovais, e raramente aos paramentos litúrgicos que obteve um sucessoconsi<strong>de</strong>rável na Itália e no exterior, tanto que em 1899 se <strong>de</strong>cidiu aplicar àsrendas <strong>de</strong> Burano uma etiqueta <strong>de</strong> fábrica para distinguir-las dasconcorrentes: uma fita branca com a escrita em seda amarela ‘ ScuolaMerletti di Burano, Patronato di Sua Maestà la Regina’ [Escola <strong>de</strong> Rendas <strong>de</strong>Burano, Patrocinada por Sua Majesta<strong>de</strong> a Rainha], com selo <strong>de</strong> chumbo.A crise, iniciada já nos primeiros anos <strong>de</strong> 1900, quer pelas mudançasda moda, quer pelas guerras e a concorrência <strong>de</strong> rendas menosvalorizadas, mas também mais baratas produzidas no continente, levaramlentamente, à diminuição da ativida<strong>de</strong>, à <strong>de</strong>cadência e <strong>de</strong>pois ao fechamento<strong>de</strong>finitivo [da escola] ocorri<strong>do</strong> em 1973. Uma tentativa <strong>de</strong> recuperar aativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção da renda [...] com a criação em 1981 <strong>de</strong> um Consórciopara as rendas <strong>de</strong> Burano, não <strong>de</strong>u resulta<strong>do</strong>s satisfatórios. Em 1995 oConsórcio e a cooperativa anexa foram fecha<strong>do</strong>s e o <strong>Museu</strong>26 Disponível em: www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.aps?te1=1221 Acesso 5 jul. 2010.27 Associações criadas por artesãos na Europa medieval.


[<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Rendas <strong>de</strong> Burano cria<strong>do</strong> em 1981], constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> projeto<strong>de</strong> recuperação, foi inseri<strong>do</strong> no circuito <strong>do</strong>s museus municipais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Veneza.A ignorância difundida sobre a arte da renda, a indiferença <strong>de</strong>políticos e intelectuais, os fortes interesses econômicos liga<strong>do</strong>s à produção darenda ‘falsa’ proveniente <strong>de</strong> outros países: tu<strong>do</strong> isso está <strong>de</strong>cretan<strong>do</strong> o fim dagloriosa renda <strong>de</strong> Burano.Restam ainda na ilha poucas ren<strong>de</strong>iras anciãs que com antigadignida<strong>de</strong> levam à frente, por elas mesmas, seu precioso trabalho e algumasassociações que se esforçam <strong>de</strong> recuperar, fazer conhecer e manter vivo estetipo <strong>de</strong> renda 28 . (tradução <strong>do</strong> autor).Essa trajetória <strong>do</strong> ensino e aprendizagem da renda <strong>de</strong> agulha, bem como a suaprodução na ilha <strong>de</strong> Burano não se diferencia tanto com a nossa renda irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong>Divina Pastora e Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, que também tiveram seus momentos <strong>de</strong> altose baixos em relação à produção e comercialização (DANTAS, 2005, p. 227).Durante to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> ensino e aprendiza<strong>do</strong> da renda irlan<strong>de</strong>sa no Brasil,no século XX, se utilizou publicações que ensinavam as etapas <strong>de</strong> confecção. Essaspublicações também eram conhecidas como livros <strong>de</strong> padrões.Os livros <strong>de</strong> padrões começaram a ser publica<strong>do</strong>s com a intenção <strong>de</strong> reunir os<strong>de</strong>senhos que serviam <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo e orientação para a confecção <strong>de</strong> rendas. Dessa forma,há uma divulgação <strong>do</strong>s diferentes tipos <strong>de</strong> rendas assim como, a difusão <strong>de</strong>steaprendiza<strong>do</strong>. A museóloga Jenny Dreyffus (1959), em sua publicação, se referedizen<strong>do</strong>:O primeiro livro <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos ren<strong>de</strong>iros é data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1527, escrito por PierreQuinty, impresso em Colônia. Em 1528 surge o <strong>de</strong> Antônio TalienteChama<strong>do</strong> ‘Esempio <strong>de</strong> Ricami’ [Exemplo <strong>de</strong> Borda<strong>do</strong>s]; a seguir, o <strong>de</strong>Nicolò d’Aristótele (veneziano), publica<strong>do</strong> em 1530, e daí em diante outrosingleses, franceses e italianos. Embora muitos <strong>de</strong>les não tragam data, po<strong>de</strong>-sefixar a aparição da renda no século XV (DREYFFUS, 1959, p. 224).Os livros sobre estes assuntos eram importa<strong>do</strong>s da França e entre eles, versan<strong>do</strong>sobre trabalhos manuais como a costura, borda<strong>do</strong>s, tricô, crochê e algumas rendas,temos como exemplo a Encyclopédie <strong>de</strong>s Ouvrages <strong>de</strong>s Dames, publica<strong>do</strong> por Thérèze<strong>de</strong> Dillmont entre 1884 e 1886, em francês, alemão, inglês, italiano e húngaro sen<strong>do</strong>reeditada em 1930 como indicam algumas fontes virtuais. Vale ressaltar que, esta obra éreferência constante nas publicações sobre renda irlan<strong>de</strong>sa.5728 Texto original em italiano, disponível em:http://www.merlettoitaliano.it/la_scuola_<strong>de</strong>i_merletti_di_burano.html Acesso em 05 <strong>de</strong>z. 2010.


58Este livro foi muito utiliza<strong>do</strong> pelas freiras e sinhás que se serviam <strong>de</strong>le paraapren<strong>de</strong>r os trabalhos manuais registra<strong>do</strong>s com <strong>de</strong>talhes no texto escrito e nas muitasilustrações sobre instrumental, materiais, riscos e pontos que permitiam a execução dasrendas, <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> outras técnicas. Entre as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhos incluí<strong>do</strong>snessa obra consta a renda irlan<strong>de</strong>sa (DANTAS, 2001, p. 14-15).Entre 1914 e 1965 era publicada semanalmente a revista Jornal das Moças 29 queoferecia em seus artigos femininos alguns mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> rendas e borda<strong>do</strong>s com as etapas<strong>de</strong> confecção.Hoje, as publicações que se <strong>de</strong>stinam aos artesãos e em especial às ren<strong>de</strong>iras, sãoapresentadas <strong>de</strong> várias formas: revistas avulsas vendidas em bancas <strong>de</strong> jornal ou através<strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s às editoras 30 ; páginas eletrônicas específicas 31 e também em DVD e CDRomque ensinam as etapas <strong>de</strong> produção através <strong>de</strong> filmagens 32 . Há ainda os blogs 33 que se<strong>de</strong>dicam ao intercâmbio <strong>de</strong> informações e transmissão <strong>de</strong> técnicas artesanais, bem comoà comercialização <strong>do</strong>s produtos.To<strong>do</strong>s esses meios <strong>de</strong> comunicação são ferramentas utilizadas no processo <strong>de</strong>aprendizagem e contribuem, ainda, para a permanência <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> fazer artesanatotradicional além <strong>de</strong>, promover mesmo que <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>spercebida a EducaçãoPatrimonial.Para a museóloga Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Parreiras Horta “o princípio básico daEducação Patrimonial é a experiência direta <strong>do</strong>s bens e fenômenos culturais, para se29 “O Jornal das Moças, uma publicação semanal <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, era distribuí<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o Brasil, nascapitais e em algumas cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> interior. [...] Trazia comentários sobre moda, conselhos <strong>do</strong>mésticos,divulgação <strong>de</strong> contos, poemas, piadas, notícias <strong>de</strong> cinema, curiosida<strong>de</strong>s, receitas culinárias, mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong>roupas da estação, fotos da socieda<strong>de</strong> fluminense, anúncios <strong>de</strong> cosméticos, <strong>de</strong> medicamentos, <strong>de</strong> lojasespecializadas em artigos femininos e infantis, partituras musicais, resenhas <strong>de</strong> filmes, sugestões <strong>de</strong>leitura.” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_das_Mo%C3%A7as Acesso 16 jan. 2011.30 Revista Aprenda Fácil, On Line Editora, São Paulo, SP31 Páginas eletrônicas disponíveis em : www.revistaonline.com.brhttp://www.multiverso.com.br/resumo.asp?ofe_cod=1166&parceiro=6&gclid=CPbE_KjZw6YCFQHs7QodqkosIA32 Imagens em movimento disponíveis on line: http://www.youtube.com/watch?v=rXx3l4DwlSshttp://www.youtube.com/watch?v=Lo8uVNARdhYhttp://www.youtube.com/watch?v=FV17thYR8qIhttp://www.youtube.com/watch?v=HbOx8xaPrfohttp://www.youtube.com/watch?v=rXx3l4DwlSshttp://www.youtube.com/watch?v=tUo1wkzeJkA&feature=relatedwww.iphan.gov.br33 http://artesanatosebrae.blogspot.com/2010/07/renda-irlan<strong>de</strong>sa-cria-oportunida<strong>de</strong>s-<strong>de</strong>.htmlhttp://www.bons-negocios.blogam.info/sebrae-sergipe-renda-irlan<strong>de</strong>sahttp://babeldasartes.wordpress.com/2009/03/22/renda-irlan<strong>de</strong>sa-<strong>de</strong>-sergipe-e-patrimonio-cultural/


59chegar à sua compreensão e valorização 34 ”. Em função disso, o contato direto com asetapas <strong>de</strong> produção no aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma técnica artesanal (fazer) estimula o diálogo eo interesse pelas suas origens e o seu conteú<strong>do</strong> em geral (saber). É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contextoque as alunas <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campos <strong>do</strong>s Goytacazes se inserem. Elasse inscrevem no curso e dão início, através da prática, ao aprendiza<strong>do</strong>. Com isso, comoobservei no <strong>de</strong>correr das aulas, também as informações históricas, técnicas e comerciaissão transmitidas <strong>de</strong> maneira simples e direta pela instrutora.4. A RENDA IRLANDESA EM CAMPOS DOS GOYTACAZESO ensino da renda irlan<strong>de</strong>sa e <strong>de</strong> outras técnicas artesanais teve início emCampos <strong>do</strong>s Goytacazes nas escolas femininas como também em muitas outras <strong>do</strong> país,a partir <strong>do</strong> Decreto-Lei Imperial <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1827, menciona<strong>do</strong> na seção 3.2 eque continuou vigente até a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX.Foi assim que Maria da Penha Ângelo Manhães, nascida em Campos <strong>do</strong>sGoytacazes, completou seus estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> nível médio no Colégio Nilo Peçanha aosquatorze anos durante a década <strong>de</strong> 50. Aí ela apren<strong>de</strong>u diversas técnicas <strong>de</strong> trabalhosmanuais como, bolos, flores, <strong>do</strong>ces, borda<strong>do</strong>s e rendas, inclusive a renda irlan<strong>de</strong>sa.34 Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/ep/pgm1.htm Acesso em 30 nov. 2010


60Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 29 - Maria da Penha Ângelo ManhãesDes<strong>de</strong> a juventu<strong>de</strong> Maria da Penha se <strong>de</strong>dicou a fazer a renda irlan<strong>de</strong>sa até quealgumas pessoas começaram a lhe pedir para que ensinasse esse fazer. Assim, elacomeçou a transmitir o seu aprendiza<strong>do</strong> após completar os estu<strong>do</strong>s. Aos 36 anos, jácasada, começou a trabalhar fora, mas sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> praticar a renda e buscar emrevistas italianas e nas clientes outras informações sobre novos riscos e pontos.Em 1990, foi contratada pela prefeitura local para ser instrutora <strong>de</strong> rendairlan<strong>de</strong>sa, on<strong>de</strong> continua até o momento. Assim, até hoje, dá continuida<strong>de</strong> ao seuaprendiza<strong>do</strong> para que possa transmiti-lo nos cursos que tem a duração <strong>de</strong> um ano,po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser prorroga<strong>do</strong>s pelo aprendiz por mais um ano.Nesses cursos as alunas frequentemente afirmam que apren<strong>de</strong>m a fazer rendairlan<strong>de</strong>sa para que possam ter um ganho extra já que não são assalariadas e a maioriavive em comunida<strong>de</strong>s carentes da região. Maria da Penha diz que hoje há alunas que sãoencaminhadas por psicólogos para que possam apren<strong>de</strong>r a fazer renda irlan<strong>de</strong>sa comoapoio terapêutico.Algumas <strong>de</strong> suas colegas que estudaram na mesma época continuaram tambémpratican<strong>do</strong> a renda irlan<strong>de</strong>sa, com isso vem se manten<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campos <strong>do</strong>sGoytacazes, mesmo que <strong>de</strong> forma acanhada, a produção e transmissão <strong>de</strong>sse ofício.Maria da Penha ao relatar sua vivência como instrutora relembra com certanostalgia que “há 30 anos tinham ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> bilro na localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Poço Gor<strong>do</strong>, mas


61não ensinavam às filhas e por isso se per<strong>de</strong>u essa tradição” (...) “o ponto-cruz 35 e ocrochê não vão morrer nunca”. Isto po<strong>de</strong>rá acontecer por oposição ao perigo da rendairlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong>saparecer por causa da escassez <strong>de</strong> fabricação <strong>do</strong> lacê (cadarço), o principalmaterial para sua confecção. Maria da Penha enfatizou que a fábrica Ypu, localizada emNova Friburgo/RJ 36 , é a única no Brasil que produz esse tipo <strong>de</strong> cadarço fazen<strong>do</strong> comque todas as alunas e ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Campos <strong>do</strong>s Goytacazes e também <strong>de</strong> Sergipe sepreocupem com a diminuição <strong>de</strong>ssa produção.Foi constatada essa escassez quan<strong>do</strong> o autor <strong>de</strong>sta dissertação lá esteve em 2004para comprar o referi<strong>do</strong> cadarço. O gerente <strong>de</strong> produção informou que a fábrica estavapassan<strong>do</strong> por um processo <strong>de</strong> transição. Naquele momento eram os funcionários queestavam no coman<strong>do</strong> sob forma <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às péssimas condições financeirasem que se encontrava o proprietário, o qual estava prestes a pedir falência. Atualmente afábrica Ypu mantém sua produção e comercialização normais.Essa preocupação sobre a falta <strong>do</strong> cadarço é constante e sempre é comentada,não só pelas ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, mas também pelas ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>Divina Pastora e <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s sergipanas que se <strong>de</strong>dicam a fazer renda irlan<strong>de</strong>sa.Elas se perguntam o que vão fazer se a fábrica <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> produzir o principal materialpara a confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa?Verifica-se aqui uma situação preocupante no que concerne à aquisição <strong>do</strong>principal material (cadarço) para que se mantenha ativa a prática <strong>de</strong>sse saber instituídacomo patrimônio cultural. Esse cadarço para as ren<strong>de</strong>iras é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> uma matériaprima,ou seja, sem ele não há condições <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> à produção <strong>de</strong> renda.Nesse senti<strong>do</strong>, lembramos que o conjunto <strong>de</strong> ações estabeleci<strong>do</strong> nos Planos <strong>de</strong>Salvaguarda (capítulo 3) que envolve os mecanismos <strong>de</strong> transmissão e a continuida<strong>de</strong>da prática artesanal tradicional tem como um <strong>do</strong>s pontos a “melhoria das condições <strong>de</strong>acesso a matérias-primas e merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res” (CAVALCANTI, 2008, p. 24).Outra questão primordial segun<strong>do</strong> Maria da Penha é o preço eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssecadarço, ten<strong>do</strong> em vista que a oferta é menor que a procura, fazen<strong>do</strong> com que os35 “Entre os séculos X e XII na Europa se copiava em ponto cruz os motivos <strong>do</strong>s tapetes trazi<strong>do</strong>s atravésdas Cruzadas no Oriente”. Disponível em: http://www.larchivio.org/xoom/ilmerletto.htm Acesso 13 out.2004.36 Fábrica Ypu localizada à Rua Maximiliano Falck, 380, bairro Ypu, Nova Fribrugo, RJ. Contatos:22/2519-2326 e www.ypu.com.br .


62comerciantes reven<strong>de</strong><strong>do</strong>res se aproveitem <strong>de</strong>ssa situação. Esse fato também vai refletirna diminuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> alunas, já que a maioria é assalariada e não dispõe <strong>de</strong>meios para adquirir o referi<strong>do</strong> cadarço.4.1 A RENDA IRLANDESA NA REGIÃO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES: O CONTEXTO E AFORMAÇÃO DAS BORDADEIRASA prefeitura <strong>de</strong> Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, através da Secretaria Municipal <strong>de</strong>Cultura vem <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a instrutora Maria da Penha, há alguns anos umprograma <strong>de</strong> oficinas e cursos <strong>de</strong> artesanato, on<strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>tém técnicas artesanaissão contratadas para transmitir o seu saber-fazer. Este programa, que é aberto a qualquerpessoa, oferece cursos com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitar os inscritos para a produçãoartesanal e também promover geração <strong>de</strong> renda.Des<strong>de</strong> 1990, Maria da Penha ensina a técnica da renda irlan<strong>de</strong>sa nesteprograma que é realiza<strong>do</strong> em alguns distritos como o Farol <strong>de</strong> São Tomé, Goytacazes eno Centro.Durante a pesquisa <strong>de</strong> campo, a qual foi <strong>de</strong>senvolvida no centro da cida<strong>de</strong> e noFarol <strong>de</strong> São Tomé (bairro litorâneo), no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> julho a novembro <strong>de</strong> 2010 foirealiza<strong>do</strong> contato <strong>de</strong>ste autor com algumas alunas durante as aulas, tanto observan<strong>do</strong>como discutin<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s e também produzin<strong>do</strong> uma peça <strong>de</strong> renda. Em cadalocalida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o curso <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa é ofereci<strong>do</strong> participam aproximadamentequinze alunas, numa faixa etária entre trinta e sessenta anos.Os perfis <strong>de</strong>ssas alunas se assemelham bastante, já que em sua maioria são <strong>do</strong>nas<strong>de</strong> casa que participam das oficinas <strong>de</strong> artesanato com a intenção <strong>de</strong> produzir paraven<strong>de</strong>r visan<strong>do</strong> geração <strong>de</strong> renda como afirma Maria da Penha.Também, se assemelha entre as alunas o fato <strong>de</strong> que todas já participaram <strong>de</strong>diferentes oficinas, oferecidas pela Prefeitura, direcionadas às mais variadas técnicas. Atítulo <strong>de</strong> exemplo temos Rosângela <strong>do</strong>s Santos Cabral, aparentan<strong>do</strong> ter cinqüenta ecinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, casada, tem cinco filhos e <strong>do</strong>ze netos. Ela faz parte <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong>aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês <strong>de</strong> abril. Sabe fazer trabalhos em crochê,ponto reto, ponto russo, pintura em teci<strong>do</strong>, ponto capitonê, costura, hardanger, borda<strong>do</strong>


63em sandália, borda<strong>do</strong> em fita e marca (conheci<strong>do</strong> em outras localida<strong>de</strong>s como pontocruz). Ela começou a apren<strong>de</strong>r a fazer renda irlan<strong>de</strong>sa porque achava muito bonita emuito diferente e acrescentou ainda que preten<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r mais porque não quer parar.Hoje, ela possui um pequeno restaurante on<strong>de</strong> reservou um espaço para umavitrine na qual expõe e ven<strong>de</strong> os seus artefatos, inclusive os trabalhos em rendairlan<strong>de</strong>sa que, segun<strong>do</strong> ela, chamam a atenção das pessoas por ser diferente. Elacomentou que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> nova sempre teve que lutar pela sua sobrevivência e por issoaprendia sempre novas técnicas e práticas para obter ganhos, principalmente no perío<strong>do</strong><strong>de</strong> inverno quan<strong>do</strong> há pouco ou nenhum movimento <strong>de</strong> turistas, e consequentementetambém no seu restaurante no Farol <strong>de</strong> São Tomé.Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 30 - Rosângela <strong>do</strong>s Santos CabralEnquanto bordava, Rosangela comentou que o único problema era <strong>de</strong> não terfacilida<strong>de</strong> para adquirir o cadarço, com o qual se monta a base para a execução da rendairlan<strong>de</strong>sa e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> sempre da instrutora para conseguir este material. Foi entãoque Maria da Penha aproveitou para dizer que já não se encontra mais este cadarço nosarmarinhos da cida<strong>de</strong> e que são suas ex-alunas, geralmente, que lhe fornecem quan<strong>do</strong>vão comprar na fábrica Ypu, em Friburgo/RJ.


64Durante os comentários <strong>de</strong> Rosângela percebia-se a sua facilida<strong>de</strong> no manuseiocom o borda<strong>do</strong> e certa rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> compreensão quan<strong>do</strong> Maria da Penha lhe mostrava asetapas <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong> um ponto. Essa <strong>de</strong>streza talvez se caracterize pelas outrastécnicas artesanais já aprendidas por ela.Outra aluna chamada Teonília Maria Rangel Simão, tem sessenta e <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> interrogada sobre porquê ela começou a apren<strong>de</strong>r a fazer renda irlan<strong>de</strong>sa,foi direta em respon<strong>de</strong>r que somente por causa <strong>de</strong> orientação médica como terapia, jáque ela havia passa<strong>do</strong> por momentos muito difíceis na vida, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um câncercontraí<strong>do</strong> há três anos além da perda <strong>de</strong> sua mãe. Em seguida ressaltou que <strong>do</strong> câncer jáhavia se cura<strong>do</strong> e que o aprendiza<strong>do</strong> em renda irlan<strong>de</strong>sa a aju<strong>do</strong>u imensamente asuperar as dificulda<strong>de</strong>s naquele momento.Teonília disse que era iniciante no curso <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa e já havia aprendi<strong>do</strong>anteriormente o ponto reto e borda<strong>do</strong> hardanger e que nas etapas <strong>de</strong> produção da rendairlan<strong>de</strong>sa estava encontran<strong>do</strong> facilida<strong>de</strong> na montagem das peças, ao alinhavar o lacê nopapel e fazer o “passeio” até estarem prontas para bordar os pontos. Mas, enfatizou tercerta dificulda<strong>de</strong> na confecção <strong>do</strong> ponto crivo, pois este necessitava <strong>de</strong> muita atenção. Àmedida que Teonília ia executan<strong>do</strong> o borda<strong>do</strong> calmamente percebia-se que ela olhavafrequentemente a sua colega que ao seu la<strong>do</strong> estava bordan<strong>do</strong>.Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 31 - Teonília Maria Rangel Simão (à direita)


65Uma terceira aluna foi a Maria José <strong>de</strong> Souza Santos, aparentan<strong>do</strong> ter entresessenta e sessenta e cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ela disse que havia começa<strong>do</strong> a apren<strong>de</strong>r arenda irlan<strong>de</strong>sa há pouco tempo e que estava dan<strong>do</strong> os primeiros passos neste tipo <strong>de</strong>artesanato. Enquanto Maria José bordava o ponto brida percebia-se sua facilida<strong>de</strong> aolidar com a agulha e a leveza com que arrematava os pontos, ten<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> em nãoforçar o lacê, pois isso po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>formar a peça. Sempre que a Prefeitura oferece cursos<strong>de</strong> artesanato no Farol <strong>de</strong> São Tomé, Maria José participa. Talvez por isso saiba fazertricô, crochê, cerâmica, culinária, além <strong>de</strong> ter segui<strong>do</strong> o curso <strong>de</strong> <strong>do</strong>ceira.Fonte: acervo <strong>do</strong> autorFig. 32 - Maria José <strong>de</strong> Souza SantosEssas alunas durante as aulas <strong>de</strong>monstravam sempre o interesse em realizar ospontos <strong>de</strong> borda<strong>do</strong>s com exatidão, mas às vezes quan<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>las errava era necessário<strong>de</strong>smanchar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> ponto para então recomeçar. Também era comum duranteas aulas o intercâmbio <strong>de</strong> novos riscos (mol<strong>de</strong>s) que encontravam em revistas ouconseguiam com outras borda<strong>de</strong>iras.


664.2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE RENDA IRLANDESA EMCAMPOS DOS GOYTACAZESEssa pesquisa foi realizada durante as aulas <strong>de</strong> renda irlan<strong>de</strong>sa na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, em <strong>do</strong>is distritos distintos. Em to<strong>do</strong>s os momentos estiverampresentes, além <strong>de</strong>ste autor, a instrutora Maria da Penha e alunas com as quais foramacompanhadas as etapas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong>.Com os objetivos também já estabeleci<strong>do</strong>s pô<strong>de</strong>-se <strong>do</strong>cumentar as diferentesetapas na construção <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>sa, bem como observar eenten<strong>de</strong>r alguns aspectos <strong>do</strong> processo educativo durante o ensino e o aprendiza<strong>do</strong> além<strong>de</strong>, constatar <strong>de</strong> que forma as etapas <strong>de</strong> criação e/ou produção são <strong>de</strong>senvolvidas etambém a interação entre a instrutora e as alunas.O processo <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> da renda irlan<strong>de</strong>sa se caracteriza pela transmissãooral e pela imitação (DANTAS, 2005, p.228) que é percebida a partir <strong>do</strong> momento emque a instrutora começa mostran<strong>do</strong> como dar início ao trabalho pronuncian<strong>do</strong> a fraseimperativa: olha como se faz prá <strong>de</strong>pois você fazer igual. Assim, ela dá início às etapasda produção e começa com a cópia <strong>do</strong> risco (mol<strong>de</strong>) previamente escolhi<strong>do</strong>. Utiliza-sesempre nas primeiras aulas um risco pequeno para que as alunas possam <strong>de</strong>senvolvertodas as etapas <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> e <strong>de</strong> produção em pouco tempo.Há uma varieda<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los para diferentes utilida<strong>de</strong>s como, palas<strong>de</strong> blusa, sapatos <strong>de</strong> bebê, panos para móveis, barra para toalhas <strong>de</strong> mesa, etc. Os riscosapresentam geralmente <strong>de</strong>senhos em formas <strong>de</strong> arabescos, flores, folhas e tambémgeométricos e, geralmente indicam os pontos que po<strong>de</strong>m ser borda<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> letrasdas iniciais <strong>do</strong>s nomes <strong>do</strong>s pontos, como por exemplo: C – indica o ponto crivo; E(manuscrita) - indica os pontos brida com rococó (Anexo 2). Para a cópia <strong>do</strong> risco seutiliza papel manteiga e caneta esferográfica preta ou azul.Ao término da primeira etapa Maria da Penha confere a cópia <strong>do</strong> risco e pe<strong>de</strong> paraque a aluna cole o mesmo sobre um pedaço <strong>de</strong> cartolina e espere secar por algunsminutos. Feito isso, a instrutora pega o cadarço e vai montan<strong>do</strong> a peça, ou seja,alinhavan<strong>do</strong> sobre o risco e dizen<strong>do</strong> à aluna que não se <strong>de</strong>ve fazer pontos muito largosnem muito curtos, pois po<strong>de</strong> <strong>de</strong>formar a peça que está sen<strong>do</strong> trabalhada. Complementadizen<strong>do</strong> que após o término <strong>do</strong> alinhavo <strong>de</strong>ve-se “passear” pelo cadarço e unir com <strong>do</strong>is


67pontos <strong>de</strong> costura as partes on<strong>de</strong> os fios <strong>do</strong> cadarço se sobrepõem. Como são várioscruzamentos, à medida que se termina uma costura a agulha <strong>de</strong>sliza por <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>cadarço (passeio) até chegar ao próximo cruzamento e assim sucessivamente, até que seterminem to<strong>do</strong>s os cruzamentos <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> a peça preparada para o início <strong>do</strong> borda<strong>do</strong> <strong>do</strong>spontos.Essa etapa <strong>de</strong> alinhavo e “passeio” da peça, geralmente, requer mais tempo eentão se aproveita para conversar e trocar informações <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo. Maria daPenha, num <strong>de</strong>sses momentos ia contan<strong>do</strong> um pouco <strong>de</strong> sua história <strong>de</strong> vida e relatan<strong>do</strong>experiências <strong>de</strong> ex-alunas que já estavam ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> suas peças <strong>de</strong> renda. Algumas, atémesmo, dan<strong>do</strong> aulas particulares, tornan<strong>do</strong>-se assim agentes transmissores.Frequentemente Maria da Penha lembrava ao grupo que tinha que fazer uma pausapara lavar as mãos, já que o suor podia sujar o borda<strong>do</strong>, principalmente, se o cadarço for<strong>de</strong> cor branca.Termina<strong>do</strong> o “passeio”, a próxima etapa é a <strong>de</strong> começar o borda<strong>do</strong>. Inicia-se peloponto casea<strong>do</strong> ou barrete, também conheci<strong>do</strong> como brida que em forma <strong>de</strong> corda, servepara firmar ou segurar o cadarço no suporte <strong>de</strong> papel no qual se <strong>de</strong>senha o risco para aexecução <strong>do</strong>s outros pontos <strong>de</strong> borda<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> a aluna começa a executar o pontobrida, Maria da Penha enfatiza que não se <strong>de</strong>ve puxar com força o nó, pois assim po<strong>de</strong>arrebentar a linha e, se isso acontecer <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> ponto e entãorecomeçar.Quan<strong>do</strong> a aluna é iniciante a instrutora indica essa primeira etapa como tarefa <strong>de</strong>casa. A aluna leva um risco para montar a peça e trazer pronta com o “passeio” e oponto brida.A etapa seguinte é o ponto crivo, também conheci<strong>do</strong> como <strong>do</strong>is amarra<strong>do</strong>s ouponto, principalmente na região <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste. Vale ressaltar que, a classificação <strong>do</strong>spontos utiliza<strong>do</strong>s na renda irlan<strong>de</strong>sa difere segun<strong>do</strong> a localida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> é praticada.A última etapa da confecção <strong>de</strong> uma peça em renda irlan<strong>de</strong>sa é a <strong>de</strong> conferir seto<strong>do</strong>s os espaços vaza<strong>do</strong>s (áreas circundadas pelo cadarço) foram borda<strong>do</strong>s. Feito isso,Maria da Penha alerta as alunas para que tenham cuida<strong>do</strong> ao retirar o alinhavo, comtesourinha ou <strong>de</strong>smancha<strong>do</strong>r <strong>de</strong> costura 37 para que não estraguem a peça. Retira<strong>do</strong> o37 Ferramenta manual, em metal, com duas extremida<strong>de</strong>s paralelas, sen<strong>do</strong> uma pontiaguda que auxilia nocorte da linha <strong>de</strong> costura.


68alinhavo separan<strong>do</strong> a peça <strong>do</strong> papel, vira-se a peça para o la<strong>do</strong> direito (anverso), já queto<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> produção foi realiza<strong>do</strong> pelo la<strong>do</strong> <strong>do</strong> avesso (verso) como <strong>de</strong>termina atécnica <strong>de</strong> confecção.Essas etapas, se bem aprendidas, já conferem às alunas o status <strong>de</strong> artesã, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>para trás a posição <strong>de</strong> aprendiz em renda irlan<strong>de</strong>sa. Geralmente, é na primeira aula queas alunas já começam a praticar o ponto brida e na terceira apren<strong>de</strong>m e praticam o pontocrivo. À medida que as alunas vão aperfeiçoan<strong>do</strong> esses <strong>do</strong>is pontos começam a buscaroutros riscos para bordar peças maiores com <strong>de</strong>senhos mais elabora<strong>do</strong>s. Daí por diante,conforme o interesse pessoal, as alunas continuam no curso por um ano apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os<strong>de</strong>mais pontos existentes e se aprimoran<strong>do</strong>.Maria da Penha buscava sempre estimular suas alunas para o aperfeiçoamento natécnica e indicava algumas soluções para substituir o cadarço utiliza<strong>do</strong> na confecção darenda irlan<strong>de</strong>sa quan<strong>do</strong> havia a falta <strong>de</strong>ste material no merca<strong>do</strong>. Uma <strong>de</strong>ssas soluções éutilizar passamanarias 38 em substituição ao cadarço.Essa solução com a passamanaria fez lembrar a renda inglesa praticada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Paulo Afonso (BA) e referida por Maia (1980, p. 120). Esta renda <strong>de</strong>senvolve-se com amesma técnica <strong>de</strong> produção da renda renascença e irlan<strong>de</strong>sa, mas se utiliza <strong>de</strong>passamanarias para a sua confecção. Dantas (2005, p. 229) menciona a utilização <strong>de</strong>outros suportes como o sutache e o rabo-<strong>de</strong>-rato na confecção da renda irlan<strong>de</strong>sa eafirma que essa utilização “abre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inovações”.Foi também verifica<strong>do</strong> que durante as aulas, algumas alunas levavam revistas oupeças prontas em renda irlan<strong>de</strong>sa e também em renda renascença para mostrar.Aquelas que se interessavam “tiravam o mol<strong>de</strong>”, ou seja, copiavam manualmenteatravés <strong>de</strong> transparência com papel manteiga ou então faziam fotocópia. Dessa forma,vão se difundin<strong>do</strong> os mol<strong>de</strong>s (riscos) entre as alunas caracterizan<strong>do</strong> assim, a suapreservação.Esse intercâmbio <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s também favorece o entrosamento entre as alunasque muitas vezes abrem caminhos para a inscrição na Casa <strong>do</strong> Artesão (lojasubvencionada pela prefeitura e <strong>de</strong>stinada à exposição e venda <strong>do</strong>s produtos artesanaisda região) ou mesmo o início <strong>de</strong> uma parceria entre as borda<strong>de</strong>iras através <strong>de</strong> uma38 Espécie <strong>de</strong> fita geralmente em algodão ou seda, elaborada com fios entrelaça<strong>do</strong>s que formam figurascomo arabescos, flores e folhas em relevo. Normalmente é utilizada para dar acabamentos em roupas eobjetos <strong>de</strong>corativos <strong>de</strong> interior.


69socieda<strong>de</strong> ou cooperativa. Esse é o caso das ren<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Divina Pastora/SE quefundaram a Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong> DivinaPastora/ASDEREN.Verifica-se aqui um movimento <strong>de</strong> pessoas unidas por um interesse comum – ofazer renda irlan<strong>de</strong>sa. É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa perspectiva que Antonio A. Arantes enfatiza o“reconhecimento <strong>do</strong> valor cultural <strong>do</strong>s saberes nos objetos resultantes <strong>de</strong> práticascoletivas” tornan<strong>do</strong>-os “objetos <strong>de</strong> interesse”, e por essa razão há necessida<strong>de</strong> eminente<strong>de</strong> se registrar e conservar o nosso patrimônio, bem como <strong>de</strong> obter apoio <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>rPúblico “como que numa tentativa <strong>de</strong> fixar no tempo as artes e ofícios difusamente<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pelo engenho humano” (ARANTES, 2004, p. 16-17).Toda essa preocupação com a conservação e preservação <strong>do</strong> saber-fazer reforçaainda mais a existência <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>do</strong>s indivíduos e/ou grupos quein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> ações públicas para a sua salvaguarda mantém, mesmo que commudanças dinâmicas, as raízes <strong>de</strong> um saber. Os artesãos que se <strong>de</strong>stacam em seusofícios são hoje requisita<strong>do</strong>s para repassarem seus conhecimentos aos mais jovensatravés <strong>de</strong> programas institucionais públicos ou priva<strong>do</strong>s que se <strong>de</strong>dicam à salvaguarda<strong>do</strong> saber-fazer. Esse âmbito gerou também uma forma <strong>de</strong> valorizar esses artesãos, quesão consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s mestres, como agentes multiplica<strong>do</strong>res e conferin<strong>do</strong>-lhes o título <strong>de</strong>Tesouros Humanos Vivos, o qual foi instituí<strong>do</strong> pelo conselho executivo da UNESCO,em 1993.Alguns exemplos <strong>de</strong>sses patrimônios vivos são encontra<strong>do</strong>s em artigo <strong>de</strong> ReginaAbreu on<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca experiências e ações afirmativas com alguns mestres franceses <strong>do</strong>saber-fazer, como: Jacques Gencel (mestre-chapeleiro), Jacques Beaujoin (mestrealfaiate),Pierre Lalier (impressão <strong>de</strong> estampas e gravuras), Michel Petit (restaura<strong>do</strong>r <strong>de</strong>vitrais) e Henri Desgrippes (restaura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> móveis antigos). Esses mestres, segun<strong>do</strong>Abreu, fazem parte <strong>de</strong> um programa governamental conheci<strong>do</strong> como “Mestre da Arte”on<strong>de</strong> são seleciona<strong>do</strong>s alunos para darem continuida<strong>de</strong> às técnicas e habilida<strong>de</strong>sameaçadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecimento (ABREU, R., 2003, p. 81 et seq).No contexto brasileiro, tanto em Divina Pastora quanto em Campos <strong>do</strong>sGoytacazes existem nossos “Tesouros Humanos Vivos” que pela promoção daconstrução <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> práticas sobre a produção ren<strong>de</strong>ira asseguram aexistência <strong>de</strong>sses importantes patrimônios materiais e imateriais liga<strong>do</strong>s à produção <strong>de</strong>renda e a seus mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fazer.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


715. CONSIDERAÇÕES FINAISEste trabalho abor<strong>do</strong>u vários aspectos relativos à origem das rendas através <strong>do</strong>surgimento <strong>de</strong> novas práticas <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s, assim como a produção, o ensino e oaprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>sa.Embora semelhante, a renda irlan<strong>de</strong>sa se diferencia da renda renascença,originária da Europa, por certos materiais utiliza<strong>do</strong>s, como o cordão, linha mercercrochet,sua textura em relevo bem como tratamento e beneficiamento. No Brasil arenda irlan<strong>de</strong>sa se introduziu inicialmente no Nor<strong>de</strong>ste, através <strong>de</strong> freiras irlan<strong>de</strong>sas queutilizavam a Encyclopédie <strong>de</strong>s Ouvrages <strong>de</strong> Dammes nas escolas como forma <strong>de</strong>inclusão <strong>de</strong> técnicas artesanais europeias. O centro <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong>ssa renda foi e continuasen<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Divina Pastora (SE). Apesar disso, ficou aqui constata<strong>do</strong> que Campos<strong>do</strong>s Goytacazes também representa <strong>de</strong> forma significativa esse tipo <strong>de</strong> contribuição.Foi apresenta<strong>do</strong> um levantamento, <strong>de</strong> forma cronológica, das ações patrimoniais,<strong>de</strong> conservação e preservação que resultaram no reconhecimento e registro <strong>do</strong> ‘mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>fazer renda irlan<strong>de</strong>sa’ através da sua inscrição no Programa Nacional <strong>do</strong> PatrimônioImaterial (PNPI).A partir <strong>de</strong> uma consulta ao ‘grupo <strong>de</strong> rendas’ (agulha e bilro) <strong>do</strong> Tesauro <strong>do</strong>Centro Nacional <strong>do</strong> Folclore e Cultura Popular/CNFCP, encontramos uma <strong>de</strong>finiçãopara renda que requer atenção <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu significa<strong>do</strong>. Foi exposta no capítulo 2 atrajetória <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s até o aparecimento da renda ponto no ar, a qual vai marcar osurgimento da renda propriamente dita. Isso fez com que reavaliássemos o conceitoatual <strong>de</strong> renda, levan<strong>do</strong> em conta um conjunto mais amplo <strong>de</strong> elementos tais como:suporte, instrumentos, materiais, tratamentos, beneficiamentos e o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer. Aclassificação existente enfatiza os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s. A partir da reavaliação foiproposta, no capítulo 3, uma nova subdivisão para cada um <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> rendas <strong>de</strong>agulha e bilro. Esta nova subdivisão permitiu i<strong>de</strong>ntificar to<strong>do</strong>s os tipos <strong>de</strong> rendasconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se, não só os instrumentos, mas também o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer, as técnicas e osmateriais utiliza<strong>do</strong>s em sua confecção.


72Outro problema aponta<strong>do</strong> é que alguns autores (DANTAS, 2003; NÓBREGA,2005) consi<strong>de</strong>ram a renascença e a irlan<strong>de</strong>sa como sen<strong>do</strong> a mesma renda. A partir <strong>de</strong>nossa prática com as duas rendas construímos <strong>do</strong>is quadros comparativos <strong>de</strong>ssas duasrendas que enfatizam diferenças nos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fazer e nas ativida<strong>de</strong>s conseqüentes <strong>de</strong>tratamento e beneficiamento. Para isso, utilizamos como referência os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fazerda renda irlan<strong>de</strong>sa em Campos <strong>do</strong>s Goitacazes/RJ e o da renda renascença no Nor<strong>de</strong>stebrasileiro. A análise <strong>de</strong>sses quadros indicou que se trata, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> duas rendasdistintas.Em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, a observação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer renda irlan<strong>de</strong>satrouxe algumas informações interessantes que nos permitiram pensar os problemasrelativos à manutenção <strong>de</strong>sse patrimônio. Algumas informações obtidas das ren<strong>de</strong>irasforam a escassa e localizada produção <strong>do</strong> cadarço (suporte para a confecção da renda) ea ineficácia <strong>do</strong> circuito <strong>de</strong> comercialização e divulgação da renda em amplitu<strong>de</strong>nacional. Estas indicam problemas futuros para a manutenção <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>sassociadas ao saber-fazer renda irlan<strong>de</strong>sa como patrimônio intangível.Faz-se necessário colocar em prática as ações pretendidas pelos Planos <strong>de</strong>Salvaguarda, principalmente a facilitação <strong>do</strong> acesso aos materiais utiliza<strong>do</strong>s pelosartesãos. Esta é uma diretriz importante que <strong>de</strong>verá ser levada em consi<strong>de</strong>ração emtrabalhos futuros.


REFERÊNCIAS


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