12.07.2015 Views

Gilberto Freyre na Língua Portuguesa de novembro - Academia ...

Gilberto Freyre na Língua Portuguesa de novembro - Academia ...

Gilberto Freyre na Língua Portuguesa de novembro - Academia ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Se <strong>Gilberto</strong> <strong>Freyre</strong> se <strong>de</strong>finiu como escritor, a ele não faltaram preocupaçõescom a linguagem no Brasil. Remonta ao passado para enten<strong>de</strong>r a gênese danossa expressão verbal. O falar abrasileirado carrega uma mistura do popularcom o erudito:"Suce<strong>de</strong>u, porém, que a língua portuguesa nem se entregou <strong>de</strong> todo àcorrupção das senzalas, no sentido <strong>de</strong> maior espontaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão,nem se conservou acalafetada <strong>na</strong>s salas <strong>de</strong> aula das casas-gran<strong>de</strong>s sob oolhar duro dos padres-mestres. A nossa língua <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l resulta dainterpenetração das duas tendências. Devemo-la tanto às mães Bentas e àstias Rosas como aos padres Gamas e aos padres Pereiras (<strong>Freyre</strong>, Casagran<strong>de</strong>& Senzala, 2000, p. 389).Na casa-gran<strong>de</strong>, a linguagem eclodiu ditatorial, forte, autoritária, manifestação<strong>de</strong> hegemonia. O uso seco dos imperativos; a or<strong>de</strong>m; a imposição; a firmeza domando. Na senzala - e sobremaneira entre negros do doméstico -, predominoua docilida<strong>de</strong> do falar, a dolente súplica, a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za do pedido, tentativa <strong>de</strong>proteger-se, por trás <strong>de</strong> uma "muralha" lingüística, dos freqüentesautoritarismos.O Brasil se favoreceu com a simbiose <strong>de</strong> códigos. O verbo se amoleceu <strong>na</strong>palavra invocativa da negra. O "me dê" no lugar do "dê-me". A antecipação dopronome converteu a or<strong>de</strong>m em súplica social e <strong>de</strong>smontou as confrariaslingüísticas em vigência. Um peso que permeou o cotidiano, enriquecendo ascombi<strong>na</strong>ções da casa-gran<strong>de</strong>.Duas tendências andaram, às vezes, em trilhos paralelos, às vezes, emestradas unificadas: a do lusitano e a da africa<strong>na</strong>. Uma e outra indicandoposições extremadas, que se congratulavam <strong>na</strong> musicalida<strong>de</strong> do portuguêsabrasileirado. O amálgama <strong>de</strong> duas correntes opostas, uma coloquial, a outra,cerimoniosa, favoreceu a fusão <strong>de</strong> núcleos em contradição. Da senzalaadvieram os ruídos da opressão, os gestos <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> persuasão, tãoirma<strong>na</strong>dos à lógica da subalternida<strong>de</strong>. Não houve, como diria Paulo Freire,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!