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Gilberto Freyre na Língua Portuguesa de novembro - Academia ...

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No Brasil colônia, o lusitano portou-se, no discurso, a referendar a herançaaristocrática. A gramática foi usada como escudo <strong>de</strong> uma categoria <strong>de</strong> classes,exibindo vetores <strong>de</strong> uma fala culta, a seu modo coativa, com o intuito <strong>de</strong>ratificar os ângulos da estratificação.No mundo da bagaceira, a língua escrita foi uma; a falada, outra. Essadicotomia teve apoio dos jesuítas, que tentaram instituir a elite não só social,mas cultural. O fosso aumentava entre negros e brancos e entre homens emulheres. Eram a<strong>na</strong>lfabetas, mesmo as aria<strong>na</strong>s. A escrita <strong>de</strong>nunciavadiferenças da oralida<strong>de</strong>. Estabelecia-se a divisão entre os que escreviam oportuguês europeu e o brasileiro, com vocábulos africanos e tupis.Escrita e falaSe a escrita proliferou <strong>na</strong> casa-gran<strong>de</strong> só entre patriarcas, padres-mestres,mestres-escolas, capelães, ocupando lugar à parte, a língua falada se dividiuem fatias <strong>de</strong>siguais: a dos senhores e a dos <strong>na</strong>tivos ou escravizados. Aprimeira, oficial; a outra, abaixo dos critérios <strong>de</strong> aceitação, embora fluente einfluente <strong>na</strong> ciranda diária. As mães negras, as mucamas e o clima - um aliado- fizeram com a língua um trabalho <strong>de</strong> artesão. O clima enlanguesceu ohomem, amoleceu a linguagem e espichou o tempo em apreciável ler<strong>de</strong>za. Alassidão do agir associou-se à linguagem, fê-la vagarosa, farta <strong>de</strong> langor. Asnegras, filhas do Sol, albergaram como ninguém o sentido saudável daindolência. E os ss e os rr sintetizaram o alvo mais atingido <strong>na</strong> conversão <strong>de</strong>um português autêntico para um português vívido e mutante, sem adornos eestilismos fora dos eixos socioecológicos, culturais e geográficos.O vernáculo <strong>de</strong> estufa não vingou. O hibridismo venceu o português <strong>de</strong> origem.Nem padres nem gramáticos obtiveram sucesso <strong>na</strong> imposição <strong>de</strong> in<strong>de</strong>clináveisconceitos. Ce<strong>de</strong>ram às pressões. Se não ce<strong>de</strong>ram, aceitaram-<strong>na</strong>s <strong>de</strong> maugrado, mas aceitaram-<strong>na</strong>s. A vitória recaiu <strong>na</strong> boca do povo.

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