13.07.2015 Views

monteiro lobato, mercado editorial e campo literário ... - UNESP-Assis

monteiro lobato, mercado editorial e campo literário ... - UNESP-Assis

monteiro lobato, mercado editorial e campo literário ... - UNESP-Assis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Enio PassianiOutra explicação possível para o borramento da figura deFrancisco Alves na nossa historiografia certamente está numcerto ufanismo paulista, que encontrou em Monteiro Lobatoum suposto ‘ponto zero’ da nossa indústria <strong>editorial</strong>. Grandeescritor, rica personalidade, editor arrojado e inovador,Monteiro Lobato a isso aliou grande habilidade para promoversuas idéias, seus produtos e a si próprio, contribuindo assimpara ofuscar o trabalho dos que o precederam no <strong>campo</strong><strong>editorial</strong> (BRAGANÇA, 2000, p. 455).Da arguta observação do professor Aníbal destaco o seguinte: não foiapenas Lobato, isoladamente, quem construiu sua imagem de editor arrojado;soma-se ao trabalho de autoconstrução da imagem de Lobato por ele mesmo areprodução dessa imagem feita, posteriormente, por editores renomados 18 emesmo historiadores que tomaram o livro como objeto de estudo. Dentre asestratégias de consagração elaboradas ao longo dessa história podemoslembrar a revolucionária criação de uma rede nacional de distribuição de livros,nascida a partir do envio daquela famosa circular a comerciantes de váriospontos do país, convidando-os a vender uma “coisa chamada livro”. Noentanto, constata a pesquisadora Cilza Bignotto:Embora o sistema de difusão criado a partir dessa circular sejamencionado como pioneiro em todas as biografias de Lobato enos principais estudos sobre história do livro no Brasil, acircular [...] ainda não foi localizada. O próprio Lobato terialamentado não haver guardado cópia dela. Essa circular tãofamosa, que o editor resume de forma levemente diversa acada depoimento, é caso curioso de documento mencionadoem todas as obras que tematizam a história de suas editoras,muitos trabalhos, ver, por exemplo: LANDERS, Vasda Bonafini. De Jeca a Macunaíma: MonteiroLobato e o Modernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988; PRADO, Antonio Arnoni.Lima Barrteo: o crítico e a crise. São Paulo: Martins Fontes, 1989; e SEVCENKO, Nicolau.Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo:Brasiliense, 1995.18 Note-se que até os nomes das editoras as quais Lobato esteve, direta ou indiretamente,ligado, com exceção da sua própria, a Monteiro Lobato & Cia., não apenas sugerem, masreforçam a ideia do fundador das editoras brasileiras: Cia. Editora Nacional, Civilização Brasileirae Brasiliense. Ou seja, a menção ao país e à nação nos nomes das editoras permite duasinterpretações possíveis: 1) Lobato, além de relacionar o desenvolvimento do país aodesenvolvimento de um <strong>mercado</strong> <strong>editorial</strong> e à formação de um público leitor, arrogava para aseditoras às quais se encontrava vinculado tal “missão”; 2) a criação de um nexo entre as casaseditoriais e a nação ajudava a construir e a reforçar a imagem de um Lobato pioneiro naformação do <strong>mercado</strong> <strong>editorial</strong> nacional. Interpretações estas que acabam se complementando.Miscelânea, <strong>Assis</strong>, vol.6, jun./nov.2009 135

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!