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Discurso de Homenagem Póstuma ao Acad. Gerson Cotta - Pereira ...

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serenida<strong>de</strong> como <strong>Gerson</strong> o fez. Certamente sua fé religiosa lhe permitiucolocar-se nas mãos <strong>de</strong> Deus com confiança, na certeza <strong>de</strong> que Seu amor ésempre maior do que o nosso amor e, mais do que isso, é maior que o nosso<strong>de</strong>samor, pois a dimensão maior do amor é o perdão. Essa é a via privilegiadaque conduz para a paz interior que estabelece a plenitu<strong>de</strong> da vida. <strong>Gerson</strong> apercorreu toda inteira. Por esta razão, acrescido do fato <strong>de</strong> em momento algumter experimentado a dor física, para os que <strong>de</strong> fato amavam <strong>Gerson</strong>, sua mortefoi causa <strong>de</strong> alegria interior, ainda que sua ausência possa trazer a dor dasauda<strong>de</strong>.Durante alguns anos, na década <strong>de</strong> 80, <strong>de</strong>diquei-me <strong>ao</strong> cuidado <strong>de</strong>pacientes terminais do HIV, tendo com eles morado em uma casa <strong>de</strong>acolhimento que tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer em São Paulo. Nessaépoca, quando não se sabia sequer o agente causador da doença, a sobrevida<strong>de</strong>sses enfermos era muito curta e pouco havia a ser feito além <strong>de</strong> oferecercuidados básicos e acolhimento afetuoso. Para muitos daqueles pacientes,vindos <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> total abandono e <strong>de</strong>samor através das vielas escurasdos usuários <strong>de</strong> drogas e da prostituição, esse encontro humano lhes dava apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrirem amados e respeitados. Assim, presenciei amorte serena <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>les, pois haviam se encontrado a si próprios eresgatado seus sentimentos mais suaves e nobres pelo toque misterioso etransformador do amor e da amiza<strong>de</strong>. Tive então a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r um pouco melhor o sentido da vida e o processo da morte e domorrer, não só através da convivência, mas também pelo estudo e reflexão.Assim, os contatos que tive com <strong>Gerson</strong> nos últimos quinze dias <strong>de</strong> suavida me reavivaram reflexões suscitadas por vários autores, <strong>de</strong>ntre os quaisGabriel Marcel que, contrariando outros filósofos, afirma que nãocompreen<strong>de</strong>mos a morte a partir <strong>de</strong> sua antecipação ou <strong>de</strong> sua experiênciadireta, mas, através da morte do outro que amamos. Certamente a morte <strong>de</strong><strong>Gerson</strong> fez com que os que estiveram <strong>ao</strong> seu lado pu<strong>de</strong>ssem compreen<strong>de</strong>rmelhor a morte e, a partir <strong>de</strong>la, a vida.Peço licença para referir um dos escritos <strong>de</strong> um amigo comum, meu e <strong>de</strong><strong>Gerson</strong> – o Professor Daniel Serrão – <strong>Acad</strong>êmico Honorário Estrangeiro <strong>de</strong>sta6

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