Determinação da Anemia Ferropriva em Crianças de ... - NewsLab

ArtigoDeterminação da Anemia Ferropriva emCrianças de Dois a Seis Anos em Macaubal,Interior de São PauloBárbara Larrubia Alves 1 , Virgínia A. S. de Campos 2 , Rita Karina Santana 31 - Biomédica formada pelo Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV, SP2 - Biomédica formada pelo Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV, SP e gerente de qualidade do laboratório Servilab – Macaubal, SP3 - Docente do Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV, SPResumoA anemia ferropriva ainda é um dos maiores problemasde saúde pública no Brasil, apesar de todo o conhecimentosobre as formas de intervenção. Assim sendo,o objetivo deste estudo foi determinar a ocorrência deanemia ferropriva em crianças com idade pré-escolar(dois a seis anos de idade), matriculadas na EscolaMunicipal Professor “Octavio Dezan Sobrinho”, emMacaubal, SP, no período de 13 de maio de 2005 a14 de outubro de 2005. Foi realizado manualmenteeritrograma e dosagem de ferro sérico, segundo técnicasjá padronizadas. Através dos resultados obtidos podeseverificar que 11,4% apresentaram anemia, isto é,dosagem de hemoglobina inferior a 11 mg/dl. Desses,8,76% apresentaram anemia ferropriva.Palavras-chave: Pré-escolares, hemácia, ferro, diagnósticolaboratorial, anemia ferroprivaSummaryOccurrence of anemia in children from 2 to 6years old in Macaubal – SPIron deficiency is still one of the most serious publichealth concerns in Brazil, in spite of all the accumulatedknowledge about intervention measures. So, theobjective of this study was to determine the occurrenceof anemia in children with pre-school age (from 2 to6 years old) studying at the Municipal School Teacher“Octavio Dezan Sobrinho”, in Macaubal – SP from05/13/05 to 10/14/05. It was operated by handhemoglobin dosage of serum iron. Through the gotresults it can be found out that 11,4% have anemiaof hemoglobin subordinate to 11,0 mg/dl. Of those8,76% have iron deficiency.Keywords: Pre-school, erythrocyte, iron, laboratorydiagnosis, iron deficiency anemiaIntroduçãoNo organismo humano, oferro está presente na hemoglobina,mioglobina e flavoproteínas.Cerca de 20% do ferropresente no organismo encontrasena forma de armazenamentocomo ferritina e hemossiderinano fígado, baço e medula óssea.Outros 70% estão presentes noseritrócitos. O ferro também atuacomo co-fator de reações enzimáticasno ciclo de Krebs, na síntesedas purinas, cartininas, colágenoe neurotransmissores cerebrais(1, 2).O ferro é encontrado em alimentosde origem animal comocarnes, leite e ovos, e em alimentosde origem vegetal como ver-132NewsLab - edição 80 - 2007

duras de coloração escura, feijãoe soja entre outros (1).A absorção do ferro ocorre noduodeno e depende da origem docomplexo de ferro presente na luzdo intestino, da presença de fatoresfacilitadores ou inibidores na dietae de suas reservas orgânicas (1,2). Sua absorção ocorre por duasvias, uma heme e uma não heme.A via heme é a do ferro presenteem alimentos de origem animal,sendo este facilmente absorvidopela mucosa intestinal devido a suaalta biodisponibilidade. Já a via nãoheme é do ferro de origem vegetal,que sofre redução para a formaferrosa durante a digestão parapoder ser absorvido pela mucosaintestinal (1, 2, 3, 4).Além disso, a absorção do ferrosofre influência de outros componentespresentes na dieta, que sãoos facilitadores ou inibidores daabsorção. Ácido ascórbico, carne,lisina, cisteína, histidina, ácidocítrico e succínico e a frutose sãofacilitadores da absorção; já oscompostos fenólicos (presentesno chá preto, mate, café e certosrefrigerantes), filatos (cereais),sais de cálcio e fósforo, fibras eproteínas do ovo são inibidores daabsorção (1, 4).A dieta deficiente em ferro podefavorecer o desenvolvimento daanemia ferropriva, mas dificilmenteserá sua causa exclusiva (5). Deveseavaliar também a capacidade doorganismo em aproveitar o ferrooferecido pela dieta (1).Uma vez absorvido pelo organismo,o ferro não é excretado,pois não existe via de eliminação.No entanto, diariamente pequenasquantias de ferro são perdidasatravés das células descamativasda pele e epitélio dos tubos digestivoe urinário, e pelo sanguemenstrual nas mulheres (3, 6).De modo geral, a carência deferro ocorre em conseqüência à:1. Dieta pobre em ferro devidoa modismos ou fatores socioeconômicos(7).2. Diminuição e até mesmo aausência de transferrina. Nessecaso, o defeito de transporte promovea diminuição da oferta deferro para a medula óssea (5).3. Má absorção do ferro peloduodeno devido, entre outrosfatores, a combinações inadequadasdos alimentos durante asrefeições (1, 4).4. Aumento das necessidadesfisiológicas que ocorrem, porexemplo, no período gestacionalda mulher e no período decrescimento da criança ou emcasos patológicos como em tumores(5).5. Sangramentos agudos oucrônicos, geralmente do sistemadigestivo, que pode ser resultadode doenças parasitárias causadas,principalmente, pelo Ancylostomaduodenale ou Necator americanus(5, 8, 9).6. Doação de sangue, particularmente,em doadores freqüentesdo sexo feminino (10).Na anemia ferropriva, os sinaisclínicos são de difícil reconhecimento,podendo passar despercebidos.Comumente ocorre palidez, anorexia,apatia, irritabilidade, reduçãoda capacidade de atenção e déficitpsicomotor (11, 12).A deficiência de ferro ocorreno organismo de forma graduale progressiva até que a anemiase instale (1, 2).Na anemia ferropriva ocorre diminuiçãoda hemoglobina, reduçãodo hematócrito, baixa concentraçãode ferro sérico, baixa saturação detransferrina, aumento da capacidadede ligação do ferro e diminuiçãoou ausência das reservas de ferro.Além disso, o esfregaço sangüíneocorado apresenta hemácias microcíticase hipocrômicas (1, 2, 4).Neste estágio, os níveis de hemoglobinase situam abaixo dospadrões para idade, sexo e altitude,com prejuízos funcionais aoorganismo. Para crianças menoresde seis anos, a Organização Mundialda Saúde (OMS) estabeleceu onível de hemoglobina em 11,0 g/dl(4), sendo considerada anemianíveis inferiores a este (2).O objetivo deste estudo foi determinara ocorrência de anemiaferropriva em crianças com idadepré-escolar (dois a seis anos deidade), matriculadas na EscolaMunicipal Professor “Octavio DezanSobrinho”, em Macaubal, estadode São Paulo, Brasil, duranteo período de 13 de maio de 2005a 14 de outubro de 2005.134NewsLab - edição 80 - 2007

Material e MétodosNesse estudo foram analisadas114 crianças de ambosos sexos e com idades quevariavam de dois a seis anos,matriculadas na Escola MunicipalProfessor “Octavio DezanSobrinho”, em Macaubal, estadode São Paulo, Brasil, durante operíodo de 13 de maio de 2005a 14 de outubro de 2005.De cada criança foram coletadasamostras de sangue obtidaspor punção venosa e colocadasem tubos contendo anticoagulante(EDTA) para realizaçãodo eritrograma e seco para adosagem de ferro sérico (13).Essas coletas foram feitas mediantea assinatura do “Termode consentimento pré-informado”,obedecendo os termos daResolução 196/96 do ConselhoNacional de Saúde, pelos responsáveisdos menores.Todas as amostras foramsubmetidas às seguintes análiseslaboratoriais: confecção doesfregaço sangüíneo corado porGiemsa, contagem de eritrócitosem câmara de Neubauerutilizando líquido de Hayen,determinação do hematócritopelo micrométodo, dosagem dehemoglobina pelo método dacianometahemoglobina, cálculodos índices hematimétricos(VCM, HCM, CHCM) e dosagemde ferro sérico por reação deponto final (14).ResultadosDo total de indivíduos analisados,55,3% (63) eram do sexo masculinoe 44,7% (51) do sexo feminino.Pelos resultados obtidos podeseverificar que 11,4% (13) apresentavamanemia, isto é, dosagemde hemoglobina inferior a 11mg/dl. Os 88,5% (101) restantesnão apresentaram anemia. Dosque se mostraram com anemia,5,26% (6) eram do sexo femininoe 6,13% (7) do sexo masculino.Além disso, constatou-se quedos 11,4% (13) pacientes anêmicos,8,76% (10) apresentaram anemiapor deficiência de ferro, ou seja,concentração de ferro sérico inferiora 45mg/dl e no esfregaço sangüíneoforam encontradas hemáciasmicrocíticas e hipocrômicas. Dessespacientes com anemia ferropriva,6,13% (7) eram do sexo masculinoe 2,63% (3) do sexo feminino.Os três pacientes restantesapresentaram anemia microcíticae hipocrômica, no entanto, o ferroTabela 1. Incidência de anemia em crianças de idade entre dois e seis anosda Escola Municipal Professor “Octávio Dezan Sobrinho”, de Macaubal – SP,no período de 13 de maio de 2005 a 14 de outubro de 2005Masculino Feminino TotalAmostra 55,3% 44,7% 100%Não anêmicas Hb > 11,0 49,06% 39,43% 88,5%Anemia Hb < 11,0 6,13% 5,26% 11,4%Gráfico 1. Incidência de anemia em crianças de idade entre dois e seis anosda Escola Municipal Professor “Octávio Dezan Sobrinho”, de Macaubal – SP,no período de 13 de maio de 2005 a 14 de outubro de 2005136NewsLab - edição 80 - 2007

Tabela 2. Incidência de anemia ferropriva em crianças de idade entre doise seis anos da Escola Municipal Professor “Octávio Dezan Sobrinho”, deMacaubal – SP, no período de 13 de maio de 2005 a 14 de outubro de 2005Gráfico 2. Incidência de anemia ferropriva em crianças de idade entre 2 e 6anos da Escola Municipal Professor “Octávio Dezan Sobrinho”, de Macaubal– SP, no período de 13 de maio de 2005 a 14 de outubro de 2005encontrava-se normal. Assim sendo,indica-se a realização de testesmais específicos como, por exemplo,eletroforese de hemoglobinaque seria útil na identificação deuma possível talassemia.DiscussãoConstatou-se que 8,76% das114 crianças analisadas apresentaramanemia ferropriva porMasculino Feminino TotalAmostra 55,3% 44,7% 100%Anemia Ferropriva 6,13% 2,63% 8,76%Anemia não ferropriva 0,87% 1,75% 2,63%demonstrarem concentraçõesde hemoglobina inferior a 11,0mg/dl, e de ferro menor que45,0 mg/dl, além de célulasmicrocíticas e hipocrômicas noesfregaço sanguíneo.Das amostras analisadas nãoforam determinadas condições socioeconômicas,estado nutricional,utilização de medicação à base deferro, alimentos enriquecidos oudoenças parasitárias que são fatoresque influenciam na anemia(15, 16). Apenas foram levados emconsideração a idade e o sexo.O sexo foi fator determinanteda anemia ferropriva, poisa porcentagem de meninos foide 6,13%, concordando comestudo realizado por Torres etal., 1994, no município de SãoPaulo. Justificaram-se afirmandoque a maior prevalência de anemiano sexo masculino pode serexplicada pela maior velocidadede crescimento apresentadapelos meninos, acarretandomaior necessidade de ferro peloorganismo, não suprida peladieta (4).Já o fator idade demonstrouque com o aumento da idade aprevalência de anemia ferroprivatende a diminuir (17). Isso explicariao baixo índice encontradoneste trabalho.Segundo Queiroz, 2000, noBrasil não existem dados nacionaisque comprovem a prevalênciade anemia ferropriva,entretanto, por meio de estudospontuais constatou-se que emdiversas regiões do país a prevalênciade anemia ferropriva émaior em menores de dois anosde idade, independente do níveleconômico. Isso ocorre devidoao desmame precoce, anterioraos seis meses de vida, e à introduçãodo leite de vaca queapesar de conter o mesmo teorde ferro que o leite materno,apresenta biodisponibilidademuito baixa.138NewsLab - edição 80 - 2007

Apesar da anemia ferroprivaestar presente numa pequenaparcela da população analisada(8,76%), é de extrema utilidadeo diagnóstico e o estabelecimentode medidas preventivas da anemiaferropriva na comunidadepré-escolar. A prevenção deveser estabelecida com base nosseguintes aspectos: educação nutricionale melhoria da qualidadeda dieta oferecida, incluindo oincentivo do aleitamento materno,suplementação medicamentosa,fortificação dos alimentos econtrole de infecções. Portanto,é necessária a conscientização,tanto da população e da equipe desaúde, quanto o governo para quemedidas cabíveis sejam implantadas,melhorando o desenvolvimentonormal das crianças.Correspondência para:MSc. Rita Karina Santanarksantana@bol.com.brReferências Bibliográficas1. Queiroz SS, Torres MAA. Anemia ferropriva na infância. J. Pediatr. (Rio de J), vol.76, no.3, p.298-304, 2000.2. Paiva AA et al. Parâmetros para avaliação do estado nutricional de ferro. Rev. Saúde Pública (São Paulo), vol.34, no.4,p.210-219, ago. 2000.3. Verrastro T. Hematologia e Hemoterapia: Fundamentos de Morfologia, Fisiologia, Patologia e Clínica. 1.ed. São Paulo:Atheneu, 2002. 9 – 45p.4. Osório MM. Fatores determinantes da anemia em crianças. J. Pediatr. (Rio J), vol.78, no.4, p.269-278, 2002.5. Zago MA. Hematologia: fundamentos e prática. São Paulo: Atheneu , 2001, 24-31 ; 224-229p.6. Fleury MK et al. Anemia ferropriva e beta-talassemia heterozigota: aspectos laboratoriais e diagnóstico diferencial.RBAC (Rio de Janeiro), vol.35, no.2, p.51-54, 2003.7. Vitalle MSS, Romero KT, Medeiros ELGR. Prevalência de anemia carencial ferropriva, parasitoses intestinais e estadonutricional em pacientes assistidos no centro de atendimento e apoio ao adolescente. Rev. Saúde Pública. (São Paulo)vol. 18, no. 4, p.210-220, março 1996.8. Carvalho KRA et al. Importância do ferro na dieta de indivíduos portadores de ancilostomíase no Município de Lagarto-SE. Rev. LAES&HAES (São Paulo), vol. 26, p.194-206, março/abril 2005.9. Pedrazzani ES et al. Helmintoses intestinais. II – Prevalência e correlação com renda, tamanho da família, anemia eestado nutricional. Rev. Saúde Pública (São Paulo), vol.22, no.5, p. 254-261, out.1988.10. Cançado RD. et al. Iron deficiency in blood donors. Med. J. (São Paulo), vol.119, no.4, p.221-225, julho 2001.11. Coutinho GGPL, Bertollo EMG, Bertilli ECP. Iron deficiency anemia in children: a challenge for public health and forsociety. Med. J. (São Paulo), vol.123, no.2, p.196-201, março 2005.12. Morais MB, Sdepanian VL. Sinais clínicos no diagnóstico de anemia: uma ação tardia e ineficiente no combate àdeficiência de ferro. Rev. Saúde Pública. (São Paulo), vol.38, no.2, p.215-218, abril 2004 .13. Moura RA et al. Técnicas de Laboratório. 3.ed. São Paulo: Atheneu, 2004. 335 – 397p.14. Ferro Sérico. Minas Gerais: Labtest Diagnóstica (1999). Bula de Instrução de uso.15. Almeida CAN, Ricco, Rubens G, DEL Ciampo LA. et al. Fatores associados a anemia por deficiência de ferro emcrianças pré-escolares brasileiras. J. Pediatr. (Rio de J.), vol.80, no.3, p.229-234, maio/jun. 2004 .16. Santos LMP et al. Situação nutricional e alimentar de pré-escolares no semi-árido da Bahia (Brasil): I. Avaliaçãoantropométrica. Rev.Saúde Pública (São Paulo), vol.29, no.6, p.205-226, dez.1995.17. Monteiro CA, Szarfarc SC. Estudo das condições de saúde das crianças no Município de São Paulo, SP (Brasil), 1984-1985. V-Anemia. Rev. Saúde Pública (São Paulo), vol.21, no.3, p. 255-265, jun. 1987.140NewsLab - edição 80 - 2007