Outra possibilida<strong>de</strong> é que essa proposta seja rechaçada, uma vez queaceitá-la pressupõe sustentar o contato com a angústia. Por isso, percebemosque todo cuidado <strong>de</strong>ve ser tomado para que esta intervenção possatambém oferecer acolhimento ao sofrimento daquele que se queixa.Em seu 10º Seminário (2005), Lacan fala não apenas da angústia queacomete o analisante, mas também da que afeta o próprio analista. Essaangústia, diz ele, advém do fato <strong>de</strong> nos dispormos a questionar o sujeitosobre seu <strong>de</strong>sejo, ao que ele respon<strong>de</strong> articulando suas <strong>de</strong>mandas, quesão expectativas em relação ao analista.Por meio <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas, o sujeito diz em ato sobre si, sobre suasresistências e limitações, acarretando o chamado fenômeno <strong>de</strong> transferência.O que caracteriza um trabalho analítico é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o analistamanejar a transferência <strong>de</strong> maneira que não atenda às <strong>de</strong>mandas dosujeito para que estas o levem a confrontar-se com seu próprio <strong>de</strong>sejo.Mais uma vez percebemos a analogia entre o trabalho que po<strong>de</strong> ser realizadopelo psicólogo na escola e o trabalho estritamente clínico, tendo emvista que apontamos o caminho da suspensão da resposta às queixas apresentadasna escola para promover a implicação daquele que se queixa.No entanto, essa não é uma tarefa simples, uma vez que em nossasrelações cotidianas ten<strong>de</strong>mos a <strong>de</strong>mandar em relação aos outros e a aten<strong>de</strong>ràs suas <strong>de</strong>mandas em função <strong>de</strong> um impulso inconsciente, que visasustentar nossos vínculos afetivos — sejam eles amorosos ou hostis.A angústia que afeta o analista tem origem em uma ameaça narcísica.Afinal, quando uma <strong>de</strong>manda lhe é en<strong>de</strong>reçada, o sujeito que o faz parte dasuposição <strong>de</strong> que o analista tem os meios para ajudá-lo a sair do impassee aliviar seu mal-estar. A questão que o analista traz é que a superação <strong>de</strong>um impasse, muitas vezes, exige que se sustente alguma relação com omal-estar: o mal-estar por não ter respostas prontas, por ter que agir semsaber <strong>de</strong> antemão quais consequências advirão <strong>de</strong>ste ato, por saber quenão é possível dar conta <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas situações etc. Esta resposta doanalista, que sempre aponta para a castração — ou seja, para o fato <strong>de</strong> quesomos limitados em muitos aspectos — , po<strong>de</strong> frustrar o sujeito − que esperavauma “solução” − e gerar <strong>de</strong>scrença quanto à qualida<strong>de</strong> profissionaldo analista ou quanto ao seu interesse em auxiliar o sujeito.Nas escolas tem sido frequente a expectativa <strong>de</strong> que o psicólogoatue conforme o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atendimento em consultório e com o obje-130
tivo <strong>de</strong> normalizar os sujeitos, em geral alunos e seus familiares. A oferta<strong>de</strong> nossa direção <strong>de</strong> trabalho, cuja orientação ética propõe a <strong>de</strong>sconstruçãodos processos <strong>de</strong> medicalização e psicologização dos problemasescolares, ten<strong>de</strong> muitas vezes a frustrar a expectativa dos educadores,fazendo com que alguns recuem em seu pedido em função das dificulda<strong>de</strong>sem reconhecer as próprias limitações e construir uma proposta <strong>de</strong>trabalho a partir <strong>de</strong>sse impossível.Nesse caso, a falta − aquilo que limita todo sujeito − não é tomadacomo fator que cause o <strong>de</strong>sejo do professor e precipite o ato educativo, mascomo algo que o impossibilita. Como afirma Lajonquière (1999),“Isso que sempre falta ao/no presente é, precisamente, a distância queo separa do i<strong>de</strong>al existencial. O adulto, em vez <strong>de</strong> experimentá-lo comouma impossibilida<strong>de</strong> e, por conseguinte, como uma dívida sempre simbólica,vive esta diferença no registro imaginário da impotência” (LA-JONQUIÈRE, 1999, p. 190).Para enten<strong>de</strong>rmos um pouco melhor <strong>de</strong> que falta falamos e qualsua função, façamos pequena incursão na dinâmica <strong>de</strong> constituição dosujeito − que não é dado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, mas se produz na relaçãocom o outro. Quando nasce um bebê humano, normalmente há alguémque ocupa para ele a função materna, que consiste em proporcionar-lheas condições necessárias à manutenção <strong>de</strong> sua vida, dada sua imaturida<strong>de</strong>para sobreviver <strong>de</strong> maneira autônoma. A relação que se forma entreo sujeito e o outro materno é simbiótica, em que nada parece faltar. Esseé um momento importante e necessário para a constituição do sujeito,pois esta relação quase exclusiva implica um investimento libidinal nacriança, como objeto amado e <strong>de</strong>sejado.Também é importante que tão logo a mãe possa <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se ocuparexclusivamente do bebê e direcionar-se a outros objetos quaisquer. Esse momentosinaliza para o sujeito o fato <strong>de</strong> que nada po<strong>de</strong> preencher completamenteo <strong>de</strong>sejo — o da mãe e, portanto, também o <strong>de</strong>le — , motivo peloqual, invariavelmente, os objetos satisfazem apenas parcialmente e o sujeito éobrigado a lançar-se constantemente em busca <strong>de</strong> outros objetos.Essa falta não constitui marca negativa − como se po<strong>de</strong>ria pensarem um primeiro momento −, pois é por sermos <strong>de</strong>sejantes que investi-131
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Este livro é resultado do Prêmio