coletiva, portanto, evitando-se tanto a diluição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>squanto a omissão diante do <strong>de</strong>sconhecido ou do imprevisto (VICENTIN,2006, p. 168).Nesse caso − e em tantos outros que ainda estão por vir − cabepensar junto com a escola que há diferentes modos <strong>de</strong> constituiçãoe funcionamento do sujeito, o que colocará para o cotidiano escolaralguns embaraços (seja no campo do aprendizado, seja na dimensão <strong>de</strong>socialização) que não <strong>de</strong>vem ser tomados como um a menos do sujeito,déficit que <strong>de</strong>verá ser medido e corrigido sob o registro <strong>de</strong> um funcionamentonormal, i<strong>de</strong>al.Nessa perspectiva, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação da palavra na ocasiãodos encontros com a equipe escolar teve função importante nesse trabalho,haja vista que pu<strong>de</strong>ram reconhecer que acolher esse adolescente colocavaem cena a imprevisibilida<strong>de</strong> dos acontecimentos, o que exigiria novasrespostas. É preciso ir para além do lamento em relação àquilo que não vaibem − lógica essa presente não apenas nesse caso, mas nas situações <strong>de</strong>impasse para a escola, <strong>de</strong> modo geral (BARROS, 2008).Além <strong>de</strong>sse acolhimento do que emergia para a escola diante daqueleque estava prestes a receber, consi<strong>de</strong>ramos fundamentais os encontros comsua família. Era preciso acolher a família e reconhecer a legitimida<strong>de</strong> da suafala diante das situações enfrentadas − no caso, pela mãe e pelo aluno −como a da relação conturbada com a escola on<strong>de</strong> ele estava inicialmentematriculado, para, daí, trabalharmos as questões que entram em jogo quandofalamos da escolarização <strong>de</strong> pessoas com graves transtornos mentais.Interessante pontuar, e o que nos aparece como importante analisadordo trabalho realizado, foi que, num dos encontros fortuitos com adireção da escola no espaço da CRE, interrogamos sobre como estava oreferido adolescente no espaço escolar, e o diretor, sem saber a quem nosreferíamos em nossa fala, respon<strong>de</strong>u: “<strong>de</strong> que menino vocês estão falando?”.Essa fala diz mesmo <strong>de</strong> uma inclusão (e não <strong>de</strong> uma negligência),visto que temos notícias <strong>de</strong> que, <strong>de</strong> fato, nesse momento, o adolescentefaz parte da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino/escola.A outra situação que traremos à discussão sinaliza para o importantepapel da equipe da RPE na construção <strong>de</strong> espaços em que a escolapossa se interrogar sobre o que inicialmente apresenta como queixa;48
possibilitando que algo se opere a partir dos encontros RPE—escola quepossam produzir <strong>de</strong>slocamentos em seus discursos.Um dos encontros com a direção <strong>de</strong> uma escola, em especial, remeteu-nosa essa questão <strong>de</strong> modo mais marcante: a escola, representadapela diretora num primeiro momento, <strong>de</strong>mandava algum tipo<strong>de</strong> atendimento a uma criança consi<strong>de</strong>rada “estranha” e que causavaangústia na equipe, <strong>de</strong>vido a sua recusa em falar e ao seu isolamento.Cabe acrescentar que essa é a segunda escola frequentada pela criança,e na primeira também se tinha a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “diferença”, pela mesmaquestão elucidada anteriormente.Ao longo da construção da história <strong>de</strong>ssa menina e seu percursona educação, diferentes atores da escola vieram a somar elementos quesó vinham a ratificar a “esquisitice” <strong>de</strong>la. Havia um esforço, por parte daescola, em elencar cada estranhamento em relação ao comportamentoda criança, tudo apontando para possível transtorno psiquiátrico. Nessecontexto é importante apontar que os encontros não se <strong>de</strong>ram apenascom a direção da escola, mas também com algumas professoras (ada criança, bem como outras professoras que se interessaram em fazerconsi<strong>de</strong>rações a respeito <strong>de</strong>la).As indicações da escola − seja em relação ao comportamento damenina, seja sobre seu irmão (aluno da mesma instituição <strong>de</strong> ensino),ou, ainda, em relação ao pai das crianças, que no passado já tinha sidoaluno <strong>de</strong> uma das referidas professoras − pareciam manter uma funçãopara a equipe escolar: o <strong>de</strong> apaziguar a angústia ante uma criança quemal fazia uso da linguagem para se comunicar. Vale ressaltar que essanão utilização da fala restringia-se ao ambiente escolar, haja vista quefora <strong>de</strong>sse contexto não havia qualquer observação <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m.A partir <strong>de</strong> então, o campo imaginário da escola tinha como trabalhoconstante o justificar essa posição da criança, passando pelaconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que o pai era um sujeito limitado, quase um quadro<strong>de</strong> “retardo”, até suposta situação <strong>de</strong> maus-tratos, visto que vizinhosdavam notícias <strong>de</strong> que esse mesmo pai era agressivo na relação com amãe e, por <strong>de</strong>dução, com os filhos.A partir da tomada <strong>de</strong>ssa escola em plantão − isso é, em trabalho − edo atendimento da mãe como <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong>ste, produziu-se um <strong>de</strong>slocamentoda queixa e da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> tratamento da criança para sua mãe.49
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