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. entrevistaEurico de MeloPORTO sempre007Dadas as suas raízes de forte pen<strong>do</strong>r regionalista, como é que olha,hoje, no recato <strong>do</strong> lar ou na tertúlia de amigos, em Santo Tirso, paraas regiões <strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Interior?Cada vez sou mais <strong>do</strong> Norte, e cada vez estou mais preocupa<strong>do</strong>.Porquê? Pelo facto de o Norte estar a perder influência a to<strong>do</strong>s osníveis?Já perdeu muita, está a perder muita e vai perder muito mais.Como assim?Porque o poder está cada vez mais centraliza<strong>do</strong> em Lisboa, não só o poderpolítico como, sobretu<strong>do</strong>, o poder económico. Dou-lhe apenas trêsexemplos: primeiro, o concelho de Lisboa não produz um único KW deenergia eléctrica; não produz um quilo de cimento; não produz um quilode pasta de celulose ou de papel, mas todas essas empresas estão sedeadasem Lisboa. Acresce que quase to<strong>do</strong>s os bancos também lá têm as suassedes.E a nível autárquico?A influência <strong>do</strong>s autarcas <strong>do</strong> Norte também é cada vez menor. O exemplo<strong>do</strong> Metro <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> é caricato. Houve fortes controvérsias, envolven<strong>do</strong> oSr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e até o Sr.Primeiro-Ministro, quan<strong>do</strong> se tratou de um singelo aumento da rede <strong>do</strong>Metro, que custou alguns milhares. Lisboa gasta milhões to<strong>do</strong>s os anosno Metro e eu pergunto: há alguma controvérsia nos jornais a respeito<strong>do</strong> Metro de Lisboa? Não será isto, no mínimo, caricato e anedótico?Quan<strong>do</strong> o <strong>Porto</strong> quer fazer alguma coisa, tem de ter o carimbo <strong>do</strong> Governo.Quan<strong>do</strong> Lisboa precisa de algo, anda para a frente sem necessidade decarimbos.«Se o Norte e o Interior <strong>do</strong>País não reagem,estamos a trocar a liberdadepela servidão a Lisboa»Em sua opinião, excesso de centralismo pode rimarcom autoritarismo?Totalmente. Vou dizer-lhe o seguinte: fui, em tempos,um <strong>do</strong>s grandes combatentes contra a regionalizaçãopolítica, embora favorável à de cariz administrativo.E hoje?Hoje, sou um grande defensor da regionalizaçãopolítica, tão acentuada quanto possível.E, já agora, que via preconiza? A parlamentar oua <strong>do</strong> referen<strong>do</strong>?A que os senhores de Lisboa quiserem. Para mim,qualquer uma serve. Almeida Garrett, que era aqui<strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, era critica<strong>do</strong> e alvo de chacota por causada sua pronúncia nortenha. Um dia, perguntaramlhepor que é que trocava, muitas vezes, os vês pelosbês, e ele respondeu: trocamos, muitas vezes, os vêspelos bês, mas nunca trocamos a liberdade pelaservidão. Estas palavras são palavras de ordem dirigidasàs gentes <strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Interior <strong>do</strong> País. Nós estamosa trocar a liberdade pela servidão. Se o Norte e oInterior não reagem, e não reagem fortemente,estamos a trocar a liberdade, que temos e queremos,pela servidão a Lisboa. Se alguém pegar no estandarte,eu, embora com esta idade, ainda pegaria numa dasborlas. Até era capaz de rejuvenescer…!«Hoje soufavorável àregionalizaçãopolítica»