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V - Jornal de Leiria

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EvasõesTerras egitanensesSenhora do Almortão,Minha tão linda raiana,Virai costas a Castela,Não queirais ser castelhana.Nossa Senhora da Póvoa,Minha boquinha <strong>de</strong> riso,Minha maçã camoesa,Criada no Paraíso.Canção Popular da Beira baixaFicou para trás Castelo Brancoe a auto-estrada que aproximou<strong>de</strong>cisivamente os povos beirões.Logo <strong>de</strong> seguida surge-nos a placaindicadora <strong>de</strong> Idanha-a-Nova,próximo <strong>de</strong>stino da nossa viagemque nos leva às campinas que foramum dos mais importantes celeiros<strong>de</strong> Portugal e que iremos percorrer,<strong>de</strong> espanto em espanto, ao longodo dia.Enquanto o carro avança e oazul do céu ofusca <strong>de</strong> tão puro,vêm à memória os produtos <strong>de</strong>staterra, os seus frutos belíssimose cheirosos e, acima <strong>de</strong> tudo, asgigantescas melancias que chegavama Lisboa no comboio da BeiraBaixa com o nome do <strong>de</strong>stinatárioescavado a canivete nas cascas,sem ferir o vermelho po<strong>de</strong>roso que<strong>de</strong>ntro se escondia.Chegando a Idanha-a-Novaencontra o leitor bastos motivos<strong>de</strong> interesse que justificam, em pleno,a visita. Abundam as velhascasas brasonadas relembrandosenhorios antigos. Os solares dosmarqueses da Graciosa e dos con<strong>de</strong>sda Idanha, das famílias Melo,Falcão e Silveira são apenas parteilustrativa do peso económico,social e político da proprieda<strong>de</strong> daterra.Não partamos, todavia, em busca<strong>de</strong> almoço sem entrarmos naIgreja Matriz para apreciar o beloaltar-mor <strong>de</strong> boa talha da região.Ao lado sobressaem as ruínas docastelo, local panorâmico privilegiadoque nos recorda FernandoNamora que, médico em princípio<strong>de</strong> carreira, por estas terras exerceuo seu ofício. Escreveu o escritor:" Raia <strong>de</strong> Espanha. Serraniasazuis e violentas que se amaciamsubitamente em olivais, campinas<strong>de</strong> trigo, planaltos <strong>de</strong> terra vermelha.Caminhos <strong>de</strong> estevas, <strong>de</strong> fragas,on<strong>de</strong> o perigo sai dos barrancose dos muros…"DA COR DO CÉUPouco se ouvem as cigarras queo Outono é chegado. Mas, subitamentea paleta <strong>de</strong> cores da naturezamistura-se sabiamente e osazuis da campina juntam-se, in<strong>de</strong>levelmente,aos <strong>de</strong>stes céus tãoparados, tão belos e tão puros.O rio Ponsul, <strong>de</strong>solado na suase<strong>de</strong>, caminha para sul <strong>de</strong>ixandono seu rasto as barragens <strong>de</strong> PenhaGarcia e da Idanha a que dá vida.Um <strong>de</strong>sejo antigo perfila-se namemória enquanto os versos davelha cantiga beirã, que José Afonsorecriou, nos falam do santuáriomais venerado, erguido numplanalto bem à vista da vila. Cumprimosa promessa, que romeirossomos, percorrendo o amplo adroro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong> um silêncio quebradopela voz do vento entre fragase olivais.Da Senhora do Almortão falamos,"tão linda raiana", hoje vestida<strong>de</strong> manto branco bordado aouro. Ao fundo da capela, envoltanum suave cheiro <strong>de</strong> rosas, asanta espera paciente as esparsasvisitas, idas que vão as multidões<strong>de</strong> peregrinos que a ela recorremna terceira segunda-feira <strong>de</strong>poisda Páscoa."Vem serenida<strong>de</strong>", poetou oalentejano Raul <strong>de</strong> Carvalho e mesmouma alma empe<strong>de</strong>rnida e <strong>de</strong>screntenão consegue <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fruira calma e a serena paz <strong>de</strong>ste lugarsagrado.Bem próximo avista-se outrolugar que os antigos consi<strong>de</strong>ravamsagrado e que o "Estado Novo"instituiu como a "al<strong>de</strong>ia mais portuguesa".Monsanto, pois então,IDANHA - MURALHASSÉ - IDANHASRA DO ALMORTÃOsurge por entre os olivais enquanto<strong>de</strong>mandamos Idanha-a-Velha,a Egitânia romana que assistiu amais <strong>de</strong> dois mil anos <strong>de</strong> históriae hoje recupera do sono secular,através das escavações arqueológicasque lhe têm <strong>de</strong>scoberto algunssegredos.Os muros romanos ainda hoje<strong>de</strong>limitam a al<strong>de</strong>ia, cujos registosassinalam a ocupação visigoda,moura e das or<strong>de</strong>ns militares, comoprova a Torre Templária assentesobre o lajedo <strong>de</strong> um templo romano.Mas também abundam as marcasdos <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iros senhores daterra, como o solar da família Marrocos,que tutelam a al<strong>de</strong>ia na suamagnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>crépita.Não po<strong>de</strong>mos, pecado seria, <strong>de</strong>ixara Egitânia sem referir o edifíciomais famoso, a chamada "Sé",cuja visita não é possível <strong>de</strong>vidoàs obras que vasculham o seu passado.Ao lado, o reconstruído Lagar<strong>de</strong> Varas lembra ao distraído viajanteque em terras <strong>de</strong> azeite, oouro da terra, estamos.Partimos com Monsanto banhadopelo sol do meio da tar<strong>de</strong>. ASRA ALMURTÃO - EX-VOTOTORRE TEMPLÁRIAPROENÇA-A-VELHAal<strong>de</strong>ia aninha-se, encosta acima,protegida pelos penedos que, tantasvezes, servem <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> àspequenas casas escuras.No cimo do monte impõe-se ocastelo imerso em lendas, uma<strong>de</strong>las lembrada na Festa das Cruzes,ou do Castelo. Em 3 <strong>de</strong> Maioas mulheres vão em cortejo até àsmuralhas, com potes floridos àcabeça e marafonas no regaço. Aosom <strong>de</strong> cânticos e dos adufes atiramos potes pela encosta, evocandoa lenda da bezerra criadacom o trigo que restava à populaçãositiada e que foi atirada docastelo para convencer os inimigosa levantar o cerco o que, milagrosamente,aconteceu.Espera-nos, agora que o crepúsculose aproxima, Proença-a-Velha, pequena e silenciosa al<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> estreitas ruas on<strong>de</strong> avultammonumentos que contrastam coma discrição da al<strong>de</strong>ia nos temposque correm. As igrejas da Matrize da Misericórdia, assim como oLargo do Pelourinho, com a antigaCasa da Câmara e a Ca<strong>de</strong>ia, sãopontos <strong>de</strong> partida para <strong>de</strong>scobrirrecantos inesperados, como o NúcleoMuseológico do Azeite, importanteobra que reconstrói a história fabulosado azeite na região. Mas essaodisseia contá-la-emos noutra ocasião.Lavada a alma e o corpo nestassagradas terras da Beira Baixa,tempo é <strong>de</strong> voltar a casa, com umainevitável vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> regressar esentir no corpo a força telúrica quenasce e fervilha sob os nossos pés.Orlando CardosoOrlccardoso@clix.ptONDE COMERO Portão VelhoIdanha-a-NovaTel. 277 202 920Restaurante da PousadaMonsantoTel. 277 314 471| V | I | V | E | R | 13 |JORNAL DE LEIRIA | 13 DE OUTUBRO DE 2005

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