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R$ 5,90 - Roteiro Brasília

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Conta a lenda que quando GlauberRocha foi lançar seu hoje clássicoRevisão Crítica do Cinema Brasileiro,ao vislumbrar José Mojica na fila deautógrafos levantou-se da cadeira e, aosberros, arrancou-lhe o livro de entre osbraços dizendo “você, não, você, não..(e, atirando o livro longe)... não leia issoque vai lhe fazer mal, você não precisadisso”, concluiu ainda possesso.A história foi contada de diversasmaneiras por inúmeras personalidadesdo cinema brasileiro que afirmaramtestemunhar o insólito acontecimento.Verdade ou mentira, o fato é que oepisódio ilustra bem a percepção deGlauber no que diz respeito àquilo queJosé Mojica Marins representava. Eleera, e é, sim, um artista naïf. Um artistalivre dos constrangimentos e dos víciosde modelos cristalizados de cinema,fossem eles referenciados por umacultura culta, popular e mesmo peloscódigos da indústria de cinema.Pai do terror brasileiro, trash,influência declarada do udigrudi deRogério Sganzerla e do primeiro JúlioBressane, José Mojica Marins chegou ater de fato sua obra identificada com ado cinema marginal – os mencionadosudigrudis. Curiosamente, sequiséssemos, poderíamos sem nenhumfavor chamar Mojica de “marginal” –afinal de contas, poucos realizadorespuderam e podem alardear, como ele,ter iniciado a carreira no cinemainteiramente à margem de qualquerestrutura estabelecida para a produçãocinematográfica. Ainda nos anos 40,José Mojica começaria a fazerexperiências com filmes em 16mm.Na década seguinte, assim como ospioneiros do cinema mundial daprimeira década do século XX, passou aexibir sua produção – que incluía filmesem 8mm – em parques de diversão eigrejas da capital e de pequenas cidadesdo interior do Estado de São Paulo.Não era só na forma de exibiçãoque os primeiros filmes de José Mojicase assemelhavam às obras de mestresfundadores como o francês GeorgesMeliès, mágico que se utilizaria docinematógrafo (primeira câmara eprojetor inventados pelos irmãosFotos: DivulgaçãoLumière) para levar seus truques paratelas de cinema improvisadas em feiras,praças e quermesses públicas. Logo quecria a sua primeira produtora decinema, a Companhia CinematográficaAtlas, Mojica realiza a premonitóriacomédia A Mágica do Mágico, ondeinterpreta um mendigo que encontradentro do lixo um livro que lhe auferepoderes mágicos, fazendo com queapareça e desapareça nas mais insólitassituações e circunstâncias sociais.Alguns anos depois, Mojica fecha aAtlas e funda a Apolo, firma com maisambições profissionais, dedicada àprodução de filmes em 35mm.Experimenta um pouco de tudo, comoo faroeste tropical Sentença de Deus e,depois, Meu Destino em Suas Mãos, obradirecionada ao público infantil cujopersonagem era diretamente inspiradono Carlitos de Charles Chaplin. No seuverbete para a Enciclopédia do CinemaBrasileiro, Guiomar Pessoa Ramos nosconta ter sido mais ou menos por essaépoca que Mojica teria tido a inspiraçãopara o seu Zé do Caixão. Ascircunstâncias não deixam de ter umquê de morbidez: ao adoecergravemente, Mojica sonha que estásendo arrastado por um homem todovestido de preto e sem rosto (ele teriavisto Morangos Silvestres, de IngmarBergman?) que o leva até o cemitérioonde vê numa lápide a inscrição de seunome e data de nascimento. É entãoque, num relance, consegue ver que apessoa que o conduzira até ali, o talhomem de preto, era ele próprio, o quenão deixa de ser uma outra variação dosonho do professor de MorangosSilvestres.“Uma capa de Exu, o seu únicoterno preto, a cartola alugada na Casado Artista” – segundo ainda o relatode Guiomar Pessoa Ramos – davamà luz o Zé do Caixão. Na seqüência,Mojica faria os filmes que lhe trariamcelebridade cult no Brasil e nos EUA,onde veria 13 de seus trabalhos seremlançados, rebatizados como Coffin Joe.No Brasil, a partir de 1963, veríamos oscélebres À Meia-Noite Levarei Sua Alma,Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver(1966), seguidos no ano seguinte daTrilogia do Terror, em que Mojica dirigeo episódio Pesadelo Macabro. No mesmoano, em 1967, realiza O Estanho Mundode Zé do Caixão, composto de trêshistórias curtas de horror: O Fabricantede Bonecas, A Tara e IdeologiaO mundo ainda daria muitas voltaspara José Mojica Marins. Esquecido nosanos 80, sob o pseudônimo de J. Avelar,faz vários filmes de sexo explícito. Mas,mesmo neles, estão presentes várias dascaracterísticas de sua obra,especialmente o gosto pelo grotesco,pelo sádico, pela mobidez. Mojica,sempre Mojica, em filmes de títulosbizarros como A 5ª Dimensão do Sexo,24 Horas de Sexo Ardente, Dr. Frankna Clínica das Taras, 48 Horas de SexoArdente. Aos 71 anos, depois de tersua contribuição reconhecida pelacomunidade cinematográfica, depoisde ver sua obra e vida imortalizadasno livro Maldito, escrito por AndréBarcinski e Ivan Finotti, Mojica vê amaior retrospectiva já realizada sobresua obra num momento em que voltaa soltar seus cachorros e fantasmas comA Encarnação do Demônio, filme quecompleta a inacabada trilogia de Zédo Caixão e que deverá chegar aocircuito comercial em 2008.José Mojica Marins – Retrospectivada ObraDe 9 a 23/10 no cinema do CCBBIngressos a <strong>R$</strong> 4 e <strong>R$</strong> 2Programação completa emwww.roteirobrasilia.com.br43

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