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o discurso de identidade no debate online sobre uma bebida - IEL

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III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEPolítica na hora do chá: o <strong>discurso</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>bate<strong>online</strong> <strong>sobre</strong> <strong>uma</strong> <strong>bebida</strong>Luís Mauro Sá Marti<strong>no</strong>Faculda<strong>de</strong> Cásper Libero / São PauloResumo: Este trabalho analisa como um <strong>de</strong>bate <strong>online</strong> <strong>sobre</strong> a mudança <strong>de</strong>sabor <strong>de</strong> chá da fábrica inglesa Twinings tor<strong>no</strong>u-se parte <strong>de</strong> um <strong>discurso</strong> político<strong>sobre</strong> nação e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A alteração foi <strong>no</strong>tícia em alguns dos principais diáriosbritânicos, repercutiu nas re<strong>de</strong>s sociais e ganhou cores políticas. Foram analisados389 comentários às matérias publicadas <strong>no</strong> The Times, The Daily Telegraph e TheDaily Mail, além <strong>de</strong> <strong>uma</strong> página <strong>no</strong> Facebook, buscando compreen<strong>de</strong>r os principaisproferimentos <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ética do <strong>discurso</strong> proposta por Habermas <strong>no</strong>ambiente <strong>online</strong>. A análise apontou três aspectos: (a) o uso do chá para reafirmação<strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> britânica (b) a crítica ao caráter “estrangeiro” da marca – afábrica foi para a Polônia em 2010 por razões comerciais; (c) as influências na<strong>de</strong>cisão da empresa <strong>de</strong> retomar o antigo sabor. O <strong>discurso</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, em suadimensão política, gerou engajamentos e ações também <strong>no</strong> espaço offline.Palavras-chave: Política; I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Cultural; Ética do Discurso; Inglaterra.Abstract: This paper analyses how an <strong>online</strong> <strong>de</strong>bate about the change in thetaste of a tea from the English brand Twinnings became part of a political discourseabout nation and cultural i<strong>de</strong>ntity. The change was reported in some of the mainBritish newspapers, became a topic in the social medias and achieved a politicaltone. 389 comments to the reports in the The Times, The Daily Telegraph and TheDaily Mail and a Facebook page were analysed, trying to comprehend the mainargument lines in the realm of an discourse ethics as proposed by Habermas on the<strong>online</strong> environment. The analysis points three aspects: (a) the use of tea as aweapon of reaffirmation of a British i<strong>de</strong>ntity; (b) the criticism towards the “foreign”character of the brand – whose factory moved to Poland in 2010 for commercialreasons; (c) the influences in the <strong>de</strong>cision of the company to return to the originalflavour. The i<strong>de</strong>ntity discourse, thought in its political dimension, generate<strong>de</strong>ngagement and actions also on the offline space.


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEKeywords: Politics; Cultural I<strong>de</strong>ntity; Discourse Ethics; England.IntroduçãoAs condições <strong>de</strong> participação e engajamento <strong>de</strong> indivíduos em discussões<strong>online</strong> <strong>de</strong> caráter político vem sendo submetidas <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s a vários tipos <strong>de</strong>pesquisa que visam compreen<strong>de</strong>r como as interações em espaços <strong>online</strong> seconstituem como indicadores do grau <strong>de</strong> participação <strong>de</strong> indivíduos e grupos nadiscussão <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> seu interesse. Esses <strong>de</strong>bates, em geral, tem como crivoteórico a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> Esfera Pública, proposta por Habermas (1989; 1997), pensada emsua possível a<strong>de</strong>quação aos meios digitais, e cobrem <strong>de</strong> estudos <strong>sobre</strong> problemasconceituais à observação empírica da <strong>de</strong>liberação <strong>online</strong> <strong>sobre</strong> questões específicas,ao mesmo tempo em que se discute em que medida a conversação entre atoresestabelecida em espaços <strong>de</strong> discussão na Internet po<strong>de</strong> ser entendida como uso <strong>de</strong><strong>uma</strong> razão prática comunicativa com vistas ao entendimento (Marques, 2010, 2011;Maia, 2011, Maia e Gomes, 2009; Gomes, 2011).Este trabalho analisa como um <strong>de</strong>bate <strong>online</strong> aparentemente banal – amudança <strong>de</strong> sabor <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> chá da fábrica inglesa Twinings – tor<strong>no</strong>u-se parte<strong>de</strong> um <strong>discurso</strong> político <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Repercutindo nas re<strong>de</strong>s sociais,ganhou cores políticas da construção discursiva <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural erepresentação nacional. Foram analisados os 389 comentários feitos pelo público àsdoze <strong>no</strong>tícias publicadas <strong>no</strong>s jornais The Times, The Daily Telegraph e The DailyMirror – em termos políticos, o primeiro seria <strong>de</strong> “centro-direita”, os outros à direita– <strong>uma</strong> página contra a mudança <strong>no</strong> Facebook. Esses dados foram pensados sob ótica<strong>de</strong> <strong>uma</strong> ética da discussão <strong>no</strong> ambiente <strong>online</strong>. Buscou-se i<strong>de</strong>ntificar os principaisproferimentos, argumentos e contra-argumentos dos agentes com vistas a observara lógica do <strong>de</strong>bate.Os comentários foram reunidos em três eixos, que constituem as partes <strong>de</strong>stetexto: (1) as relações <strong>de</strong> construção discursiva <strong>online</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural; (2)os aspectos propriamente políticos <strong>de</strong>sssa construção; (3) um exame sumário dosprincipais tipos <strong>de</strong> argumentos utilizados. Por questões <strong>de</strong> clareza, os comentáriosestão distribuídos como parágrafos recuados ao longo do texto, e o número emcolchetes após cada um <strong>de</strong>les indica o texto jornalístico ao qual estava originalmentevinculado.


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEAntes <strong>de</strong> iniciar propriamente a análise da discussão <strong>online</strong>, cumprebrevemente situar a questão a respeito do sabor <strong>de</strong> chá que se tor<strong>no</strong>u foco do<strong>de</strong>bate.1. A tradição inventada do cháPoucos elementos talvez estejam associados a <strong>uma</strong> mitologia britânica comoo “chá das cinco”, “o combustível que alimenta a Grã-Bretanha” (Walsh, 2011).Dentro dos elementos que Barthes (1996; Cf. também Hall, 1997) pensa como“mitologia”, é possível <strong>de</strong>codificar essa construção semiótica, disseminada pelosmeios <strong>de</strong> comunicação, como parte <strong>de</strong> um <strong>discurso</strong> vinculado a toda <strong>uma</strong> ritualísticabritânica. O sig<strong>no</strong> “chá das cinco” tor<strong>no</strong>u-se um índice <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “anglicida<strong>de</strong>” – oconceito seria “Britishness” – imaginária e imaginada, <strong>no</strong> que Hobsbawn (2007)<strong>de</strong><strong>no</strong>mina “tradições inventadas”.Originário da Ásia, o chá <strong>de</strong>sembarca na Europa <strong>no</strong> século XVI, logo superadopelo café como <strong>bebida</strong> sem álcool predileta – exceto na Inglaterra (Moxham, 2009),fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> um “nós” e um “eles”, idiosincrasia da “Brisithness” como amanutenção da libra em relação ao Euro e a resistência ao uso do sistema métricoem favor <strong>de</strong> “pounds” e “pints”, por exemplo. Ao longo dos séculos XVIII e XIX,conforme as relações entre a Inglaterra e as regiões produtoras <strong>de</strong> chá seintensificam com o estabelecimento <strong>de</strong> um regime colonial britânico, a oferta cresce,o consumo se dissemina entre a burguesia e, em seguida, com diferentes qualida<strong>de</strong>s,entre a nascente classe operária que <strong>sobre</strong>vive <strong>no</strong> subúrbio <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s como Londrese Manchester (Pettigrew & Richardson, 2008; Moxham, 2009).A invenção <strong>de</strong> tradições referentes ao consumo <strong>de</strong> chá, na Inglaterra,acontece durante a construção do regime colonial na Era Vitoriana. O chá se tornapopular na Inglaterra ao mesmo tempo em que o Império Britânico se constitui comoum dos principais atores nas relações internacionais <strong>no</strong> século XIX, representadapelo progresso e triunfalismo vitoria<strong>no</strong>s (Mair & Hoh, 2009). A “hora do chá” é umsímbolo <strong>de</strong>ssa época e o chá torna-se um representante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “britishness”mantida até os dias atuais (Slater, 2007).No episódio analisado neste trabalho, <strong>uma</strong> das mais tradicionais fabricantes<strong>de</strong> chá da Inglaterra, a Twinings & Co., fundada em 1706 por Thomas Twinings,<strong>de</strong>cidiu alterar o sabor do chá “Earl Grey” em junho <strong>de</strong> 2011, ponto central da


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEdiscussão analisada. No a<strong>no</strong> anterior, 2010, por questões econômicas, a empresafechou suas fábricas na Grã-Bretanha e transferiu a produção para a Polônia.2. O problema político da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>O processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s a partir do problema darepresentação po<strong>de</strong> ser pensado a partir <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s premissas <strong>de</strong>senvolvidas<strong>sobre</strong>tudo <strong>no</strong> âmbito das reflexões <strong>sobre</strong> os chamados “pós-colonialismo” e “pósfeminismo”.Em <strong>uma</strong> <strong>de</strong>finição inicial, parte-se do princípio <strong>de</strong> que i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são,entre outras coisas, construções discursivas arbitraria e historicamente <strong>de</strong>finidas. Asi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, os conceitos <strong>de</strong> “nós” e “eles” estão inscritas em <strong>discurso</strong>s que as<strong>de</strong>finem, estipulando sua história e <strong>uma</strong> genealogia que garanta sua valida<strong>de</strong> em umprocesso <strong>de</strong> legitimação. Discursos, pensando a partir <strong>de</strong> Hall (1997) e Foucault(2008), são relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e, ao mesmo tempo, são construídos em relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r. A inscrição <strong>de</strong> algo em um discuro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições <strong>de</strong> produção erelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que presi<strong>de</strong>m a construção <strong>de</strong>sse <strong>discurso</strong>.É nesse sentido que a afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e representações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>tornam-se um problema político na medida em que não basta querer “ser alguém”: odireito <strong>de</strong> ostentar publicamente <strong>uma</strong> representação e afirmá-la como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>precisa ser conquistado (Marti<strong>no</strong>, 2010). A conquista da auto<strong>no</strong>mia política estáligada à obtenção <strong>de</strong> <strong>uma</strong> condição ativa na formulação <strong>de</strong> <strong>discurso</strong>s <strong>sobre</strong> simesmo, o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a si mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista próprio, nãocomo categoria apenas <strong>de</strong>ntro do <strong>discurso</strong> <strong>de</strong> outrem (Benington, 1991; WaThiong’o, 2006).Os <strong>discurso</strong>s, enquanto narrativas, <strong>de</strong>finem e são <strong>de</strong>finidos nas categorias <strong>de</strong>classificação da relida<strong>de</strong> existentes em sua origem (Lima, 1983) Quando se “narra” ooutro, afirma Bhabha (1991; 2008), isto é, quando o outro é apresentado em meudiscuro, tendo a classificá-lo <strong>de</strong> acordo com <strong>uma</strong> lógica específica. Como sintetizaCanclini (1962:67), “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é <strong>uma</strong> construção que se relata”.No exemplo abaixo, a crítica à transferência da fábrica da Twinings para aPolônia implica a narração do fato: o gosto polonês é “narrado” pelo britânico eresponsabilizado pela mudança:Market research was done in Poland so of course the tea tastes bad,the national dish is beetroot soup! If it looks like dishwater and tastes


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADElike it too, you're onto a winber in Warsaw!Soothsayer, Avalon [01]Mas e quando esse “outro” não se subordina a ser narrado nas condições emque o coloco em meu <strong>discurso</strong>? Nesse caso, o po<strong>de</strong>r para situá-lo em categorias <strong>de</strong>representação é questionado em sua auto-apresentação como evi<strong>de</strong>nte. Nacomplexida<strong>de</strong> da vida social, <strong>discurso</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> articulam-se e se transformam<strong>de</strong> acordo com um ethos que <strong>de</strong>fine representações, práticas e ações na medida emque elas não são eventos singulares, mas ligados a teias <strong>de</strong> significações e sentidos(Woodward, 1997; Hall, 1996, 1997). O exemplo abaixo, extraído dos comentários a<strong>uma</strong> reportagem do The Mail, ilustra essa posição:Nobody makes tea like the English so when they moved to poland Istopped buying it, I've horrible memories of eastern european tea,yeuch!richard, worcester u.k. [01]Trata-se da prerrogativa <strong>de</strong> formular seu próprio <strong>discurso</strong> <strong>sobre</strong> si mesmo egarantir a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse <strong>discurso</strong> <strong>no</strong> espaço público. A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visões <strong>de</strong>mundo, lembra Habermas (2007:140), torna premente a questão da convivênciacom o outro, o qual só po<strong>de</strong> se en<strong>de</strong>reçado a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> comunicação.As práticas <strong>de</strong> um indivíduo, bem como seu <strong>discurso</strong>, suas representações, gostos esistemas <strong>de</strong> classificação do mundo estabelecem <strong>uma</strong> ligação entre ele e os espaçossociais aos quais está conjugado. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se constrói e atualiza nas práticas, étecida <strong>no</strong>s atos do cotidia<strong>no</strong>, na vinculação a algo familiar em sua alocação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><strong>uma</strong> teia <strong>de</strong> sentidos na qual se reconhece e se i<strong>de</strong>ntifica como “eu”. Asrepresentações ganham materialida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s <strong>discurso</strong>s e práticas que permitem essai<strong>de</strong>ntificação. Nesse sentido, explica Todd Graham (2008:18), indivíduos estão cadavez mais vinculando significados políticos e sociais aos seus estilos <strong>de</strong> vida e àsnarrativas que os expressam.No comentário abaixo, po<strong>de</strong>-se observar a dimensão <strong>de</strong>ssas representaçõesna materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e marcas:It's one thing the Daily Telegraph replacing it's Old English font for a mo<strong>de</strong>rndrop shadow interpretation, it's something else again when Rolls Royce whoput the Luftwaffe on a back footing as the engine of the legendary spitfire are<strong>no</strong>w owned by a german firm, but when Twinings legendary Earl Grey Tea istampered with to a <strong>de</strong>trimental effect, I think it really is time to consi<strong>de</strong>rcalling it a day...Simon Love [05]


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEI<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, nesse sentido, po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finida não apenas como algo que setem, mas como algo que se pratica. A “posse” <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> algoque permite ao indivíduo dizer “eu sou” traduz-se, <strong>de</strong> fato, em “eu faço isso, ajo<strong>de</strong>ste e daquele modo, creio em tal e tal i<strong>de</strong>ia, vejo os outros <strong>de</strong>sta e daquelamaneira, sou por eles visto e estabeleço relações <strong>de</strong>sta maneira, logo, sou”. Apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong>sse “eu sou” em relação aos outro, em <strong>uma</strong> perspectivarelacional, é um dos fatores que torna a representação, e consequentemente ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, um problema político. A <strong>de</strong>fesa racional <strong>de</strong>sse sentido <strong>de</strong> pertença a umespaço, em relação a outro, fica claro na argumentação a respeito da transferênciada fábrica para a Polônia:Twinings moved production to Poland, causing British job losses, so I <strong>no</strong>longer buy Twinings products. That is people power.- Colonel Mortimer, Ubique, EUSSR [06]Hmmm. If the British are <strong>no</strong>t good e<strong>no</strong>ugh to produce Twinings... Why shouldus British Buy it ???? Get the point Hmmm NO...- Mike, West Midlands [06]Assim, o consumo <strong>de</strong> um chá, prática banal, <strong>de</strong>codifica-se <strong>no</strong> vínculo com<strong>uma</strong> genealogia imaginada da representação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> certa “Britishness”, assim como<strong>no</strong> contexto brasileiro, a título <strong>de</strong> exemplo, seria possível <strong>no</strong>tar sse vínculogenealógico imaginário, por exemplo, <strong>no</strong> uso <strong>de</strong> palavras italianas ou pseudoitalianaspara i<strong>de</strong>ntificar boa parte das pizzarias e das varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pizza. Hall(1997:17), nesse sentido, indica a <strong>de</strong>codificação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> até mesmo <strong>no</strong>s atosme<strong>no</strong>res do cotidia<strong>no</strong>. Ao que tudo indica, esses elementos ganham força e sãoamplificados <strong>no</strong> espaço virtual.3. Representação e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>bate <strong>online</strong>O potencial dos vários dispositivos e ambientes da internet para a formação<strong>de</strong> um espaço público <strong>de</strong> discussões vem sendo objeto <strong>de</strong> intenso <strong>de</strong>bate entrepesquisadores. O advento da internet como espaço <strong>de</strong> interações sociais <strong>no</strong>s últimosvinte a<strong>no</strong>s vem gerando um número crescente <strong>de</strong> trabalhos que buscamcompreen<strong>de</strong>r como as questões discutidas <strong>sobre</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se articulam com e <strong>no</strong>ambiente <strong>online</strong>. É possível encontrar tanto rupturas quanto continuida<strong>de</strong>s entre aconstituição i<strong>de</strong>ntitária <strong>no</strong> mundo real e <strong>no</strong> mundo virtual (cf. Garcêz, 2011).


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADECompreen<strong>de</strong>-se que existem especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes da própriaarquitetura do ambiente virtual, como o potencial para a efetivação <strong>de</strong> <strong>uma</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> antes apenas imaginadas, ou nas relações entre invisibilida<strong>de</strong> e vigilância,que reconfiguram o problema da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> auxiliada pelos dispositivos tec<strong>no</strong>lógicos.Po<strong>de</strong>-se pensar, com Vilches (2009:39), que “quanto mais os indivíduos percebem erepresentam sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, melhor funciona a comunicação digital”. Comorecorda Mitra (1997:57), i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e comunida<strong>de</strong> são formadas ao redor <strong>de</strong><strong>discurso</strong>s compartilhados pelos membros que habitam o espaço virtual transnacionaldos computadores e da internet (Marti<strong>no</strong>, 2009:145).Isso não significa, <strong>de</strong> saída, pensar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a partir das tec<strong>no</strong>logias, oque estaria a um passo <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>terminismo, mas <strong>de</strong> observar articulações,interrelações e disseminações em fluxo das várias i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s em um espaço <strong>no</strong> quala própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “indivíduo” ganha <strong>no</strong>vos contor<strong>no</strong>s sem se dissociarcompletamente da anterior (Mitra, 1997:58). Como lembra Castells (2011:49), nasocieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong> tanto as dinâmicas <strong>de</strong> dominação quanto <strong>de</strong> resistência seestruturam a partir da formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s, e formulação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ataque e<strong>de</strong>fesa a partir <strong>de</strong>ssas re<strong>de</strong>s. Sob risco da reificação da tec<strong>no</strong>logia, é preciso não<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a dimensão h<strong>uma</strong>na <strong>de</strong> suas práticas.Nesse sentido, e exclusivamente nesse sentido, não há <strong>discurso</strong> <strong>no</strong> espaçovirtual que não tenha existência latente <strong>no</strong> âmbito das relações sociais offline. Aforma das interações sociais na internet respeita e se vale das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssaarquitetura da comunicação, mas não <strong>de</strong>termina os conteúdos que se relacionamcom os valores, significados e sentidos do contexto cultural <strong>no</strong> qual tec<strong>no</strong>logia eusuários estão enfeixados. Um dos comentários pertencentes ao corpus assinala essarelação. A criadora da página “Bring back our Earl Grey Tea”, <strong>no</strong> Facebook mencionaa tentativa <strong>de</strong> se fazer ouvir pelos canais tradicionais da empresa e como, diante dafalha nessa relação, ela se <strong>de</strong>cidiu por trazer a discussão para o espaço das re<strong>de</strong>ssociais:I set the page up on Facebook as I was so upset by the taste of the 'new andimproved' blend I bought without realising the change. Correspon<strong>de</strong>nce withTwinings PR resolved <strong>no</strong>thing so I thought I might be able to change thingsvia Facebook. If all who hate the changed blend like the page and we gete<strong>no</strong>ugh we might be able to do something.- Hilary, Nottingham, England [01]No âmbito dos <strong>de</strong>bates <strong>online</strong>, essas questões se traduzem na postura que osatores exibem perante seus pares. Questiona-se a extensão das alterações que as


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEpossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação social <strong>online</strong> provocam nas discussões e tomadas <strong>de</strong>posição dos indivíduos. Até que ponto a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um quesitonável a<strong>no</strong>nimato– vi<strong>de</strong> Lemos (2010) – abre espaço para manifestação <strong>de</strong> opiniões e pontos <strong>de</strong> vistaque não seriam sustentados pelos mesmos atores em <strong>uma</strong> interação face a face? Osautores <strong>de</strong> comentários revestidos <strong>de</strong> um teor nacionalista <strong>sobre</strong> chá, expressariamseus pontos <strong>de</strong> vista em <strong>uma</strong> situação <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>?A construção <strong>de</strong> representações e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>online</strong> expressa um teor políticona medida em que encontram, <strong>no</strong> espaço virtual, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>laços com outros indivíduos que se vinculam a essa mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>/representaçãodos quais, <strong>de</strong> outra maneira, estariam separados (Graham, 2008). Isso vale tantopara movimentos <strong>de</strong> busca por “reconhecimento” (Honneth, 2006) e respeito <strong>de</strong>posições mi<strong>no</strong>ritárias <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> quanto para, em um valor negativo, paraagrupamentos que pregam livremente o ódio a outros grupos sociais.O exemplo seguinte é indicativo <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> fronteiras <strong>no</strong> registrocontrastante dos <strong>discurso</strong>s. Os auto-intitulados “Starfin<strong>de</strong>r” e “The Serf” criticam ofato do chá ser produzido na Polônia usando, como estratégia retórica, a sátira aofonema eslavo “inski”. Na resposta, “kkk” <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> sua posição com <strong>uma</strong>argumentação racional:Argumento:Stopped buying Twinings when they sacked their English workforce. I willNEVER buy Twining's again! Who would buy POLISH TEA? What a JOKESKI!The Serf, uk [01]I also stopped buying it when it became Twininski..:)starfin<strong>de</strong>r, galaxy [01]Contra-argumento:About Poland- dont blame the polish for UK goverment alowing for companiesto take their jobs overseas, if I was british I would be getting together andmake the goverment end companies taking jobs away from this country. Its<strong>no</strong>t only twinings problem is bigger, IT industry loses thousands of jobs amonth to India and then you also give billions as aid away to same country.Like what!? The country that has space program which u dont have.kkk, Tartu [01]Nos dois casos a dimensão política se assemelha: trata-se do vínculo a <strong>uma</strong>representação e um <strong>discurso</strong> <strong>no</strong> qual o ator i<strong>de</strong>ntifica valores, propostas e <strong>uma</strong> visão<strong>de</strong> mundo compartilhada a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> comunicação. De acordo comHabermas (1984:64), a visão <strong>de</strong> mundo atua na formação e estabilização <strong>de</strong>


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, suprindo os indivíduos <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> conceitos e pressupostosbásicos que não po<strong>de</strong>m ser mudados sem colocar em risco essa representação. Ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, nesse ponto, vincula-se à disseminação, <strong>no</strong> espaço virtual, <strong>de</strong> <strong>uma</strong>representação discursiva na qual o indivíduo se espelha. A busca por reconhecimentofrente a outras representações e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, torna a questão <strong>uma</strong> disputa – comoresume Vilches (2009:40), “po<strong>de</strong>r e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> estão indissoluvelmente unidos naera digital”.Evi<strong>de</strong>ntemente existem diferentes graus <strong>de</strong> reforço das vinculações <strong>online</strong> eda disposição para o <strong>de</strong>bate (cf. Habermas, 2007:41). Isso diz respeito ao peso quecada indivíduo dá aos componentes <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> – <strong>uma</strong> disputa <strong>online</strong> <strong>sobre</strong>religião, por exemplo, po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong>bate entre indivíduos que sublinham essefator em sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, mas não <strong>de</strong>ve estimular quem tem <strong>no</strong> futebol umcomponente primários <strong>de</strong> sua auto-representação (Marti<strong>no</strong>, 2010). O elementovoluntário da tomar parte em <strong>uma</strong> conversa <strong>online</strong>, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar seu ponto<strong>de</strong> vista conhecido dos outros locutores leva ao problema da <strong>de</strong>liberação – adiscussão com vistas a um entendimento para gerar <strong>uma</strong> ação.Esta <strong>no</strong>ção é caudatária, por um lado, do conceito <strong>de</strong> política <strong>de</strong>liberativaformulada por Habermas em várias <strong>de</strong> suas obras e, por outro, das relações entreum conceito amplo <strong>de</strong> política, <strong>de</strong>fendido pelo autor como a relação entre <strong>uma</strong>comunida<strong>de</strong> e seu ethos, entendido como construções discursivas nas quais asrepresentações <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> se estabelecem na forma <strong>de</strong> práticas, hábitos ecostumes – <strong>uma</strong> moral – e <strong>de</strong> elementos <strong>no</strong>rmativos, isto é, <strong>uma</strong> ética.Essa concepção ampliada permite pensar o conceito <strong>de</strong> “participação política”,a partir <strong>de</strong> Habermas (2007:278), em <strong>uma</strong> forma mais ampla do que o engajamentocom questões governamentais ou <strong>de</strong> Estado. O conceito <strong>de</strong> política, nesse ponto,refere-se aos elementos possíveis <strong>de</strong> discussão para a regulação <strong>no</strong>rmativa dosinteresses e <strong>de</strong>mandas dos membros da comunida<strong>de</strong> em relação à dinâmica <strong>de</strong>po<strong>de</strong>res em circulação. A discussão, nesse contexto, torna-se um elementofundamental não apenas para a <strong>de</strong>mocracia, mas também para a criação <strong>de</strong> laçosentre os indivíduos que participam <strong>de</strong> <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> e buscam, na discussão e <strong>no</strong>estabelecimento <strong>de</strong> entendimentos, encontrar a resolução <strong>de</strong> questões que dizemrespeito aos diversos participantes <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> e, se for o caso, obterresultados práticos. O comentário abaixo indica essa forma política, <strong>no</strong> sentidoampliado do conceito, ao associar o sabor do chá a questões <strong>de</strong> gênero:


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE“Earl Grey” tea is a drink for girls and confirmed bachelors. Same for Pimm's.Ryeatley [05]Dito <strong>de</strong> outra maneira, gostar ou não <strong>de</strong> um sabor <strong>de</strong> chá é <strong>uma</strong> experiênciarestrita ao âmbito da esfera particular; discutir <strong>sobre</strong> esse sabor, dando à discussãoum vies referente às políticas <strong>de</strong> representação e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, é trazer o problemapara o espaço público – <strong>no</strong> espaço digital, fronteira entre público e privado ganha<strong>no</strong>vas dimensões (Mitra, 1997). Nas palavras <strong>de</strong> Castells (2011:53):Discursos enquadram as opções do que as re<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ou não fazer. Nasocieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong>, <strong>discurso</strong>s são gerados, pensados, disseminados,internalizados e incorporados na ação h<strong>uma</strong>na <strong>no</strong> espaço socializado dacomunicação construído ao redor <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s locais-globais <strong>de</strong> comunicaçãomultimodal e digital, incluindo a mídia e a internet. Po<strong>de</strong>r, na socieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong>,é o po<strong>de</strong>r da comunicação.A dinâmica dos proferimentos encontrados <strong>no</strong>s espaços dialógicos <strong>online</strong>examinados indicam a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> certa tendência à circularida<strong>de</strong> daargumentação em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s questões i<strong>de</strong>ntitárias centrais, como a reiteração<strong>de</strong> oposições – um “nós” ingleses versus um “eles” do leste europeu, com ressalvas àTwinings por ter passado para o lado “<strong>de</strong>les” – que, não obstante, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong>lado a percepção da relação com esse outro e a afirmação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “Britishness”. Não<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> haver, <strong>no</strong> entanto, posições específicas <strong>de</strong>ssa argumentação, que, porsuas singularida<strong>de</strong>s, serão examinadas <strong>no</strong> próximo tópico.4. Especificida<strong>de</strong>s dos argumentos utilizadosNesta última parte, o foco está na análise sumária das formulaçõesdiscursivas gerais presentes <strong>no</strong>s 389 comentários. Não existiu propriamente <strong>uma</strong>“discussão” <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> tomadas <strong>de</strong> posição diferentes, mas <strong>no</strong>tou-se <strong>uma</strong><strong>sobre</strong>valorização do sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação entre os atores a partir <strong>de</strong> seusargumentos. Buscou-se observar o princípio orientador <strong>de</strong> cada um dos argumentos,partindo do princípio <strong>de</strong> que, ao formulá-lo, o participante da discussão fundamentasua exposição a partir <strong>de</strong> um conjunto mais ou me<strong>no</strong>s rígido <strong>de</strong> pressupostos queorientam sua visão da questão, um fundamento argumentativo <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> umethos do indivíduo <strong>no</strong> qual o <strong>discurso</strong> se referenciava. A tabela abaixo resume estes


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEcinco tipos <strong>de</strong> argumento observados <strong>no</strong> corpus:Modalida<strong>de</strong> Fundamento Argumento Contra-ArgumentoPolíticoEmocionalCognitivoEstéticoMetaargumentoRecurso ao sentido <strong>de</strong>“comunida<strong>de</strong>”: nós XelesRecurso à autorida<strong>de</strong>da “tradição” e dopassadoAnálise da ação daempresa<strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> <strong>uma</strong>preferência pessoal<strong>de</strong>slegitimaçãoparadoxal dadiscussãoA marca é “polonesa”O consumo <strong>de</strong> chá éparte da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>britânicaMudança como ação <strong>de</strong>marketingO <strong>no</strong>vo sabor é<strong>de</strong>sagradávelA questão é fútilA mudança não é culpados polonesesO consumo <strong>de</strong> chá é <strong>uma</strong>questão <strong>de</strong> classeAção falha: “não seconserta o que não estáquebrado”O sabor em questãosempre foi <strong>de</strong>sagradávelNão há.É preciso salientar, <strong>de</strong> saída, que a atribuição <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado qualificativo<strong>de</strong> origem para o argumento não significa, em absoluto, exclusivida<strong>de</strong>: <strong>uma</strong>rgumento fundamentado em um sentido <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> com forte apelo emocionalnão exclui <strong>uma</strong> dimensão crítico-cognitiva igualmente importante. Apenas buscou-sesalientar o aspecto, em cada caso, com maior proeminência. Para evitar a repetição<strong>de</strong> exemplos similares, optou-se por <strong>de</strong>stacar os mais representativos.O principal argumento, em termos numéricos (47 comentários, 12.8% dototal <strong>de</strong> 389), é fundamentado em <strong>uma</strong> razão política com recurso ao sentido <strong>de</strong> <strong>uma</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> “britânica” em contraposição a “Europa oriental” ou “polonesa”. O motivopara não se tomar chá Twinings paradoxalmente não se relaciona com a mudança <strong>no</strong>sabor, mas por conta da transferência da produção para a Polônia. Nenhumparticipante parece evi<strong>de</strong>nciar essa alteração <strong>de</strong> rumo – ao contrário, o argumento éprepon<strong>de</strong>rante e reveste-se das cores políticas mais fortes.Em um sentido próximo estão os argumentos que vinculam o consumo <strong>de</strong> cháa um “modo <strong>de</strong> ser” britânico, e que essa altearção <strong>no</strong> sabor do “Earl Grey” provoca<strong>uma</strong> in<strong>de</strong>sejável ruptura com essa tradição e precisa ser substituído por marcas quepreservem – o termo é “não mexam com o chá das pessoas” – as receitas originais eo sentido <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>:Don't mess with peoples’ tea.R.D.McDowell, Pungoteague VA USA [01]Thank goodness tradition is being preserved and common sense has won out.Heather, Bristol, UK [06]


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEHá, neste particular, um componente emocional – dimensão, lembra Castells(2011:147), paralela à racionalida<strong>de</strong> na política – <strong>no</strong> sentido em que Habermas(2007:15) menciona as “atitu<strong>de</strong>s dos sentimentos” na discussão: em dois doscomentários analisados, os participantes dão conta da reação negativa <strong>de</strong> suas mãesidosas – com 81 e 91 a<strong>no</strong>s, respectivamente – à mudança. Neste aspecto, éimportante <strong>de</strong>stacar um contra-argumento presente: um dos participantes afirmaque “apenas camponeses tomam chá”, evi<strong>de</strong>nciando <strong>uma</strong> clivagem <strong>de</strong> classe socialinédita <strong>no</strong>s outros comentários. Há duas respostas, mas nenh<strong>uma</strong> <strong>de</strong>las retoma oargumento. Não há, também, prosseguimento na exibição <strong>de</strong> quaisquer evidênciasque reforcem qualquer lado do argumento:Only peasants drink tea anyway.Liam, UK, 28/8/2011 14:01 [01]Actually tea is historically an upper class drink, coffee is a vulgaramericanism and common as muck across the worldMatt Munro, Bristol, UK, 28/8/2011 14:55 [01]I wouldn't k<strong>no</strong>w, as i don't drink coffee either. Peasant.Liam, UK, 28/8/2011 18:22 [01]Na sequência, observa-se igualmente a presença <strong>de</strong> um fundamento críticocognitivo <strong>no</strong> argumento segundo o qual trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estratégia <strong>de</strong> marketing,mas fadada ao fracasso:I suspect this is driven by some marketeer upstart trying to make aname - but one that will remembered for the wrong reason. Vote withyour pound and do <strong>no</strong>t buy this awful travesty of Earl Grey !!Henry Woodcock [04]perhaps it is just a<strong>no</strong>ther excuse of increasing the price so thatconsumers thinking they are getting something more for their money-- idiot neuromarketing psychologists who <strong>de</strong>lu<strong>de</strong>dly think it is thepublic that are the gullible idiots!milkie [02]It's a storm in a teacup and a brilliant advertising campaign to getattention to there product. (…) This was their plan all along,obviously. It will boost sales and they have gotten lots of freepublicity.Guest [05]New and improved, cheaper to make, tastes worse and costs more?That is called progress./g, Belgium [01]


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEHá um único argumento efetivamente <strong>de</strong>dicado a discutir o sabor do chá. Apalavra “discutir” não seria a mais a<strong>de</strong>quada na medida em que não houve,efetivamente, <strong>uma</strong> discussão, mas a reiteração <strong>de</strong> um consenso – como, <strong>de</strong> resto,em relação aos outros argumentos – com poucas vozes dissonantes. Nesse caso,vale ressaltar que essas divergências não ocorreram em <strong>de</strong>fesa do <strong>no</strong>vo sabor, mascomo crítica ao tipo “Earl Grey” em geral e não apenas <strong>no</strong> sentido da versãoalterada.As for Earl Grey tea, if the improved version tastes like dishwater, it can't bean improvement, because it ALWAYS tasted like dishwater, it is the mostinsipid tea you would never wish to pass your lips.Euxton Stroller, Euxton, England [01]Finalmente, comentários que <strong>de</strong>stacam a inutilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa discussãocolocando em perspectiva que se trata, afinal, da mobilização <strong>de</strong> quase quatrocentaspessoas para falar <strong>de</strong> um sabor <strong>de</strong> chá:Just to make you all realise, this is a cup of tea. <strong>no</strong>t everyone drinks it and<strong>no</strong>t everyone cares, but the original has <strong>no</strong>w been ma<strong>de</strong> available on-line. sostop moaning. what have you really got to moan about <strong>no</strong>w?!holly18 [05]O que po<strong>de</strong>ria soar como <strong>uma</strong> reivindicação do enquadramento da questãoem termos mais amplos, <strong>no</strong> entanto, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser também <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong>atuação <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>bate; classificar a discussão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>uma</strong> categoria que, porprincípio, a invalida não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser paradoxal na medida em que para <strong>de</strong>sclassificálaé preciso conhecê-la e tomar parte, ainda que <strong>de</strong> modo incipiente.Consi<strong>de</strong>rações finaisA lógica da argumentação e do uso da razão <strong>no</strong> espaço público, <strong>no</strong> casoanalisado, orienta-se mais para a formação <strong>de</strong> um bloco retórico <strong>de</strong>rivado doconsenso e utilizado para pressionar do que propriamente um livre <strong>de</strong>bate a respeitodas características da <strong>bebida</strong>. Nota-se, <strong>no</strong> entanto, que a argumentação <strong>no</strong> espaçopúblico não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir, agregando elementos políticos, representacionais ei<strong>de</strong>ntitários ao problema central, a mudança <strong>no</strong> sabor do chá, que, em muitosmomentos, fica em segundo pla<strong>no</strong>. É possível sugerir, mais do que <strong>uma</strong> discussão, areafirmação <strong>de</strong> um consenso que congrega em seu <strong>discurso</strong> vários argumentosalheios ao <strong>de</strong>bate específico <strong>sobre</strong> o chá mas pertencentes ao campo semântico e


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEretórico da reafirmação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Dessa maneira, o engajamento com a questão parece ter representado, paraos participantes, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reafirmação dos vínculos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>nacional fortemente afirmada em <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> oposição nós/eles a partir dai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> dupla relação <strong>de</strong> “traição” à britishness até então associada àempresa, tanto mais forte porque <strong>de</strong>tentora do “Royal Assesment” – aos olhos dosparticipantes, a Twinings, em <strong>uma</strong> dupla ruptura com seu status <strong>de</strong> representação <strong>de</strong>um “modo <strong>de</strong> ser” britânico, alterou um sabor tradicional e mudou sua fábrica para aPolônia.A discussão do tema articulou-se a partir <strong>de</strong> dois principais eixos <strong>de</strong>argumentação: <strong>de</strong> um lado, a referência exclusiva ao sabor do produto, criticando asalterações feitas, o que, em alguns momentos, implicava na sugestão <strong>de</strong> <strong>uma</strong> volta àfórmula anterior. O segundo aspecto, talvez mais importante na medida em quepo<strong>de</strong> ser revelador <strong>de</strong> <strong>uma</strong> natureza <strong>de</strong>liberativa da esfera pública <strong>online</strong>, é <strong>uma</strong>intensa politização do tema, observada <strong>sobre</strong>tudo a partir <strong>de</strong> três fatores <strong>de</strong>argumentação:Notou-se <strong>uma</strong> intensa politização do tema, percebida <strong>sobre</strong>tudo em trêsprincipais aspectos (a) O uso do tema como crítica da política inglesa, na medida emque a transferência da fábrica da Twinings da Inglaterra para a Polônia, em 2010, foiusada como argumento não apenas para criticar o <strong>no</strong>vo sabor, mas também parasugerir um boicote à marca; (b) A associação do consumo <strong>de</strong> chá a <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>específica, constituinte da auto-representação <strong>de</strong> um “modo <strong>de</strong> ser” britânico(“Britishness”) e, nesse aspecto, <strong>de</strong> caráter político; e (c) A <strong>de</strong>manda pública porinfluência na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da companhia: como resultado prático doengajamento <strong>online</strong> dos interessados na política comercial da empresa, <strong>de</strong>cidiu-se<strong>de</strong>sistir da <strong>no</strong>va fórmula e retomar o sabor antigo do chá em questão.Assim, não se trata do engajamento apenas em <strong>uma</strong> discussão <strong>sobre</strong> aalteração na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingredients <strong>de</strong> um chá, mas do <strong>de</strong>bate político dos laços<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> vinculados ao consumo <strong>de</strong>ssa <strong>bebida</strong> – <strong>uma</strong> mitologia que, <strong>de</strong>safiada,leva a sua reafirmação imediata, na reiteração <strong>de</strong> <strong>uma</strong> representação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>como elemento <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> espaços sociais que a luta pelo direito <strong>de</strong> imposição<strong>de</strong> <strong>uma</strong> representação transforma, em vários aspectos, em um espaço político.


III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEReferências bibliográficasBARTHES, R. Mitologias. São Paulo: Difel, 1996.BHABHA, H. The location of culture. Londres: Routledge, 2008.BENINGTON, G. “Postal politics and the institution of the nation”. In: BHABHA, H.Nation and Narration. Londres: Routledge, 1991.CASTELLS, M. Communication power. Oxford: Oxford University Press, 2011.DURING, S. Cultural Studies: a critical introduction. Londres: Routledge, 2005.FERNBACK, J. “The individual within the collective: virtual i<strong>de</strong>ology and therealization of the collective principles”. In. JONES, S. G. Virtual Culture. Londres:Sage, 1997.GARCÊZ, L. “Luta por reconhecimento e participação política <strong>no</strong> Orkut”. In: MAIA, R.,GOMES, W. e MARQUES, F. P. J. A. Internet e participação política <strong>no</strong> Brasil. PortoAlegre: Sulina, 2011.GOMES, W. “Participação política <strong>online</strong>: questões e hipóteses <strong>de</strong> trabalho”. In:MAIA, R., GOMES, W. e MARQUES, F. P. J. A. Internet e participação política <strong>no</strong>Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011.GOMES, W. e MAIA, R. Comunicação e Democracia. São Paulo: Paulus, 2009.GRAHAM, T. “Needles in a haystack: a new approach for i<strong>de</strong>ntifygin and assessingpolitical talk in <strong>no</strong>n-political forums”. Jav<strong>no</strong>st – The Public. Vol. 15, <strong>no</strong>. 2, 2008.HABERMAS, J. The theory of communicative action.Vol.1. Boston: Beacon Press,1984.HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública. Rio <strong>de</strong> Janeiro: TempoBrasileiro, 1989.HABERMAS, J. A inclusão do outro. São Paulo: Loyola, 2007.


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III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEThe National Trust, 2008.VILCHES, L. “Da virada linguística à virada digital”. In: BARBOSA, M.; FERNANDES,M. e MORAIS, O. J. Comunicação, educação e cultura na era digital. São Paulo:Intercom, 2009.WA THIONG’O, N. Decolonizing the mind. Oxford: James Currey, 2006.WALSH, J. “The cup that cheers”. The In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt. Londres, 28 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011.Disponível em Consultaem 06.01.2011.WOODWARD, K. Un<strong>de</strong>rstanding I<strong>de</strong>ntity. Londres: Sage, 1997.Matérias das quais foram extraídos os comentários do corpus do trabalho:[01] WATKINS, A. “We're pining for our old Twinings: Furious Earl Grey drinkersdismiss new recipe as 'an affront to tea'”. The Daily Mail. Londres, 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>2011. Disponível em Consulta em 06.01.2011.[02] LUSHER, A. “Customers revolt as Twinings changes the flavour of its Earl Greytea”. The Daily Telegraph. Londres, 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011. Disponível em.Consulta em06.01.2011.[03] QUANTICK, D. “Twinings is changing Earl Grey – man the barrica<strong>de</strong>s”. The DailyTelegraph. Londres, 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011. Disponível em Consulta em 06.01.2011.[04] WHITWORTH, D. “Sha<strong>de</strong>s of Grey: a storm in a teacup”. The Times. Londres,30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011. Disponível em Consulta em06.01.2011.[05] BROWN, A. “Earl Grey tea is back: Twinings gives in to outraged tea-drinkers”.The Daily Telegraph. Londres, 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011. Disponível emConsulta em 06.01.2011.[06] TEA FOR VICTORY: Twinings saves original 300-year-old Earl Grey. The Mail onSunday. Londres, 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011. Disponível emConsulta em 06.01.2011.

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