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Teste test - Univates

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IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLAO PAPEL DOS JOGOS EDUCATIVOS NO PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO DE PROFESSORES DECIÊNCIASRegina Maria Rabello Borges e Vera Schwarzverakschwarz@yahoo.com.brLinha de trabalho: Formação docenteContexto do relatoEste relato descreve a fase inicial de uma pesquisa qualitativa, que visa a identificar a compreensãoque professores com experiência em educação continuada de Ciências possuem sobre opapel dos jogos didáticos no processo de ensino/aprendizagem.O interesse pelo assunto teve origem na contribuição que o processo de confecção de jogosrepresentou na qualificação do meu trabalho e o envolvimento que tenho com o tema.Sou formada em Ciências e Biologia, porém passaram-se mais de dez anos antes de retornarà minha área de formação acadêmica. A mudança do papel de aluna para o de professora fez comque me deparasse com minha inexperiência e uma conjuntura educacional diferente daquela em queparticipei como estudante.Vivenciei como aluna um modelo tradicional de educação que apresentava como característicao professor como centro do processo de ensino-aprendizagem e privilegiava a transmissão deconhecimentos. O aluno era estimulado a manter uma posição passiva e muitas vezes reproduzia osconteúdos decorados. Esse contexto educacional incluía o apoio da família e a “persuasão” que representavaa ameaça de reprovação ou expulsão, pois, socialmente, os diplomas representavam statuse a possibilidade de maiores e melhores oportunidades de trabalhos no futuro.Contudo, no papel de professora, encontrei uma situação bastante diferente. Haviam ocorridomudanças sociais importantes que apresentavam reflexos nas famílias e no modelo de educação.A escola que podia tudo agora parecia impotente frente a problemas sociais que interferiam em seutrabalho. Situações de infreqüência, de desrespeito a colegas, professores e funcionários, de destruiçãodo patrimônio e de falta de interesse nos estudos me chamaram a atenção. O diploma escolarnão era mais visto como garantia de emprego, e a escola, às vezes, era desqualificada em sua funçãooriginal, sendo vista por algumas famílias como restaurante, clube ou um local para deixar os filhos.Percebi rapidamente que o modelo tradicional em que me espelhava não me propiciava osrecursos necessários para enfrentar tais desafios. Fui forçada a repensar minha atuação em aula ebuscar recursos na educação continuada. Participei de cursos que fizeram com que percebesse a importânciado lúdico e, de forma particular, dos jogos no processo de aprendizagem. E comecei a investirem um projeto pessoal de confecção de jogos de ciências, atividade exercida como hobby emmeus momentos de folga.Comecei juntando livros e revistas velhas de onde selecionava imagens e textos que eram recortadose classificados. Pesquisei alguns jogos e optei pelos jogos de baralho. As peças de papelcartãocombinavam imagens e palavras e eram plastificadas.


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLAEsses recursos não foram aplicados imediatamente, pois a preocupação estava em produzirmateriais para atender à demanda de cinco ou seis grupos em quantidade e variedade suficientes.Durante esse período também realizei um curso de capacitação em dependência química, emque tomei contato, de forma acadêmica, com o tema motivação, o que reforçou minha convicção sobrea importância de criar formas de desenvolver o gosto e o comprometimento com os estudos.Resolvi <strong>test</strong>ar os jogos. Terminei alguns baralhos e ofereci aos alunos, que jogaram jogo damemória, pif e canastra adaptados aos conteúdos de Ciências. Jogos de memória e pif, que apresentavamresultados rápidos, pareciam interessar mais do que o jogo de canastra, que envolvia partidasmais longas. Redirecionei o trabalho. Desmanchei os baralhos e utilizei as fichas para um jogo quechamei de caçada ecológica, no qual as fichas eram espalhadas sobre as classes, ficando as imagense palavras viradas para baixo. A turma era então dividida em grupos e cada grupo escolhia um representante.A função de cada grupo era encontrar ou “caçar” a ficha que corresponderia à minhasolicitação, enquanto a função do representante era repassar a ficha oferecida pelo grupo como respostaao meu pedido, evitando assim que um mesmo grupo oferecesse várias fichas. A cada solicitaçãorevisava o assunto abordado, levando os alunos a estabelecerem relações com os conteúdos estudadosou situações do dia-a-dia. Pedia, por exemplo, que me localizassem a figura de um vertebradoque respirasse por brânquias ou a figura de uma brânquia. Quando a figura do ser vivo ou dedeterminada estrutura era localizada, aproveitava a ocasião e reforçava o que entendia como relevante,a partir de questionamentos. Essa atividade serviu como elemento de fixação e significaçãodos conteúdos.O jogo envolvia a organização dos alunos em grupos e o estabelecimento e cumprimento deregras em uma atividade lúdica e educativa.Paralelamente, os alunos foram convidados a criar seus próprios jogos. Sugeri jogos de memória,dominó, pif e trilha, porém deixei-os livres, permitindo que optassem por qualquer outro quese adaptasse aos conteúdos da disciplina. Essa atividade envolveu pesquisa, planejamento, organização,estabelecimento de relações, desenvolvimento de estratégias e trabalho em equipe.Tinha encontrado na confecção de jogos de ciências meu jeito de aprender e favorecer aaprendizagem de meus alunos.A percepção do valor do jogo como elemento de resgate para lacunas no processo de aprendizagemdos professores e como recurso facilitador na construção de conhecimento pelo aluno fezque desejasse aprofundar minha compreensão sobre o assunto, fazendo que escolhesse esse temacomo objeto de minha pesquisa, no Mestrado em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS.Essa pesquisa conduziu-me na busca de fundamentação teórica e encontrei apoio para minhas idéiasem Morin e Vygotsky.Conforme Morin (2003), não só as crianças, como também os adultos gostam de jogar. Porisso, o autor se refere ao ser humano como Homo ludens, além de Homo sapiens. O jogo é uma atividadelúdica comum na cultura humana, envolvendo adultos e crianças, representando um elementocultural integrador. Reunimo-nos para torcer ou participar de equipes e paramos de trabalhar paraassistir a um jogo de Copa do Mundo ou às Olimpíadas. Para Morin (2003, p. 58), “O homem dotrabalho é também o homem do jogo (ludens)”.Os jogos estão presentes em todas as culturas e são praticados por adultos e crianças. CitandoVygotsky:... a observação atenta descobriu há muito tempo que [o jogo} aparece invariavelmente em todas asetapas da vida cultural dos povos mais diversos e, portanto, representa uma peculiaridade insuperável e naturalda condição humana. Além disso, ele não é inerente apenas ao ser humano, pois os animais também brincam;


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLApor isso, esse fato deve ter algum sentido biológico. O jogo deve ser necessário para algo, deve ter alguma missãobiológica, pois do contrário não existiria nem teria tão ampla difusão.Para Vygotsky (2003), o tipo de jogo praticado pelo indivíduo depende da sua idade e dashabilidades que necessita construir em cada fase de seu desenvolvimento. Obedece a um crescentede complexidade que lhe possibilita interagir cada vez de forma mais autônoma com o meio. Na infância,os jogos levam a criança a construir conhecimentos que lhe permitem interagir com o meio eassimilar, pela imitação, papéis culturalmente estabelecidos. Uma etapa posterior conduz a criança ajogos construtivos em que são estabelecidos objetivos e exercitadas ações visando a atingi-los. Oterceiro e último tipo de jogo descrito por Vygotsky envolve os jogos com regras, que, segundo ele,... são uma espécie de escola superior de brincadeiras. Eles organizam as formas superiores do comportamento,geralmente estão ligados à resolução de problemas de conduta bastante complexos, exigem do jogadortensões, conjeturas, sagacidade e engenho, uma ação conjunta e combinada das mais diversas aptidões eforças” (VIGOTSKI, 2003, p.105).Minha vivência pessoal me faz crer que os professores, ao criarem ou adaptarem um jogo aoconteúdo escolar, superam lacunas em seus conhecimentos, desenvolvendo habilidades, competênciase material didático que qualificarão seu trabalho. Essas habilidades, competências e o materialdidático produzido possibilitarão aos professores auxiliarem seus alunos para que eles também possamdesenvolvê-los.O desenvolvimento de habilidades envolve o indivíduo em todos os seus aspectos: cognitivos,emocionais e relacionais. Tem como objetivo torná-lo mais competente na produção de respostascriativas e eficazes para solucionar problemas. Ser competente implica saber mobilizar de formacriativa e eficaz as habilidades, nas quais conhecimentos, valores e atitudes são usados de forma integradafrente às necessidades impostas pelo meio. Competências e habilidades se constróem e manifestamna ação, a qual se aprimora pela prática, levando à reconstrução do conhecimento.Baseada em minha experiência, entendo que a confecção de jogos exige do professor clarezade objetivos e pesquisa. Os objetivos definem os conteúdos e as relações que se estabelecerão entreeles, orientando a escolha do jogo. O jogo incentiva os professores a pesquisar, organizar e inter-relacionarconhecimentos, exercitando a criatividade e o senso crítico. Neles todos os conceitos trabalhadosdevem ser expressos de forma sintética, colocando em evidência a capacidade de síntese doprofessor. Escolher o jogo impõe ao professor repensar os conhecimentos que possui sobre os interessese possibilidades relacionadas à faixa etária dos alunos. O tipo de jogo escolhido determinacomo os conceitos poderão ser organizados e relacionados, levando o professor a uma análise criteriosade jogos e conteúdos com vistas a seu objetivo. A associação dos conceitos a figuras e à manipulaçãode materiais propicia o estabelecimento de relações com a realidade concreta, construçãoque deve ser estimulada no aluno e que, quando não vivenciada pelo professor, encontra na confecçãode jogos um elemento de resgate. Portanto, acredito que a confecção e a prática de jogos representamelementos de aprendizagem, tanto para professores como para alunos.Objetivos e metodologia da pesquisaO objetivo geral desta pesquisa é identificar a contribuição dos jogos didáticos no processode educação continuada de professores de Ciências. Os objetivos específicos são:* identificar como os sujeitos da pesquisa percebem a confecção e prática de jogos didáticos, naeducação continuada, como recurso para a recuperação de lacunas de conhecimentos específicosdos professores de Ciências;* identificar a compreensão dos sujeitos da pesquisa quanto à validade da confecção e prática dejogos didáticos como elemento para ressignificação dos conhecimentos específicos dos professoresde Ciências;


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLA* identificar como os mesmos sujeitos percebem a confecção e prática de jogos didáticos naeducação continuada de professores, com vista a qualificá-los para o uso desse recurso;* identificar a compreensão dos mesmos sujeitos sobre a importância dos jogos didáticos de Ciênciasno desenvolvimento de habilidades e competências dos professores na sua ação pedagógica.Os sujeitos da pesquisa são professores que atuam na educação continuada de professores deCiências, no Rio Grande do Sul, e que tiveram experiência anterior com a utilização de jogos didáticos.Os procedimentos para obter informações envolvem solicitação de depoimentos escritosaos sujeitos da pesquisa, por e-mail, sobre a validade da confecção e prática de jogos didáticos paraqualificação profissional de professores de Ciências.Como metodologia de análise, será realizada uma Análise Textual de depoimentos escritospelos sujeitos da pesquisa, com base em MORAES (1999). O método consiste em reunir o materialescrito fornecido pelos professores e submetê-lo a leituras e análises que possibilitarão a identificaçãode unidades de significado. Essas, organizadas em categorias, permitirão compor novos textos,evidenciando conteúdos explícitos e latentes que serão interpretados em relação ao referencial teórico.Obstáculos, teorização e perspectivasOs obstáculos que percebo no uso e confecção de jogos como elementos de autoformação ena confecção de material didático por parte de professores que atuam em sala de aula são falta detempo e dificuldades econômicas.O excesso de exigências da profissão, fazendo com que a carga horária seja consumida emaulas, planejamento, acompanhamento e reuniões e o pequeno tempo livre que pode ser dedicado àfamília dificultam o envolvimento dos professores na elaboração e confecção de jogos e material didático.O local de trabalho (escola) e a residência dos professores, normalmente, não apresentam espaçosque possam ser utilizados para o armazenamento de materiais e confecção de jogos em quantidadee variedade suficientes para atender as demandas impostas pelo número de alunos.A falta de recursos financeiros, vivenciada por muitas escolas, professores e alunos, impedeo investimento na qualidade e durabilidade do material, que dessa forma precisará ser reposto comfreqüência, aumentando o tempo gasto na confecção e, a longo prazo, os custos. As figuras que tornamo jogo mais atrativo, estimulando a atenção e facilitando a compreensão, representam um custoadicional.Contudo, o investimento de tempo e dinheiro na qualificação profissional por meio da confecçãode jogos pelos professores pode ser compensado se a atividade de autoformação for transformadaem educação continuada, a qual, incorporada ao currículo, pode reverter em reconhecimentoprofissional e melhoria financeira. Isso, somado a melhores resultados que os conhecimentos e omaterial didático do jogo oferecem em sala de aula, pode minimizar os obstáculos representadospela falta de tempo e dificuldades financeiras.Outra dificuldade que faz com que os jogos não sejam aceitos como opção para o trabalhopedagógico é a crença de que eles estimulam a competitividade e, portanto, não devem ser praticadosno ambiente escolar. Se isso fosse verdade, não deveríamos permitir jogos de futebol nas escolasou fora delas, ou qualquer outra forma de competição, incluindo as Olimpíadas. Entendo que acompetitividade é parte de um instinto, cuja função biológica está ligada à preservação da espécie.


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLACompetimos por alimento, por território, pela possibilidade de reproduzir. A criança, mesmo antesde entrar na escola, já compete por carinho e brinquedos, tendo observado diversas formas culturalmenteaceitas ou não de competição. A competitividade permeia nossas relações sociais, profissionaise políticas e combater os jogos pedagógicos parece uma forma ineficaz de solucionar os problemasproduzidos por ela. Como todos os instintos, a competitividade não pode ser destruída sem oprejuízo de funções socialmente desejáveis, e sim educada. Vygotsky (2003, p.92), referindo-se aosinstintos, diz:É totalmente impossível reprimir ou sujeitar os instintos, pois isso significaria combater infrutiferamentea natureza da criança; caso essa luta fosse bem-sucedida, isso equivaleria a menosprezar e acabar com anatureza infantil, despojá-la de suas propriedades mais valiosas e importantes. ... O instinto, bem como todas asoutras formas de conduta, surgiu da adaptação ao meio, mas, como os instintos representam formas de adaptaçãomuito antigas, é lógico que, com a mudança do meio, essas formas de adaptação tenham se tornado inadequadas...., então, a educação é que terá de eliminar essa falta de harmonia e fazer com que os instintos novamenteentrem em concordância com as condições do meio. Toda a cultura humana relativa ao próprio homem eao seu comportamento não passa dessa adaptação do instinto ao ambiente.Negar que a escola trabalhe situações de competitividade é limitar sua ação educativa. ConformeVygotsky (2003, p.100):... na pedagogia dos instintos devemos promover ... sua máxima utilização no processo educativo.Desse ponto de vista, deve-se construir cada vez com maior decisão os sistemas de educação, tomando comobase as tendências instintivas da criança. ...a regra pedagógica básica da educação dos instintos não exige suamera anulação, mas seu uso e sua transferência para tipos mais elevados de atividade.Jogos pedagógicos oferecem uma situação mediada que evidencia as várias formas de interrelaçõespraticadas pelo grupo e permitem aos professores intervir, orientando para atitudes maiseficientes e éticas. Vygotsky (2003, p.107)diz em relação ao jogo que:ao subordinar todo o comportamento a certas regras convencionais, ele é o primeiro a ensinar umaconduta racional e consciente. Para a criança, o jogo é a primeira escola de pensamento. Todo pensamento surgecomo resposta a um problema, como resultado de um novo ou difícil contato com os elementos do meio. ...Em outras palavras, o jogo [com regras] é um sistema racional e adequado, planejado, coordenado socialmente,subordinado a certas regras.A competitividade, portanto, é um elemento biológico, porém a forma como a expressamospode ser culturalmente determinada, assim como comer é biológico e usar talheres para isso é cultural.Se estivermos com fome e não tivermos acesso a talheres, comeremos mesmo assim. Com acompetitividade ocorre o mesmo. Se não dermos condições para que ela se expresse de uma formaculturalmente aceita e socialmente útil, ela irá se manifestar de forma espontânea em jogos de força,em desafios verbais por meio de troca de ofensas, nas competições por figurinhas, nas disputas paraver quem identifica a marca de maior número de carros.Outros receios relacionados aos jogos são os possíveis impactos que uma derrota pode produzirno psiquismo das crianças e adolescentes. Nos jogos, se não houver empate, alguém irá perdere a derrota pode produzir, nas crianças e jovens, emoções relacionadas à sensação de angústia, sofrimentoe fraqueza, com reflexos em sua auto-estima. Não acredito, porém, que jogos bem direcionadose com objetivos educativos produzam tal resultados. Os que apresentam este temor esquecemque estamos constantemente vivenciando situações de frustração e precisamos desenvolver formassadias de lidar com ela. Penso sim que a vida, com todas as situações de exclusão, é que leva, deforma muito mais intensa e reiterada, a desenvolver no jovem um sentimento de impotência e frustração,vejo nos jogos, ao contrário, a possibilidade de resgate de um sentimento de menos valiaproduzido por outras situações vivenciadas pela criança. A competição, nesse contexto, ocorre entregrupos que apresentam conformação semelhante e as limitações pessoais podem ser superadas pormeio das parcerias que se estabelecem dentro do grupo.Para Fernández (2001), os professores não devem tentar fazer que seus alunos aprendam colocando-osem uma competição. Contudo, situações de competitividade, quando bem aplicadas e di-


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLArecionadas, podem representar um elemento de apoio no processo de ensino/aprendizagem. Criançase adolescentes, em virtude da pouca vivência, podem apresentar idéias sobre si e o meio que no confrontocom a realidade se mostram irreais. Segundo Fernández (2001, p. 34): “O desejo de conhecer(a pulsão epistemofilica) supõe o contato com a carência, com a saída da onipotência”. Portanto,uma situação de competitividade em jogos pode propiciar ao aluno, de uma forma lúdica, o contatocom suas carências, estimulando sua curiosidade e conseqüente desejo de aprender.Conhecer é uma parte do pensar, mecanismo que é ativado a partir da necessidade instalada pela percepçãode que não se sabe alguma coisa. Uma das condições que impedem o sujeito de aprender é não poderreconhecer que não sabe. (FERNÁNDEZ, 2003, P. 110).Os desafios dão colorido a nossas vidas e <strong>test</strong>am nossa capacidade de adaptação. Jogos quenão representam desafio, ou adversários muito fracos, tanto quanto jogos e adversários muito acimada capacidade da criança, produzem desinteresse. Portanto, a vitória não é o fator fundamental nogosto pelos jogos. A possibilidade de perder um jogo e o conseqüente sentimento de tristeza quepode estar associado produzem o desejo de superação. Superar os desafios impostos pelos jogos,com o tempo, deixa de ser um meio de obter vitórias e torna-se uma forma de expandir os próprioslimites. O desejo é superar a si mesmo. Citando Vygotsky:... no caso do xadrez, a complexidade das combinações mentais, a necessidade do mais complicadotrabalho mental em cada momento em que pensamos nos movimentos mais adequados transformam-se primeiroem um simples meio e em uma necessidade de alcançar o objetivo do jogo, mas pouco a pouco deixam de serum meio para se transformar em um fim em si mesmo;... A satisfação sentida por um enxadrista com suas jogadasnão é mais a mera satisfação de derrotar o adversário, mas a satisfação infinitamente superior de ter resolvidoacertadamente um problema, de ter encontrado a saída correta para uma situação confusa. Se isso fosse psicologicamentefalso, o interesse do jogo contra um adversário fraco – se as demais condições são iguais – seriaexatamente o mesmo que jogar contra um forte.Fernández (2001, p.129) também contribui com o tema ao dizer: A alegria é desafio, porque impulsionaa vencer o obstáculo. Os jogos com regras não seriam jogos se não incluíssem obstáculos, e a possibilidade deatravessá-los é o que constrói o jogo.”Outro aspecto a considerar é a percepção que alguns apresentam de que os jogos serviriamapenas para a memorização de informações. Embora isso possa ocorrer em virtude de uma utilizaçãoinadequada do recurso, certamente o que expusemos até agora já esclareceu que os jogos apresentamum papel muito mais amplo no processo de ensino/aprendizagem.A importância da memória, contudo, não pode ser desconsiderada. Às vezes, o processo dememorizar é desqualificado e colocado em um segundo plano, porém seu valor é fundamental. Memorizarenvolve apropriar-se do conhecimento e ser capaz de resgatá-lo quando necessário, e nãoapenas repetir automaticamente. A capacidade de memorizar impõe um equipamento biológico saudávele o direcionamento da atenção.... Não somos aquilo que somos simplesmente porque pensamos. Somos aquilo que somos porque podemoslembrar aquilo que pensamos. ... cada pensamento que temos, cada palavra que falamos, cada ação naqual nos engajamos – de fato, o próprio sentido que temos de nós mesmos e nossa conexão com os outros -,tudo isso devemos à memória, à capacidade de nossos encéfalos de registrar e armazenar nossas experiências.A memória é o cimento que une nossa vida mental, o arcabouço que mantém nossa história pessoal e tornapossível crescermos e mudarmos ao longo da vida. Quando a memória é perdida, como na doença de Alzheimer,perdemos a capacidade de recriar nosso passado e, em conseqüência, perdemos a conexão com nós mesmose com os outros. (SQUIRE e KANDEL,2003, p.VII).A memória está associada ao valor que damos ao objeto do conhecimento e o valor está relacionadoà freqüência com que ele se apresenta e com as possibilidades de relações que podemos estabelecer.Sem ela somos incapazes de resgatar os conhecimentos que possibilitam o fazer (habilidades)e o fazer bem (competência).


IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLAApoiada em minhas experiências pessoais e nesses autores, portanto, acredito nos jogoscomo um recurso que pode qualificar o trabalho dos professores. Contudo, não ignoro os riscos queesse ou qualquer outro recurso pedagógico pode apresentar se seu uso for conduzido de forma inadequada.Reforço aí a necessidade de incluir a confecção e uso de jogos nos cursos de graduação ecomo opção na educação continuada de professores.ReferênciasFERNÁNDEZ, Alicia. O Saber em Jogo – A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento.Porto Alegre: Artmed, 2001.MORAES, Roque. Análise de Conteúdo. Educação. Porto Alegre: EDIPUCRS, v 22, n.37, p. 7-31,1999.MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2003.SQUIRE, Larry R, KANDEL, Eric.R.. Memória – da mente às moléculas. Porto Alegre: Artmed,2003VIGOTSKI, Liev Semionovich. Psicologia Pedagógica – edição comentada. Porto Alegre: Artmed,2003.

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