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evidências de relações entre enunciados falados e escritos

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.O EMPREGO DE VÍRGULAS: EVIDÊNCIAS DE RELAÇÕES ENTREENUNCIADOS FALADOS E ESCRITOSLuciani TENANI 1Geovana SONCINRESUMO: Este artigo tem o objetivo central <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> usos da vírgula i<strong>de</strong>ntificadosnos textos <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> oitava série <strong>de</strong> uma escola pública do interior paulista (Brasil), eo objetivo específico <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar em que medida os acertos/erros dos empregos davírgula i<strong>de</strong>ntificados estão relacionados às fronteiras <strong>de</strong> domínios prosódicos doPortuguês. A partir da análise dos usos das vírgulas, observamos que: (i) os erros porpresença <strong>de</strong> vírgula quando prevista a ausência <strong>de</strong>sse sinal <strong>de</strong> pontuação são motivados,predominantemente, por uma tentativa <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> frasesentoacionais; (ii) os erros <strong>de</strong> presença <strong>de</strong> vírgula quando previsto o emprego do pontofinal são motivados, predominantemente, por uma tentativa <strong>de</strong> representação <strong>de</strong>fronteiras <strong>de</strong> <strong>enunciados</strong> fonológicos; (iii) os erros pela ausência <strong>de</strong> vírgulas sãomotivados, predominantemente, por hipóteses que se mostram mais fortementebaseadas em um imaginário do funcionamento da escrita que, po<strong>de</strong> ser observado, porexemplo, quando a estrutura sintática da sentença possibilita a recuperação das relações<strong>de</strong> sentido(s) <strong>entre</strong> as orações/sentenças e – simultaneamente – as relações <strong>entre</strong> os<strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>escritos</strong>. Essas reflexões têm sido <strong>de</strong>senvolvidas no âmbito dapesquisa “Os usos da vírgula em textos <strong>de</strong> alunos da última série do EnsinoFundamental” (FAPESP – 2008/04683-7), vinculada à linha <strong>de</strong> pesquisa ‘Oralida<strong>de</strong> eLetramento’, do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em ‘Estudos Linguísticos’ daUNESP/SJRP.PALAVRAS-CHAVE: Vírgula; Prosódia; Fonologia, Oralida<strong>de</strong>, Letramento.IntroduçãoO uso dos sinais <strong>de</strong> pontuação, <strong>de</strong> modo geral, é consi<strong>de</strong>rado um aspecto chavepara observar e analisar a organização <strong>de</strong> textos <strong>escritos</strong>. Po<strong>de</strong>ndo atuar em diferentes1 Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”, Instituto <strong>de</strong> Biociências, Letras e CiênciasExatas, Departamento <strong>de</strong> Estudos Lingüísticos e Literários, Rua Cristóvão Colombo, 2265, JardimNazareth, CEP: 15054-000, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. (FAPESP/Proc. 2008/04683-7 eFUNDUNESP/Proc. 0076909). lutenani@ibilce.unesp.br; gi.soncin@gmail.com44


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.dimensões da linguagem, os sinais <strong>de</strong> pontuação funcionam, na escrita, comomarcadores prosódicos, como <strong>de</strong>limitadores <strong>de</strong> estruturas sintáticas, como recursos <strong>de</strong>coesão textual e também como indicadores discursivos utilizados pelo escrevente paraaten<strong>de</strong>r a um propósito enunciativo. A vírgula, objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho, assimcomo os <strong>de</strong>mais sinais <strong>de</strong> pontuação, atua em diferentes dimensões lingüísticas; noentanto, outras questões estão vinculadas a este sinal, tornando-o um objeto <strong>de</strong>investigação bastante complexo e, conseqüentemente, revelador <strong>de</strong> reflexões doescrevente sobre a linguagem.Diante da complexida<strong>de</strong> envolvida por esse sinal e buscando vislumbrar como sedá a relação <strong>entre</strong> <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>enunciados</strong> <strong>escritos</strong>, este trabalho tem comoobjetivo geral explorar os aspectos lingüísticos que envolvem os usos da vírgula emtextos escolares. Mais especificamente, buscar-se-á verificar em que medida osacertos/erros do emprego da vírgula estão relacionados às fronteiras <strong>de</strong> domíniosprosódicos e/ou às informações letradas. Para tanto, ancorando-se no ParadigmaIndiciário, proposto por GINZBURG (1987), uma análise fonológica <strong>de</strong> caráterqualitativo será proposta para as ocorrências não-convencionais <strong>de</strong> usos da vírgulai<strong>de</strong>ntificadas em textos <strong>de</strong> alunos da última série do Ensino Fundamental (doravante,EF).Pressupostos TeóricosConsi<strong>de</strong>rando que a vírgula atua no <strong>entre</strong>cruzamento <strong>entre</strong> os <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong>e os <strong>enunciados</strong> <strong>escritos</strong> e consi<strong>de</strong>rando ainda os objetivos que o presente trabalho45


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.buscar alcançar, propõe-se, como ponto <strong>de</strong> partida para a análise dos dados, umainterface <strong>entre</strong> dois lugares teóricos: (i) uma concepção sobre a pontuação e a escrita, apartir dos trabalhos <strong>de</strong> Chacon (1998) e Corrêa (2004), respectivamente, e (ii) uma<strong>de</strong>scrição da organização prosódica do Português Brasileiro (doravante, PB), a partir <strong>de</strong>Tenani (2002) e Fernan<strong>de</strong>s (2007).Corrêa (2004) não opõe fatos lingüísticos a fatos sociais; assim, tanto a falaquanto a escrita só se <strong>de</strong>finem por meio <strong>de</strong> uma prática social: há uma relaçãoconstitutiva <strong>entre</strong> práticas sociais do oral/falado e práticas sociais do letrado/escrito.Desse modo, o autor afirma existir um trânsito <strong>entre</strong> as práticas sociais – as do campodas práticas orais/faladas e as do campo das práticas letradas/escritas – e é por meio daapreensão <strong>de</strong>ssa noção <strong>de</strong> trânsito do escreventes por práticas sociais que se chega àidéia primordial <strong>de</strong> seu raciocínio: a heterogeneida<strong>de</strong> é constitutiva da escrita. Dessaperspectiva, é possível i<strong>de</strong>ntificar, na escrita, vestígios da fala não apenas nos lugaresmais aparentes, mas também nos lugares que, para o escrevente, se constituem comolugares supostamente característicos <strong>de</strong> uma escrita homogênea.A respeito do sistema <strong>de</strong> pontuação, Chacon (1998), ao analisar a pontuação <strong>de</strong>textos <strong>de</strong> vestibulandos, conclui que à pontuação estão vinculadas diferentes ecomplexas dimensões da linguagem, as quais foram <strong>de</strong>finidas como dimensão fônica,sintática, textual e enunciativa. Chacon (1998) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a escrita tem um ritmopróprio, <strong>de</strong>finido pela organização das dimensões lingüísticas, e essa organização po<strong>de</strong>ser assinalada graficamente por meio dos sinais <strong>de</strong> pontuação.Quanto à organização prosódica do PB, Tenani (2002), com base na FonologiaProsódica <strong>de</strong> Nespor & Vogel (1986), caracterizou os domínios prosódicos <strong>de</strong> frasefonológica, frase entoacional e enuncidado fonológico (representados, respectivamente,46


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.por , I e U) como constituintes prosódicos relevantes para a apreensão da organizaçãoda entoação e do ritmo do PB. Fernan<strong>de</strong>s (2007), adotando o mesmo arcabouço teórico<strong>de</strong> Tenani (2002), analisa os mesmos domínios prosódicos, caracterizando como se dá aconstituição <strong>de</strong>sses domínios quando consi<strong>de</strong>rados <strong>enunciados</strong> focalizados. Essa autoraestabelece, ainda, relações <strong>entre</strong> aspectos da sintaxe do Português com a organizaçãoprosódica verificada em <strong>enunciados</strong> neutros e focalizados. Lembramos que esses trêsconstituintes fonológicos, , I e U, são <strong>de</strong>finidos a partir <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> outroscomponentes da gramática, como a sintaxe e a semântica, e, nesse sentido, faz-secoerente a adoção da caracterização da organização prosódica do PB feita por Tenani(2002) e Fernan<strong>de</strong>s (2007), uma vez que, neste trabalho, os usos da vírgula sãoconsi<strong>de</strong>rados recursos acionados pelo escrevente a partir <strong>de</strong> uma relação com possíveisfronteiras <strong>de</strong> constituintes prosódicos para focalizar certas relações sintático-semânticas,além <strong>de</strong> diferentes posições enunciativas.Material e MétodoOs textos a partir dos quais extraímos os usos da vírgula compõem o Banco <strong>de</strong>Dados <strong>de</strong> Produções Escritas do EF (em constituição), <strong>de</strong>senvolvido no âmbito doprojeto <strong>de</strong> extensão universitária ‘Desenvolvimento <strong>de</strong> Oficinas <strong>de</strong> Leitura,Interpretação e Produção Textual’, cre<strong>de</strong>nciado pela Pró-Reitoria <strong>de</strong> ExtensãoUniversitária (PROEx) da UNESP. 2 O banco <strong>de</strong> dados é composto por textos <strong>escritos</strong> <strong>de</strong>2 Esse projeto, coor<strong>de</strong>nado pelas professoras Dras. Luciani Tenani e San<strong>de</strong>rléia Longhin-Thomazi, évinculado ao grupo <strong>de</strong> pesquisa ‘Estudos sobre a linguagem’ (GPEL/CNPq) – coor<strong>de</strong>nado pelo professor47


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.alunos <strong>de</strong> quinta a oitava série <strong>de</strong> uma escola estadual da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Jose do RioPreto, estado <strong>de</strong> São Paulo. Para o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho aqui apresentado, foramselecionados textos <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> oitava série, por ser essa a última série da etapa básicado sistema <strong>de</strong> ensino formal no Brasil, quando está previsto o ensino sistematizado doemprego <strong>de</strong> estruturas sintáticas complexas que, em sua maioria, exigem o emprego davírgula. Essa justificativa baseia-se nas consi<strong>de</strong>rações apresentadas nos ParâmetrosCurriculares Nacionais (PCN’s). 3Este estudo está baseado em 116 textos, todos <strong>de</strong> gênero dissertativo, uma vezque, em estudo anterior (SONCIN, 2008), verificou-se que os usos <strong>de</strong> vírgula estãovinculados a <strong>de</strong>terminadas estruturas que, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do gênero textual/discursivo, sãomais empregadas. Portanto, uma pesquisa que tem por meta <strong>de</strong>screver e explicar os usosda vírgula não po<strong>de</strong> ignorar o gênero textual/discursivo, pois ele condiciona a seleção ea organização <strong>de</strong> certas estruturas, as quais, por sua vez, configuram a composição dotexto como pertencendo a um dado gênero, conforme <strong>de</strong>finiu Bakhtin (2003).O ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>ste trabalho foi realizar uma análise quantitativa dos usosda vírgula tendo como base a flutuação das/nas normas que regem o emprego <strong>de</strong>vírgula. Foi feita a sistematização das normas para os usos <strong>de</strong> vírgula em diferentesgramáticas previamente selecionadas, a saber, Luft (1998), Bechara (1999), Rocha Lima(1986) e Cunha & Cintra (2001), e se verificou que um levantamento das ocorrências <strong>de</strong>vírgulas que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rasse a flutuação das/nas normas não era possível, uma vez quea flutuação é constatada em diferentes níveis: (i) na própria norma apresentada, sendoDr. Lourenço Chacon (UNESP) – e à linha <strong>de</strong> pesquisa ‘Oralida<strong>de</strong> e Letramentos’ do programa <strong>de</strong> Pósgraduaçãoem Estudos Lingüísticos da mesma universida<strong>de</strong>.3 Trata-se <strong>de</strong> um documento, emitido pelo Ministério da Educação do Brasil, que estabelece parâmetros aserem alcançados pela educação brasileira; os parâmetros são estabelecidos para cada série da Educaçãobásica.48


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.que em umas gramáticas apresentam algum tipo <strong>de</strong> exceção para o uso da vírgula em<strong>de</strong>terminada estrutura sintática, em outras não; (ii) na apresentação da norma, sendo queumas gramáticas a apresentam, outras não; (iii) na consi<strong>de</strong>ração da norma comofacultativa, obrigatória ou ainda ora obrigatória, ora facultativa. Além disso, asgramáticas ten<strong>de</strong>m a não explicitar normas quando previsto o não-emprego da vírgulaem <strong>de</strong>terminada estrutura, ou seja, explicitam-se as estruturas sintáticas em que avírgula <strong>de</strong>ve estar presente, mas não são explicitadas as estruturas nas quais não épermitido o seu uso.Diante <strong>de</strong>sse cenário, levantaram-se os acertos pela presença <strong>de</strong> vírgula, os errospela ausência <strong>de</strong> vírgula e os erros pela presença <strong>de</strong> vírgula em 28 textos <strong>de</strong> acordo comas normas apresentadas por cada uma das quatro gramáticas consi<strong>de</strong>radas, a fim <strong>de</strong>observar em que medida o tratamento dos dados seria modificado em função dagramática <strong>de</strong> referência adotada. Verificou-se a partir <strong>de</strong>sse estudo que: (i)in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da gramática <strong>de</strong> referência, há predomínio <strong>de</strong> acertos em relação aoserros; (ii) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da gramática <strong>de</strong> referência, há predomínio <strong>de</strong> erros pelaausência do que erros pela presença <strong>de</strong> vírgulas; (iii) a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da gramática que setoma como referência para o levantamento dos dados, altera-se o número total <strong>de</strong>ocorrências analisadas bem como o número <strong>de</strong> ocorrências que são consi<strong>de</strong>radas comocertas ou erradas, tanto pela ausência <strong>de</strong> vírgula como pela presença <strong>de</strong> vírgula.Assim, foi constatado que a norma gramatical, no que tange a aspectosrelacionados à vírgula, é, <strong>de</strong> fato, heterogênea, embora a priori supõe-se homogênea.Enten<strong>de</strong>mos que esse fato é motivado por questões <strong>de</strong> natureza lingüística as quaislevam à natureza complexa do sinal <strong>de</strong> pontuação em questão, ou seja, concluímos que aflutuação das/nas normas do emprego <strong>de</strong> vírgula po<strong>de</strong> ser motivada pela não-49


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.consi<strong>de</strong>ração e pelo não-esclarecimento <strong>de</strong> que a vírgula (i) é o único sinal <strong>de</strong> pontuaçãoque atua em duas amplitu<strong>de</strong>s: intracláusula e intercláusula (como <strong>de</strong>finiu Dahlet,2006); 4 (ii) atua no <strong>entre</strong>cruzamento da relação <strong>entre</strong> <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>escritos</strong>; (iii)tem relação com várias dimensões da linguagem (conforme <strong>de</strong>finiu Chacon, 1998).Nesse sentido, adotamos uma postura metodológica que não privilegia a análisequantitativa e argumentamos a favor <strong>de</strong> uma análise qualitativa dos usos e não-usos davírgula baseada no Paradigma Indiciário (GINZBURG, 1987).Junto com Corrêa (2004), nossa perspectiva <strong>de</strong> análise toma os “erros” comopossíveis reflexões do sujeito escrevente sobre a linguagem, sobre a escrita e, maisespecificamente nos dados relativos ao emprego da vírgula, sobre a relação <strong>entre</strong><strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>enunciados</strong> <strong>escritos</strong>. Pela adoção <strong>de</strong>sse paradigma bem como pelarelativização do que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado acerto e erro, verificada a partir da flutuaçãodas/nas normas, abandonamos a perspectiva normativa e assumimos uma perspectivaenunciativa, na qual o texto é produto da enunciação e o sujeito escrevente é oenunciador. Nessa perspectiva, levantamos os dados tendo como referência asgramáticas <strong>de</strong> Cunha & Cintra (2001) e Rocha Lima (1986), que ten<strong>de</strong>m a assumirperspectivas semelhantes a respeito da função dos sinais <strong>de</strong> pontuação e da relaçãooral/escrito sem ter, nesse sentido, muitas discordâncias no estabelecimento <strong>de</strong> normas.A partir <strong>de</strong>sse levantamento, em nossa análise, buscamos indícios que nos permitamobservar possíveis hipóteses que guiam o sujeito a não seguir as convenções. Portanto,4 De acordo com Dahlet (2006), os sinais <strong>de</strong> pontuação se organizam em uma escala <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong>organizada em cinco níveis <strong>de</strong>crescentes, <strong>de</strong> forma que o nível 1 engloba o nível 2, que engloba o nível 3e assim sucessivamente, não sendo necessário que todos níveis intermediários apareçam numa sentença,ou seja, po<strong>de</strong>-se passar da amplitu<strong>de</strong> 2 à amplitu<strong>de</strong> 4, por exemplo. A amplitu<strong>de</strong> 1 está no nível doparágrafo, a amplitu<strong>de</strong> 2 está no nível da frase; a amplitu<strong>de</strong> 3 no nível da subfrase; a amplitu<strong>de</strong> 4 no nívelinter-oracional; por fim, a amplitu<strong>de</strong> 5 está no nível intra-oracional.50


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.faz-se relevante tratar do imaginário sobre a escrita, proposto por Corrêa (2004), bemcomo da relação que se estabelece <strong>entre</strong> sujeito e linguagem no momento <strong>de</strong> suaenunciação escrita. Aliada à assunção <strong>de</strong>ssa perspectiva está a alteração da terminologiapara o tratamento dos dados. Deixamos <strong>de</strong> tratar os dados como acertos ou erros e osenten<strong>de</strong>mos como usos convencionais e usos não-convencionais. Esses termospreten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>nunciar a <strong>de</strong>cisão do sujeito <strong>de</strong> não seguir a convenção por uma questãoque extrapola os limites sintáticos e textuais e tem uma dimensão enunciativa.Ao buscarmos indícios que <strong>de</strong>nunciam a hipótese do sujeito sobre um fenômenolingüístico que está intrínseco na matéria gráfico-visual dos sinais <strong>de</strong> pontuaçãopresentes na escrita, apresentamos uma <strong>de</strong>scrição, organizada em uma tipologia, dosusos e não-usos não-convencionais da vírgula. A tipologia a ser apresentada visa asistematizar as possíveis hipóteses dos sujeitos sobre um fenômeno lingüístico. Essashipóteses dos escreventes não se mostram únicas, ou seja, exclusivas apenas a umsujeito, mas po<strong>de</strong>m também ser vistas, ao mesmo tempo, como coletivas, uma vez que osujeito está inserido em um contexto histórico, i<strong>de</strong>ológico, cultural e institucional. Esseposicionamento ancora-se em Corrêa (2004): “Nesse sentido, a presente análise po<strong>de</strong>riaser vista como um trabalho explicativo a respeito <strong>de</strong> uma “<strong>de</strong>scrição” não sistemáticaque, orientada pelo <strong>de</strong>slizamento <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> circulação a outro, o escrevente fazsobre fenômenos da língua”. (CORRÊA, 2004, p. 89).51


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.Os usos não-convencionais da vírgula em textos escolaresConforme já afirmado, o tratamento adotado nos permitiu propor uma tipologiapara os usos não-convencionais da vírgula, uma vez que regularida<strong>de</strong>s referentes àmotivação para o uso e para o não-uso da vírgula foram observadas em muitos dostextos escolares. Tal tipologia foi proposta a partir da análise <strong>de</strong> indícios das possíveishipóteses do sujeito escrevente sobre o imaginário da escrita e, mais precisamente, sobrea relação existente <strong>entre</strong> <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>enunciados</strong> <strong>escritos</strong>. Portanto, a tipologiaaqui proposta não se configura como regras seguidas pelos sujeitos, mas,primordialmente, como uma <strong>de</strong>scrição da relação estabelecida <strong>entre</strong> sujeito e escrita, ou,<strong>de</strong> uma perspectiva mais ampla, <strong>entre</strong> sujeito e linguagem: relação esta que, por serreciprocamente constitutiva, é <strong>de</strong>nunciada por meio <strong>de</strong> pistas inclusive nos lugaresmenos aparentes.Antes <strong>de</strong> apresentar a tipologia para os dados i<strong>de</strong>ntificados, trazemos brevesinformações sobre a proposta <strong>de</strong> redação a partir da qual os alunos <strong>de</strong>veriam<strong>de</strong>senvolver um texto dissertativo. Como se observará na análise, os usos da vírgulaestão relacionados ao gênero e, mais especificamente, à posição enunciativa adotadapelos sujeitos escreventes no momento da escritura <strong>de</strong> seus textos, sendo, pois, aproposta <strong>de</strong> produção textual importante para o <strong>de</strong>senvolvimento da análise.De acordo com a proposta (elaborada segundo as diretrizes pedagógicas da escolaon<strong>de</strong> o projeto <strong>de</strong> extensão universitária é <strong>de</strong>senvolvido), os alunos <strong>de</strong>veriam escreverum artigo <strong>de</strong> opinião se posicionando a respeito da polêmica que envolve ainternacionalização da Amazônia; mais especificamente, eles teriam que adotar umposicionamento ou favorável ou contrário à internacionalização da Amazônia,52


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.sustentando-o com argumentos suficientes. Para construir um raciocínio e adotar umaposição sobre o assunto, os escreventes po<strong>de</strong>riam contar com os textos da coletânea queapresentavam argumentos para sustentar tanto uma quanto outra posição.Iniciando a apresentação <strong>de</strong> nossa proposta tipológica, o primeiro uso nãoconvencional,nomeado tipo A, diz respeito à presença in<strong>de</strong>vida <strong>de</strong> vírgula, ou seja,engloba os casos em que a vírgula foi usada em posições não-previstas pelas gramáticasnormativas tomadas como referência. Esses usos não-convencionais acontecem,predominantemente, em fronteiras <strong>de</strong> frases fonológicas (I), no entanto, as motivaçõespara a colocação da vírgula nessas posições po<strong>de</strong>m ser organizadas em três diferentesdomínios: 1) domínio pragmático: quando o sujeito escrevente procura dar ênfase aalgum argumento do texto; 2) domínio argumentativo: quando o sujeito evi<strong>de</strong>ncia arelação <strong>de</strong> força <strong>entre</strong> argumentos no interior <strong>de</strong> uma escala argumentativa; 3) domíniosemântico: quando o sujeito procura marcar o escopo semântico da sentença. Essesdomínios po<strong>de</strong>m ser observados nas ocorrências <strong>de</strong> vírgula assinaladas com uma elipsenas Figuras 1 e 2. 5Figura 1: (8B_06_02_03)Na Figura1, do ponto <strong>de</strong> vista normativo, o sujeito escrevente colocou a vírgulain<strong>de</strong>vidamente <strong>entre</strong> elementos que estão sintaticamente ligados: para segmentar alocução ser a favor <strong>de</strong>. De um ponto <strong>de</strong> vista prosódico, tem-se, na ocorrência5 A codificação <strong>de</strong> cada dado segue as normas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> sujeitos e amostras escritas do Banco<strong>de</strong> Dados do qual se extraiu o corpus <strong>de</strong>sse projeto <strong>de</strong> pesquisa. Os elementos separados pelos traçoscorrespon<strong>de</strong>m, respectivamente, a: série/turma, sujeito, proposta <strong>de</strong> redação, linha do texto em que seencontra a ocorrência.53


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.apresentada, uma seqüência <strong>de</strong> três Is: [ao contrário <strong>de</strong> um brasileiro comum ounormal]I, [eu sou a favor]I, [da internacionalização da Amazônia]I. Tem-se que avírgula foi colocada numa fronteira prosódica, mas não em um limite sintático, e, nessecaso, o limite sintático é o que prevalece para <strong>de</strong>finir que o uso não está a<strong>de</strong>quado àconvenção. Dessa relação, constata-se que a vírgula empregada indicia a segmentaçãodo enunciado em diferentes contornos entoacionais que configuram a segunda e aterceira Is. Nessa escolha <strong>de</strong> vírgula feita pelo escrevente, a segunda I se constitui apartir <strong>de</strong> um contorno que <strong>de</strong>limita a porção do enunciado que é focalizada pelo fato <strong>de</strong>ali estar presente o argumento central do texto que, para o escrevente, o <strong>de</strong>staca emrelação aos <strong>de</strong>mais textos que veiculam um posicionamento sobre a internacionalizaçãoda Amazônia: o posicionamento do sujeito escrevente é a favor, e não contra, ainternacionalização. Nesse sentido, esse uso não-convencional po<strong>de</strong> ser interpretadocomo um marca <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> I que, nos <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong>, carrega o contornoentoacional que dá ênfase à porção do enunciado que <strong>de</strong>nuncia o posicionamento doescrevente em relação à polêmica da internacionalização da Amazônia.Outra ocorrência semelhante à primeira é apresentada na Figura 2, a seguir.Figura 2: (8B_06_02_09)Na Figura 2, as vírgulas que separam in<strong>de</strong>vidamente o argumento oracional daoração matriz (tanto antes quanto <strong>de</strong>pois do elemento subordinativo-QUE) foramcolocadas em fronteiras <strong>de</strong> I, assim como a ocorrência anteriormente analisada. Noentanto, a motivação para essas vírgulas não parece estar associada apenas à função <strong>de</strong>54


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.enfatizar alguma porção do enunciado que correspon<strong>de</strong>ria a um argumento, mastambém à função <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar/focalizar um argumento em relação a outro argumento.Desse modo, as vírgulas indiciam possíveis contornos entoacionais do enunciado queconfiguram porções do texto que compõem em jogo argumentativo.Uma análise prosódica do enunciado, com base no algoritmo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> I(<strong>de</strong>finido em Tenani, 2002), 6 po<strong>de</strong> nos ajudar a prever um fraseamento do enunciadoem Is da seguinte forma: [Também temos que lembrar]I, [que, a Amazônia concentrauma boa parte <strong>de</strong> terra aqui]I, [mas não “toda” a parte aqui]I. No entanto, <strong>de</strong>vido àpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re-estruturação, prevista também pelo algoritmo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> I,po<strong>de</strong>-se tanto unir material fônico a fim <strong>de</strong> transformar Is menores em Is relativamentemais longas, quanto segmentar o enunciado constituído <strong>de</strong> Is mais longas em Isrelativamente menores. As condições para haver a reestruturação <strong>de</strong> Is estãorelacionadas ao tamanho dos constituintes, à taxa <strong>de</strong> elocução (por alguns autoresnomeada como velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala) e ao estilo <strong>de</strong> fala, os quais interagem com restriçõessintáticas e semânticas <strong>de</strong>finidas para o domínio da frase entoacional. Consi<strong>de</strong>randoessas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reestruturação <strong>de</strong> Is, a configuração prosódica <strong>de</strong> um enunciadoé, em alguma medida, permeada por escolhas do sujeito-falante que dizem respeito, porexemplo, às relações <strong>entre</strong> os <strong>enunciados</strong> e as unida<strong>de</strong>s que os constituem.Partindo da hipótese que essas possíveis configurações prosódicas dos<strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> são relevantes para explicitar como se dão os usos não-6 Algoritmo <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> (I) – inicialmente adaptado por Frota (1998, p. 51) para o Português Europeue adotado por Tenani (2002) para o PB: Intonational Phrase (I) Formation: (a) I Domain: (i) all the s ina string that is not structurally attached to the sentence tree (i.e. parenthetical expression, tag questions,vocatives, etc); (ii) any remaining sequence of adjacent s in a root sentence; (iii) the domain of anintonation contour, whose boundaries coinci<strong>de</strong> with the positions in which grammar-related pauses maybe introduced in an utterance. (b)I Restructuring: (i) restructuring of one basic I into shorter Is, or (ii)restructuring of basic Is into a larger I. Factors that play a role in I restructuring: length of theconstituents, rate of speech, and style interact with syntactic and semantic restrictions.55


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.convencionais da vírgula, retomamos a análise das vírgulas <strong>de</strong>stacadas na Figura 2. Doponto <strong>de</strong> vista argumentativo, verifica-se que o escrevente chama atenção para o fato <strong>de</strong>que ‘é necessário lembrar também X’ ([Também temos que lembrar], que configura aprimeira I do trecho em análise), mas o argumento lembrado pelo escrevente não seconfigura como um simples ‘lembrar X’, pois o argumento apresentado ([que, aAmazônia concentra uma boa parte <strong>de</strong> terra aqui], que constitui uma I, segundo oalgoritmo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>sse constituinte) não é tão relevante quando comparado aoargumento que é apresentado em seguida, introduzido por mas ([mas não “toda” aparte aqui], que se configura como a última I da seqüência). Portanto, a primeira vírgulaassinalada indicia a fronteira da primeira I, e, assim, é chamada a atenção para algo quenão <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado, ou, nas palavras do texto, ‘que também <strong>de</strong>ve serlembrado’. Já a vírgula após ‘que’ sinaliza um possível contorno entoacional quefocaliza esse elemento relacional e, por meio <strong>de</strong>ssa focalização, cada um dosargumentos configura-se como um constituinte prosódico, mas – simultaneamente –evi<strong>de</strong>ncia-se o <strong>de</strong>staque para o segundo argumento, representando-se, assim, um jogoargumentativo. Por meio <strong>de</strong>sses empregos não-convencionais da vírgula, verifica-se (i)como o sujeito-escrevente tece as relações <strong>entre</strong> os argumentos a fim <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar suaposição (no caso, a favor da internacionalização da Amazônia) e (ii) como se dão asrelações <strong>entre</strong> os <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong> e <strong>escritos</strong> (no caso, a relação <strong>entre</strong> a configuração<strong>de</strong> frases entoacionais e a presença <strong>de</strong> vírgulas).O segundo uso não-convencional <strong>de</strong> vírgula, nomeado tipo B, diz respeito àpresença <strong>de</strong> vírgula na posição em que outro sinal <strong>de</strong> pontuação é previsto pelasgramáticas tomadas como referência. Esses usos não-convencionais são motivados,predominantemente, por uma tentativa <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> <strong>enunciados</strong>56


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.fonológicos (Us), como é possível observar por meio da análise da ocorrênciaapresentada na Figura 3.Figura 3: (8C_02_02_18)A vírgula em <strong>de</strong>staque foi colocada no final <strong>de</strong> um enunciado interrogativo,numa posição em que era previsto, portanto, o uso do sinal <strong>de</strong> interrogação . Ocontorno entoacional ascen<strong>de</strong>nte do enunciado interrogativo é recuperado por meio daestrutura subjacente da oração o que será <strong>de</strong> nós: o pronome interrogativo Qu-, no caso,o que, configura um enunciado interrogativo nessa oração. No entanto, o escreventeutilizou, fora das convenções, a vírgula na posição on<strong>de</strong> previsto o sinal <strong>de</strong> interrogação.Esse uso po<strong>de</strong> ser entendido como uma tentativa <strong>de</strong> o sujeito não segmentar em partesmenores uma unida<strong>de</strong> maior, o U, cujo significado não se encerra on<strong>de</strong> a vírgula foicolocada, mas na posição on<strong>de</strong> o ponto final foi utilizado, após a palavra bebê. Apossível hipótese do sujeito se <strong>de</strong>fine por meio da imagem <strong>de</strong> que a vírgula não terminaum enunciado (mas apenas o <strong>de</strong>limita em função <strong>de</strong> outro enunciado), enquanto ossinais <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> interrogação e ponto final encerram, simultaneamente, uma sequênciasemântica e uma sequência fônica, seja esta <strong>de</strong>finida pelo contorno entoacional<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, como nos casos em que o ponto final é empregado, seja <strong>de</strong>finida pelocontorno entoacional ascen<strong>de</strong>nte, casos como o apresentado na Figura 3. Portanto, avírgula foi colocada na fronteira <strong>de</strong> I por não ser coinci<strong>de</strong>nte com a fronteira <strong>de</strong> U.Passamos a tratar agora dos casos, que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> tipo C, em que é57


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.previsto o emprego <strong>de</strong> duas vírgulas, dada uma estrutura sintático-semântica. Foramencontrados no corpus usos não-convencionais <strong>de</strong>finidos pela ausência em uma dasposições exigidas (ou na primeira posição – P1 – ou na segunda posição – P2) ou pelaausência tanto em P1 como em P2. Desse modo, i<strong>de</strong>ntificamos três usos nãoconvencionaisdas vírgulas em relação às posições consi<strong>de</strong>radas: (i) presença –ausência; (ii) ausência – presença; (iii) ausência – ausência. A seguir, exemplificamos oprimeiro subtipo CI em que há a sequência presença – ausência <strong>de</strong> vírgulas.Figura 4: (8B_05_02_11)Observa-se, na Figura 4, que o constituinte sintático a ser isolado é a conjunçãoconclusiva portanto. Porém, o isolamento não foi efetivado, uma vez que P2 não foipreenchida por uma vírgula. Prosodicamente, tem-se uma sequência <strong>de</strong> Is <strong>de</strong>finidaspelos contornos entoacionais e a conjunção portanto po<strong>de</strong>ria configurar uma Iin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, no entanto, pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re-estruturação do constituinteprosódico, a conjunção, por ter pouco material fônico, se une à I subsequente pertencesim aos brasileiros, formando uma unida<strong>de</strong> prosódica única [portanto pertence sim aosbrasileiros]I. Portanto, há evidências <strong>de</strong> a hipótese do sujeito para a não-colocação davírgula em P2 estar ancorada nessa organização prosódica. Nota-se que a primeiravírgula está na fronteira <strong>de</strong> uma I e, portanto, também motivada por uma mudança <strong>de</strong>contorno entoacional. Uma evidência <strong>de</strong> que essa hipótese é o que conduz o sujeito a58


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.escolher não colocar vírgula em P2 é o fato <strong>de</strong>, no período anterior, como se verifica naFigura 4, uma estrutura semelhante com a conjunção por isso estar convencionalmentesinalizada por vírgulas. Desse modo, não se po<strong>de</strong> afirmar que o escrevente não saibautilizar as vírgulas quando previsto o emprego <strong>de</strong> duas vírgulas, mas, é possívelinterpretar que a flutuação <strong>entre</strong> seguir e não seguir a convenção é motivada pelaconfluência <strong>entre</strong> a organização prosódica e sintático-semântica dos <strong>enunciados</strong> notexto.O uso não-convencional do tipo C.II diz respeito à ausência – presença dasvírgulas, como se ilustra na Figura 5, a seguir.Figura 5: (8B_06_02_13)Na Figura 5, nas posições on<strong>de</strong> indicadas, <strong>de</strong>veriam, <strong>de</strong> acordo com a norma, serempregadas vírgulas para o isolamento do adverbial antecipado quando chega aqui. Noentanto, a vírgula em P1 não é colocada. Observa-se que o elemento que está à direitada P1 é a conjunção aditiva e, que, por ser constituída <strong>de</strong> uma sílaba apenas, po<strong>de</strong> serincorporada pela I seguinte, formando, assim, uma única I: [e quando chega aqui].Dessa forma, as posições assinaladas na Figura 5, portanto, dizem respeito,respectivamente, à (i) não-colocação da vírgula em P1 pela realização <strong>de</strong> um contornoentoacional único <strong>entre</strong> a conjunção e o adverbial que a segue, sem, por esse motivo,<strong>de</strong>limitar uma fronteira prosódica <strong>entre</strong> os dois constituintes sintáticos, e (ii) à colocaçãoda vírgula em P2 por se encontrar aí a fronteira final da I.59


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.Outro indício, <strong>de</strong> natureza letrada, que po<strong>de</strong> ser também consi<strong>de</strong>rado na análise<strong>de</strong>ssa mesma ocorrência <strong>de</strong> não-preenchimento <strong>de</strong> P1 por vírgula é o fato <strong>de</strong> haver uma‘tendência’, por parte dos escreventes em processo <strong>de</strong> aquisição da escrita, em se evitarvírgula antes da conjunção e, a qual é motivada, possivelmente, na imagem que palavras<strong>de</strong> pequena extensão, como a conjunção e, dificilmente são isoladas por vírgula (mesmoque a presença das vírgulas seja exigida gramaticalmente pela estrutura em que aconjunção ocorre). Constata-se, assim, que as hipóteses explicativas para ausênciaseguida <strong>de</strong> presença da vírgula, como no caso mostrado na Figura 5, po<strong>de</strong>m advir daspráticas letradas/escritas (representações dos usos das vírgulas com base em regrasgramaticais) e das práticas orais/faladas (representações <strong>de</strong> características prosódicasdos <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong>) simultaneamente.Por fim, apresentamos a ausência <strong>de</strong> vírgula em duas posições sintaticamenterelacionadas. Esse uso não-convencional, ilustrado na Figura 6, que <strong>de</strong>nominamos portipo C.III, leva a uma conclusão interessante quanto aos empregos das vírgulas.Figura 6: (8B_30_02_10)Na ocorrência apresentada na Figura 6, as duas posições assinaladas dizemrespeito ao isolamento <strong>de</strong> orações reduzidas por meio <strong>de</strong> vírgulas, conforme previstopela norma gramatical <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong> vírgulas. No entanto, a oração reduzida sendointernacionalizada, que também po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada como uma I in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, érelativamente pequena (por ser constituída <strong>de</strong> duas palavras prosódicas) e, sendoenunciada com uma taxa <strong>de</strong> elocução relativamente rápida, po<strong>de</strong> ser reestruturada60


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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 11 – O Português falado e escrito em contexto <strong>de</strong> aquisição e perda <strong>de</strong> linguagem.Do ponto <strong>de</strong> vista normativo, a dúvida está em saber por qual constituintesintático o uso da vírgula é motivado. A vírgula foi colocada no limite <strong>entre</strong> sujeito epredicado e, além disso, o adverbial com certeza (grafado concerteza) é o primeirotermo do predicado da oração. Como se observa, o sujeito da oração é longo: quemmora aqui na América do Sul e nunca veio até aqui no Brasil. A dúvida consiste emsaber se a vírgula assinalada foi motivada pela extensão do sujeito ou se pela introduçãodo adverbial com certeza. Neste último caso, a norma prevê que esse adverbial sejaisolado por vírgulas. Se se consi<strong>de</strong>rar que a vírgula foi motivada pela extensão dosujeito, tem-se um emprego não-convencional do primeiro tipo aqui apresentado (tipoA); se, alternativamente, se consi<strong>de</strong>rar que a vírgula foi motivada pelo adverbial, tem-seum emprego não-convencional do terceiro tipo apresentado (subtipo C.I.).Faz-se relevante observar que, após o emprego não-convencional da vírgula naFigura 7, há a hipossegmentação do adverbial com certeza (concerteza). Tanto o usonão-convencioval da vírgula quanto a hipossegmentação po<strong>de</strong>m estar relacionados acaracterísticas dos <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong>, particularmente à organização dos <strong>enunciados</strong>em constituintes prosódicos (sobre a relação <strong>entre</strong> hipossegmentação e domíniosprosódicos ver Tenani, 2009). A hipossegmentação é a juntura <strong>entre</strong> as palavras gráficasque po<strong>de</strong> ser interpretada como evidência do que ocorre nos <strong>enunciados</strong> <strong>falados</strong>. Dessaforma, tem-se uma pista, por meio da segmentação não-convencional, que com certezapo<strong>de</strong> ser reestruturada, conforme previsto no algoritmo, <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser uma Ipequena para se realizar como parte <strong>de</strong> uma I maior: [concerteza irá querer conhecer oque agora vai ser <strong>de</strong> todos,]I. As vírgulas antes <strong>de</strong> concerteza e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todosconstituem outra pista a favor <strong>de</strong>ssa configuração prosódica.Embora tenha sido possível reunir pistas a favor <strong>de</strong> uma interpretação dos62


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