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o atlas linguístico do maranhão - I Simpósio Mundial de Estudos de ...

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasO ATLAS LINGUÍSTICO DO MARANHÃO: FOTOGRAFIAS DO LÉXICOConceição <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Araujo RAMOS 1José <strong>de</strong> Ribamar Men<strong>de</strong>s BEZERRA 2Maria <strong>de</strong> Fátima Sopas ROCHA 3RESUMO: Este trabalho objetiva apresentar um conjunto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s, resultante daelaboração <strong>do</strong> Atlas Linguístico <strong>do</strong> Maranhão-ALiMA, um projeto que se situa nocampo da Dialetologia/Geolinguística atual, que ultrapassa a orientação meramentediatópica em busca <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> informação que contempla outras dimensões davariação, tais como a diastrática e a diafásica, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a oferecer um mapeamentolinguístico global <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por meio da <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> espaços geolinguísticos e dacaracterização <strong>do</strong> aspecto multidimensional <strong>de</strong> que se reveste a língua. Enfoca-se oportuguês brasileiro em sua variante maranhense, no campo semântico-lexical. Dosestu<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s para compor este trabalho <strong>de</strong>staca-se o léxico <strong>do</strong> arroz, em que seestabelece um paralelo entre as lexias utilizadas no universo laboral <strong>do</strong> arroz, naBaixada Maranhense e na região <strong>do</strong> Baixo Mon<strong>de</strong>go; o léxico <strong>do</strong> caranguejo,compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as lexias concernentes à captura, ao processamento e à venda <strong>do</strong>crustáceo; o léxico <strong>do</strong> reggae, manifestação cultural <strong>de</strong> origem jamaicana, masfortemente enraizada no universo cultural maranhense. Os estu<strong>do</strong>s foram realiza<strong>do</strong>scom base em corpora obti<strong>do</strong>s a partir da aplicação <strong>de</strong> questionários específicossemântico-léxico-culturais que têm possibilita<strong>do</strong>, por um la<strong>do</strong>, registrar, muitas vezes, aoriginalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> vocabulário, que ganham senti<strong>do</strong> aoaparecer uni<strong>do</strong>s à herança cultural popular <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>; por outro la<strong>do</strong>,i<strong>de</strong>ntificar na língua falada no Esta<strong>do</strong> a presença e o vigor <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>ssevocabulário. O objetivo <strong>de</strong>sses estu<strong>do</strong>s é a elaboração <strong>de</strong> glossários que consi<strong>de</strong>ram ascondições <strong>de</strong> circulação <strong>do</strong>s termos na língua em funcionamento, na modalida<strong>de</strong> falada,visan<strong>do</strong> à construção <strong>de</strong> instrumentos úteis <strong>de</strong> consulta e <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informação lexicale semântica na área <strong>do</strong> conhecimento/ativida<strong>de</strong> em que se inserem, seguin<strong>do</strong> um viéspragmático, que viabilizará uma comunicação mais eficiente e intensa entre os sujeitosinteressa<strong>do</strong>s pelas ativida<strong>de</strong>s estudadas.PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia; Geolinguística;Português Maranhense.Lexicologia; Terminologia;1 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Maranhão, Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Departamento <strong>de</strong> Letras, Av. <strong>do</strong>sPortugueses, s/n, Campus <strong>do</strong> Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil,comen<strong>de</strong>s@elo.com.br2 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Maranhão, Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Departamento <strong>de</strong> Letras, Av. <strong>do</strong>sPortugueses, s/n, Campus <strong>do</strong> Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil,comen<strong>de</strong>s@elo.com.br3 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Maranhão, Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Departamento <strong>de</strong> Letras, Av. <strong>do</strong>sPortugueses, s/n, Campus <strong>do</strong> Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil,fsopas@yahoo.com.br41


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturassenti<strong>do</strong> ao aparecerem uni<strong>do</strong>s à herança cultural popular <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>; por outrola<strong>do</strong>, i<strong>de</strong>ntificar, na língua falada no Esta<strong>do</strong>, a presença e o vigor <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>ssevocabulário. Dessas vertentes escolhemos, para efeito <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, duas, que têm emcomum compreen<strong>de</strong>rem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> importância econômica e cultural para o Esta<strong>do</strong> –a vertente Produtos extrativistas e agroextrativistas – em especial o arroz e ocaranguejo – e a vertente Reggae.No que diz respeito à vertente Produtos extrativistas e agroextrativistas, valeressaltar que foi por meio da agricultura que o Maranhão, na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> séculoXVIII, teve, como afirma Pra<strong>do</strong> Júnior (1957, p. 144), “seu lugar no gran<strong>de</strong> cenário daeconomia brasileira”. Àquela época, foi o algodão que <strong>de</strong>u vida ao Esta<strong>do</strong> e otransformou. Entretanto, o arroz também contribuiu, ainda que em uma posição maismo<strong>de</strong>sta, para esse lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque que ocupou o Maranhão no Brasil Colônia.Hoje, a agricultura, baseada no extrativismo e no cultivo vegetal, continua sen<strong>do</strong>uma das principais ativida<strong>de</strong>s econômicas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Extraem-se da natureza váriosprodutos; entre eles, o babaçu e o caranguejo, que têm importância relevante na culturae no léxico regional. Além <strong>de</strong>sses produtos, cultivam-se o arroz, a mandioca, o milho ea cana-<strong>de</strong>-açúcar, igualmente importantes.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>, por um la<strong>do</strong>, o valor <strong>de</strong>sses produtos para a economia e a culturamaranhenses e, por outro la<strong>do</strong>, o entendimento <strong>de</strong> que o léxico é “um instrumento <strong>de</strong>produção da cultura e, ao mesmo tempo, seu reflexo.” (PAIS, 1995, p. 1331), elegemostambém como objeto <strong>de</strong> nossa investigação o universo lexical <strong>de</strong>sses produtos. No quediz respeito aos produtos extrativistas, como o babaçu e o caranguejo, selecionamos osseguintes campos semânticos: colheita (babaçu) e captura (caranguejo),44


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasprocessamento, comercialização e aplicação <strong>do</strong>s produtos. Com relação aos produtosagroextrativistas – arroz, mandioca, milho e cana-<strong>de</strong>-açúcar – além <strong>do</strong>s camposcolheita, processamento, comercialização e aplicação <strong>do</strong>s produtos, acrescentamos ocampo cultivo, nele incluin<strong>do</strong> a preparação da terra para o plantio e as pragas e ervasdaninhas que atacam a plantação.No caso <strong>do</strong> reggae, selecionamos os seguintes campos: música, equipamentos,participantes e alucinógenos.Ten<strong>do</strong> essas vertentes como foco <strong>de</strong> nosso estu<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ramos necessário daralgumas informações que situem os temas seleciona<strong>do</strong>s, no contexto sócio-econômicoculturalmaranhense.Com relação ao caranguejo, convém ressaltar que o Maranhão apresenta umgran<strong>de</strong> potencial nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu extrativismo, uma vez que possui, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>com o jornal Ambiente Brasil (2006), “[...] quase a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s manguezais <strong>do</strong> Brasil eé a maior área contínua <strong>de</strong>sse ecossistema no mun<strong>do</strong>”. Verda<strong>de</strong>iras reservasextrativistas marinhas, os manguezais abrigam variadas espécies <strong>de</strong> caranguejos, queneles vivem e se reproduzem, constituin<strong>do</strong> importante fonte <strong>de</strong> alimento e geração <strong>de</strong>renda para uma consi<strong>de</strong>rável parcela da população maranhense. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>sestatísticos colhi<strong>do</strong>s pelo IBAMA (IGARASHI, 2005, p. 35), o Maranhão está entre osmaiores produtores <strong>de</strong> caranguejo <strong>do</strong> país, com uma média <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 4.000 toneladasanuais.No que diz respeito ao arroz, sua cultura, no Brasil, remonta ao início dacolonização, haven<strong>do</strong> notícia <strong>de</strong> sua chegada ao Maranhão em 1745. Sua história noMaranhão alterna episódios <strong>de</strong> incentivo à sua produção ou <strong>de</strong> proibição <strong>de</strong> cultivo e45


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasconsumo, sempre varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os interesses da Corte ou <strong>do</strong> Governo. Osprimeiros registros da presença <strong>do</strong> arroz no Esta<strong>do</strong> foram feitos por Simão Estácio daSilveira que registra: “[...] haven<strong>do</strong> no Maranhão muito milho zaburro e muitoexcelente arroz em quantida<strong>de</strong> [...] há muito e bom arroz”(SILVEIRA, 2001, p. 48 ).Mais recentemente, a situação da produção <strong>do</strong> arroz no Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> sertraduzida em números que revelam sua importância no contexto estadual, apesar daqueda em relação à produção nacional. Dos 217 municípios maranhenses, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>com o censo agropecuário 2001 (IBGE, 2001) e NUGEO/LABGEO (2002), apenas um– Água Doce <strong>do</strong> Maranhão – não apresenta resulta<strong>do</strong>s quanto à produção <strong>do</strong> arroz.Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Censo Agropecuário 2007 (IBGE, 2007), o Maranhão é o quartoprodutor nacional <strong>de</strong> arroz, com 683.095 toneladas produzidas.O Reggae, por sua vez, não é uma manifestação cultural genuinamentemaranhense, mas é, sem sombra <strong>de</strong> dúvida, uma manifestação autêntica <strong>do</strong> Maranhão.Segun<strong>do</strong> Silva (1995, p. 116), “[...] tanto na incorporação <strong>de</strong>sse ritmo pela culturajamaicana atual, inspirada também em tradições africanas, como na expansão paraoutras partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, inclusive para o Maranhão, foram-lhe acresci<strong>do</strong>s outrosconteú<strong>do</strong>s, outra dimensão”.No Maranhão, em contato com outras manifestações culturais com as quais seuritmo se i<strong>de</strong>ntificou, como por exemplo, o Bumba-meu-boi e o Tambor <strong>de</strong> Crioula, oReggae adquiriu características peculiares que lhe <strong>de</strong>ram uma dimensão marcadamentemaranhense, quer seja no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> dançar e <strong>de</strong> vestir <strong>do</strong> regueiro, quer seja na sualinguagem.46


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasNo que concerne à língua(gem) <strong>do</strong> Reggae, vale ressaltar que ela apresenta umvocabulário próprio e, muitas vezes, bastante específico, espécie <strong>de</strong> código quei<strong>de</strong>ntifica e legitima o regueiro como membro <strong>de</strong> um grupo que a<strong>do</strong>ta o Reggae comoinstrumento <strong>de</strong> lazer e, por meio <strong>de</strong>le, <strong>de</strong>senvolve um movimento <strong>de</strong> construção dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica.Examinar o léxico, como espaço privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong>ssistemas <strong>de</strong> valores, visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> e práticas sociais e culturais <strong>de</strong> um grupo humano,significa investigar a língua em sua relação com a história e a cultura, levan<strong>do</strong> em contaque sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da língua atuam fatores extralinguísticos, que nosoferecem subsídios para uma compreensão mais ampla da realida<strong>de</strong> da língua.A língua, como fenômeno social que vive e se <strong>de</strong>senvolve como uma elaboraçãocoletiva (cf. LÉVI-STRAUSS, 1975, p.73), não só faz parte da cultura como é o meioque nos permite a apropriação da própria cultura, seu conhecimento, preservação edivulgação. “Língua, socieda<strong>de</strong> e cultura são indissociáveis, interagem continuamente,constituem, na verda<strong>de</strong>, um único processo complexo” (BARBOSA, 1981, p. 158).No âmbito da interrelação língua, cultura e socieda<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> Benveniste(1989, p.100), é no nível lexical que essas relações se tornam mais explícitas eevi<strong>de</strong>ntes, pois:O vocabulário fornece (...) uma matéria muito abundante, <strong>de</strong> que se servemhistoria<strong>do</strong>res da socieda<strong>de</strong> e da cultura. O vocabulário conserva testemunhosinsubstituíveis sobre as formas e as faces da organização social, sobre osregimes políticos, sobre os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> produção que foram sucessivamenteemprega<strong>do</strong>s, etc.Assim, na teia das relações que se estabelecem entre língua, cultura e socieda<strong>de</strong>,o léxico ocupa um lugar privilegia<strong>do</strong>, dada a sua natureza primeira <strong>de</strong> nomear, <strong>de</strong>signar,47


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasapreen<strong>de</strong>r o real, sen<strong>do</strong> entendi<strong>do</strong> como um conjunto composto por vários subconjuntos,tanto os <strong>de</strong> conhecimento geral por parte <strong>do</strong>s falantes da língua, como os subconjuntostambém chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> léxicos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>, relaciona<strong>do</strong>s com os <strong>do</strong>mínios dasciências, tecnologias, profissões e ativida<strong>de</strong>s específicas.Os léxicos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong> são objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> da Terminologia, entendida porBi<strong>de</strong>rman (2001, p. 13-22) como “[...] um subconjunto especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> léxico <strong>de</strong> umalíngua, a saber, cada área específica <strong>do</strong> conhecimento humano”. Inicialmente propostacomo interessada estritamente nos vocabulários das ciências e tecnologias, suaabrangência vem sen<strong>do</strong> progressivamente ampliada.Mais recentemente, uma nova abordagem nos estu<strong>do</strong>s terminológicos assume avertente social nas línguas <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>, por enten<strong>de</strong>r que nenhuma língua natural seapresenta como uma entida<strong>de</strong> homogênea e uniforme, mas sim como um sistema plural.Essa abordagem contemporânea da Terminologia, <strong>de</strong>signada Socioterminologia,adquiriu, segun<strong>do</strong> Faulstich (1995), fundamentos teóricos, o que lhe possibilitareivindicar a posição <strong>de</strong> disciplina e não apenas <strong>de</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisa, apresentan<strong>do</strong>duas abordagens: como prática <strong>do</strong> trabalho terminológico, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve levar em contaas condições <strong>de</strong> circulação <strong>do</strong>s termos no funcionamento da linguagem; e comodisciplina <strong>de</strong>scritiva, em que o termo é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> sob a perspectiva linguística dainteração social.A Socioterminologia, assim, ocupa-se “da variação terminológica ten<strong>do</strong> comoprincípio <strong>de</strong> sua pesquisa o registro e análise <strong>de</strong> variantes terminológicas, levan<strong>do</strong> emconsi<strong>de</strong>ração os contextos social, situacional, espacial e linguístico em que os termoscirculam” (VASCONCELOS, 2003, p. 144).48


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasEm síntese, a Socioterminologia leva em conta os diversifica<strong>do</strong>s discursosespecializa<strong>do</strong>s, neles incluí<strong>do</strong>s os contextos orais, admitin<strong>do</strong> as variações <strong>do</strong>s termos.As variações <strong>de</strong>vem estar incluídas na elaboração <strong>de</strong> produtos terminográficos como,por exemplo, os glossários.A amostra <strong>do</strong> glossário <strong>do</strong> caranguejo e a <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s para elaboração <strong>do</strong>sglossários <strong>do</strong> arroz e <strong>do</strong> reggae, apresentadas neste trabalho, são parte <strong>de</strong> uma pesquisamais ampla que vem sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvida no âmbito <strong>do</strong> ALiMA e que busca investigar ovocabulário especializa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s laborais e <strong>de</strong> manifestações culturais <strong>do</strong>Maranhão.Os glossários 4estão sen<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong>s com base na proposta teórica daSocioterminologia que consi<strong>de</strong>ra as condições <strong>de</strong> circulação <strong>do</strong>s termos na língua emfuncionamento, na modalida<strong>de</strong> falada.Para este trabalho, foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong>questionários-guia <strong>de</strong> entrevista específicos para cada um <strong>do</strong>s produtos objeto <strong>de</strong>steestu<strong>do</strong>. No que diz respeito ao caranguejo, cujo glossário já está concluí<strong>do</strong>, oquestionário-guia foi aplica<strong>do</strong> na Ilha <strong>de</strong> São Luís e no Município <strong>de</strong> Araioses-MA.Para o arroz consi<strong>de</strong>ramos os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> questionário, em Arari-MA,que foram compara<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em pesquisa <strong>do</strong>cumental sobre a culturatradicional <strong>do</strong> arroz na região <strong>do</strong> Baixo Mon<strong>de</strong>go. O glossário <strong>do</strong> arroz encontra-seainda em fase <strong>de</strong> elaboração. Para o reggae, cujo glossário também está em fase <strong>de</strong>elaboração, utilizamos os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s na Ilha <strong>de</strong> São Luís.4 Ten<strong>do</strong> em vista que não há consenso entre os estudiosos sobre a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> glossário, para efeito daspesquisas <strong>do</strong> ALiMA, que seguem uma abordagem socioterminológica, optamos por consi<strong>de</strong>rar asorientações <strong>de</strong> Faulstich (2008), para quem o glossário é um “ inventário terminológico, <strong>de</strong> caráterseletivo que tem como finalida<strong>de</strong> registrar e <strong>de</strong>finir termos <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínios científicos, técnicos ou culturais,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> suporte material em que se apresenta”.49


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasEsperamos, pois, que os glossários sejam instrumentos úteis <strong>de</strong> consulta e fontes<strong>de</strong> informação lexical e semântica na área <strong>do</strong> conhecimento/ativida<strong>de</strong> em que seinserem, seguin<strong>do</strong> um viés pragmático, que viabilizará uma comunicação mais eficientee intensa entre o técnico, o especialista, o professor pesquisa<strong>do</strong>r e aqueles que lidamcom os produtos, estabelecen<strong>do</strong>, assim, uma ponte entre os diferentes universosdiscursivos.Amostra <strong>do</strong> glossário <strong>do</strong> caranguejoO glossário da terminologia <strong>do</strong> caranguejo apresenta 114 termos, que englobamos seguintes campos semânticos: coleta, processamento e comercialização. Os verbetesestão organiza<strong>do</strong>s em or<strong>de</strong>m alfabética e apresentam a seguinte microestrutura: termoentrada;informação <strong>de</strong> natureza diatópica; variante(s); referências gramaticais;<strong>de</strong>finição; contexto (em alguns casos); nota(s) e remissivas.As informações <strong>de</strong> natureza diatópica, apresentadas entre parênteses simples,sinalizam a(s) localida<strong>de</strong>(s) em que o termo é usa<strong>do</strong>. As variantes constituem o campo<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao registro das variações terminológicas, tanto lexicais como ortográficas. Avariante lexical ocorre em <strong>do</strong>is casos: (i) quan<strong>do</strong> algum item da estrutura lexical <strong>do</strong>termo composto foi apaga<strong>do</strong>, mas seu conceito não sofreu alteração, como emcaranguejo <strong>de</strong> casco novo / caranguejo novo e (ii) quan<strong>do</strong> há diferentes significantes50


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasque possuem o mesmo significa<strong>do</strong>. A variante ortográfica objetiva registrar a formapadrão <strong>do</strong> termo. Neste caso, não há informação <strong>de</strong> natureza diatópica.As referências gramaticais remetem a informações concernentes à classegramatical à qual o termo–entrada pertence. O glossário apresenta muitos substantivos everbos e vários sintagmas terminológicos, tanto nominais como verbais.As <strong>de</strong>finições, baseadas preferencialmente em contextos <strong>de</strong>finitórios,representam o conteú<strong>do</strong> nocional, ou seja, o significa<strong>do</strong> que é da<strong>do</strong> a cada termoentrada.Contu<strong>do</strong>, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lançar mão <strong>de</strong> tais contextos, consultamosliteratura especializada sobre o caranguejo.Os contextos, apresenta<strong>do</strong>s entre colchetes, representam trechos da fala daspessoas entrevistadas em que há referência ao termo-entrada. Convém <strong>de</strong>stacar queoptamos por conservar as marcas <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> presentes na fala <strong>do</strong>s informantes, razãopor que transcrevemos grafematicamente essa fala.As notas comportam informações <strong>de</strong> natureza linguística e/ou enciclopédica queajudam o leitor a compreen<strong>de</strong>r melhor a visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que engloba o universoterminológico <strong>do</strong> caranguejo. O maior número <strong>de</strong> notas é <strong>de</strong> natureza enciclopédica.As remissivas têm a função <strong>de</strong> remeter o leitor para um novo item. Há casos emque na própria <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> termo-entrada está conti<strong>do</strong> outro termo-entrada. Essefenômeno geralmente induz o leitor a buscar, no próprio glossário, esse novo termo<strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>. Para indicar a remissiva, usamos o vocábulo Ver. É importante ressaltarque a cada remissiva há um novo termo a ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>.Abreviaturas e sinais gráficos utiliza<strong>do</strong>s:ABREVIATURASadj. – adjetivoSINAIS GRÁFICOS// interrupção <strong>do</strong> contexto51


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasARA – Araiosesf. – femininom. – masculinos. – substantivosin. nom. – sintagma nominalsin. verb. – sintagma verbalSL – São LuísVar. – variantev.t. – verbo transitivo[ ] contexto( ) informação <strong>de</strong> naturezadiatópica(( )) acréscimo <strong>de</strong> informação.Alasar (ARA) – v.t.Var. brinca<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> caranguejo (SL/ARA) – sin. nom. f.Juntar-se ((macho e fêmea)) para procriar. [Incima <strong>do</strong> carnaval, no mêis <strong>de</strong> feverêro //ele sai pa brincá <strong>do</strong> mangal afora. Ele sai <strong>de</strong> <strong>de</strong>nto <strong>do</strong> buraco pa se alasá cum asfêmea].Nota: No perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> acasalamento que, geralmente, coinci<strong>de</strong> com a época <strong>do</strong> carnaval,a extração e a venda <strong>do</strong> caranguejo são proibidas.Alicate (SL) – s. m.Var. pata (SL/ARA) – s. f.Presas <strong>do</strong> caranguejo.Andada (SL/ARA) – s. f.Var. saição (ARA) – s. f.Época em que os caranguejos saem <strong>do</strong>s buracos e caminham pelo manguezal, paraacasalar. Essa época correspon<strong>de</strong> ao perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>feso <strong>do</strong> caranguejo.Ver <strong>de</strong>fesoAratum² (SL) – s. m.Var. aristém (SL) – s. m.; chama-maré (SL) – sin. nom. m.; gauçá (ARA) – s. m.;graoçá(ARA) – s. m; grauçá – s. m.Espécie <strong>de</strong> caranguejo pequeno, com aproximadamente três centímetros <strong>de</strong>comprimento, <strong>de</strong> coloração branca, que corre na beira <strong>do</strong> mar e que é usa<strong>do</strong> como iscapara pesca.Banha (SL) – s. f.Var. gordura (SL/ARA) – s. f.Espécie <strong>de</strong> pasta amarela comestível encontrada próximo <strong>do</strong> peito <strong>do</strong> caranguejo.Ver peitoBi<strong>do</strong>ngo (ARA) – s. m.Centro da pata <strong>do</strong> caranguejo que tem, em média, um centímetro e meio <strong>de</strong>comprimento.Ver pata52


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasCalão (ARA) – s. m.Pedaço <strong>de</strong> tronco <strong>de</strong> mangue, cujo comprimento varia entre um metro e um metro evinte centímetros, que serve para transportar as cordas <strong>de</strong> caranguejo. [Digamos: se elespegarem vinte e seis cordas, eles divi<strong>de</strong>m treze pum la<strong>do</strong> e treze pro oto. Aí eles pegamum pedaço <strong>de</strong> pau assim, que chamam <strong>de</strong> calão e eles amarram treze aqui, treze aqui,né? coloca no ombro, aí sai por cima <strong>de</strong> raiz, é cain<strong>do</strong>, é levantan<strong>do</strong>, té chegá naberada <strong>do</strong> mangue].Ver cambadaCambada (SL/ARA) – s. f.Var. corda (SL/ARA); penca (SL) – s. f.Conjunto forma<strong>do</strong>, normalmente, por três caranguejos amarra<strong>do</strong>s com embira ou fio <strong>de</strong>nylon. [Digamos: se eles pegarem vinte e seis cordas, eles divi<strong>de</strong>m treze pum la<strong>do</strong> etreze pro oto.Nota: Quan<strong>do</strong> os caranguejos são pequenos, a cambada é composta por quatrocaranguejos.Ver imbiraCaranguejo canhoto¹ (ARA) – sin. nom. m.Caranguejo que tem uma pata gran<strong>de</strong> e outra pequena.Ver pataCaranguejo canhoto² (SL) – sin. nom. m.Var. caranguejo <strong>de</strong> presa seca (SL) – sin. nom. m.; caranguejo da pata igual (ARA)– sin. nom. m.Caranguejo que tem as patas finas e <strong>do</strong> mesmo tamanho.Ver pataCondurua (SL/ARA) – s. f.Var. candurua (SL/ARA) – s. f.; carangueja (SL/ARA) – s. f.; carangueja-fêmea(SL/ARA) – sin. nom. f.; conduru – s. f.; conguru (SL/ARA) – s. f.Fêmea <strong>do</strong> caranguejo.Corda (SL/ARA) – s. f.Var. cambada (SL/ARA); penca (SL) – s. f.Defeso (SL/ARA) – s. m.Perío<strong>do</strong> em que são proibidas a extração e a venda <strong>do</strong> caranguejo, uma vez que ocrustáceo encontra-se no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> acasalamento, tornan<strong>do</strong>-se assim presa fácil <strong>de</strong>capturar.Disunerada (SL) – adj. f.Var. <strong>de</strong>sonerada – adj. f.Relativo ao esta<strong>do</strong> da gordura <strong>do</strong> caranguejo, no perío<strong>do</strong> da muda, quan<strong>do</strong> esta aindanão adquiriu a consistência normal. [O caranguejo <strong>do</strong> casco novo morre porque ele está53


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasfraco, não comeu; a gordura <strong>de</strong>le está <strong>de</strong>ntro, mas está disunerada e ele tá com o cascoto<strong>do</strong> molinho]Ver gorduraGordura (SL/ARA) – s. f.Var. Banha (SL) – s. f.Imbira (ARA) – s. f.Var. embira – s. f.Espécie <strong>de</strong> corda feita com a palha da folha <strong>do</strong> olho da carnaubeira, usada para amarraros caranguejos em cambada.Nota: Além da embira, em São Luís, os cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> caranguejo usam fio <strong>de</strong> nylon paraamarrar os caranguejos.Ver cambadaMangue¹ (SL/ARA) – s. m.Var. lamaçal (SL) – s. m.; lameiro (SL) – s. m.; mangal (SL/ARA) – s. m.;manguezal¹ (SL) - s. m.Habitat <strong>do</strong>s caranguejos.Mangue² (SL/ARA) – s. m.Designação comum a diversas árvores <strong>de</strong> pequeno ou médio porte com folhas ovais eraízes-escoras. São típicas <strong>de</strong> regiões costeiras lamacentas alcançadas pelas marés.Maré <strong>de</strong> escuro (SL) – sin. nom. f.Maré <strong>de</strong> lua nova.Nota: Nessa ocasião, os caranguejos saem <strong>do</strong>s buracos para andar no mangue.Pata maior (SL/ARA) – sin. nom. f.Var. presa maior (SL/ARA) – sin. nom. f.Maior presa <strong>do</strong> caranguejo que tem formato <strong>de</strong> alicate.Peito (SL/ARA) – s. m.Parte inferior <strong>do</strong> caranguejo à qual se pren<strong>de</strong>m as unhas e as patas e on<strong>de</strong> fica aloja<strong>do</strong> ofilé, que é tira<strong>do</strong> com a ponta <strong>de</strong> uma faca pequena ou com um garfo.Ver filé; pata; unha.Riscar a imbira (ARA) – sin. verb.Var. riscar a embira (ARA) – sin. verb.Cortar, ao meio, a palha da folha <strong>do</strong> olho da carnaubeira, forman<strong>do</strong> duas cordas finasque servem para amarrar os caranguejos.Ver imbira54


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasAmostra <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s para elaboração <strong>do</strong> glossário <strong>do</strong> arrozQUADRO 1 – A preparação da terraBAIXO MONDEGORoçar ou capinarDesmatar ou <strong>de</strong>rrubarJuntar ou fazer coivaraMARANHÃORecolha <strong>do</strong>s gravetos etocosLavrar Preparar a terra Aradar Preparar a terra, ararGradarPassar a gra<strong>de</strong> para<strong>de</strong>smanchar a terraCorrudas Traça<strong>do</strong> das gra<strong>de</strong>ssobre a terra – aocompri<strong>do</strong> ou ao cisco(em forma <strong>de</strong> oito)Esbor<strong>do</strong>ar ou estorroar Desmanchar os torrõesFelgaTorrão pequenoTerra rotaTerra sem torrõesFazer a terraDeixar a terra em póAlisar Nivelar a terra Alisar Nivelar a terraComo po<strong>de</strong>mos observar, no Quadro 1, o universo lexical reflete preocupaçãodiferenciada com o preparo da terra. Enquanto no Baixo Mon<strong>de</strong>go as dificulda<strong>de</strong>s sãocom o endurecimento da terra – em razão <strong>de</strong> fatores como o longo perío<strong>do</strong> sem plantio,a pressão atmosférica e as cheias, o pisoteio <strong>de</strong> touros e cavalos e os ventos secos – noMaranhão é a exuberância da mata que dificulta a preparação <strong>do</strong> terreno e <strong>de</strong>termina umuniverso lexical mais rico.QUADRO 2 – A <strong>de</strong>marcação da terraBAIXO MONDENGOMARANHÃOLavra Gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> Linha <strong>de</strong> arroz Área <strong>de</strong> 25 braçasplantioquadradasAguilhada Medida agrária <strong>de</strong> 18palmos <strong>de</strong> comprimentoBraçaMedida equivalente a1,70m ou 1,80mLeivas Divisões da lavra Tabuleiro Espaço on<strong>de</strong> se planta oarroz, <strong>de</strong> forma55


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasMarachas Pequeno muro quedivi<strong>de</strong> peças (da salina)Motas Aterro com que seresguarda um campo dainundaçãoMarinhas <strong>de</strong> arroz Terreno ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> <strong>de</strong>motas e alaga<strong>do</strong>retangularParcelas Espaço livre entrelinhas <strong>de</strong> cultivo eoutros produtosCom relação à <strong>de</strong>marcação da terra (Quadro 2), vale registrar, na região <strong>do</strong>Baixo Mon<strong>de</strong>go, a utilização <strong>do</strong> universo lexical das salinas, como é o caso <strong>de</strong> marinhase marachas, o que po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>do</strong> pela semelhança da distribuição <strong>do</strong>s espaços,<strong>de</strong> traça<strong>do</strong> retangular, limita<strong>do</strong> por pequenas muretas, em ambos os casos, e pelaproximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regiões salineiras, como a Figueira da Foz, por exemplo.No Maranhão, merece comentário o emprego <strong>de</strong> linha, para um espaço <strong>de</strong> duasdimensões, bem como o emprego <strong>de</strong> tabuleiros, para <strong>de</strong>signar os espaços <strong>de</strong> formaretangular, ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pequenas elevações <strong>de</strong> terra, on<strong>de</strong> se planta arroz.QUADRO 3 – Pragas e ervas daninhasGramaMilhãJunçaGafanhotosLagartasCaracóisBAIXO MONDENGOErva daninhaErva daninhaErva daninhaInsetos que comem oarrozInsetos que comem oarrozMoluscos que comem oarrozSanguessugas ou Animal que provocabichas-lameiras ou danos ao homemsambixugasCatafo<strong>de</strong>ngos ou Inseto com aparência <strong>de</strong>ChupãoLagartasPurgão ou pulgãoBrocaCangaparaMARANHÃOInseto que rói o arrozquan<strong>do</strong> este estáenchen<strong>do</strong>Insetos que comem oarrozInseto que come a folhada plantaInseto que fura a plantaem baixoAnimal semelhante auma pequena tartaruga,que come o arroz56


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturascaralhoslagostim, <strong>de</strong> 3cmÉ interessante observar, com relação aos itens lexicais associa<strong>do</strong>s a pragas eervas daninhas, que no Maranhão não há referências a ervas daninhas ou a animais quetragam prejuízo ao homem. Só os insetos que comem a planta, a raiz ou o grão sãocita<strong>do</strong>s como problemas para a produção <strong>do</strong> arroz. Da mesma forma, também não háreferências à associação <strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong> arroz a <strong>do</strong>enças como a malária. Já na região <strong>do</strong>Baixo Mon<strong>de</strong>go a associação é constante: provocou rebeliões populares contra aexpansão das lavouras; dividiu opiniões e promoveu a criação <strong>de</strong> organismos como oInstituto <strong>de</strong> Malariologia ou o Museu da Malária, em 1938, e a realização <strong>de</strong>campanhas para combate <strong>do</strong> impaludismo ou malária <strong>do</strong> campo. A presença constante eameaça<strong>do</strong>ra da <strong>do</strong>ença se manifesta no recurso à religiosida<strong>de</strong>, haven<strong>do</strong> na região, oculto a Nossa Senhora das Febres.A lexia catafo<strong>de</strong>ngos, <strong>de</strong> uso na região da Carapineira (cf. MONTEIRO, 2002)e substituída por caralhos, em região próxima, não foi encontrada em dicionário.Amostra <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s para elaboração <strong>do</strong> glossário <strong>do</strong> reggaeÉ por meio da língua, veículo da cultura e reflexo da i<strong>de</strong>ntificação e dadiferenciação <strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong>, que o regueiro se i<strong>de</strong>ntifica e se reconhece comomembro <strong>de</strong> um grupo social, pois usa uma linguagem que o caracteriza. Assim, nouniverso <strong>do</strong> reggae maranhense, palavras e expressões se (re)inventam e ganham novossenti<strong>do</strong>s que brotam das vivências, da visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s valores e <strong>do</strong> fazer da gente57


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturas<strong>do</strong> reggae. Fazem parte <strong>de</strong>sse universo, numerosas palavras e expressões como ascitadas abaixo.Bater bemDiz-se da radiola que tem um bom grave, um som <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.BolachãoDisco gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinil <strong>de</strong> 33 rpm (rotações por minuto).BolachinhaDisco pequeno <strong>de</strong> vinil <strong>de</strong> 33 ou 45 rpm.Caber na (minha) pontuaçãoExpressão usada pelo regueiro para mostrar que está interessa<strong>do</strong> em alguma garota.CarimbarColocar uma vinheta ou um prefixo em uma música, com o nome <strong>de</strong> uma dada radiolaou programa <strong>de</strong> reggae.Cintura duraDiz-se <strong>do</strong> regueiro que dança mal.CirurgiãoRegueiro responsável pelo corte, isto é, pela retirada das vinhetas ou prefixos dasmúsicas carimbadas, para que estas pareçam originais. É, também, conheci<strong>do</strong> comotesoura.Dar roçaDiz-se da festa que é um fracasso, um fiasco: A festa <strong>de</strong>u roça.Estar(tá) no panoDiz-se <strong>de</strong> um regueiro muito arruma<strong>do</strong>.MagnataDiz-se <strong>de</strong> alguém importante no mun<strong>do</strong> empresarial <strong>do</strong> reggae.Massa regueiraDiz-se das pessoas que gostam <strong>do</strong> reggae, que frequentam os espaços <strong>do</strong> movimentoregueiro. Usa-se, também, galera das pedras, nação regueira.MelôRedução da palavra melodia usada para referir-se a um reggae.Paredão58


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasConjunto <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> som, que contêm numerosos alto-falantes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> potência.Passar o panoDiz-se quan<strong>do</strong> um regueiro vai a uma festa apenas para sentir o clima, dar umaolhadinha.Pedra, pedradaDiz-se <strong>de</strong> um reggae bom, envolvente.Pedra <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> baúDiz-se <strong>de</strong> um reggae muito antigo.RadiolaMóvel composto pela aparelhagem <strong>de</strong> som – usada para tocar disco <strong>de</strong> vinil, fita cassete(década <strong>de</strong> 1970) e, atualmente, MD ou IPOD – e por numerosos alto-falantes, queformam os paredões ou colunas.RadioleiroProprietário da radiola.SequênciaDiz-se da série <strong>de</strong> reggaes toca<strong>do</strong>s um após o outro, pelo DJs.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAGUILERA, Van<strong>de</strong>rci <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Os caminhos da dialetologia: os <strong>atlas</strong> linguísticos<strong>do</strong> Brasil. In: HENRIQUES, Cláudio Cezar; PEREIRA, Maria Teresa Gonçalves. (Org.)Língua e transdisciplinarida<strong>de</strong>: rumos, conexões, senti<strong>do</strong>. São Paulo: Contexto, 2002,p. 77-92.AMBIENTE BRASIL, Rumo à criação <strong>do</strong> Centro Nacional <strong>de</strong> Pesquisa e gestão emÁreas <strong>de</strong> Manguezais no Maranhão. 4 abr. 2006. Disponível em: .Acesso em 20 mar.2007.BARBOSA, Maria Aparecida. Léxico, produção e criativida<strong>de</strong>: processos <strong>de</strong>neologismo. São Paulo: Global, 1981._____. Lexicologia, lexicografia, terminologia, terminografia: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> científica,objeto, méto<strong>do</strong>s, campos <strong>de</strong> atuação. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DETERMINOLOGIA, II; ENCONTRO BRASILEIRO DE TERMINOLOGIA, I, 1990,Brasília. Anais..., Brasília: IBICT, 1990.BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. As ciências <strong>do</strong> léxico. In: OLIVEIRA, AnaMaria Pires <strong>de</strong>; ISQUERDO, Aparecida Negri. (Orgs.). As ciências <strong>do</strong> léxico:59


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturaslexicologia, lexicografia, terminologia. 2. ed. Campo Gran<strong>de</strong>: Editora UFMS, 2001,p.13-22. v.1.BENVENISTE, Émile. Problemas <strong>de</strong> linguística geral. Campinas: Pontes, 1989. v. 2.COSTA, A. <strong>de</strong> M. O léxico <strong>do</strong> vestuário da década <strong>de</strong> 80. 2004. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>em Linguística) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Ceará, Fortaleza, 2004.FAULSTICH, Enil<strong>de</strong>. Socioterminologia: mais que um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisa, umadisciplina. Revista Ciência da Informação: Revista da SBPC, São Paulo, v.24, n.3,1995._____. Meto<strong>do</strong>logia para projeto terminográfico. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE TERMINOLOGIA [RITERM], II., 1990, Brasília. Atas...Disponível em: . Acesso em: 07 jan.2008.GERÊNCIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.Laboratório <strong>de</strong> Geoprocessamento – UEMA. São Luís: GEPLAN, 2002.IBGE. Produção agrícola municipal: cereais, leguminosas e oleaginosas 2007.Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2009.IGARASHI, Marco Antonio. Caranguejo: exploração <strong>do</strong> uci<strong>de</strong>s cordatus. Fortaleza: Ed.SEBRAE, 2005.LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.MONTEIRO, José <strong>de</strong> Sousa. Quan<strong>do</strong> o sol queima e o frio enregela. Aveiro: LACAM,2002.PAIS, Cidimar Teo<strong>do</strong>ro. Da semântica cognitiva à semiótica das culturas. In: IXENCONTRO NACIONAL DA ANPOLL. 1994, Caxambu. Anais... João Pessoa:ANPOLL, 1995. p. 1325-1336.PRADO JUNIOR, Caio. Formação <strong>do</strong> Brasil contemporâneo. 5. ed. São Paulo:Brasiliense, 1957.SILVA, Carlos Benedito Rodrigues da. Da terra das primaveras à ilha <strong>do</strong> amor: reggaee i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural. São Luís: EDUFMA, 1995.SILVEIRA, Simão Estácio da. Relação sumária das cousas <strong>do</strong> Maranhão: dirigida aospobres <strong>de</strong>ste Reino <strong>de</strong> Portugal. São Paulo: Siciliano, 2001.60


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntan<strong>do</strong> culturasVASCONCELOS, A. Glossário da terminologia <strong>do</strong> caranguejo: uma perspectivasocioterminológica. In: RAZKY, Ab<strong>de</strong>lhak. (Org.) Estu<strong>do</strong>s geo-sociolinguísticos noesta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará. Belém, 2003, p. 143-154.61

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