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O estudo do sufixo -ão - I Simpósio Mundial de Estudos de Língua ...

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.ESTUDO DO SUFIXO -ÃO: VALORES SEMÂNTICOS E PROPOSTA GENEALÓGICASANTOS 1 , Alice PereiraRESUMO: É sabi<strong>do</strong> que o <strong>sufixo</strong> -ão é o principal forma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> aumentativos emLíngua Portuguesa, sen<strong>do</strong> este um <strong>do</strong>s seus principais valores semânticos. Assim,muitas vezes, são <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s em segun<strong>do</strong> plano os <strong>de</strong>mais senti<strong>do</strong>s que esse morfemapo<strong>de</strong> atribuir a bases a que se une. A intenção <strong>de</strong>sse trabalho não se restringe ao<strong>estu<strong>do</strong></strong> da formação <strong>de</strong> aumentativos, suas regularida<strong>de</strong>s e idiossincrasias. Preten<strong>de</strong>-setrazer à luz os significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> -ão, geralmente, esqueci<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> este éestuda<strong>do</strong>. Serão analisadas as palavras sufixadas com -ão arroladas no DicionárioHouaiss, <strong>do</strong> qual também se extrairão as acepções, datação e informaçõesetimológicas. Os vocábulos serão analisa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o valor semântico <strong>do</strong>morfema, isto é, interessa o significa<strong>do</strong> que o -ão confere à base. Após a verificação<strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sse morfema, será feita uma proposta genealógica, que tentaráexplicar o <strong>de</strong>senvolvimento e a evolução <strong>do</strong>s valores semânticos no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> tempo.PALAVRAS-CHAVE: Sufixo; Valor semântico; Genealogia; Diacronia.INTRODUÇÃOÉ inegável que o aumentativo é a principal função <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> -ão. No entanto,este afixo é mais complexo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> apresentar diferentes significa<strong>do</strong>s e traçosavaliativos (positivos e negativos). Basta fazer um rápi<strong>do</strong> e pequeno inventário daspalavras sufixadas em -ão para verificar esse fato. O vocábulo chorão, por exemplo, não<strong>de</strong>signa aumentativo e sim <strong>de</strong>nota valor semântico agentivo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser interpreta<strong>do</strong>como “aquele que chora muito”. Também não po<strong>de</strong>m ser lidas como aumentativos aspalavras da seqüência: cidadão (habitante da cida<strong>de</strong>), brigão (que ou quem ten<strong>de</strong> a se1 Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências Humanas.Departamento <strong>de</strong> Letras Clássicas e Vernáculas.Rua Tole<strong>do</strong>, 25, Vila Santa Maria. Cep 06856-770. Itapecerica da Serra-São Paulo. Brasil.alicesantos@usp.br1


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.envolver em brigas), rasgão (ato ou efeito <strong>de</strong> rasgar), folião (que ou aquele queparticipa <strong>de</strong> folias), coimbrão (relativo a Coimbra ou o que é seu natural ou habitante).Interessa saber, pois, se os valores semânticos aponta<strong>do</strong>s acima seriam fruto dapolissemia <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong>, que ao longo <strong>do</strong> tempo foi incorporan<strong>do</strong> esses significa<strong>do</strong>s emportuguês, ou se indicariam uma possível homonímia <strong>do</strong> -ão. Ou seja, o afixo po<strong>de</strong>apresentar a mesma forma gráfica e fônica, sincronicamente, porém, se filia a origensdistintas. Isso explicaria a presença <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s tão diversifica<strong>do</strong>s.Antes <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> à análise, é necessário esclarecer alguns pontosmeto<strong>do</strong>lógicos nos quais esta pesquisa se circunscreve. Este <strong>estu<strong>do</strong></strong> se apóia empesquisas <strong>de</strong> cunho diacrônico sem, contu<strong>do</strong>, esquecer <strong>de</strong> questões sincrônicasimportantes. Isso significa que a presente pesquisa busca da<strong>do</strong>s históricos que ajudam aexplicar o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>ssas palavras, bem como auxiliam a elucidar algunssignifica<strong>do</strong>s adquiri<strong>do</strong>s pelo <strong>sufixo</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo.Como se sabe, o produto consegui<strong>do</strong> pelo processo <strong>de</strong>rivativo reflete ossignifica<strong>do</strong>s da base e <strong>do</strong> afixo utiliza<strong>do</strong>. Assim, há que se consi<strong>de</strong>rar três seguimentos<strong>de</strong> significa<strong>do</strong>: base, afixo e produto (palavra <strong>de</strong>rivada). Importa analisar, nesse <strong>estu<strong>do</strong></strong>,o valor semântico <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> em questão. Por isso, os significa<strong>do</strong>s que sejam resulta<strong>do</strong><strong>de</strong> processos semânticos (metáfora, metonímia, elipse etc), os quais tem como ponto <strong>de</strong>partida a palavra já <strong>de</strong>rivada, não são o objetivo <strong>de</strong>sse trabalho, muito embora, pontoscomo esses serão comenta<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> trabalho . Assim em peixão, por exemplo, ovalor semântico que será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> e analisa<strong>do</strong> é “peixe gran<strong>de</strong>” e não o significa<strong>do</strong>“mulher bonita e <strong>de</strong> corpo exuberante”.Outra preocupação <strong>de</strong>sse <strong>estu<strong>do</strong></strong> é quanto à <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s processosmorfológicos em conformida<strong>de</strong> com a datação da base e da palavra <strong>de</strong>rivada. Esse2


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.procedimento é importante para que não se crie interpretações in<strong>de</strong>vidas, falsean<strong>do</strong>,assim, o processo e percurso <strong>de</strong>rivativo. Se se tomar o vocábulo mandrião, que possuidatação precisa - 1716, vê-se que é possível construir “aquele que mandria”. Porém, overbo mandriar está data<strong>do</strong> em 1789, assim como outras palavras <strong>de</strong> mesma raiz,mândria (1881) e mandriice (1817-1819), possuem datações posteriores a mandrião.Sen<strong>do</strong> assim, é possível que esta palavra tenha vin<strong>do</strong> <strong>de</strong> outra língua e, em seguida,da<strong>do</strong> origem às outras, ou ainda ter si<strong>do</strong> formada no português e, posteriormente, ter<strong>de</strong>riva<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mais.ORIGEM DO SUFIXO –ÃOO <strong>sufixo</strong> -ão, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Said Ali (1964: 56), originou-se a partir <strong>do</strong>ssubstantivos termina<strong>do</strong>s em -o, acusativo -onem. Essa formação, usada geralmente nalinguagem familiar, prestava-se a fazer referência a pessoas, individualizan<strong>do</strong>-as,ressaltan<strong>do</strong> uma característica ou um traço marcante. O estudioso Tekavičić (1980:192-193) foi mais específico ao afirmar que a individualização conseguida com oemprego <strong>de</strong>sse morfema, geralmente, tomava como base uma parte <strong>do</strong> corpo ou umhábito comum. Assim, a idéia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za já estaria presente nesse tipo <strong>de</strong> formação.No Compêndio <strong>de</strong> Gramática Histórica Portuguesa, Nunes (1945) separa os<strong>sufixo</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua proveniência entre latinos e não latinos, dividin<strong>do</strong>-ostambém segun<strong>do</strong> a classe gramatical. Esse autor apresenta o -ão em duas seções, uma<strong>de</strong>dicada aos aumentativos e outra <strong>de</strong>dicada aos adjetivos, embora reconheça que este3


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.afixo também forme substantivos. Ao primeiro associa o étimo -onem e ao segun<strong>do</strong>-anu.Joseph Huber, em sua Gramática <strong>do</strong> Português Antigo (1933: 272-274), a<strong>do</strong>ta omesmo procedimento, separan<strong>do</strong> o <strong>sufixo</strong> conforme sua origem. Remonta <strong>de</strong> -anu >-ão ou -am, associan<strong>do</strong> a idéia <strong>de</strong> pertença e dá como exemplos <strong>de</strong>sse caso as palavras:vilão e solorgião. A partir <strong>de</strong> -one forma -on e aponta, além <strong>de</strong> seu valor aumentativo,o significa<strong>do</strong> essencialmente pejorativo <strong>de</strong>sse elemento formativo, visto nas palavras:citolon (citola/ cítara <strong>de</strong>safinada) e jograron (um mau jograr/jogral).Esse morfema <strong>de</strong>ixou herança fértil nas românicas, aparecen<strong>do</strong> no espanhol(-ón), catalão (-ón), francês (-on) e italiano (-one), alteran<strong>do</strong> um pouco os valoressemânticos a ele associa<strong>do</strong>s. Alvar e Pottier (1983: 375-376) apontam que, por ter o -ãoum caráter individualiza<strong>do</strong>r, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser valorativo ou <strong>de</strong>preciativo 2 , em algumaslínguas po<strong>de</strong> formar o diminutivo. Isso ocorre no francês, catalão e alto aragonês.Rio-Torto (1998: 163) indica que o valor diminutivo também aparece noportuguês, dan<strong>do</strong> continuida<strong>de</strong> a um valor primitivo <strong>do</strong> -onem latino, como em cordão,por exemplo. Mas ressalta que, em gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s casos, essa noção não é,sincronicamente, muito transparente. Em outros casos, as palavras apresentamsignifica<strong>do</strong>s bastante específicos, por isso também não possuem gran<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>.Nunes (1945: 394) chama a atenção também para o fato <strong>de</strong>, muitas vezes, a idéia<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za culminar no significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> posse. Isso aproxima o -ão <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> -u<strong>do</strong>, oqual também apresentan<strong>do</strong> essa noção <strong>de</strong> posse; <strong>de</strong>posita um traço aumentativo e seassocia a partes <strong>do</strong> corpo. Assim, barbarão <strong>de</strong>signa “indivíduo que tem barba vasta”.2 Esses valores (positivo/ negativo) certamente <strong>de</strong>vem variar por influência <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s pelabase da palavra <strong>de</strong>rivada.4


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Já em memorião, há além <strong>do</strong> valor <strong>de</strong> posse, o traço melhorativo associa<strong>do</strong> à palavra,significan<strong>do</strong> “indivíduo que tem boa memória”.ANÁLISE DOS DADOSTomou-se como base inicial para o <strong>estu<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s em -ão, os verbetes <strong>do</strong>Dicionário Eletrônico Houaiss. A busca foi feita a partir <strong>de</strong> palavras que possuíssemesta terminação. As palavras analisadas passaram por uma seleção, em que o filtro sebaseava na freqüência <strong>de</strong> uso. Assim, fazem parte <strong>do</strong> corpus <strong>de</strong>sse <strong>estu<strong>do</strong></strong> parte <strong>do</strong>sverbetes <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s em -ão <strong>do</strong> Dicionário Houaiss 3que apresentam maior freqüência <strong>de</strong>uso 4 . Essas palavras foram analisadas quanto ao valor semântico agrega<strong>do</strong> pelo <strong>sufixo</strong>.Os significa<strong>do</strong>s que apresentam maior regularida<strong>de</strong> foram dividi<strong>do</strong>s em grupos, queserão apresenta<strong>do</strong>s a seguir.GRUPOS SEMÂNTICOSA. Ação ou Resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> açãoNesse grupo constam as paráfrases para nomina actionis das quais se encontram: “ofato <strong>de</strong> X v ”, “ação <strong>de</strong> X v ”, “processo <strong>de</strong> X v ”, “golpe pratica<strong>do</strong> com X”, “golpe pratica<strong>do</strong>em X”. Aqui cabem vocábulos como: esticão, beliscão, pregão, rasgão, arranhão,rebelião, união, abanão, raspão, estirão, encontrão, pisão, fartão, puxão, cachação eestremeção. Muitas <strong>de</strong>ssas palavras po<strong>de</strong>m ser interpretadas tanto como o nome da ação3 Diz-se alguns verbetes <strong>do</strong> Dicionário, já que a análise das palavras terminadas em -ão não foi concluída4 A freqüência <strong>de</strong> uso foi media por meio <strong>de</strong> pesquisas realizadas em sites <strong>de</strong> busca escritos em português.5


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.quanto o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa ação, sobrepon<strong>do</strong> esses significa<strong>do</strong>s, como se po<strong>de</strong> ver na<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> beliscão, rasgão e raspão, por exemplo. São todas <strong>de</strong>scritas como “ação ouefeito <strong>de</strong> X”.É interessante comentar também que esses valores aparecem em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>no Dicionário Houaiss, porém, após a seleção feita a partir da freqüência <strong>de</strong> uso,restaram menos 20 vocábulos. Por isso, a fim <strong>de</strong> realizar comparações com <strong>estu<strong>do</strong></strong>s arespeito <strong>do</strong> elemento formativo -ão, em alguns momentos, serão toma<strong>do</strong>s comoexemplos vocábulos que estão ausentes da lista <strong>do</strong>s mais freqüentes, já que os <strong>estu<strong>do</strong></strong>sexistentes não fazem esse tipo <strong>de</strong> seleção.Os nominas actionis são <strong>de</strong>scritos por Rio-Torto como heterocategoriais, pois apartir <strong>de</strong> bases verbais formam substantivos. Ela os <strong>de</strong>screve como <strong>de</strong>verbais quenominalizam o evento, ação ou processo. Essa análise parece caber nos da<strong>do</strong>sanalisa<strong>do</strong>s, ainda que em alguns casos o dicionário aponte a <strong>de</strong>rivação a partir <strong>de</strong> basessubstantivas, como ocorre em arrancão (arranco + -ão). Desse mo<strong>do</strong>, o <strong>sufixo</strong> não teriase uni<strong>do</strong> a uma base verbal, mas a um substantivo <strong>de</strong>verbal. Nesse caso, seria possívelresolver a dúvida consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a datação das palavras, mas arrancão é umas das muitaspalavras <strong>do</strong> dicionário que não possuem abonação.No entanto, nos casos em que o <strong>sufixo</strong> apresenta valor <strong>de</strong> golpe “golpe pratica<strong>do</strong> emX”, em que X é a base, a qual se refere à parte <strong>do</strong> corpo, a origem <strong>de</strong>verbal não proce<strong>de</strong>.Po<strong>de</strong>m ser cita<strong>do</strong>s como exemplares <strong>de</strong>sse fato as palavras: canelão, pescoção,cachação. Desse mo<strong>do</strong>, não se po<strong>de</strong> afirmar que o produto <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>rivações sejaheterocategorial, visto que não há mudança da categoria gramatical em relação à base.6


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.B. AgentivoEstão presentes aqui as paráfrases “(pessoa) que X v ”, “pessoa que V X”, “pessoaque gosta <strong>de</strong> V X”, “(pessoa) que exerce ativida<strong>de</strong> relacionada com X” e “(pessoa) queV em X”. Po<strong>de</strong>m integrar esse grupo as seguintes palavras: babão, gabão, mandão,cagão, brigão, brincalhão, ganhão, guardião, cirurgião, folião, espião, fujão, tecelão,chorão, beberrão, <strong>de</strong>scalção e rezão.Aqui também há a <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> categoria gramatical, jáque o <strong>sufixo</strong> se liga a bases verbais, forman<strong>do</strong> adjetivos ou substantivos. A idéia centralcontida nessas palavras é a <strong>de</strong> uma ação que é praticada (com freqüência) por umapessoa.No livro Morfologia Portuguesa, <strong>de</strong> José Lemos Monteiro, é possível encontrar umaobservação interessante a respeito <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong>s elementos <strong>de</strong> ligações que estãopresentes em algumas das formações <strong>de</strong>sse grupo. Ele chama atenção para o fato <strong>de</strong> osverbos <strong>de</strong> primeira conjugação dispensarem tais elementos, enquanto outros verbostornam esses recursos quase obrigatório. Po<strong>de</strong>-se concordar em parte com essaafirmação, já que isso ocorre em beberrão e tecelão, por exemplo. Porém, fujão escapaa esta “regra”, já que não utiliza nenhum elemento <strong>de</strong> ligação. Assim como brincalhão,foge aos casos padrões. Assim, o que parece acontecer <strong>de</strong> fato, nos casos <strong>de</strong> utilização<strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> ligação, é a manutenção da vogal que forma o tema verbal daspalavras-base.C. AumentativoEntram nesse conjunto as formações mais comuns <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong>: lobão, macacão,facão, barracão, bicão, bocão, mundão, fundão, brejão, salão, bundão, paredão, telão epanelão. No caso <strong>do</strong> aumentativo, é comum se sobrepõem outros valores semânticos,7


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.como o valor <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> ou como os avaliativos (melhorativos e pejorativos). Hácasos em que esses valores apresentam-se separadamente <strong>do</strong> aumentativo, como se veráa seguir, ao se analisar os avaliativos e ao se estudar o valor <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> (Grupo H).D. AvaliativosAqui serão analisadas as palavras que <strong>de</strong>senvolvem os significa<strong>do</strong>s avaliativos <strong>de</strong>forma separada <strong>de</strong> outros valores semânticos. Incluem-se traços positivos e negativosque sejam atribuí<strong>do</strong>s essencialmente pelo <strong>sufixo</strong>.Po<strong>de</strong>m-se citar como exemplos <strong>de</strong> melhorativos os vocábulos: vidão, fardão,vinhão e mestrão. Em vidão, a idéia não é a <strong>de</strong> “vida gran<strong>de</strong>” e sim, <strong>de</strong> uma “boa vida”;fardão <strong>de</strong>signa uma “farda suntuosa, com valor simbólico”; já vinhão se refere a um“vinho encorpa<strong>do</strong>, forte, <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>” e em mestrão, tem-se a remissão à palavramestraço, a qual significa “mestre muito <strong>de</strong>stro; indivíduo exímio em seu ofício”.Por sua vez, po<strong>de</strong>-se ver o significa<strong>do</strong> pejorativo nas seguintes palavras: santalhão“que ou aquele que simula pureza, santida<strong>de</strong>; falso beato”, vinagrão “vinagre <strong>de</strong> máqualida<strong>de</strong>”, marçagão “o mês <strong>de</strong> março, quan<strong>do</strong> o tempo é feio, e a temperatura,<strong>de</strong>sagradável”. Deve-se ressaltar que em algumas palavras esses valores po<strong>de</strong>m variar<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o contexto em que são utiliza<strong>do</strong>s. Assim, por questões pragmáticas,algumas palavras po<strong>de</strong>m ser interpretadas como melhortativas ou pejorativas. Sãoexemplos disso: sabichão, machão, bonzão, mulherão etc. Ullmann nomeia esses casos<strong>de</strong> termos médios e os <strong>de</strong>fine: “palavras que são intrinsecamente neutros e que terãouma acepção favorável ou <strong>de</strong>sfavorável <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu contexto”.O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s valores avaliativos <strong>de</strong>spertou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre a atenção <strong>do</strong>spesquisa<strong>do</strong>res, principalmente nos <strong>estu<strong>do</strong></strong>s semânticos. Alguns <strong>do</strong>s primeirossemanticistas, como aponta Ullmann, chegavam a consi<strong>de</strong>rar que os valores pejorativos8


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.seriam uma tendência fundamental da língua, “um sintoma <strong>de</strong> uma veia pessimista namente humana”. Afirmação rebatida por Breál o qual acreditava que esta tendênciarefletia uma característica bastante humana - a <strong>de</strong> disfarçar idéias <strong>de</strong>sagradáveis, isto é,a tendência <strong>de</strong> amenizar as idéias para não chocar.E. Coletivo/ConjuntoDestina<strong>do</strong> aos coletivos e outros nomina quantitatis “conjunto <strong>de</strong> X”,“quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> X”. Esse grupo é bastante reduzi<strong>do</strong>, encontran<strong>do</strong>-se aqui apenas duaspalavras: areão e varjão. Deve-se ressaltar ainda que em ambas as palavras a <strong>de</strong>finiçãodada pelo dicionário apresenta sinônimos forma<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> outros <strong>sufixo</strong>s com amesma função – forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> coletivo. Aponta-se como alternativa, areal e varge<strong>do</strong>,respectivamente.O <strong>sufixo</strong> -al é reconhecidamente ti<strong>do</strong> como coletivo em língua portuguesa, vistonas palavras: algo<strong>do</strong>al, arrozal, bambual, bananal, batatal, cafezal, canavial,jabuticabal, laranjal, mangueiral, milharal, roseiral, seringal etc. Já o <strong>sufixo</strong> -e<strong>do</strong> émenos comum e frequente como se po<strong>de</strong> verificar em:arvore<strong>do</strong>, castanhe<strong>do</strong>,figueire<strong>do</strong>, folhe<strong>do</strong>, passare<strong>do</strong>, vinhe<strong>do</strong> etc.F. DiminutivoApesar <strong>de</strong> parecer contraditório, o -ão, o qual é o principal forma<strong>do</strong>r <strong>de</strong>aumentativo, possui alguns casos em que <strong>de</strong>nota valor semântico <strong>de</strong> diminutivo. Assimcomo foi visto acima, o valor semântico ou traço <strong>de</strong> diminutivo também viria da noçãoindividualiza<strong>do</strong>ra que teria origina<strong>do</strong> o aumentativo. Iserem-se neste grupo: pontilhão eesquadrão, cordão.No caso <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is útimos exemplos o traço diminutivo estáimplícito na acepção <strong>do</strong> verbete. Em esquadrão, há a <strong>de</strong>scrição “ menor que esquadra”.9


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Em cordão, palavra <strong>de</strong> origem francesa, ocorre uma modificação em relação alíngua <strong>de</strong> origem. Em francês <strong>de</strong>signava “pequena porção <strong>de</strong> corda”. Mas em portuguêsessa idéia não aparece. Tem-se a noção <strong>de</strong> que esse objeto é menor que uma corda.Atualmente, o senti<strong>do</strong> mais comum <strong>de</strong>sse vocábulo (corrente que se usa no pescoço),<strong>de</strong>ixa sua formação um tanto opaca.A formação <strong>de</strong> pontilhão como diminutiva po<strong>de</strong> ser explicada pela presença <strong>do</strong><strong>sufixo</strong> -lhão, já que este proveio <strong>do</strong> latim -icùla, usa<strong>do</strong>, pre<strong>do</strong>minantemente, comodiminutivo nesta língua. Em português essa idéia permanece em algumas palavras:casquilha, cigarrilha, estampilha, pacotilho etc.G. GentílicoA paráfrase a<strong>do</strong>tada nesse caso é “que é originário/proveniente <strong>de</strong> X”. São exemplos<strong>de</strong>ssa função os vocábulos: vascão, catalão,vilão, letão, serrão, coimbrão, bretão,valão, al<strong>de</strong>ão, teutão e istevão. Esse valor também aparece em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> nosverbetes <strong>do</strong> dicionário, porém, não parece ser muito freqüente. Isso po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong>pelo fato <strong>de</strong> haver muitos <strong>sufixo</strong>s concorrentes nesta mesma função, como os afixos-eiro, -eno, -ês, -ita, -ino, -ano, -ense.Vale <strong>de</strong>stacar a transformação semântica ocorrida na palavra vilão, que tambémpossui outros significa<strong>do</strong>s, em sua maioria, porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> traços pejorativos, entre osquais se <strong>de</strong>staca: que ou aquele que é indigno, abjeto, <strong>de</strong>sprezível; que é rudimentar,rústico, sem arte; que é <strong>de</strong>scortês, grosseiro; <strong>de</strong> aparência <strong>de</strong>sagradável; feio,disforme, o personagem que representa o la<strong>do</strong> mau, nas peças teatrais, novelas efilmes. Esta última acepção é a mais comum <strong>de</strong>sse vocábulo e acaba por obscurecer osenti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong>.10


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Ullmann <strong>de</strong>screve essa tranformação e afirma que isto se <strong>de</strong>ve a preconceitos sociaisque inci<strong>de</strong>m em algumas classes ou ocupações. Esse preconceito acaba por contaminaro significa<strong>do</strong> da palavra. O estudioso lembra que <strong>do</strong> latim villanus, formou-se villein(servo) e villain (vilão) em ingles. Já em francês mo<strong>de</strong>rno formou vilain (feio, vil,<strong>de</strong>sagradável.)H. Intensida<strong>de</strong>Muitas vezes, o valor <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> acumula-se ao valor <strong>de</strong> aumentativo, como seviu no grupo <strong>do</strong>s aumentativos. No entanto, inserem-se aqui palavras que apresentamapenas o traço <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> em relação à base. Estão nesse grupo: azulão (tom forte <strong>de</strong>azul), calorão (calor intenso), alegrão (alegria intensa, profunda), bastão (muito basto;espesso, <strong>de</strong>nso, abundante) e pancadão (pancada violenta).I. InstrumentoEste é um grupo pareci<strong>do</strong> com os Agentivos, no entanto, nesses casos, prevalece otraço [- humano], usa<strong>do</strong> para <strong>de</strong>signar “instrumento (com) que (se) X v ”, “instrumento(com) que (se) V o X”. Po<strong>de</strong>m-se citar: picão, esfregão e pilão. Distingue-se <strong>do</strong>sagentivos pelo traço [+ humano] nele <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>.J. “Macho <strong>de</strong> X”Esse grupo é bastante reduzi<strong>do</strong>, entretanto chama a atenção pela transformaçãoque obteve em português como se verá na Seção 4.1. Os vocábulos <strong>de</strong>ste grupo po<strong>de</strong>mser li<strong>do</strong>s pela paráfrase que dá nome ao grupo “macho <strong>de</strong> X”, <strong>de</strong> que são exemploperdigão, cabrão, lebrão.K. Nomina EssendiPara abstratos forma<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> paráfrase como “que é X”, o fato <strong>de</strong> ser X”,“proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser X” ou para modais <strong>do</strong> tipo “que po<strong>de</strong> X”, “que <strong>de</strong>ve ser X ” , “que11


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.po<strong>de</strong> ser X”. Nesse conjunto tem-se: caladão, paradão, <strong>do</strong>idão, vermelhão, solteirão,bonitão, valentão, gostosão, gordão e pobretão.Esses casos são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s por Rio-Torto como isocategoriais, pois não alteram aclasse gramatical da base da palavra. No caso <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is primeiros exemplos cita<strong>do</strong>s abase não é calar e parar, e sim cala<strong>do</strong> e para<strong>do</strong>, respectivamente.L. Sem Alteração SemânticaAqui entram palavras que, após o processo <strong>de</strong>rivativo, não apresentam modificação<strong>de</strong> seu significa<strong>do</strong> em relação à base. Muito possivelmente a <strong>de</strong>rivação seria recursoexpressivo tão somente. Fazem parte <strong>de</strong>sse grupo: peladão, fuscão, jeitão, supetão, etrairão.No caso <strong>de</strong> peladão, por exemplo, o significa<strong>do</strong> da base não permite aintensificação, aumento ou gradação. Assim, não há muito ou pouco pela<strong>do</strong>. Já fuscão,<strong>de</strong>signa o nome <strong>de</strong> um veículo, assim como o diminutivo, fusquinha.M. Outros CasosAgrupam-se aqui palavras que apresentam divergências <strong>de</strong> datação em relação àpalavra-base 5 e vocábulos os quais a paráfrase não é possível, uma vez que a <strong>de</strong>rivaçãonão é mais sentida como tal, tornan<strong>do</strong>-se opaca. São exemplos <strong>do</strong> primeiro caso asseguintes palavras: malhão e trancão. Do segun<strong>do</strong> conjunto tem-se: sermão, artesão,charlatão, carvão e capitão.PROPOSTA DE GENEALOGIADescrição <strong>do</strong>s Significa<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s séculos5 Vi<strong>de</strong> mandrião, exemplo da Seção 1.12


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.A palavra mais antiga que possui o afixo -ão, em português, é barão, datada em870. Essa palavra, nesta língua, apresenta significa<strong>do</strong>s bastante diferentes <strong>do</strong>sencontra<strong>do</strong>s em latim, ao se consultar o Dicionário Gaffiot.No Dicionário Houaiss tem-se a seguinte <strong>de</strong>finição: 1- senhor <strong>de</strong> terrassubordina<strong>do</strong> diretamente ao rei ou a um gran<strong>de</strong> feudatário; 2- título imediatamenteinferior ao <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong>, e o menos gradua<strong>do</strong> na hierarquia nobiliárquico. Estedicionário também traz, como significa<strong>do</strong>s antigos, as acepções: “homem esforça<strong>do</strong>,valoroso; varão”, homem po<strong>de</strong>roso e notável pelo valor, pela posição e/ou pelariqueza”. To<strong>do</strong>s os significa<strong>do</strong>s com valor positivo.Já no Dicionário Gaffiot, encontra-se a <strong>de</strong>finição muito distinta para baro, onis.Nesta obra, constam as acepções: 1- balourd, lourdaud, 2- mercenaire 6 . Isso indicariaque essa palavra sofreu transformações semânticas, mudan<strong>do</strong> o traço avaliativo,passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> pejorativo para melhorativo.No entanto, ao consultar o Vocabulário Português e Latino <strong>de</strong> Rafael Bluteau,encontram-se significa<strong>do</strong>s pareci<strong>do</strong>s com o <strong>do</strong> português atual. Nele há citações <strong>de</strong>trechos em latim que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o autor, também refletiriam os mesmossignifica<strong>do</strong>s positivos. Apenas em umas das passagens admite um valor pejorativo aovocábulo, quan<strong>do</strong> mostra a palavra sen<strong>do</strong> utilizada em senti<strong>do</strong> irônico em umaantífrase. Nesse caso, o autor interpreta a palavra como filósofo tolo, fátuo, efemina<strong>do</strong>.Assim, o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> não é muito claro, além disso, a palavra não temuma origem transparente. O próprio Bluteau aponta cinco origens possíveis, indican<strong>do</strong>três raízes quan<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rar a provável origem Hebráica: bar (limpo <strong>de</strong> sangue), bara(criar), barach (escolher); a raiz baros (grave, sóli<strong>do</strong>) quan<strong>do</strong> aponta a filiação grega;6 Desajeita<strong>do</strong>, pessoa vagarosa e <strong>de</strong>sastrada; mercenário, interesseiro13


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.baro (homem principal), quan<strong>do</strong> associa o étimo ao latim e, finalmente, relaciona apalavra a raiz espanhola varon.Seguin<strong>do</strong> o percurso histórico tem-se a palavra falcão (926) <strong>de</strong> falco, -onis e esta<strong>de</strong> falz, cis (foice, podão). Nesta palavra é possível perceber a funçãoindividualiza<strong>do</strong>ra, conseguida por meio <strong>de</strong> comparação, já que falcão é uma ave queapresenta um bico semelhante à foice ou afia<strong>do</strong> como este instrumento. Entretanto, noportuguês essa idéia, assim como a formação tornou-se opaca.No século X foram encontradas outras palavras em que o <strong>sufixo</strong> está presentecomo quinhão (933); saião (999); malhão (982), mas o significa<strong>do</strong> que o morfemaatribui não se apresenta <strong>de</strong> forma clara no português atual. No caso <strong>de</strong>sta últimapalavra, há uma ina<strong>de</strong>quação em relação às datas fornecidas pelo dicionário. OHouaiss afirma que este vocábulo teria si<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> a partir da base malho, contu<strong>do</strong> aesta é datada apenas no século XV. Em quinhão que viria <strong>de</strong> quínìo,ónis (reunião <strong>de</strong>cinco), não se vê mais o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> origem, <strong>de</strong>signan<strong>do</strong> aquilo que cabe ou <strong>de</strong>veriacaber a uma pessoa. Já em saião (sagio,ónis), os significa<strong>do</strong>s são semelhantes,apontan<strong>do</strong>, em ambos os casos, para um oficial <strong>de</strong> justiça.No século XI encontraram-se os vocábulos ladrão (1059), borrão (1050) e leitão(1059). As duas últimas palavras teriam si<strong>do</strong> formadas no português, a partir das basesborra e leite. Entretanto, novamente há discordância entre as datas da palavra base eda <strong>de</strong>rivada, fornecidas pelo dicionário Houaiss. Ao consultar a etimologia das basesobserva-se que ambas são formas latinas, que passaram ao português. Além disso, o<strong>de</strong>riva<strong>do</strong> borrão forma-se a partir <strong>de</strong> um significa<strong>do</strong> que a base possuía em latim:coisa suja, escura, sem limpi<strong>de</strong>z.14


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Desse mo<strong>do</strong>, analisan<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> da base e da palavra <strong>de</strong>rivada, percebe-seque o <strong>sufixo</strong> não modifica o significa<strong>do</strong> da palavra, já que ambas <strong>de</strong>screvem sujeira outipo <strong>de</strong> macha. Em leitão, a formação <strong>de</strong>sperta a atenção, pois parece ter apresenta<strong>do</strong>,no início o valor semântico <strong>de</strong> agentivo, uma vez eu o termo é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como porconovo, especialmente até a etapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> mamar, isto é, apalavra po<strong>de</strong> ser lida como “aquele que v X”.Já ladrão, vem da palavra latina latro, onis que <strong>de</strong>signava os solda<strong>do</strong>smercenários e já nesta língua significava bandi<strong>do</strong>, saltea<strong>do</strong>r. Nesse vocábulo também épossível entrever o valor agentivo, principalmente, se se consi<strong>de</strong>rar que em gregohavia láthrái, que significa às escondidas, termo que teria vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> verbo lanthánó(estar oculto). Por esta hipótese po<strong>de</strong>r-se-ia interpretar o vocábulo também com aparáfrase “aquele que V x”.No século XII, aparecem em português os significa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> (fundão,1149) e nomina actionis (pregão, 1152), que existiam em latim. Chama atenção adiferença <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> encontrada no último <strong>do</strong>s exemplos da<strong>do</strong>s. A palavra pregãoque atualmente se refere à ação <strong>de</strong> pregar (ato ou efeito <strong>de</strong> apregoar; reclamo,preconício), no latim praeco,ónis <strong>de</strong>signava o pregoeiro público, arauto, o queproclama, anuncia ou diz em público; possuin<strong>do</strong>, assim, valor semântico agentivo.Aparece também neste século a palavra cabrão (1141), <strong>de</strong> capro, onis, que emlatim funcionava como aumentativo, mas em português <strong>de</strong>signa o macho da cabra.Sandmann (1989:33-34) aponta que a língua portuguesa tem uma tendência <strong>de</strong> formaraumentativos masculinos <strong>de</strong> substantivos femininos. Ele acredita que “isso se <strong>de</strong>veprovavelmente à idéia <strong>de</strong> que o masculino se presta melhor para a expressão <strong>do</strong> que é15


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.gran<strong>de</strong> e forte.” Talvez essa tendência quanto ao gênero, possa explicar essa mudançano valor semântico <strong>de</strong>ssa palavra que interfere no sexo.Vale <strong>de</strong>stacar que, em espanhol, perdigón <strong>de</strong>signa filhote <strong>de</strong> perdiz, assim comoanadón (filhote <strong>de</strong> pato), ansarón (filhote <strong>de</strong> ganso), indica<strong>do</strong> resquícios <strong>do</strong> valordiminutivo <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong>. Assim, em português a transformação se <strong>de</strong>u pela idéia <strong>de</strong> quetraços <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za/intensida<strong>de</strong>/força estão mais liga<strong>do</strong>s à figura masculina, modifican<strong>do</strong>o significa<strong>do</strong> “X gran<strong>de</strong>” para “macho <strong>de</strong> X”. Já em espanhol a noção <strong>de</strong> pequenez <strong>do</strong><strong>sufixo</strong> levaria a outra interpretação semântica, passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> “X pequeno” para “filhote<strong>de</strong> X”.O valor aumentativo aparecerá em português no século XIII nas palavras, cebolão(1258), rolão (1265), tampão, bolsão e cabeção 7 . Neste século também surge osignifica<strong>do</strong> gentílico, observa<strong>do</strong> na palavra bretão, a qual se originou <strong>de</strong> britones. Noséculo seguinte encontra-se o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> instrumento verifica<strong>do</strong> na palavra picão(instrumento pontiagu<strong>do</strong> com que se lavra a pedra), datada em 1364.O valor semântico <strong>de</strong> ação que apareceu já no século XII com a palavra pregão,acima citada, aparece no século XV associada à idéia <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong> na palavra rebelião,cuja acepção seria: ato <strong>de</strong> ou efeito <strong>de</strong> rebelar(-se). Neste século também é possívelencontrar o valor semântico <strong>de</strong> conjunto, o qual não é muito produtivo com esse <strong>sufixo</strong>.Em plumão verifica-se esse significa<strong>do</strong> na acepção dada pelo dicionário: penacho <strong>de</strong>plumas.O século XVI revela novos significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> -ão, em português. Como se viuo valor semântico <strong>de</strong> diminutivo já está presente em latim, entretanto em portuguêsaparece apenas no século XVI, com a palavra esquadrão, a qual vem <strong>do</strong> italiano7 Nesses casos as datas não são especificadas, aparece apenas o século.16


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.squadrone. Deve-se ressaltar que esta palavra não é diminutivo <strong>de</strong> esquadra e sim,<strong>de</strong>nota algo menor, isto é: grupamento <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> guerra, geralmente <strong>do</strong> mesmo tipoe classe, porém menor que a esquadra.Nesse século também aparece o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> nomina essendi, porém as palavrasencontradas apresentam incongruências em relação à datação ou à forma. As palavrasfrieirão; mansarrão; folgazão; moucarrão, as quais po<strong>de</strong>riam ser interpretadas pelaparáfrase “que é x” ou “que é muito x”, possuem além <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> -ão , outros elementosformativos. Assim, não se po<strong>de</strong> atribuir este significa<strong>do</strong> ao afixo -ão. Em folgazão(1560) o problema se refere à datação. Esta palavra teria si<strong>do</strong> formada a partir <strong>de</strong> folgaz+ -ão, no entanto, a base é datada em 1817. Assim, esse valor semântico será indica<strong>do</strong>no século XVII em que as formações são mais claras. Os vocábulos velhacão eignorantão são exemplos <strong>de</strong>sse caso.O significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> posse aparece no século XIX, em 1805, como se po<strong>de</strong> verificarna acepção <strong>do</strong> verbete memorião (aquele que tem boa memória). Deve-se ressaltar quenesta palavra também há o traço avaliativo, <strong>de</strong>notan<strong>do</strong> aspecto positivo. Essesignifica<strong>do</strong> já aparece em latim na palavra pe<strong>do</strong>, onis (aquele que tem pés gran<strong>de</strong>s), noentanto, a passagem <strong>de</strong>sse vocábulo para o português modificou o significa<strong>do</strong> dapalavra, que passou a <strong>de</strong>signar valor agentivo, como se viu acima.Os traços avaliativos aparecem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre no português associa<strong>do</strong>s a outrossignifica<strong>do</strong>s. No século XV há terrão que po<strong>de</strong> se referir a uma terra gran<strong>de</strong> ou a umterreno <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>. No século seguinte há rapagão, carão, carrão, as quaisadmitem os mesmos valores - aumentativo e melhorativo.No século XVII, temos mocetão e moçalhão, as quais apresentam além <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong>-ão, outros elementos formativos. Chama a atenção o fato <strong>de</strong> esses elementos terem17


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.originalmente um significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> diminutivo: -et, -alh. Nos séculos XIX e XXconcentram-se a maioria <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> avaliativos <strong>de</strong> que são exemplos as palavrasapresentadas na Seção D.Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valores semânticos admiti<strong>do</strong>s por -onem e -anus no latim quepassaram ao português, tentar-se-á <strong>de</strong>linear o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong><strong>sufixo</strong> -ão nesta língua.A Figura 1 <strong>de</strong>screve o <strong>de</strong>senvolvimento semântico <strong>do</strong> <strong>sufixo</strong> no português e suasrelações com os significa<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s no latim. A cor ver<strong>de</strong> se refere aos valores quejá existiam nesta língua e, em azul, aqueles que se <strong>de</strong>senvolveram posteriormente noportuguês.Como se viu, no século X, há o valor semântico <strong>de</strong> semelhança (individualiza<strong>do</strong>r).Esse significa<strong>do</strong> parece ter da<strong>do</strong> origem aos valores <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>, aumentativo,diminutivo, posse e “macho <strong>de</strong> x”. Desses, apenas o último não estava disponível nolatim. A individualização é feita com base em uma característica, <strong>de</strong> um objeto ouindivíduo, que se <strong>de</strong>staca, pelo excesso ou pela falta, trazen<strong>do</strong> à luz as noções <strong>de</strong>aumentativo e diminutivo. O significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> posse i<strong>de</strong>ntifica-se também como aindividualização, já que ao indicar que “alguém ou algo tem/possui X”, consegue-seespecificar, particularizar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo.Também é possível que a individualização seja feita <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com uma ação feitarepetidamente/ freqüentemente por alguém, o que origina o valor agentivo. A idéia <strong>de</strong>intensida<strong>de</strong> está contida, em ambos os casos, seja apontan<strong>do</strong> características que se<strong>de</strong>stacam, seja apontan<strong>do</strong> ações. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> valor “macho <strong>de</strong> X”, como seviu teria surgi<strong>do</strong> da idéia <strong>de</strong> aumento. No entanto, esse valor aparece apenas emportuguês e é anterior ao surgimento <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> aumentativo nesta língua. Por18


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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Figura 1- Proposta <strong>de</strong> GenealogiaComo mostra a figura o valor <strong>de</strong> agentivo po<strong>de</strong> ter da<strong>do</strong> origem aos valores <strong>de</strong>instrumento, ação e resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ação. Essa seqüencia respeita o surgimento <strong>de</strong>ssesvalores no português. Na passagem <strong>de</strong> agentivo para valor <strong>de</strong> instrumento muda-se otraço [+humano] para [- humano]. Os significa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ação e resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ação mostramsetambém liga<strong>do</strong>s, já que o primeiro <strong>de</strong>signa o nome da ação e o segun<strong>do</strong> o efeitocausa<strong>do</strong> por ela. Além disso, vale lembrar que, muitas vezes o mesmo vocábulo po<strong>de</strong>apresentar, ao mesmo tempo, esses <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s.O valor semântico <strong>de</strong> gentílico, já existente no latim, não é muito produtivo noportuguês atual. Isso po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ver ao fato <strong>de</strong> o português dispor <strong>de</strong> outros <strong>sufixo</strong>s paraexpressarem essa mesma noção.CONSIDERAÇÕES FINAISDe acor<strong>do</strong> como foi visto ao logo <strong>de</strong>ste <strong>estu<strong>do</strong></strong>, o <strong>sufixo</strong> -ão, apresenta váriossignifica<strong>do</strong>s (ação, agentivo, diminutivo, intensida<strong>de</strong>, coletivo, instrumento, gentílico enomina essendi), e não <strong>de</strong>ve, portanto, ser resumi<strong>do</strong> em uma única função - a <strong>de</strong>aumentativo-, ainda que esta seja sua função mais produtiva. Além <strong>do</strong>s valoressemânticos <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong>s por este <strong>sufixo</strong>, há ainda traços que dão nuances a essessignifica<strong>do</strong>s, como os <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>, melhorativo e pejorativo. Ocorre também,algumas vezes, <strong>de</strong> esses traços aparecem <strong>de</strong> forma absoluta, ou seja, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>soutros significa<strong>do</strong>s.20


Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s, Elisa Esteves, Mª <strong>do</strong> Céu Fonseca, Olga Gonçalves, AnaLuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora ISBN: 978-972-99292-4-3SLG 53 – Morfologia histórica <strong>do</strong> Português.Viu-se que a diversida<strong>de</strong> semântica <strong>de</strong>sse elemento formativo se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong>haver, pelo menos, <strong>do</strong>is <strong>sufixo</strong>s com a mesma estrutura formal, o que caracteriza ahomonímia. As formas que teriam origina<strong>do</strong> o -ão atual seriam: -onem e -anu. Apesar<strong>de</strong> muitos estudiosos filiarem a primeira forma aos aumentativos e ao valor <strong>de</strong> ação e asegunda aos gentílicos e aos valores relacionais, percebeu-se que essas formas acabarampor se influenciar mutuamente, geran<strong>do</strong> polissemia.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALVAR, Manuel; POTTIER, Bernard. Morfologia Histórica Del Español. Madrid:Gre<strong>do</strong>s, 1983.GAFFIOT, F. Dictionnaire latin-français. Paris: Hachette, 1934.HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro. Dicionário eletrônico da língua Portuguesa.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Objetiva, 2001.HUBER, Joseph. Gramática <strong>do</strong> Português antigo. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 1986.NUNES, José Joaquim. Compêndio <strong>de</strong> Gramática Histórica. Lisboa: Clássica, 1945.RIO-TORTO, Graça Maria. Morfologia Derivacional. Coimbra: Porto Ed., 1998.SAID ALI, Manuel. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. São Paulo:Melhoramentos, 1971.SANDMANN, Antonio José. Formação <strong>de</strong> Palavras no Português BrasileiroContemporâneo. Curitiba: Scientia et Labor: ícone Editora, 1989.TEKAVIČIĆ, Pavão. Gramática stórica <strong>de</strong>ll’ italiano. Bologna: II mulino, 1980. 3vol.21

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