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Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
perfeição espiritual a que foram chamadas. E quem não<br />
compreende o papel do sofrimento e da dor para operar<br />
nas almas o desapego, a regeneração, para fazê-las crescer<br />
no amor a Deus, quiçá não entenda que, via de regra, por<br />
essa forma os homens alcançam a bem-aventurança eterna.<br />
E tão indispensável nos é o sofrimento para chegarmos<br />
ao Céu, que São Francisco de Sales não hesitava em qualificá-lo<br />
de “oitavo sacramento”.<br />
Ora, Nossa Senhora agiria então contra o interesse da<br />
salvação das almas, se as livrasse todas das doenças. Claro<br />
está, a determinadas pessoas, por circunstâncias e desígnios<br />
especiais, de algum modo convém subtrair-lhes<br />
o sofrimento. São exceções. A maior parte dos que vão a<br />
Lourdes voltam sem ter obtido a cura. E nisto podemos<br />
ver como a Santíssima Virgem, tão misericordiosa, entretanto<br />
respeita a vontade divina no que se refere aos<br />
sofrimentos humanos.<br />
Milagres da caridade cristã<br />
Porém, como a Mãe que ajuda os filhos a carregarem<br />
seus fardos, Nossa Senhora em Lourdes concede ao doente<br />
uma tal conformidade com o padecimento, que não<br />
se tem notícia de alguém que, ali estando e não sendo<br />
curado, se revoltasse. Pelo contrário, as pessoas retornam<br />
ao seus lugares imensamente resignadas, satisfeitas<br />
de terem podido fazer sua visita à célebre gruta dos milagres,<br />
e contemplar a bondade de Maria para com outros<br />
infortunados que não elas.<br />
Há mesmo o fato de não poucos doentes, oriundos<br />
dos mais distantes países da Terra, vendo em Lourdes a<br />
presença de pessoas mais necessitadas de cura do que<br />
eles, dizerem a Nossa Senhora estar dispostos a abrir<br />
mão do próprio restabelecimento, desde que Ela o conceda<br />
àqueles. Quer dizer, aceitam o sofrimento e a doença<br />
em benefício do outro. Esse é um verdadeiro milagre<br />
de amor ao próximo por amor a Deus. Milagre moral arrancado<br />
à fraqueza humana; milagre mais estupendo que<br />
uma cura propriamente dita.<br />
Se bela é essa resignação, mais bonita ainda é a generosidade<br />
cristã das freiras de um convento de clausura<br />
perto de Lourdes. São contemplativas recolhidas<br />
que têm o propósito de expiar e sofrer todas as doenças,<br />
a fim de obter para os corpos e almas dos incontáveis<br />
peregrinos as graças e favores que estes vão ali<br />
suplicar. De maneira que nunca pedem a sua própria<br />
cura e aceitam todas as enfermidades que a Providência<br />
disponha caírem sobre elas, em benefício daqueles<br />
peregrinos. Se Deus acolhe seus oferecimentos, levam<br />
às vezes uma vida inteira de provações ou morrem de<br />
uma morte prematura, com o intuito especial de fazer<br />
bem às outras almas.<br />
Diante desse heroísmo, pergunta-se: há algo na Terra<br />
mais digno de admiração?<br />
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