You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>119</strong> Fevereiro de 2008<br />
“Eu sou<br />
a Imaculada<br />
Conceição”
Aos pastorinhos<br />
Jacinta e Francisco,<br />
Nossa<br />
Se nhora destinou a missão<br />
de sofrer pela salvação<br />
dos pecadores.<br />
O exemplo de suas vidas<br />
nos faz compreender<br />
como o apostolado<br />
do sofrimento<br />
é verdadeiramente<br />
insubstituível. Todas<br />
as grandes obras<br />
de Deus, máxime as<br />
que tratam da salvação<br />
das almas,<br />
em geral se fazem com<br />
a participação de outras<br />
almas que lutaram, sofreram<br />
e rezaram para<br />
que essas obras de fato<br />
se realizassem. Sempre<br />
é preciso a participação<br />
do sofrimento<br />
humano. Sem ele, nada<br />
de grande se faz.<br />
(Extraído de conferência<br />
em 19/2/1965)<br />
Na fachada da Igreja de<br />
Fátima, Portugal, as imagens<br />
de Francisco (esquerda) e<br />
Jacinta (direita), no dia de sua<br />
beatificação, 13 de maio de 2000<br />
V. Domingues<br />
2
Sumário<br />
Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>119</strong> Fevereiro de 2008<br />
Ano XI - Nº <strong>119</strong> Fevereiro de 2008<br />
“Eu sou<br />
a Imaculada<br />
Conceição”<br />
Na capa, imagem<br />
de Nossa Senhora<br />
de Lourdes e vista<br />
do Santuário,<br />
Lourdes (França)<br />
Fotos: S. Hollmann<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
INSC. - 115.227.674.110<br />
Diretor:<br />
Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
Conselho Consultivo:<br />
Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Carlos Augusto G. Picanço<br />
Jorge Eduardo G. Koury<br />
Editorial<br />
4 150 anos de graças ininterruptas<br />
Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
5 Fevereiro de 1939:<br />
Preito de veneração ao Papa Pio XI<br />
Do n a Lucilia<br />
6 O “Quadrinho”:<br />
presença de uma mãe<br />
Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />
10 Lourdes, milagre da<br />
misericórdia de Maria<br />
Redação e Administração:<br />
Rua Santo Egídio, 418<br />
02461-010 S. Paulo - SP<br />
Tel: (11) 6236-1027<br />
E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />
Impressão e acabamento:<br />
Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />
Rua Barão do Serro Largo, 296<br />
03335-000 S. Paulo - SP<br />
Tel: (11) 6606-2409<br />
Preços da<br />
assinatura anual<br />
Comum .............. R$ 85,00<br />
Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00<br />
Propulsor ............. R$ 240,00<br />
Grande Propulsor ...... R$ 400,00<br />
Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />
18 Calendário dos Santos<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
20 Como podemos imitar<br />
os santos?<br />
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
24 Obstáculos à<br />
Contra-Revolução<br />
O Sa n t o d o m ê s<br />
26 A Cátedra de Pedro:<br />
coluna do mundo<br />
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
30 Gloriosa perenidade<br />
Últ i m a p á g i n a<br />
36 A grande catedral de Deus<br />
3
Editorial<br />
150 anos de<br />
graças ininterruptas<br />
“<br />
E<br />
u sou a Imaculada Conceição”. Assim se apresentou a Rainha do Céu e da Terra a uma simples<br />
camponesa da região de Lourdes, ao lhe aparecer no interior de uma gruta aberta nos Pireneus<br />
franceses, no dia 11 de fevereiro de 1858. Quatro anos antes, o Papa Beato Pio IX definira<br />
o dogma da concepção sem mancha de Maria Santíssima. Revelando-se daquela forma à humilde<br />
Bernadette, a Mãe de Deus ratificava de modo indiscutível a sentença pontifícia.<br />
Era a primeira de uma série de aparições que deixaria admirado, de início, o povo de Lourdes e,<br />
no volver dos tempos, o mundo inteiro. Nossa Senhora abrira uma fonte inextinguível de graças e milagres<br />
que até hoje favorecem justos e pecadores, fiéis e céticos, curando-lhes as enfermidades do<br />
corpo e da alma.<br />
Estima-se que, ao longo deste ano jubilar, cerca de oito milhões de peregrinos acorram ao Santuário<br />
de Lourdes. O mais insigne deles será o próprio Papa Bento XVI, cuja presença significará o<br />
maior penhor de gratidão dos filhos para com a melhor de todas as Mães.<br />
Foi <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> um desses filhos extremamente sensíveis à misericórdia e à bondade insondáveis de<br />
Nossa Senhora de Lourdes. Não perdia ocasião de salientar aos olhos de seus discípulos as grandes<br />
lições que deveríamos colher dos prodígios e dons celestiais ali dispensados pela Santíssima Virgem.<br />
Ouçamo-lo:<br />
“Os milagres de Lourdes continuaram e continuam até hoje, com o sobrenatural demonstrando<br />
sua existência, claramente e de viseira erguida. Com o amor da Mãe de Deus se expandindo sobre os<br />
homens de todas as nações, de todas as línguas e, em certo sentido, de todas as religiões. Porque há<br />
curas de não-católicos em Lourdes, os quais posteriormente, na sua maioria, se convertem.<br />
“O trágico e magnífico espetáculo de Lourdes! É todo o drama da dor humana diante da doença,<br />
fruto do pecado original, que ali se desenrola. Pessoas debilitadas pelo mal que as afligem, tendo passado<br />
pelos incômodos de uma viagem mais ou menos longa, conforme o lugar do mundo de onde<br />
saíram, vêm pedir a Nossa Senhora o milagre tão almejado. E multidões de pessoas sãs estão ao lado<br />
delas, assistindo aquele desfile de sofrimento, cantando e rezando para que os doentes sarem. A missa<br />
que se celebra, a bênção com o Santíssimo Sacramento, a tocante e maravilhosa procissão das tochas...<br />
“Imagine-se tudo o que representou a um doente o ter partido da África do Sul ou da ilha do Ceilão,<br />
da Patagônia ou do Alasca, para estar algumas horas em Lourdes. Às vezes, pobres que gastam<br />
nessa viagem os últimos recursos financeiros de que dispunham, com a esperança daquela cura —<br />
que vem ou não vem. Não raro, essa cura se dá no caminho de volta para casa. De repente, quando<br />
nada mais se esperava, um grito jubiloso: ‘Estou curado!’<br />
“Todas essas circunstâncias, todos esses aspectos e acontecimentos se revestem de uma sublimidade<br />
peculiar, uma sublimidade sobrenatural, diante da qual nossa língua emudece. É a sublimidade<br />
do milagre.<br />
“Acima de tudo, o milagre de caráter moral que conduz as almas ao Céu. Pois Nossa Senhora não<br />
seria Ela, se aparecesse em Lourdes para fazer bem aos corpos que perecem e não fazê-lo às almas<br />
imortais. Nem seria verdadeiro esse amor d’Ela aos homens, se não tivesse por principal objetivo o<br />
levá-los ao amor de Deus. Porque nada de melhor para nós se pode desejar.”<br />
Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
Fevereiro de 1939<br />
Preito de veneração ao Papa Pio XI<br />
N<br />
o dia 10 de fevereiro de 1939 faleceu<br />
o Papa Pio XI, “doce e heróico gigante<br />
de Deus”, nas palavras de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
Este fervoroso devoto do Vigário de Cristo na<br />
Terra assim expressou, pelas páginas do “Legionário”,<br />
sua admiração pela extraordinária obra<br />
apostólica daquele pranteado Pontífice:<br />
Com o falecimento do Santo Padre, é um gigante<br />
que acaba de cair. Não um gigante vulgar,<br />
nem mesmo se tomarmos a palavra no sentido intelectual<br />
e moral, mas um gigante cuja fronte venerável<br />
se aureolava com a tríplice coroa da virtude,<br />
do saber e da excelsa dignidade a que fora elevado<br />
por vontade da Divina Providência. (...)<br />
Enquanto muitos dos gigantes de nosso tempo<br />
— aliás, não são tantos nem tão autênticos quanto<br />
se poderia imaginar — se servem de seus poderes<br />
invulgares para arrastar a civilização para a<br />
guerra, para a paganização e para o abismo, Pio<br />
XI foi o doce e heróico gigante de Deus que pôs todos<br />
os seus talentos ao serviço da Santa Igreja e,<br />
revestido da energia sobrenatural que só a graça<br />
confere, embargou resolutamente o passo aos falsos<br />
pastores que queriam empunhar a direção do<br />
mundo contemporâneo. (...)<br />
Tendo sido elevado à mais alta dignidade que<br />
se encontre na Terra, Pio XI iniciou imediatamente<br />
um trabalho de imensa envergadura. Seu olhar<br />
penetrante, percorrendo o panorama oferecido pelo<br />
mundo inteiro, dilacerado por questões econômicas,<br />
políticas, sociais, filosóficas e morais, viu<br />
com uma nitidez maior do que nunca os povos gemerem<br />
sob a opressão de mil sofrimentos diversos,<br />
originados todos eles do afastamento da Santa<br />
Igreja de Deus. E, certamente, de seu coração paternal,<br />
brotou ardente aquela mesma exclamação<br />
compassiva do Salvador: “Misereor super turbam!”<br />
Tenho pena da multidão! Pena, realmente, porque<br />
todas as desgraças contemporâneas faziam sangrar<br />
seu coração de Pai. Mas pena, sobretudo, porque o<br />
mundo se encontra, hoje, sob o peso da maior das<br />
desgraças, que é a ignorância e o desamor de Deus.<br />
Enfrentando pois, imediatamente, os complexos<br />
problemas suscitados pela situação hodierna da<br />
humanidade, Pio XI começou a grande luta que<br />
deveria encher seu Pontificado, luta esta dirigida<br />
contra tudo aquilo que pode afastar o homem de<br />
Deus, e portanto de sua Igreja. (...)<br />
A Ação Católica foi o meio providencial que<br />
Pio XI dispôs para que o apostolado leigo encontrasse<br />
a plenitude de sua eficiência. Suas alocuções,<br />
discursos e cartas sobre o assunto são empolgantes,<br />
e constituem uma das notas mais brilhantes<br />
e mais características de seu pontificado. (...)<br />
O olhar de Pio XI não se confinava, porém, ao<br />
mundo ocidental corrupto e envelhecido, que vacila<br />
sobre suas bases e ameaça ruir. Revestido da<br />
dignidade de Pai espiritual de todos os povos, Pio<br />
XI sentiu um imenso amor atrair sua solicitude<br />
para os selvagens de todas as raças e os incontáveis<br />
pagãos que, na Á frica, na Á sia, na Oceania<br />
e na América, ainda não tinham visto o “lumem<br />
ad revelationem gentium”, e não tinham sido, pelo<br />
Batismo, introduzido na vida da graça.<br />
Pio XI, que foi cognominado também o Papa<br />
das Missões, [convocou] quase todas as Ordens e<br />
Congregações religiosas a intensificarem suas atividades<br />
missionárias, sendo numerosas aquelas,<br />
dentre elas, que, não tendo uma finalidade especificamente<br />
missionária, se dedicaram a essa tarefa,<br />
graças ao incitamento do Papa. Foi tão ardente esta<br />
convocação, que até as Ordens contemplativas<br />
se julgaram, com razão, chamadas a um trabalho<br />
missionário especialmente intenso. E por isso Trapas,<br />
Carmelos e outros cenáculos de penitência e<br />
pura contemplação se transferiram para os países<br />
de missão, atraindo ali, pela mesma vida contemplativa<br />
levada na Europa, as bênçãos de Deus sobre<br />
o mundo pagão. (...)<br />
Todos os brasileiros que tiveram a honra de se<br />
aproximar do Santo Padre atestam o extraordinário<br />
interesse que ele votava ao Brasil, do qual dizia<br />
que queria bem de modo todo particular, não apenas<br />
porque nosso País tem a incomparável honra<br />
de ser um dos maiores países católicos do mundo,<br />
como também pelo acatamento que sempre observamos<br />
em relação à Santa Sé.<br />
v<br />
(Extraído do “Legionário”<br />
nº 335, de 12/2/1939)<br />
5
Do n a Lucilia<br />
O “Quadrinho”:<br />
presença de uma mãe<br />
Em reconhecimento à bondosa intercessão de Dona Lucilia<br />
junto a Jesus e Maria, um dos discípulos de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> procurou<br />
retratá-la em pintura a óleo, com base nas últimas fotografias<br />
dela. O “Quadrinho” — como ficou conhecido — foi entregue a<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> numa tarde de fevereiro de 1977. Cinco anos depois,<br />
ele assim evocava o momento em que recebeu aquela pintura<br />
que tanto o encantou e alimentou em sua alma a lembrança da<br />
diáfana e acolhedora figura materna.<br />
Há cinco anos deu-se para mim<br />
a grande surpresa. Ainda me<br />
recordo do instante em que,<br />
no fim de um longo expediente, a pessoa<br />
que me trazia o Quadrinho disse:<br />
— Fulano pintou um retrato de<br />
Dª Lucilia, e gostaria de oferecer ao<br />
senhor.<br />
Algo constrangido, o meu interlocutor<br />
abriu o envelope, tirou o quadro<br />
e me apresentou, talvez pouco<br />
confiante no meu favorável acolhimento.<br />
De fato, devo confessar que,<br />
embora eu conhecesse os dotes artísticos<br />
do pintor, parecia-me um tanto<br />
ousado pretender que ele lograsse<br />
reproduzir na tela uma figura que<br />
correspondesse à imagem de mamãe<br />
como eu a conservava na alma.<br />
“Tocou-me de<br />
modo profundo”<br />
Perguntar-me-ão: “Então o senhor<br />
recebeu com dúvidas o quadro?”<br />
Não. Eu o recebi sem nenhuma<br />
dúvida. Era um gesto afetuoso para<br />
comigo, o qual se tratava de tomar<br />
com bondade, mas estava certo<br />
de que daquele envelope não sairia<br />
sequer uma decepção. Apenas um<br />
bom desejo que eu acolheria com<br />
gosto e carinho.<br />
Não será difícil imaginar, pois,<br />
minha surpresa, meu agrado quando<br />
me foi posto nas mãos. Olhei e<br />
logo percebi uma semelhança com<br />
mamãe, sobretudo no olhar, e numa<br />
presença de estado de espírito, eu<br />
quase ousaria dizer, uma comunicação<br />
de alma, que eu achava estivesse<br />
reservada para o Céu.<br />
Rápida e silenciosamente, passei<br />
por várias sensações: “Não, tem<br />
de ser melhor! Mas é! Como? Não<br />
tem dúvida!”, etc. É evidente que<br />
a pintura me tocara de modo profundo.<br />
A moldura perfeita<br />
Após contemplar o retrato, analisei<br />
a moldura e, uma vez mais<br />
com surpresa, verifiquei que, no<br />
seu gênero e para seus efeitos, era<br />
perfeita. A imagem de Dª Lucilia<br />
se achava tão bem no interior da<br />
6
M. Shinoda<br />
O “Quadrinho”<br />
7
Do n a Lucilia<br />
moldura que, se ela própria tivesse<br />
escolhido uma, dentro daquele diapasão,<br />
não seria diferente. A guarnição<br />
correspondia inteiramente à<br />
época, ao estilo e ao modo de ser<br />
da imagem reproduzida no Quadrinho.<br />
Por assim dizer, eu sempre<br />
a vi no ambiente dessa moldura e,<br />
por isso mesmo, ninguém pensaria<br />
em trocá-la...<br />
Em seguida, passei a conjeturar<br />
onde colocá-lo. A escolha natural era<br />
a casa dela, e nesta, no meu escritório.<br />
Não se encaixaria bem num dos<br />
salões, já ornados com boas obras de<br />
arte, nem no meu quarto de dormir,<br />
pois eu queria estar acordado para<br />
contemplar o olhar dela na pintura...<br />
Portanto, ficou assente que ele ocuparia<br />
lugar na mesinha em que hoje<br />
se encontra.<br />
Confiança, paz de<br />
alma e alegria<br />
Ao ser posto ali, pareceu-me que<br />
a imagem de mamãe ressaltou-se naquele<br />
ambiente, e na pintura avivaram-se<br />
características que eram bem<br />
dela: sem nenhum esforço, sem dificuldade<br />
alguma, trazer consigo um<br />
sulco de luz, incutir confiança, paz<br />
de alma, alegria e instalar-se naquilo<br />
que era seu.<br />
De tal maneira que, no conjunto<br />
de móveis de minha primeira infância,<br />
tão velhos, tão antigos, o Quadrinho<br />
entrou como se fosse um<br />
complemento natural. E ele é a alma<br />
do escritório, embora neste haja<br />
também um lindo Crucifixo, presente<br />
dos membros do nosso movimento<br />
quando fiz 50 anos. Acontece<br />
que este Crucifixo, imagem do<br />
Homem-Deus, governa o escritório<br />
como que acima dele, enquanto<br />
o Quadrinho o faz ali dentro, é<br />
homogêneo com aquele ambiente.<br />
Dir-se-ia que Dª Lucilia esteve ali<br />
há pouco, sentou-se atrás do Quadrinho<br />
e se pôs a nos observar através<br />
dos olhos do seu retrato.<br />
A presença de uma mãe<br />
Cabe perguntarmos a que corresponde<br />
o Quadrinho.<br />
Acredito que ele simboliza a presença<br />
de uma mãe, e de uma mãe tal<br />
que, quem não tenha visto ao menos<br />
essa pintura, não pode fazer exata<br />
idéia de como ela foi. Quer dizer,<br />
para conhecê-la, seria preciso contemplar<br />
com essa fidelidade o Quadrinho,<br />
no qual se tem a impressão<br />
de sentir até o leve e discreto arfar<br />
da respiração de Dª Lucilia, o pulsar<br />
do seu coração, a sua tranqüilidade<br />
sofrida e resignada, prateada e<br />
lilás, e os anos que se foram acumulando.<br />
Tudo isso se sente no retrato,<br />
e sem isso não se pode dar por tê-la<br />
conhecido.<br />
Reflexo do amor materno<br />
de Nossa Senhora<br />
Resta sabermos a que desígnio<br />
da Providência corresponde o fato<br />
de esta fisionomia assim se manifestar,<br />
e pairar dessa maneira sobre<br />
tantos que invocam sua intercessão,<br />
marcada por dita maternalidade,<br />
e que julgam ter recebido<br />
um carinho, uma forma de apoio interno,<br />
de proteção, de ânimo doce<br />
para as coisas difíceis? A que corresponde<br />
uma assistência materna<br />
dentro da linha geral das vicissitudes<br />
humanas?<br />
Como modelo perfeito e exemplar,<br />
acima de todos os outros amores,<br />
bondades e doçuras maternais,<br />
está o amor de Maria a Jesus, que<br />
d’Ela nasceu após nove meses de<br />
uma gloriosa gestação. Deus haveria<br />
de querer que o primeiro olhar<br />
de Jesus na Terra fitasse algo que<br />
fosse o resumo de todas as maravilhas<br />
do universo: os olhos do Menino<br />
se abriram e encontraram o<br />
olhar de Nossa Senhora, viram a face<br />
esplendorosa da Mãe, discerniram<br />
sua alma e seu imaculado coração.<br />
E então, podemos supor, o Divino<br />
Infante sorriu.<br />
“A imagem de mamãe<br />
ressaltou-se naquele<br />
ambiente, e na<br />
pintura avivaramse<br />
características que<br />
eram bem dela...”<br />
O “Quadrinho” no escritório<br />
de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
Nossa imaginação se perde ao tentar<br />
conceber como terá sido esse primeiro<br />
olhar do Filho para a Mãe incomparavelmente<br />
mais bela que toda<br />
a criação, a Rainha mais bela que<br />
o reino.<br />
Igualmente nos sentimos pequenos<br />
ao pensarmos noutro olhar d’Ele<br />
para Nossa Senhora: o último. Antes<br />
do Redentor se despedir da Terra,<br />
seus olhos se baixaram sobre os<br />
de Maria e se entrecruzaram. Nessa<br />
derradeira troca de olhares havia<br />
algo talvez ainda mais belo do que<br />
houve na primeira, quando Ele entrou<br />
na vida. E a face de Nossa Senhora<br />
era mais formosa, sem comparação,<br />
do que eram horríveis todos<br />
os horrores da época. O amor<br />
d’Ela era mais esplêndido do que era<br />
hediondo o próprio deicídio. Entre<br />
olhar e olhar, que nexo magnífico!<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo desejou,<br />
portanto, um afeto de mãe<br />
quando abriu os olhos; e quis um<br />
carinho materno quando os fechou.<br />
Isso basta para nos dar a entender<br />
o significado do afeto de mãe e o<br />
papel que deve desempenhar na<br />
formação dos homens. Porque todas<br />
as mães que vieram depois de<br />
Maria Santíssima, precedendo-nos<br />
com o sinal da Fé, foram convidadas<br />
a serem mães católicas com a<br />
cintilação de algo que Nosso Senhor<br />
viu em Nossa Senhora.<br />
8
M. Shinoda<br />
E nas maiores alegrias, nas ternuras<br />
mais delicadas, nos abandonos<br />
mais terríveis, convinha que<br />
d’Eles nos lembrássemos. Como<br />
a proporção e a harmonia entre o<br />
grandioso e a bondade teriam permanecido<br />
entre os homens se todas<br />
as mães tivessem sido inteiramente<br />
mães! Como a palavra “doçura”<br />
teria tomado outro sentido! E como<br />
a majestade materna teria sido<br />
grandiosa! Infelizmente, nas engrenagens<br />
do mecanismo da vida<br />
humana faltou muito do azeite do<br />
amor materno.<br />
E então podemos compreender os<br />
desígnios da Providência em relação<br />
ao Quadrinho, que vem representar<br />
exatamente um reflexo desse amor<br />
de mãe, uma centelha do insondável<br />
carinho materno de Nossa Senhora<br />
para conosco.<br />
Peçamos, pois, à Santíssima Virgem<br />
que nos faça aproveitar dessa<br />
imagem do seu amor aos homens,<br />
para assim nos unirmos ainda mais a<br />
Ela e a seu Divino Filho. v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 22/2/1982)<br />
9
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Lourdes, milagre da<br />
misericórdia de Maria<br />
A fim de nos associarmos ao<br />
júbilo de todo o orbe católico<br />
pelos 150 anos das aparições<br />
de Lourdes, nada melhor do<br />
que recordarmos aqui palavras<br />
de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, repassadas de<br />
devoção e entusiasmo diante<br />
das incontáveis maravilhas que<br />
a maternal clemência de Maria<br />
Santíssima tem prodigalizado<br />
aos homens no célebre<br />
santuário.<br />
Fotos: E. Salas / P. Mikio<br />
Q<br />
uando menos esperava, a pequena camponesa<br />
Bernadette Soubirous foi objeto de uma graça<br />
indizível: a Providência a escolhera para ser a<br />
vidente à qual Maria Santíssima apareceria, numa gruta<br />
de Lourdes. A partir do dia 11 de fevereiro de 1858,<br />
as visões se sucederam, e foram o prenúncio da série de<br />
milagres que não estancaram até hoje, deixando a impiedade<br />
confundida e emudecida. Por outro lado, serviram<br />
de ocasião para uma imensa expansão da devoção<br />
a Nossa Senhora pelo mundo inteiro. As curas prodigiosas<br />
de Lourdes se repetiam e se transformaram num<br />
cântico de glória à Imaculada Conceição, dogma promulgado<br />
há pouco mais de três anos pelo Papa Pio IX.<br />
10
Ao se revelar a Santa Bernadette,<br />
Nossa Senhora ratificou a<br />
proclamação do dogma de sua<br />
Imaculada Conceição<br />
Vista do Santuário e a imagem de<br />
Nossa Senhora de Lourdes<br />
11
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Nossa Senhora se impõe ao<br />
desprezo dos ímpios<br />
Lourdes é, na verdade, uma das mais extraordinárias<br />
manifestações da luta de Nossa Senhora contra o demônio,<br />
pois essa aparição se deu no auge das perseguições<br />
e depreciações movidas pelo anticlericlaismo do século<br />
XIX para enfraquecer a Igreja. Muitos, acovardados pelo<br />
respeito humano, fingiam não ter mais fé. Poucos professavam<br />
claramente a religião católica, e os que não o<br />
faziam, pediam provas dela.<br />
Nossa Senhora então aparece e têm início os milagres,<br />
operados com a solicitude e magnanimidade maternais<br />
da Virgem Santíssima. Das pedras da gruta de Massabielle<br />
passou a jorrar um curso de água que ainda não<br />
existia. Naturalmente, os doentes, que pensam em tudo<br />
para aliviar as suas dores, puseram-se a se banhar nessas<br />
águas e — oh! maravilha! — começam a se curar em número<br />
surpreendente.<br />
Não querendo dar a mão à palmatória, os ímpios logo<br />
erguem a voz, afirmam não se tratarem de doenças autênticas<br />
e, portanto, não o eram também as curas. Não podia<br />
haver milagre, porque a veracidade deste os esmagaria.<br />
A fim de eliminar quaisquer dúvidas e fazer triunfar a<br />
insondável bondade de Nossa Senhora, a Igreja instituiu<br />
um centro médico especial, com todos os recursos mais<br />
12
Uma fonte brotou<br />
das pedras da gruta<br />
de Massabielle, e<br />
juntamente com<br />
ela, um manancial<br />
de graças e<br />
misericórdias<br />
alcançadas por<br />
Maria Santíssima<br />
Fotos: V. H. Toniolo / P. Mikio<br />
Devotos diante da imagem<br />
de Nossa Senhora de<br />
Lourdes, na Gruta de<br />
Massabielle; no destaque,<br />
uma vista do curso de água<br />
que jorrou das pedras<br />
13
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
modernos que a ciência possuía, para analisar e comprovar<br />
as enfermidades antes de os doentes se banharem.<br />
Munidos do atestado, eles entravam nas águas e pouco<br />
depois saíam — várias vezes, nem sempre — cantando as<br />
glórias de Nossa Senhora, porque tinham obtido a cura.<br />
Os médicos faziam novo exame e, conforme o caso, declaravam<br />
não haver explicação científica para o restabelecimento<br />
do doente.<br />
No decorrer dos meses e dos anos as curas foram se<br />
multiplicando, e a piedade católica constituiu todo um<br />
dossier sobre essa maravilhosa manifestação da compaixão<br />
de Deus para com os homens.<br />
Três atitudes de Maria<br />
face à dor humana<br />
Esses milagres, assim como todos os acontecimentos<br />
de Lourdes, são ricos em ensinamentos para nós.<br />
A mais valiosa dessas lições será, talvez, a respeito do<br />
sofrimento.<br />
14
Cura dos corpos, conversão<br />
das almas, lições do<br />
sofrimento: especiais atitudes<br />
de Nossa Senhora em<br />
Lourdes<br />
Fotos: G. Raimundo<br />
A célebre procissão das tochas, e a entrada<br />
principal do Santuário de Lourdes<br />
Vemos em Lourdes três atitudes da Providência e, portanto,<br />
de Nossa Senhora diante da dor humana. Dentro<br />
da perfeição dos planos divinos, tais procedimentos têm<br />
sua razão de ser, apesar de parecerem contraditórios.<br />
De um lado, chama atenção a pena que Nossa Senhora<br />
tem dos padecimentos dos homens, e como, numa extraordinária<br />
manifestação de sua insondável bondade<br />
materna, atende aos rogos deles e pratica milagres para<br />
curar seus corpos.<br />
Por outro lado, Nossa Senhora tem igualmente compaixão<br />
das almas, e para provar que a Fé Católica é verdadeira,<br />
pratica milagres a fim de operar conversões.<br />
Mas existe uma terceira realidade em Lourdes, não<br />
menos significativa que as anteriores: são os inúmeros<br />
doentes que para lá se dirigem e voltam sem o tão almejado<br />
restabelecimento. Por que misteriosa razão Nossa<br />
Senhora devolve a saúde física a uns e não a devolve a<br />
outros? Qual a razão mais profunda disso?<br />
Creio que essa ausência de cura pode ser tomada como<br />
um dos mais estupendos milagres de Lourdes, se considerarmos<br />
que, para a imensa maioria das almas, o sofrimento<br />
e as doenças são necessários para se santificarem. É por<br />
meio dessas provações físicas e morais que elas atingem a<br />
15
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
perfeição espiritual a que foram chamadas. E quem não<br />
compreende o papel do sofrimento e da dor para operar<br />
nas almas o desapego, a regeneração, para fazê-las crescer<br />
no amor a Deus, quiçá não entenda que, via de regra, por<br />
essa forma os homens alcançam a bem-aventurança eterna.<br />
E tão indispensável nos é o sofrimento para chegarmos<br />
ao Céu, que São Francisco de Sales não hesitava em qualificá-lo<br />
de “oitavo sacramento”.<br />
Ora, Nossa Senhora agiria então contra o interesse da<br />
salvação das almas, se as livrasse todas das doenças. Claro<br />
está, a determinadas pessoas, por circunstâncias e desígnios<br />
especiais, de algum modo convém subtrair-lhes<br />
o sofrimento. São exceções. A maior parte dos que vão a<br />
Lourdes voltam sem ter obtido a cura. E nisto podemos<br />
ver como a Santíssima Virgem, tão misericordiosa, entretanto<br />
respeita a vontade divina no que se refere aos<br />
sofrimentos humanos.<br />
Milagres da caridade cristã<br />
Porém, como a Mãe que ajuda os filhos a carregarem<br />
seus fardos, Nossa Senhora em Lourdes concede ao doente<br />
uma tal conformidade com o padecimento, que não<br />
se tem notícia de alguém que, ali estando e não sendo<br />
curado, se revoltasse. Pelo contrário, as pessoas retornam<br />
ao seus lugares imensamente resignadas, satisfeitas<br />
de terem podido fazer sua visita à célebre gruta dos milagres,<br />
e contemplar a bondade de Maria para com outros<br />
infortunados que não elas.<br />
Há mesmo o fato de não poucos doentes, oriundos<br />
dos mais distantes países da Terra, vendo em Lourdes a<br />
presença de pessoas mais necessitadas de cura do que<br />
eles, dizerem a Nossa Senhora estar dispostos a abrir<br />
mão do próprio restabelecimento, desde que Ela o conceda<br />
àqueles. Quer dizer, aceitam o sofrimento e a doença<br />
em benefício do outro. Esse é um verdadeiro milagre<br />
de amor ao próximo por amor a Deus. Milagre moral arrancado<br />
à fraqueza humana; milagre mais estupendo que<br />
uma cura propriamente dita.<br />
Se bela é essa resignação, mais bonita ainda é a generosidade<br />
cristã das freiras de um convento de clausura<br />
perto de Lourdes. São contemplativas recolhidas<br />
que têm o propósito de expiar e sofrer todas as doenças,<br />
a fim de obter para os corpos e almas dos incontáveis<br />
peregrinos as graças e favores que estes vão ali<br />
suplicar. De maneira que nunca pedem a sua própria<br />
cura e aceitam todas as enfermidades que a Providência<br />
disponha caírem sobre elas, em benefício daqueles<br />
peregrinos. Se Deus acolhe seus oferecimentos, levam<br />
às vezes uma vida inteira de provações ou morrem de<br />
uma morte prematura, com o intuito especial de fazer<br />
bem às outras almas.<br />
Diante desse heroísmo, pergunta-se: há algo na Terra<br />
mais digno de admiração?<br />
16
Fotos: J. P. Rodrigues<br />
Os heroísmos da caridade cristã que se verificam em Lourdes constituem um<br />
verdadeiro milagre de amor ao próximo por amor a Deus<br />
Na página 16 e acima, doentes vindos do mundo inteiro se apresentam aos pés da Virgem de Lourdes<br />
Não conheço. Riquezas opulentas, extraordinários dotes<br />
e qualidades naturais, grandezas de qualquer espécie<br />
no conceito humano, que valem perto do holocausto de<br />
uma dessas freiras ignoradas pelo mundo? Punhadinhos<br />
de barro, e nada mais.<br />
Quando deitamos um olhar ao nosso redor, quando<br />
consideramos as misérias da natureza humana decaída<br />
pelo pecado original, compreendemos que semelhantes<br />
atos de abnegação se acham tão distantes do nosso<br />
egoísmo e causam uma tal repulsa ao nosso amor-próprio,<br />
que constituem de fato um milagre maior do que<br />
todas as espetaculares curas verificadas naquele santuário<br />
mariano.<br />
O maior ensinamento de Lourdes<br />
E então compreendemos o grande ensinamento de<br />
Lourdes. Não é o apologético, tão imenso, tão importante.<br />
Mas é esse da aceitação da dor, do sofrimento, e<br />
até da derrota e do fracasso se for preciso.<br />
Alguém objetará: “É muito difícil resignar-se a carregar<br />
a dor por essa forma”.<br />
A resposta encontramos na agonia de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras. Posto diante de todo<br />
o sofrimento que O aguardava, Ele disse ao Padre<br />
Eterno: “Se for possível, afaste‐se de mim este cálice.<br />
Mas seja feita a vossa vontade e não a minha”. O resultado<br />
é que veio um anjo consolar Nosso Senhor.<br />
Essa é a posição que cada um de nós deve ter em face<br />
de suas dores particulares: se for possível, sejam afastadas<br />
de nosso caminho. Porém, faça-se a superior vontade<br />
de Deus e não a nossa. E a exemplo do que se deu<br />
com Jesus no Horto, a graça também nos consolará nas<br />
provações que Maria Santíssima permita se abatam sobre<br />
nós.<br />
Tenhamos, portanto, coragem, ânimo, compreensão<br />
do significado do sofrimento e alegria por sofrermos: estamos<br />
preparando nossas almas para o Céu. v<br />
(Extraído de conferências em 6/2/1965 e 10/7/1972)<br />
17
Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />
1. São Paulo de Trois-Chateaux,<br />
Bispo na cidade do mesmo nome,<br />
na França, perto de Vienne.<br />
Bem-Aventurada Maria Ana<br />
Vaillot e 46 companheiras, Filhas<br />
da Caridade, Mártires, durante a<br />
Revolução Francesa, em 1794.<br />
2. Festa da Apresentação do Senhor.<br />
A Lei pedia que o filho primogênito<br />
fosse apresentado no Templo,<br />
quarenta dias após o seu nascimento.<br />
Assim, Nossa Senhora e São José<br />
levaram o Menino Jesus, “luz para<br />
revelação dos gentios”.<br />
São Lourenço de Canterbury,<br />
Bispo dessa cidade, na Inglaterra,<br />
+ 619. Converteu à Fé católica o<br />
Rei Edbaldo.<br />
São Paulo Miki, Sacerdote<br />
jesuíta e companheiros,<br />
Mártires no Japão,<br />
+ 1597. Oito sacerdotes<br />
da Companhia de Jesus e<br />
franciscanos, alguns deles<br />
europeus, outros japoneses<br />
e dezessete leigos (inclusive<br />
crianças) foram torturados,<br />
condenados à morte e<br />
crucificados em Nagasaki.<br />
7. São Partênio, Bispo no<br />
Helesponto, séc. IV.<br />
Beato Pio IX, Papa. Promulgou<br />
os dogmas da Imaculada<br />
Conceição (1854) e<br />
da Infalibilidade Pontifícia<br />
(1870).<br />
3. São Brás, Bispo e Mártir, em<br />
Sebaste, na Armênia.<br />
Beato John Nelson, Sacerdote<br />
jesuíta e Mártir, + 1578. Por não<br />
querer reconhecer o poder da Rainha<br />
Elisabeth I nas coisas espirituais,<br />
foi martirizado na célebre<br />
“árvore de Tyburn”, em Londres.<br />
4. Santo Isidoro de Pelusa, Sacerdote.<br />
Viveu como eremita no deserto.<br />
Santo Eutíquio, Mártir. Após<br />
cruéis torturas, foi jogado num poço<br />
de água gelada. Seu túmulo se<br />
encontra nas Catacumbas da Via<br />
Ápia de Roma.<br />
5. Santa Ágata, Virgem e Mártir,<br />
+250. Morta por ódio à Fé, na Catânia,<br />
Sicília. Seu nome é lembrado<br />
no Cânon Romano.<br />
Beata Isabel Canori Mora,<br />
1774-1825. Viúva, sobressaiu-se na<br />
caridade, além de ter sido favorecida<br />
com grandes dons místicos. Terciária<br />
trinitária, venerada em Roma.<br />
6. Quarta-feira de Cinzas.<br />
8. São Jerônimo Emiliani,<br />
Presbítero, 1486-1537.<br />
Fundador da Congregação<br />
dos Clérigos Regulares (padres<br />
Somascos).<br />
9. São Maron, eremita<br />
no Líbano, + 410. Fundador<br />
de uma comunidade que<br />
deu lugar a um rito católico,<br />
o qual nunca se separou da<br />
obediência ao Papa.<br />
10. Beato Pierre Frémond<br />
e cinco companheiros, Mártires.<br />
Fuzilados perto de Angers,<br />
durante a Revolução<br />
Francesa, por sua fidelidade<br />
à Igreja Católica.<br />
11. Nossa Senhora de<br />
Lourdes. Há 150 anos, neste<br />
dia, a Bem-aventurada Virgem<br />
Maria aparecia pela primeira<br />
vez a Santa Bernadette<br />
Soubirous, em Lourdes.<br />
12. São Faustino, Bispo<br />
de Brescia, Itália, + 381.<br />
Apresentação de Nosso Senhor e Purificação da Vi<br />
18
* Fe v e r e i ro *<br />
R. C. Branco<br />
13. São Gosberto, Bispo<br />
de Osnabruck, Alemanha.<br />
14. São João Batista da<br />
Conceição, + 1613. Espanhol,<br />
foi reformador da Ordem<br />
Trinitária.<br />
Santos Cirilo, Monge, e<br />
Metódio, Bispo, séc. IX. Irmãos,<br />
nascidos em Tessalônica,<br />
foram enviados para<br />
a Morávia, onde pregaram<br />
aos eslavos. João Paulo<br />
II os proclamou Padroeiros<br />
da Europa junto com<br />
São Bento.<br />
15. Santo Onésimo, escravo.<br />
Discípulo de São Paulo,<br />
este pediu que fosse libertado<br />
pelo patrão, Filemão.<br />
16. Santa Juliana de Nicomédia<br />
(na atual Turquia),<br />
Virgem e Mártir, + 304.<br />
Beato José Allamano, Sacerdote,<br />
+ 1926. Fundador<br />
dos Missionários e Missionárias<br />
da Consolata.<br />
18. São Sadoth, Bispo de<br />
Selêucia, e 128 companheiros,<br />
Sacerdotes, Clérigos e<br />
Virgens consagradas, Mártires,<br />
+ 342. Recusaram-se<br />
a adorar o sol e por isso foram<br />
mortos em Beit Lapat,<br />
Pérsia.<br />
21.São Pedro Damião, Cardeal<br />
Bispo de Óstia e Doutor da Igreja,<br />
+ 1072.<br />
22.Cátedra de São Pedro. Ver artigo<br />
na página 26.<br />
São Nicolas Tabouillot, Sacerdote<br />
e Mártir, durante a Revolução<br />
Francesa, em Rochefort. Beatificado<br />
por João Paulo II em 1995,<br />
juntamente com numerosos mártires<br />
daquela época.<br />
23. Santa Romana de Todi,<br />
+ 324.<br />
24. Santo Ethelberto, Rei de<br />
Kent, + 616. Convertido pelo apóstolo<br />
da Inglaterra, Santo Agostinho<br />
de Canterbury.<br />
25. Santa Walburga. Abadessa<br />
do mosteiro alemão de Heidenheim,<br />
irmã de São Vilibaldo e São<br />
Vinibaldo.<br />
26. São Vitor, séc. VII. Eremita<br />
em Arcis-sur-Aube, na região<br />
de Champagne, França.<br />
27. Santa Ana Line, Mártir, + 1601.<br />
Abrigou sacerdotes católicos em Londres<br />
durante a perseguição da Rainha<br />
Elisabeth I. Agentes desta entraram<br />
em sua casa enquanto um padre celebrava<br />
ali a Missa. Foi encarcerada e<br />
morta em 1601, junto com um jesuíta e<br />
um beneditino.<br />
rgem Maria – Igreja de Santa Luzia, Veneza (Itália)<br />
19. São Mansueto, Bispo<br />
de Milão e Confessor, séc.<br />
VII.<br />
20. Santo Eleutério, Bispo<br />
de Tournai, Mártir, + 531.<br />
Morto pelos arianos.<br />
Beatos Jacinta e Francisco,<br />
pastorinhos videntes de<br />
Fátima.<br />
28. Santos Mártires de Alexandria,<br />
+ 262. Sob o imperador Galiano,<br />
sacerdotes, diáconos e leigos se<br />
encarregaram de socorrer às pessoas<br />
atacadas por uma peste terrível e<br />
morreram contagiados. Foram considerados,<br />
por isso, mártires.<br />
29. Santo Hilário, Papa e Mártir,<br />
em Roma, + 469.<br />
19
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
Como podemos imitar<br />
os santos?<br />
Durante as décadas de 60 e 70 <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> fazia conferências diárias,<br />
em geral comentando a vida do santo cuja festa a Igreja celebrava<br />
naquela data. Donde essas reuniões serem chamadas de “Santo do<br />
Dia”, nas quais a edificante virtude dos heróis da Fé eram propostas<br />
como modelo a quantos acompanhavam ditas exposições. Certa vez,<br />
atendendo ao interesse de seu auditório, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> salientou o melhor<br />
modo de seguirmos o exemplo dos grandes santos.<br />
20
C<br />
om freqüência no “Santo do<br />
Dia”, fazendo comentários<br />
a respeito deste ou daquele<br />
bem-aventurado, apresento um<br />
quadro da vida espiritual que poderia<br />
ser assim resumido: a Fé ilumina<br />
a inteligência; esta dirige a vontade<br />
a qual, por sua vez, fortalece a sensibilidade<br />
humana. Agindo dessa forma,<br />
o homem está em ordem em relação<br />
a Deus. Os santos o conseguiram<br />
por meio de meditações, raciocínios,<br />
exercícios metódicos e cuidados<br />
persistentes, enfrentando lutas e<br />
sofrimentos extraordinários.<br />
Dificuldade dos<br />
mais fracos<br />
Sempre procuro elogiar enfaticamente<br />
esse modo de praticar a virtude,<br />
o que suscita em alguns de meus<br />
ouvintes a seguinte pergunta: “<strong>Dr</strong>.<br />
<strong>Plinio</strong>, os ‘Santos do Dia’ são feitos<br />
em grande parte para as gerações<br />
mais novas, e até novíssimas, compostas<br />
de capengas 1 . Os santos sobre<br />
os quais o senhor tece comentários<br />
são o contrário da capenguice,<br />
porque têm muita personalidade,<br />
são capazes de sofrer, de praticar<br />
atos heróicos e fazem obras que<br />
nós não conseguimos realizar. Então,<br />
que proveito podemos tirar dessas<br />
exposições?”<br />
Virtudes a serem<br />
admiradas, mais<br />
do que imitadas<br />
Respondo à compreensível indagação.<br />
Antes de tudo, cumpre considerar<br />
que, em toda a História da Igreja,<br />
Deus suscita santos com virtudes<br />
tão extraordinárias que devem<br />
Embora as virtudes<br />
heróicas de alguns<br />
santos do passado<br />
não possam ser<br />
imitadas pelos<br />
homens de hoje, a<br />
santidade está ao<br />
alcance de qualquer<br />
um que a procure<br />
atingir, com o<br />
auxílio da graça<br />
Imagens de vários santos –<br />
Museu de Dijon, França<br />
S. Holmann<br />
21
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
Santa Teresinha abriu<br />
a “pequena via” para as<br />
almas débeis que viriam<br />
depois dela: uma escola<br />
de vida espiritual humilde,<br />
mas repleta de amor a<br />
Deus – Imagem do Carmelo<br />
de Barcelona, Espanha<br />
S. Hollmann<br />
22
ser admiradas, mais do que imitadas.<br />
Exemplo frisante é o de São Simão<br />
Estilita, o qual, para fugir das<br />
atrações mundanas, subiu no alto<br />
de uma coluna e ali passou a vida<br />
inteira em oração e penitência.<br />
O que sucederia se toda pessoa com<br />
dificuldades em cumprir os Mandamentos,<br />
ficasse o dia inteiro rezando<br />
sobre uma coluna?<br />
Não haveria colunas que bastassem.<br />
Além disso, o número de colunas<br />
abandonadas seria imenso...<br />
Sem dúvida, o procedimento de<br />
São Simão Estilita é um modo admirável<br />
de praticar a virtude. Não<br />
há palavras que possam exprimir<br />
nosso respeito e enlevo por um homem<br />
que permanece durante anos<br />
no alto de uma coluna, não pensando<br />
em outra coisa senão em Nosso<br />
Senhor e nas verdades eternas.<br />
Contudo, se o desígnio de Deus para<br />
a maior parte dos homens não é<br />
o de imitar São Simão Estilita, a admiração<br />
pelo santo deve levá-los a<br />
praticar virtudes menores, ou pelo<br />
menos de modo menos excepcionalmente<br />
heróico.<br />
Cada um poderia dizer a si mesmo:<br />
“Claro está, não posso chegar<br />
ao grau de virtude que São Simão<br />
Estilita atingiu, mas desejo caminhar<br />
nessa direção.”<br />
Ora, se esse anelo nasce em nosso<br />
interior, significa que aquele santo é<br />
uma espécie de precursor de milhões<br />
de almas que, de algum modo, fazem<br />
aquilo que ele realizou. E, portanto,<br />
o extremo da admiração redunda<br />
numa como que imitação, a qual beneficia<br />
incontáveis corações.<br />
Todos somos chamados<br />
à santidade<br />
Em segundo lugar, precisamos<br />
compreender que, embora as virtudes<br />
heróicas de alguns santos do<br />
passado não possam ser praticadas<br />
pelos homens de hoje — e nem<br />
pertençam às vias comuns da graça<br />
—, a santidade está ao alcance<br />
de todos. Porque a perfeição moral<br />
é atingível por qualquer homem<br />
que a deseje, com o auxílio da graça.<br />
E quando admiramos um santo,<br />
nos encantamos com a santidade,<br />
e somos convidados a seguir de<br />
alguma forma o exemplo de sua vida<br />
virtuosa.<br />
Outro não foi o pensamento que<br />
inundou a alma de Santa Teresinha<br />
do Menino Jesus, a doutora da<br />
chamada infância espiritual. Quer<br />
dizer, ela se comportava diante de<br />
Deus com a humildade e a simplicidade<br />
de uma criança. Não almejava<br />
fazer coisas extraordinárias,<br />
mas apenas servir a Deus nas formas<br />
quotidianas e comuns da virtude.<br />
Porém, praticando-as com um<br />
amor tal que este significava verdadeiramente<br />
a santidade.<br />
O teor de relações de Santa Teresinha<br />
com Nosso Senhor era semelhante<br />
ao da criança com seus pais,<br />
e poderia ser qualificado quase de<br />
filial e reverentemente sem cerimônia.<br />
Ela não procurava de modo algum<br />
ser grande diante de Deus, e<br />
sim humilde e pequena, vivendo da<br />
confiança na misericórdia do Altíssimo<br />
minuto a minuto. Dessa maneira<br />
ela alcançou a santidade.<br />
Como águia que fita o<br />
sol através das nuvens<br />
Pode-se dizer que Santa Teresinha<br />
levou essa confiança a extremos<br />
singulares. Por exemplo, ela era um<br />
braseiro de amor a Deus, mas sua<br />
alma passou por longos períodos de<br />
aridez. Em certas ocasiões essas penas<br />
espirituais a afligiam até mesmo<br />
durante o cântico do Ofício.<br />
Entretanto, nas mais diversas<br />
provações, ela se mantinha serena, e<br />
já no fim de sua vida, devorada por<br />
tentações contra a fé, ela resistia de<br />
modo admirável e completo. Diante<br />
de tudo isso, conservava a atitude<br />
de pequenez, vazia de si mesmo, sabendo<br />
que valia muito aos olhos de<br />
Deus. Por isso costumava reafirmar<br />
que Nosso Senhor a protegia, embora<br />
ela não o sentisse.<br />
Nesse sentido, empregava a linda<br />
metáfora da águia que fita o sol<br />
através das nuvens: não lhe era possível<br />
divisar o sol divino, mas estava<br />
com as vistas continuamente voltadas<br />
para Ele, amando-O do modo<br />
mais intenso possível.<br />
Certa feita lhe perguntaram como<br />
ela agiria se tivesse a infelicidade de<br />
cometer um pecado grave. Resposta:<br />
“A misericórdia de Deus é tão grande<br />
que eu retomaria, com a alma partida<br />
de dor, minha vida espiritual no ponto<br />
anterior à queda, e recomeçaria a<br />
ascensão tranqüilamente.”<br />
Não cabe chamar Santa Teresinha<br />
de capenga, mas ela abriu a pequena<br />
via para os capengas que viriam depois<br />
dela, proporcionando-lhes uma<br />
vida espiritual modesta, humilde,<br />
mas repleta de amor, dando-lhes a<br />
oportunidade de realizar, à sua maneira,<br />
grandes coisas.<br />
Concluímos, portanto, dizendo<br />
que convém conhecermos as altas<br />
virtudes dos santos insignes para<br />
amá-las, admirá-las e, na medida<br />
do possível, imitá-las, segundo as<br />
disposições propostas pela “pequena<br />
via”.<br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 12/1/1966)<br />
1) <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> costumava empregar a palavra<br />
“capenga” no sentido metafórico,<br />
a fim de indicar certas debilidades<br />
de alma manifestadas por filhos<br />
das gerações que o sucederam. Estes<br />
apresentavam deficiências espirituais<br />
análogas às de um coxo, e assim como<br />
o capenga de corpo precisa de muleta<br />
para caminhar, o de alma, por ser inconstante,<br />
necessita sempre de especial<br />
apoio para progredir na piedade.<br />
23
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
Obstáculos à<br />
Contra-Revolução<br />
J. A. Aguiar<br />
Oposta ao conceito de<br />
“moderno” propugnado por<br />
seus adversários, a Contra-<br />
Revolução não deve se deixar<br />
influenciar nem esmorecer pelos<br />
epítetos falaciosos que aqueles<br />
disseminam para denegri-la.<br />
Análise de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
Além de certos maus hábitos existentes entre os contrarevolucionários,<br />
quais são outros obstáculos à Contra-Revolução?<br />
“Outras vezes estes obstáculos estão em slogans revolucionários<br />
aceitos, não de raro, como dogmas até nos<br />
melhores ambientes” (p. 114).<br />
“Estéril por ser anacrônica”<br />
Qual o mais nocivo desses “slogans”?<br />
“O mais insistente e nocivo desses slogans consiste em<br />
afirmar que em nossa época a Contra-Revolução não pode<br />
medrar porque é contrária ao espírito dos tempos. A<br />
História, diz-se, não volta atrás” (p. 114-115).<br />
Como refutá-lo?<br />
“A Religião Católica, segundo esse singular princípio,<br />
não existiria. Pois não se pode negar que o Evangelho<br />
era radicalmente contrário ao meio em que Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos o pregaram. E a<br />
24
Espanha católica, germano-romana, também não existiria.<br />
Pois nada se parece mais com uma ressurreição,<br />
e portanto, de algum modo, com uma volta ao passado,<br />
do que a plena reconstituição da grandeza cristã<br />
da Espanha, ao cabo dos oito séculos que vão de Covadonga<br />
até a queda de Granada” (p.115).<br />
Cite um exemplo ocorrido na própria era revolucionária.<br />
“A Renascença, tão cara aos revolucionários, foi, ela<br />
mesma, sob vários aspectos pelo menos, a volta a um<br />
naturalismo cultural e artístico fossilizado havia mais<br />
de mil anos.<br />
A reconstituição da grandeza<br />
cristã da Espanha, ao cabo de oito<br />
séculos, é um frisante desmentido do<br />
singular princípio segundo o qual a<br />
História nunca volta atrás<br />
Santuário de Nossa Senhora de<br />
Covadonga – Astúrias, Espanha<br />
“A História comporta vais e vens,<br />
portanto, quer nas vias do bem, quer<br />
nas do mal” (p. 115).<br />
Ressuscitar velharias<br />
do mundo pagão<br />
O que pensar da expressão “espírito<br />
dos tempos”?<br />
“Quando se vê que a Revolução<br />
considera algo como coerente com<br />
o espírito dos tempos, é preciso circunspeção.<br />
Pois não raras vezes se<br />
trata de alguma velharia dos tempos<br />
pagãos, que ela quer restaurar.<br />
“O que tem de novo, por exemplo,<br />
o divórcio ou o nudismo, a tirania<br />
ou a demagogia, tão generalizados<br />
no mundo antigo?<br />
“Por que será moderno o divorcista<br />
e anacrônico o defensor da indissolubilidade?”<br />
(p. 115).<br />
Livre curso ao orgulho<br />
e à sede de prazer<br />
Para a Revolução, o que significa<br />
“moderno”?<br />
“O conceito de “moderno” para a<br />
Revolução se cifra no seguinte: é tudo<br />
quanto dê livre curso ao orgulho e ao<br />
igualitarismo, bem como à sede de prazeres<br />
e ao liberalismo” (p. 116) 1 . v<br />
1) Para todas as citações: Revolução e<br />
Contra-Revolução, Editora Retornarei,<br />
São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />
25
O Sa n t o d o m ê s<br />
A Cátedra de Pedro:<br />
coluna do mundo<br />
Fervoroso devoto da Cátedra de Pedro, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> não dispensava<br />
a ocasião — como atestam suas palavras aqui transcritas —<br />
de fazer reluzir aos olhos de seus discípulos a magnitude e a<br />
santidade com as quais a instituição pontifícia paira acima de<br />
todos os valores humanos, em sua divina missão de governar a<br />
Igreja e conduzir as almas à eterna bem-aventurança.<br />
Como se sabe, no primeiro período de seu pontificado,<br />
o Papa [Beato] Pio IX tomou certas<br />
atitudes conciliadoras que alguns revolucionários<br />
chegaram a elogiar. Razão pela qual o brado<br />
de “Viva Pio IX!” passou a ecoar pelas ruas entre<br />
aqueles que não aceitavam a autoridade do Sumo<br />
Pontífice.<br />
Distinção entre a pessoa<br />
do Papa e o papado<br />
Nessa delicada conjuntura em que a figura de<br />
um Papa era assim vinculada aos ideais dos anarquistas<br />
italianos, vivia outro grande santo, São<br />
João Bosco. Este, quando ouvia algum de seus<br />
alunos ou conhecidos repetir aclamações a Pio IX,<br />
censurava-o, dizendo: “Não brade Viva Pio IX!;<br />
grite Viva o Papa!”<br />
Eis a solução soberanamente inteligente. Porque<br />
“Viva o Papa!” pode-se bradar sempre. “Viva Pio<br />
IX!” ou outro pontífice, saúda-se conforme as circunstâncias.<br />
Esse episódio consta no processo de canonização de<br />
São João Bosco, e tal atitude não impediu que fossem<br />
reconhecidas suas virtudes heróicas — e, portanto, sua<br />
inteira obediência ao Vigário de Cristo — nem que sua<br />
obra fosse abençoada pela Providência de todos os modos,<br />
ao longo dos tempos.<br />
Devemos considerar que na raiz dessa posição de<br />
Dom Bosco encontra-se a importante distinção entre o<br />
Papa e o papado. Quer dizer, entre a pessoa do sucessor<br />
de Pedro, sujeita às misérias humanas e também a erros,<br />
em toda medida que não é garantida pela infalibilidade;<br />
e, de outro lado, a instituição pontifícia, inteiramente<br />
distinta da pessoa.<br />
A festa da ortodoxia infalível<br />
Por causa dessa distinção, a festa da Cátedra de Pedro,<br />
celebrada em 22 de fevereiro, é extremamente oportuna,<br />
pois celebra o Papa como mestre infalível, e o papado<br />
como a rocha inabalável do alto da qual o Soberano<br />
Pontífice se dirige ao mundo inteiro revestido da infalibilidade<br />
que Deus lhe outorgou. É, portanto, a comemora-<br />
26
Imagem de São Pedro no<br />
trono de mármore – Basílica<br />
do Vaticano, Roma<br />
G. Kralj<br />
27
O Sa n t o d o m ê s<br />
ção da ortodoxia inerrante, dessa infalibilidade que nunca<br />
claudica.<br />
Consta que da cadeira de São Pedro conservou-se quase<br />
toda a estrutura, a qual é guardada na Basílica do Vaticano,<br />
em Roma. Há ali um relicário de bronze, cujo interior<br />
abriga um banco de madeira, considerado a cadeira<br />
original do primeiro Papa.<br />
Claro está, mais do que esse objeto venerável, a festa<br />
da Cátedra de São Pedro tem em vista o fato de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo ter confiado ao Príncipe dos Apóstolos<br />
as chaves dos Céus e da Terra, dando-lhe poder sobre<br />
tudo e sobre todos, a fim de governar a Santa Igreja<br />
Católica Apostólica Romana e conduzir as almas à eterna<br />
bem-aventurança.<br />
Oscular em espírito os pés<br />
da imagem de Pedro<br />
Também no interior da Basílica do Vaticano, em sua<br />
nave central, encontra-se uma imagem de São Pedro sentado<br />
numa cátedra, as chaves pontifícias na mão esquerda<br />
e a direita erguida, na atitude de quem abençoa os<br />
fiéis. O pé direito do Apóstolo se projeta à frente, e sobre<br />
ele os devotos de todas as partes do mundo vêm depositar<br />
seu ósculo de amor e veneração. Em virtude desse<br />
preito mil e mil vezes repetido, os pés da imagem se<br />
desgastaram. Talvez seja o único exemplo da História em<br />
que a delicadeza do beijo alquebrou a força do bronze...<br />
Em determinados dias do calendário litúrgico, essa<br />
imagem é revestida com os solenes ornamentos pontificais,<br />
como se fora um Papa vivo, para indicar a magnífica<br />
e evidente continuidade da instituição do Papado, desde<br />
São Pedro até nossos dias.<br />
28
Fotos: G. Kralj<br />
Osculemos em espírito o Papado,<br />
princípio de sabedoria<br />
infalível que governa a Igreja,<br />
sem o qual esta não<br />
sobreviveria e o mundo estaria<br />
completamente perdido<br />
Imagem de São Pedro diante da fachada da Basílica<br />
do Vaticano, Roma; o pé da imagem de bronze do<br />
Apóstolo, gasto pelos óculos de incontáveis fiéis<br />
Creio que uma bela forma de nos unirmos a essa importante<br />
celebração seria oscularmos em espírito os pés<br />
dessa imagem. Quer dizer, em espírito oscular o Papado,<br />
esse princípio de sabedoria ou de infalibilidade da autoridade<br />
que governa a Igreja Católica. E por meio de Nossa<br />
Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição<br />
desta infalibilidade, dessa cátedra que é propriamente<br />
a coluna do mundo, porque se ela não existisse, a<br />
Igreja não sobreviveria e o mundo estaria completamente<br />
perdido.<br />
Como também — já o frisamos acima — estaria obstruído<br />
para nós o caminho que nos leva ao Céu, pois os<br />
homens não o encontrariam sozinhos, sem o socorro de<br />
uma autoridade infalível que os governasse e para lá os<br />
dirigisse.<br />
Fidelidade concreta ao<br />
Romano Pontífice<br />
Dessas breves considerações um aspecto me parece<br />
deve ser ressaltado. Falamos da distinção entre a pessoa<br />
do Papa e o papado, mas devemos considerar que o catedrático<br />
é o Romano Pontífice, e os poderes da cátedra<br />
nele residem. À Cátedra de Pedro estaremos unidos até<br />
morrer, notando sempre que ela nunca estará alheia ao<br />
catedrático. Este poderá sair da cátedra; esta, porém, jamais<br />
o abandona.<br />
Portanto, não se pode ter uma fidelidade ao papado<br />
sem que seja fidelidade concreta ao Papa atual, na medida<br />
em que ele é infalível e detém o poder de governar e<br />
reger a Esposa Mística de Cristo.<br />
v<br />
(Extraído de conferência em 22/2/1964)<br />
29
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Gloriosa perenidade<br />
30
Durante as visitas que fiz a<br />
Roma, agradava-me discernir<br />
e sentir algo que eu<br />
chamaria de a perenidade da Igreja<br />
Católica, quer dizer, o modo maravilhoso<br />
como ela vai prolongando<br />
sua existência neste mundo. Na sua<br />
história os séculos se sucedem e como<br />
que se confundem, formando<br />
uma espécie de miscelânea suavíssima,<br />
importantíssima, seríssima, de<br />
tal maneira que, ao contemplarmos<br />
os vários templos católicos de Roma,<br />
admiramos os passos da Igreja através<br />
dos tempos.<br />
Dir-se-ia que todas as épocas vividas<br />
por ela ali se revelam, num estado<br />
ligeiramente melancólico, porém<br />
doce, tranqüilo — não isento de<br />
bem-estar — e olhando para a eter-<br />
Fotos: G. Kralj<br />
Igreja de<br />
Santa Francisca<br />
Romana – Roma<br />
31
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
nidade, como quem diz: “Meu dever<br />
está cumprindo, mas resta-me a mim<br />
o estar aqui, para representar o papel<br />
no cortejo dos séculos até que a<br />
peregrinação do homem sobre a face<br />
da Terra se complete”.<br />
O visitante com uma alma sensível<br />
a esses aspectos, pode se deter diante<br />
de qualquer uma dessas igrejas romanas<br />
e talvez perceberá, como eu<br />
percebia, que aquele edifício sagrado<br />
traz consigo a atmosfera dos primeiros<br />
anos do Cristianismo; junto a<br />
ele, ou no seu interior, ainda ecoam<br />
gemidos de mártires, e a luz do sol,<br />
neste momento ou naquele, banha<br />
de uma luz incomparável a face de<br />
uma imagem ou a ponta de um mosaico<br />
seculares.<br />
Essa sensação nos faz imergir no<br />
passado, e como que degustarmos as<br />
32
Fotos: G. Kralj / R. C. Branco<br />
Neste ou<br />
naquele<br />
momento, um<br />
raio de sol<br />
banha com luz<br />
incomparável<br />
a face de uma<br />
imagem ou<br />
a ponta de<br />
um mosaico<br />
seculares<br />
Imagem de Papa na<br />
Basílica de Santa<br />
Maria in Ara Coeli;<br />
interior da Igreja de<br />
Santa Sabina – Roma<br />
33
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
R. C. Branco<br />
Perenidade de uma<br />
grande instituição<br />
que partiu do<br />
fundo dos séculos<br />
e caminha séculos<br />
para frente, até<br />
o auge de sua<br />
genuína glória<br />
Acima, Igreja de São Bartolomeu;<br />
na página 35, Basílica de<br />
Santa Maria Maior – Roma<br />
graças e a santidade da Igreja como<br />
estas se manifestavam aos homens<br />
daqueles remotos tempos. Em torno<br />
daquelas obras de arte, imagens, relicários,<br />
essa santidade e essas graças<br />
como que se mantiveram paradas.<br />
Mais de uma vez pude constatar<br />
essa impressão. Passava diante de<br />
uma igreja romana, detinha-me por<br />
alguns instantes a admirá-la e sentia<br />
vir do seu interior um arfar dos séculos<br />
mesclado a um vento que consigo<br />
carreava graças, e aquilo me envolvia<br />
por inteiro. Adiante, outra igreja, outra<br />
beleza, os mesmos sentimentos.<br />
Isto fala muito da perenidade da<br />
Igreja. E, de fato, toda grande instituição<br />
que vem do fundo dos séculos<br />
e caminha séculos para frente, a<br />
fim de alcançar genuína glória precisa<br />
ter algo pelo menos desse ocaso<br />
em que se misturam todas as épocas<br />
já vividas por ela. Sem esse predicado,<br />
se tudo for novo e composto no<br />
momento presente, será como uma<br />
criança recém-nascida no berço.<br />
Não. Viva, sofra, lute, combata<br />
sua batalha! Atravesse uma longa<br />
existência e seja a pessoa heróica em<br />
cuja alma se somam os diversos estados<br />
de espírito que a modelaram. Seja<br />
alguém no qual dorme o passado<br />
e pulsa o futuro!<br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 10/6/1987)<br />
34
35<br />
G. Kralj
A<br />
grande<br />
catedral<br />
de Deus<br />
S. Hollmann<br />
A Virgem e o<br />
Menino – Catedral<br />
de Amiens, França<br />
Nossa Senhora é o jardim, o<br />
palácio, a grande catedral<br />
de Deus, inteiramente perfeita,<br />
dotada com tais graus de insondável<br />
beleza que nos é impossível<br />
sequer imaginar. Alguém que tivesse<br />
do universo criado um conhecimento<br />
pleno, mas não conhecesse a Virgem<br />
Santíssima, seria pouco mais que<br />
nada em comparação daquele que<br />
ignorasse tudo a respeito da natureza,<br />
mas conhecesse a excelsa figura<br />
de Maria. De tal maneira a Mãe<br />
de Deus é superior a tudo, e sua alma,<br />
paradisíaca, repleta de acordes<br />
de uma sinfonia celestial.<br />
(Extraído de conferência<br />
em 2/2/1969)