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Revista Dr Plinio 23

Fevereiro de 2000

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GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />

tendia que confiar em Deus é uma<br />

atitude boa. Lembrava-me até de<br />

um canto entoado pelo coro da<br />

paróquia em que me fiz Congregado<br />

Mariano, cuja letra em latim era:<br />

Beatus homo qui confidet in te —<br />

“Bem-aventurado o homem que<br />

confia em Vós, Senhor”. Eu gostava<br />

de ouvir aquilo, era uma canção que<br />

me dizia alguma coisa, porém não<br />

aprofundava seu significado.<br />

Agora, naquela amargura, ao ler<br />

as palavras “voz de Cristo, voz misteriosa<br />

da graça”, tive uma sensação<br />

curiosa, como se uma atmosfera<br />

dulcíssima e cheia de afeto penetrasse<br />

em mim, afastasse todos os<br />

espantalhos e receios, e me dissesse:<br />

“Repita, meu filho: voz de Cristo,<br />

voz misteriosa da graça, vós murmurais<br />

em minha alma palavras de<br />

doçura e de paz”.<br />

Eu sentia algo que fazia desaparecer<br />

todas as minhas angústias e<br />

me dava uma certeza de que, realmente,<br />

aqueles fantasmas de perspectivas<br />

e de preocupações futuras<br />

sumiriam. E de que Nosso Senhor e<br />

Nossa Senhora resolveriam bem os<br />

problemas que tanto me amarguravam.<br />

Continuei a ler o livro, e a cada<br />

nova frase, a mesma sensação de<br />

tranqüilidade se produzia em mim.<br />

Eu tinha a impressão de estar entrando<br />

num bosque encantado onde<br />

davam flores maravilhosas, onde passarinhos<br />

cantavam do modo mais<br />

sonoro e agradável possível, etc.<br />

E onde fica a razão?<br />

Contudo, habituado sempre a raciocinar<br />

muito, e não conhecendo a<br />

doutrina católica a respeito da confiança,<br />

eu tinha duas objeções contra<br />

esses sentimentos.<br />

Em primeiro lugar, não se me<br />

apresentava nenhuma razão plausível<br />

para confiar em que Nossa Senhora<br />

me ajudaria naquela emergência,<br />

pois não via no meu horizonte<br />

nada que me prometesse uma<br />

solução. E o homem tem de ser concreto,<br />

não pode viver de impressões<br />

interiores. Para confiar, ser-me-iam<br />

necessários motivos pão-pão, queijo-queijo,<br />

filhos da razão. Ora, onde<br />

estava a razão dentro dessa história?<br />

Depois, havia o fato de que em<br />

certas horas do dia eu lia aquelas<br />

frases, e era para mim como se estivesse<br />

mascando serragem de madeira.<br />

Não me diziam nada. Em outras<br />

horas, pelo contrário, era como<br />

se penetrasse um pedaço do Céu<br />

dentro de meu espírito. Logo, objeção:<br />

“Que propósito tem isto?<br />

Eu não entregarei minha alma<br />

a essas sensações interiores<br />

sem antes ter uma explicação<br />

de como se fundamentam<br />

na boa e ortodoxa<br />

doutrina da Santa<br />

Igreja Católica Apostólica<br />

Romana.”<br />

Mas, não havia remédio,<br />

era uma experiência<br />

curiosa: eu abria o<br />

livro e penetrava em mim<br />

essa doçura. Nesse momento,<br />

as objeções desapareciam,<br />

tornando evidente<br />

ser aquilo uma ação da graça,<br />

um favor de Deus e de Nossa Senhora.<br />

Porém, quando fechava o livro,<br />

aquela suavidade se eclipsava,<br />

e para mim já não era tão patente<br />

tratar-se de um movimento da graça.<br />

Então, eu precisava de provas.<br />

A solução exata,<br />

no momento exato<br />

Estas apareceram, de modo bem<br />

inesperado.<br />

Vinha eu passar os fins de semana<br />

em São Paulo para estar com<br />

meus pais, e no domingo à noite ou<br />

segunda-feira de manhã retornava<br />

ao Rio de Janeiro.<br />

Certa noite, numa dessas minhas<br />

passagens por São Paulo, encontrava-me<br />

no prédio da Congregação<br />

Mariana de Santa Cecília, quando<br />

um congregado amigou meu,<br />

pessoa muito viva e inteligente,<br />

aproximou-se de mim e, num<br />

tom de voz baixo, quase sussurrado,<br />

me disse:<br />

— <strong>Plinio</strong>, você gostaria que<br />

eu lhe pusesse na pista de um emprego<br />

muito bom? Quando você<br />

deixar de ser deputado, você fica<br />

com esse trabalho...<br />

Eu caí das nuvens! “Esse homem<br />

não sabe nada a respeito de minha<br />

vida, não conhece os apuros e os<br />

problemas em que ando, como pode<br />

ele vir me oferecer algo tão capaz<br />

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