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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />
enriquecera a sua alma no conhecimento<br />
de determinadas coisas. Este<br />
“belo espírito” já não tinha mais o<br />
desejo sério de aprender a verdade.<br />
Em conseqüência da concepção<br />
naturalista de vida do homem renascentista,<br />
o cultivo dos valores da<br />
inteligência constituíam para ele um<br />
ponto de honra.<br />
Culto ao esplendor<br />
pessoal<br />
É preciso notar, contudo, que os<br />
efeitos desta concepção de vida não<br />
se restringiam apenas ao espírito.<br />
Fisicamente, também, o renascentista<br />
devia ser um homem perfeito.<br />
Não se admite um herói renascentista<br />
doente.<br />
Francisco I com dor de dente ou<br />
nevralgia não seria Francisco I. Ele<br />
precisa ter saúde de ferro, compleição<br />
física esplêndida, ser ótimo<br />
caçador, correr horas, abater javalis<br />
como quem mata formigas, saltar<br />
do cavalo, encontrar uma dama, fazer<br />
uma reverência e cantar um madrigal.<br />
Logo depois, passar por uma<br />
ânfora antiga e improvisar um verso<br />
a este respeito. Banquetear-se, levantar<br />
da mesa e ir dançar como se<br />
nada tivesse comido. E, à noite, dormir<br />
um sono tranqüilo como se não<br />
tivesse tido durante o dia excitação<br />
alguma. Eis o tipo clássico do renascentista.<br />
E houve muitos assim. Quase todos<br />
os reis da França daquele tempo,<br />
por exemplo: grandes caçadores,<br />
guerreiros exímios, esplêndidos<br />
bailarinos, ótimos conhecedores de<br />
toda espécie de literatura e, em suas<br />
horas vagas, reis também. Deles exigia-se<br />
serem bons vivants, os primeiros<br />
organizadores do ballet perpétuo<br />
da vida no seu reino. Ademais,<br />
deviam ser bem falsos, dominadores<br />
e severos, mas paradoxalmente,<br />
indulgentes para com certos<br />
vícios. Esta a figura do rei perfeito.<br />
Versão feminina do monarca, havia<br />
a rainha perfeita: majestosa, bela,<br />
distinta, inteligente, faceira e vaidosa.<br />
Não se exigia dela que fosse<br />
tratar dos pobres, como o fazia Santa<br />
Isabel da Hungria, nem que fosse<br />
boa dona de casa, o que era ofício<br />
da criadagem. Bastava que fosse um<br />
excelente bibelot de salão. O mesmo<br />
deveria dar-se, a seu modo, em todos<br />
os degraus da estrutura social.<br />
Em suma, o renascentista é um tipo<br />
brilhante, inteligente, conversador,<br />
que tem, na vida, uma obrigação<br />
de riso permanente. Há diferentes<br />
modos de rir e poder-se-ia, mesmo,<br />
fazer a história através do riso:<br />
o riso discreto, o riso vulgar, a gargalhada<br />
boçal... O do homem da<br />
Renascença deveria ser um riso<br />
olímpico, prateado, cheio de orgulho<br />
e de condescendência, que sai<br />
dos lábios como uma música e repercute<br />
agradavelmente pelos lustres<br />
e pelos espelhos, sem cair até o<br />
chão.<br />
Disto estão repletos os quadros<br />
que a Renascença nos legou: uma<br />
atitude superior, sobranceira, desdenhosa,<br />
e otimista em relação à vida.<br />
Na Renascença o pensamento passou a ser uma<br />
fonte de diversão, e a clareza de idéias cedeu lugar<br />
ao fraseado bonito e rutilante...<br />
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