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Revista Dr Plinio 23

Fevereiro de 2000

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

enriquecera a sua alma no conhecimento<br />

de determinadas coisas. Este<br />

“belo espírito” já não tinha mais o<br />

desejo sério de aprender a verdade.<br />

Em conseqüência da concepção<br />

naturalista de vida do homem renascentista,<br />

o cultivo dos valores da<br />

inteligência constituíam para ele um<br />

ponto de honra.<br />

Culto ao esplendor<br />

pessoal<br />

É preciso notar, contudo, que os<br />

efeitos desta concepção de vida não<br />

se restringiam apenas ao espírito.<br />

Fisicamente, também, o renascentista<br />

devia ser um homem perfeito.<br />

Não se admite um herói renascentista<br />

doente.<br />

Francisco I com dor de dente ou<br />

nevralgia não seria Francisco I. Ele<br />

precisa ter saúde de ferro, compleição<br />

física esplêndida, ser ótimo<br />

caçador, correr horas, abater javalis<br />

como quem mata formigas, saltar<br />

do cavalo, encontrar uma dama, fazer<br />

uma reverência e cantar um madrigal.<br />

Logo depois, passar por uma<br />

ânfora antiga e improvisar um verso<br />

a este respeito. Banquetear-se, levantar<br />

da mesa e ir dançar como se<br />

nada tivesse comido. E, à noite, dormir<br />

um sono tranqüilo como se não<br />

tivesse tido durante o dia excitação<br />

alguma. Eis o tipo clássico do renascentista.<br />

E houve muitos assim. Quase todos<br />

os reis da França daquele tempo,<br />

por exemplo: grandes caçadores,<br />

guerreiros exímios, esplêndidos<br />

bailarinos, ótimos conhecedores de<br />

toda espécie de literatura e, em suas<br />

horas vagas, reis também. Deles exigia-se<br />

serem bons vivants, os primeiros<br />

organizadores do ballet perpétuo<br />

da vida no seu reino. Ademais,<br />

deviam ser bem falsos, dominadores<br />

e severos, mas paradoxalmente,<br />

indulgentes para com certos<br />

vícios. Esta a figura do rei perfeito.<br />

Versão feminina do monarca, havia<br />

a rainha perfeita: majestosa, bela,<br />

distinta, inteligente, faceira e vaidosa.<br />

Não se exigia dela que fosse<br />

tratar dos pobres, como o fazia Santa<br />

Isabel da Hungria, nem que fosse<br />

boa dona de casa, o que era ofício<br />

da criadagem. Bastava que fosse um<br />

excelente bibelot de salão. O mesmo<br />

deveria dar-se, a seu modo, em todos<br />

os degraus da estrutura social.<br />

Em suma, o renascentista é um tipo<br />

brilhante, inteligente, conversador,<br />

que tem, na vida, uma obrigação<br />

de riso permanente. Há diferentes<br />

modos de rir e poder-se-ia, mesmo,<br />

fazer a história através do riso:<br />

o riso discreto, o riso vulgar, a gargalhada<br />

boçal... O do homem da<br />

Renascença deveria ser um riso<br />

olímpico, prateado, cheio de orgulho<br />

e de condescendência, que sai<br />

dos lábios como uma música e repercute<br />

agradavelmente pelos lustres<br />

e pelos espelhos, sem cair até o<br />

chão.<br />

Disto estão repletos os quadros<br />

que a Renascença nos legou: uma<br />

atitude superior, sobranceira, desdenhosa,<br />

e otimista em relação à vida.<br />

Na Renascença o pensamento passou a ser uma<br />

fonte de diversão, e a clareza de idéias cedeu lugar<br />

ao fraseado bonito e rutilante...<br />

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