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GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
Ainda jovem, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> resolvera consagrar toda a sua vida ao apostolado católico. Aqui o<br />
vemos (segundo da direita para a esquerda) na Semana da Adoração Perpétua, no Rio,<br />
quando era deputado.<br />
Eu, devendo tantos<br />
favores, não podia nem<br />
tinha vontade de recusar.<br />
Auxiliar aquela paróquia<br />
era uma coisa<br />
muito boa, e eu queria<br />
colaborar nessa forma<br />
de bem. Assim, terminada<br />
minha ação de graças,<br />
fui correndo para a<br />
sacristia disposto a adquirir<br />
dois ou três livros,<br />
escolhidos a esmo. Peguei<br />
um de cujo tema já<br />
não me lembro, e outro<br />
chamado O Livro da<br />
Confiança.<br />
Retirei-me apressadamente,<br />
tomei um táxi e<br />
fui trabalhar, levando os<br />
livros na mão. À noite,<br />
de volta ao meu quarto<br />
de hotel, deixei-os sobre<br />
um móvel qualquer, sem<br />
lhes dar maior atenção.<br />
tempo ao trabalho profissional. Por<br />
outro lado, se não exercesse uma<br />
profissão, não teria como proporcionar<br />
a meus pais, que já caminhavam<br />
para a velhice, uma vida condizente<br />
com sua posição social. Como<br />
achar um caminho? Que problemas,<br />
que coisas misteriosas!<br />
E assim ficava eu esfacelado diante<br />
dessas perspectivas, horas e horas,<br />
noites a fio, sem saber que saída<br />
encontrar, até o momento determinado<br />
por Nossa Senhora para se fazer<br />
uma luz nesse tão sombrio panorama.<br />
Um livro comprado a esmo<br />
Perto do meu hotel erguia-se a<br />
Igreja do Sagrado Coração de Jesus,<br />
onde eu ia comungar todos os<br />
dias. Acontece que, devido às nevralgias<br />
e às preocupações, era-me<br />
difícil acordar tão cedo quanto seria<br />
necessário para receber a Sagrada<br />
Eucaristia durante as missas da manhã,<br />
já rezadas quando eu chagava<br />
na igreja. Mas o pároco era extremamente<br />
amável comigo: percebendo<br />
meus horários bastante apertados,<br />
sempre se dispunha a me dar a<br />
comunhão na hora em que eu por lá<br />
aparecesse. Supérfluo dizer quanto<br />
lhe ficava agradecido por essa caridade,<br />
fazendo-o entender ao cumprimentá-lo<br />
com particular gentileza.<br />
E era só, pois eu tinha de sair<br />
correndo para a Assembléia Constituinte,<br />
e não havia tempo para entabular<br />
uma conversa com ele.<br />
Certo dia, porém, o padre se aproximou<br />
de mim e disse: “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
nós estamos organizando uma exposição<br />
de livros piedosos aqui na<br />
sacristia. Se o senhor quiser examinar<br />
essa mostra, talvez tenha alguma<br />
obra que lhe agrade ver”.<br />
De fato ele desejava me dizer outra<br />
coisa: “Para manter a paróquia,<br />
estamos vendendo alguns livros. O<br />
senhor não quer nos ajudar, comprando<br />
alguns deles?”<br />
“Voz de Cristo...”<br />
Afinal, nesse mesmo dia ou no<br />
seguinte, estava ali o livro e resolvi<br />
folheá-lo. Era de uma leitura muito<br />
fácil, com letras grandes e capítulos<br />
curtos. Escrito por um certo Pe.<br />
Thomas de Saint Laurent, e traduzido<br />
por “M. P.” (que eu sabia serem<br />
as iniciais da esposa do ex-Presidente<br />
Epitácio Pessoa, uma senhora<br />
de renomados dotes literários). Eu,<br />
sem saber por onde andavam as vias<br />
de Nossa Senhora a meu respeito,<br />
abri o livro e li essa frase de que,<br />
após tantos e tantos anos, me recordo<br />
tão bem: “Voz de Cristo, voz misteriosa<br />
da graça, vós murmurais no<br />
fundo de nossas consciências palavras<br />
de doçura e de paz”.<br />
Causou-me singular impressão o<br />
fato de eu estar angustiado e cheio<br />
de dúvidas, e nunca, mas absolutamente<br />
nunca, ter ouvido falar da<br />
confiança como sendo uma virtude<br />
que o católico deve praticar. Eu en-<br />
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