Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
Ora, a conjunção de todas essas<br />
qualidades da Santíssima Virgem<br />
me falou na alma de forma inenarrável.<br />
E vi naquelas imagens d’Ela essas<br />
várias expressões. Marcou para<br />
minha vida inteira a devoção a Nossa<br />
Senhora, com a idéia de que Ela<br />
é um modelo a ser imitado custe o<br />
que custar, um auxílio no qual se deve<br />
confiar a todo preço, por pior que<br />
seja a situação. A bem dizer, duas incondicionalidades:<br />
na vontade de imitar,<br />
no propósito de esperar o perdão<br />
e a clemência.<br />
Um muro de horror<br />
ao pecado<br />
A graça de compreender e admirar<br />
a realeza da pureza de Nossa Senhora,<br />
cuja noção adquiri através<br />
desses flashes, veio trazendo dentro<br />
de si um verdadeiro muro de horror<br />
contra a impureza.<br />
Para se entender essa afirmação,<br />
imagine-se uma pérola absolutamente<br />
branca. Qualquer grão de poeira<br />
que se deposite sobre ela a deprecia,<br />
porque macula em algum ponto<br />
aquela alvura, quebra sua homogeneidade.<br />
Assim, a virtude da pureza<br />
imaculada, ilibada, traz consigo o<br />
padrão do muro de horror contra a<br />
impureza e, por extensão, também<br />
contra tudo quanto é erro e mal.<br />
Por exemplo, entre o deplorável defeito<br />
da inveja e a virtude contrária<br />
(isto é, a admiração e a alegria pelos<br />
dons concedidos por Deus a outros),<br />
há um muro de horror semelhante<br />
àquele da relação pureza-impureza.<br />
Essa parede de aversão se repete<br />
ao longo de toda a muralha das virtudes,<br />
sobretudo no tocante à principal<br />
delas, a Fé, face ao pecado que a<br />
ela se opõe: a heresia.<br />
Por definição, a Fé é tão casta<br />
que, muitas vezes, quando a Escritura<br />
se refere a alguém que pecou<br />
contra essa virtude, afirma ter ele<br />
caído na impureza. E quando o Antigo<br />
Testamento nos apresenta os judeus<br />
praticando atos impuros no alto<br />
das montanhas, alude com isso ao<br />
pecado de apostasia que eles cometiam<br />
ao adorar ídolos postos naqueles<br />
locais. Ou seja, entregar-se à idolatria<br />
é cometer atos impuros, é pecar<br />
contra a Fé.<br />
Em contrapartida, a Santa Igreja,<br />
guardiã da verdadeira Fé, é a Mãe<br />
casta, virgem e reta, a santa, a ilibada,<br />
que nos leva à pratica da virtude<br />
e à repulsa ao vício.<br />
Certo estou, portanto, de que naqueles<br />
momentos dos meus flashes<br />
com Ela, Nossa Senhora me concedeu<br />
a graça de edificar em minha alma<br />
esse muro de horror ao pecado.<br />
Muro este que todos devemos procurar<br />
desenvolver em nosso interior,<br />
em relação a qualquer defeito e pecado<br />
que nos afastam do caminho da<br />
santidade.<br />
“Flashes” que se<br />
desdobram em princípios<br />
A esse propósito, alguém poderia<br />
me indagar: “Para se criar esse muro<br />
de horror, importa ter tido antes<br />
um flash?”<br />
O flash produz necessariamente<br />
o muro do horror. Porém, com freqüência<br />
este último é obtido através<br />
do estudo da boa doutrina, feito<br />
de modo sério por uma alma honesta<br />
que deteste o vício e o mal, embora<br />
não tenha recebido a graça sensível<br />
que chamamos de flash. Entretanto,<br />
a meu ver, na vida espiritual<br />
de uma pessoa é indispensável haver<br />
certo número de flashes, a fim de<br />
que ela construa de maneira profunda<br />
essa muralha de repulsa ao pecado.<br />
E para minha cara “geração nova”<br />
2 , o flash é uma graça particularmente<br />
valiosa, devido à própria contextura<br />
de seu espírito.<br />
Agora, os flashes devem se desdobrar<br />
em princípios, os quais cumprem<br />
ser, não analisados como coisa<br />
geométrica, mas amados. Quer dizer,<br />
compreendendo uma verdade a<br />
partir do flash, é necessário amá-la<br />
e detestar o erro oposto. Nesse sentido,<br />
lembra-me um Salmo que diz:<br />
“Amei a justiça e odiei a iniqüidade,<br />
por isso Deus me ungiu com seu óleo<br />
santo”. Na linguagem da Escritura, a<br />
justiça é o símbolo de todas as virtudes,<br />
e a iniqüidade representa o conjunto<br />
dos erros. A unção da qual fala<br />
o Salmo seria, pois, o flash que torna<br />
a alma articulada, leve, aromatizada,<br />
azeitada para a prática do bem.<br />
Trilhando o caminho<br />
dos “flashes”<br />
Para concluir essas considerações,<br />
é oportuno dizer que cada um, com<br />
a peculiaridade de seu espírito e a riqueza<br />
de sua personalidade, em relação<br />
aos flashes deve ir apalpando<br />
e tateando suas impressões, a fim de<br />
procurar seguir um caminho análogo<br />
ao que trilhei. Esforçar-se em lembrar<br />
dessas graças recebidas, explicitar<br />
as sensações que causaram, de<br />
maneira a saber dizer qual foi sua<br />
substância e, posteriormente, estabelecer<br />
correlações e princípios.<br />
Assim foi como procedi: recordei<br />
meus flashes de menino, explicitei-os,<br />
compus com eles um quadro<br />
de impressões, de correlações e conceitos:<br />
a santidade da Igreja, a realeza<br />
da virgindade de Maria Santíssima,<br />
etc.<br />
Naturalmente, cada alma realiza<br />
essa operação num movimento que<br />
16