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Revista Dr Plinio 52

Julho de 2002

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O dever dos historiadores católicos<br />

Tudo isto convida, a um nobre esforço de História apologética,<br />

“homens probos e versados neste gênero de estudos,<br />

que se consagrem a escrever a História de maneira<br />

que esta seja o espelho da sinceridade e da verdade”.³<br />

A História apologética não é, pois, uma História feita<br />

com retoques fraudulentos, para servir às conveniências<br />

de uma causa. É proba, honesta, veraz, científica, inflexivelmente<br />

subordinada ao tríplice ditame de toda História<br />

digna desse nome: “não mentir, não temer dizer a verdade,<br />

não ceder ao desejo de lisonjear, ou de hostilizar”. 4<br />

Se se pode falar de uma História apologética segundo<br />

a mente de Leão XIII, é simplesmente no sentido de uma<br />

História tão autêntica e científica como outra qualquer,<br />

mas que escolhe por temas os assuntos em que a História<br />

falsa procura guerrear a Igreja.<br />

Quando falamos de História científica aludimos tão-somente<br />

a uma História feita segundo os bons métodos, e<br />

com o auxílio dos recursos científicos hodiernos. Os historiadores<br />

católicos devem ter em conta que “nada do<br />

que o engenho dos modernos inventou é alheio ao objeto<br />

de seus trabalhos” — escreveu Leão XIII noutro de seus<br />

documentos. 5<br />

Além de ser obra rigorosamente imparcial, uma obra<br />

dessa categoria presta alto serviço à causa da religião e<br />

da sociedade, bem se vê. Tarefa digna de particulares<br />

“eruditos e adestrados na arte de escrever a História” –<br />

“historia scribendi arte” 6 . Tão nobre que constitui para a<br />

própria Igreja um direito e um dever: “já que o inimigo<br />

busca na História suas armas principais, cumpre que a<br />

Igreja combata em paridade de condições, e redobre<br />

seus esforços para repelir o assalto com valentia maior<br />

onde ele é mais violento” 7 . E foi essencialmente com este<br />

intuito que Leão XIII franqueou “os depósitos literários”<br />

do Vaticano aos estudiosos. Tanto é legítima e gloriosa a<br />

tarefa de uma História apologética bem entendida.<br />

E, com efeito, não teria sentido o papel dos estudos bíblicos<br />

indispensáveis à Igreja para que ela exerça seu ministério<br />

num ambiente cultural cada vez mais trabalhado<br />

pela crítica científica, se não se reconhecesse francamente<br />

a liceidade de uma História apologética.<br />

Na mente de Leão XIII, não só tais estudos bíblicoapologéticos<br />

eram cientificamente lícitos, mas da maior<br />

importância. Consagrou-lhes uma Encíclica que ficou famosa<br />

(Providentissimus Deus, de 18 de novembro de 1893),<br />

mas instituiu ainda a Comissão dos Estudos Bíblicos, para<br />

“assegurar a manutenção integral da verdade cristã e<br />

promover os estudos da Sagrada Escritura” 8 e lhe pôs à<br />

disposição “uma parte de nossa Biblioteca Vaticana”, na<br />

qual prometia instalar, para uso da Comissão, abundante<br />

coleção de manuscritos e de volumes de todas as épocas,<br />

tratando de questões bíblicas. 9<br />

O apelo de Leão XIII deu origem a toda uma série de<br />

trabalhos históricos de orientação católica, que figuram<br />

com honra na bibliografia de nossos dias.<br />

1 Saepenumero Considerantes II,2,a,b,c,d. Os chamados“centuriadores<br />

de Magdeburgo”, teólogos protestantes, escreveram<br />

no século XVI uma história da Igreja, de caráter<br />

fortemente anticatólico, com argumentos inconsistentes,<br />

distorções da verdade e muitos documentos falsos. Sua tese<br />

era de que a Igreja Católica havia sido infiel à primitiva<br />

Igreja cristã, tinha destruído a brilhante antiguidade grecoromana<br />

e jogado o mundo no obscurantismo, fanatismo e<br />

miséria da Idade Média. Felizmente, o Renascimento havia<br />

recuperado os valores do mundo antigo.<br />

2 Saepenumero Considerantes IV,a,b.<br />

3 Saepenumero Considerantes IV,b.<br />

4 Saepenumero Considerantes IV,d.<br />

5 Carta Apostólica Vigilantiae Studéique Memores, 30/10/1902.<br />

6 Saepenumero Considerantes V.<br />

7 Saepenumero Considerantes IV,i.<br />

8 Vigilantia Studéique Memores, op. cit.<br />

9 Ibid. Leão XIII apela nesta Carta Apostólica aos “católicos<br />

mais favorecidos com bens de fortuna” para enriquecer<br />

ainda mais este depósito. Na biblioteca do Vaticano, que o<br />

próprio Pontífice expandiu pela aquisição da biblioteca<br />

Borghese, bem como no arquivo do Vaticano, hauriram os<br />

documentos para seus trabalhos, historiadores do valor do<br />

Cardeal Hergenröther, do dominicano Deniffle, do<br />

Cardeal Ehrle, do Barão Luís de Pastor e do Padre<br />

Duchesne.<br />

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