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Revista Dr Plinio 52

Julho de 2002

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O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE DR. PLINIO<br />

Esta é a proporção bela, leve, suave,<br />

razoável, que devemos, amar com<br />

todas as nossas forças.<br />

Simetria: não pode haver o<br />

risco de se perder a unidade<br />

Imaginemos um edifício com uma<br />

fachada tão extensa que corra o risco<br />

de perder a unidade. Se, entretanto,<br />

ele tiver nos dois extremos duas torres<br />

iguais, sua unidade estará, pela<br />

simetria, reconstituída.<br />

Na História do século XVI vamos<br />

encontrar uma cena que ilustra bem<br />

isso. Francisco I, rei da França, e Henrique<br />

VIII — que ainda não se tinha<br />

feito protestante — decidiram encontrar-se<br />

em Cambrai, no lugar que depois<br />

foi chamado camp du drap d’or,<br />

tal o luxo, tal a magnificência de que<br />

se revestiu o fato. Basta dizer que, no<br />

campo de Francisco I, as tendas eram<br />

douradas. O encontro entre os reis realizou-se<br />

em uma ponte. Imaginemos a<br />

beleza do encontro dos dois soberanos,<br />

e das duas cortes que chegavam. Na<br />

ponte inteiramente coberta de tapetes,<br />

um rei se inclina diante do outro<br />

rei, cumprimentando-se assim mutuamente,<br />

enquanto as trombetas soam.<br />

Quando os franceses querem descrever<br />

a atitude dominadora de um<br />

homem, dizem que ele tem o ar de<br />

um rei que recebe outro rei — l’air<br />

d’un roi recevant un roi. Em que consiste<br />

a beleza de um soberano que recebe<br />

outro rei? É exatamente a beleza<br />

da simetria, em que dois princípios<br />

iguais se contemplam um ao<br />

outro e, de certo modo, se multiplicam<br />

um pelo outro.<br />

Na cristandade, a existência de<br />

muitos reis iguais em força, glória e<br />

poder, era exatamente uma expressão<br />

do princípio da simetria.<br />

Tudo se ordena em torno<br />

de um elemento supremo<br />

A quinta lei da unidade é a da<br />

monarquia. Ela é indispensável para<br />

a beleza da vida humana. Todas as<br />

coisas, para serem reduzidas à sua<br />

unidade, devem tender a se ordenar<br />

em torno de um elemento supremo,<br />

que será um símbolo, uma como que<br />

personificação do conjunto. E é esta<br />

personificação que dá perfeição à<br />

unidade<br />

A monarquia não é, como poderia<br />

talvez parecer, o oposto da hierarquia,<br />

mas, pelo contrário, é a sua consumação.<br />

Nela, a beleza de todas as diversas<br />

perspectivas como que se concentra.<br />

Ao lado da lei da monarquia, há a<br />

lei da sociedade. Ela consiste em que<br />

as coisas, postas juntas, se completam<br />

e se embelezam mutuamente.<br />

Analisamos embora de forma muito<br />

sucinta as leis da estética do Universo.<br />

Trataremos de mais um ponto,<br />

muito relacionado com este assunto.<br />

Atração pelo que melhor<br />

espelha a perfeição de Deus<br />

Tomemos as palavras: decente, excelente,<br />

nobre, majestoso, sagrado.<br />

Elas constituem uma gradação<br />

ascendente.<br />

De um determinado objeto, podese<br />

dizer primeiro, que ele é decente,<br />

o que significa que não tem nenhuma<br />

nódoa de vergonha. Além de decente,<br />

podemos dizer que ele é ótimo,<br />

excelente. Excelente já é mais<br />

que decente.<br />

Poder-se-ia, prosseguindo, apôr o<br />

adjetivo nobre, que é especificamente<br />

mais do que excelente e decente.<br />

Mais do que nobre, poderemos dizer<br />

que o objeto é majestoso, adjetivo<br />

que, não é, entretanto, especificamente<br />

diferente de nobre, pois dele difere<br />

somente em grau. Por fim, poderemos<br />

acrescentar que o objeto é sagrado,<br />

quando contém valores que<br />

superam a majestade humana.<br />

Nessa gradação de valores, um espírito<br />

muito religioso será atraído<br />

por aquilo que melhor espelha a perfeição<br />

de Deus: o majestoso e o sagrado.<br />

Ele procurará, em tudo, esses<br />

supremos valores, e terá sede deles.<br />

Tendo esse espírito, o homem desejará<br />

uma sociedade em que, ao lado<br />

de muitas coisas decentes, haja várias<br />

excelentes, nobres, majestosas, e<br />

sagradas.<br />

E então esse homem criará naturalmente<br />

uma sociedade que realiza,<br />

dentro dessa ordem quase fluida de<br />

coisas, uma admirável variedade e<br />

uma perfeita unidade<br />

Compreendemos, pois, que quando<br />

uma pessoa conhece e ama os princípios<br />

da variedade e da unidade do<br />

Universo, e quando essa pessoa é católica<br />

— pois só o católico já tem os<br />

pressupostos para compreender inteiramente<br />

esses princípios —, ela é<br />

de fato profundamente religiosa, no<br />

sentido mais verdadeiro da palavra.<br />

Este quadro que descrevemos da<br />

estética do Universo, com suas leis,<br />

os reflexos divinos colocados pelo<br />

Criador em todas as coisas, em última<br />

análise, tudo o que os católicos<br />

fervorosos amam, tudo aquilo de que<br />

têm sede, tudo isto a Revolução quer<br />

destruir, eliminar, apagar.<br />

E é nisso que consiste a questão<br />

religiosa, que não se restringe ao<br />

problema do laicismo. É uma questão<br />

que não se resolve fazendo uma<br />

concordata e declarando que a Igreja<br />

Católica é a oficial no país. Está<br />

em cena toda uma concepção da vida,<br />

todo um modo de ser do pensamento<br />

humano.<br />

Como católicos, pois, devemos<br />

amar profundamente a face de Deus<br />

refletida na ordem verdadeira das<br />

coisas. Mas, para que nosso amor chegue<br />

até onde deve ir, aprendamos a<br />

aplicar essas leis da variedade e da<br />

unidade.<br />

Assim, sempre que algo nos causar<br />

admiração e nos deleitar, saibamos<br />

perceber qual das leis da estética<br />

do Universo está aí aplicada.<br />

Agindo desse modo, faremos algo<br />

imensamente agradável a Nossa Senhora.<br />

v<br />

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