O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE DR. PLINIO Esta é a proporção bela, leve, suave, razoável, que devemos, amar com todas as nossas forças. Simetria: não pode haver o risco de se perder a unidade Imaginemos um edifício com uma fachada tão extensa que corra o risco de perder a unidade. Se, entretanto, ele tiver nos dois extremos duas torres iguais, sua unidade estará, pela simetria, reconstituída. Na História do século XVI vamos encontrar uma cena que ilustra bem isso. Francisco I, rei da França, e Henrique VIII — que ainda não se tinha feito protestante — decidiram encontrar-se em Cambrai, no lugar que depois foi chamado camp du drap d’or, tal o luxo, tal a magnificência de que se revestiu o fato. Basta dizer que, no campo de Francisco I, as tendas eram douradas. O encontro entre os reis realizou-se em uma ponte. Imaginemos a beleza do encontro dos dois soberanos, e das duas cortes que chegavam. Na ponte inteiramente coberta de tapetes, um rei se inclina diante do outro rei, cumprimentando-se assim mutuamente, enquanto as trombetas soam. Quando os franceses querem descrever a atitude dominadora de um homem, dizem que ele tem o ar de um rei que recebe outro rei — l’air d’un roi recevant un roi. Em que consiste a beleza de um soberano que recebe outro rei? É exatamente a beleza da simetria, em que dois princípios iguais se contemplam um ao outro e, de certo modo, se multiplicam um pelo outro. Na cristandade, a existência de muitos reis iguais em força, glória e poder, era exatamente uma expressão do princípio da simetria. Tudo se ordena em torno de um elemento supremo A quinta lei da unidade é a da monarquia. Ela é indispensável para a beleza da vida humana. Todas as coisas, para serem reduzidas à sua unidade, devem tender a se ordenar em torno de um elemento supremo, que será um símbolo, uma como que personificação do conjunto. E é esta personificação que dá perfeição à unidade A monarquia não é, como poderia talvez parecer, o oposto da hierarquia, mas, pelo contrário, é a sua consumação. Nela, a beleza de todas as diversas perspectivas como que se concentra. Ao lado da lei da monarquia, há a lei da sociedade. Ela consiste em que as coisas, postas juntas, se completam e se embelezam mutuamente. Analisamos embora de forma muito sucinta as leis da estética do Universo. Trataremos de mais um ponto, muito relacionado com este assunto. Atração pelo que melhor espelha a perfeição de Deus Tomemos as palavras: decente, excelente, nobre, majestoso, sagrado. Elas constituem uma gradação ascendente. De um determinado objeto, podese dizer primeiro, que ele é decente, o que significa que não tem nenhuma nódoa de vergonha. Além de decente, podemos dizer que ele é ótimo, excelente. Excelente já é mais que decente. Poder-se-ia, prosseguindo, apôr o adjetivo nobre, que é especificamente mais do que excelente e decente. Mais do que nobre, poderemos dizer que o objeto é majestoso, adjetivo que, não é, entretanto, especificamente diferente de nobre, pois dele difere somente em grau. Por fim, poderemos acrescentar que o objeto é sagrado, quando contém valores que superam a majestade humana. Nessa gradação de valores, um espírito muito religioso será atraído por aquilo que melhor espelha a perfeição de Deus: o majestoso e o sagrado. Ele procurará, em tudo, esses supremos valores, e terá sede deles. Tendo esse espírito, o homem desejará uma sociedade em que, ao lado de muitas coisas decentes, haja várias excelentes, nobres, majestosas, e sagradas. E então esse homem criará naturalmente uma sociedade que realiza, dentro dessa ordem quase fluida de coisas, uma admirável variedade e uma perfeita unidade Compreendemos, pois, que quando uma pessoa conhece e ama os princípios da variedade e da unidade do Universo, e quando essa pessoa é católica — pois só o católico já tem os pressupostos para compreender inteiramente esses princípios —, ela é de fato profundamente religiosa, no sentido mais verdadeiro da palavra. Este quadro que descrevemos da estética do Universo, com suas leis, os reflexos divinos colocados pelo Criador em todas as coisas, em última análise, tudo o que os católicos fervorosos amam, tudo aquilo de que têm sede, tudo isto a Revolução quer destruir, eliminar, apagar. E é nisso que consiste a questão religiosa, que não se restringe ao problema do laicismo. É uma questão que não se resolve fazendo uma concordata e declarando que a Igreja Católica é a oficial no país. Está em cena toda uma concepção da vida, todo um modo de ser do pensamento humano. Como católicos, pois, devemos amar profundamente a face de Deus refletida na ordem verdadeira das coisas. Mas, para que nosso amor chegue até onde deve ir, aprendamos a aplicar essas leis da variedade e da unidade. Assim, sempre que algo nos causar admiração e nos deleitar, saibamos perceber qual das leis da estética do Universo está aí aplicada. Agindo desse modo, faremos algo imensamente agradável a Nossa Senhora. v 24
ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA O MAIOR BEM POSSÍVEL Cerimônia pontifícia na Basílica de São Pedro, em Roma A Igreja precisa dispor dos grandes meios de comunicação para, no mundo de hoje, cumprir sua missão. Num artigo de 1942, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> insistia neste ponto, do qual poucos católicos estavam compenetrados naquela época. 25