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“¡Como me gusta, ella!” 2 . E para melhor manifestar sua<br />
simpatia, pousou sua mão sobre a dela e começou a agradá-la,<br />
repetindo várias vezes a mesma exclamação. Dona<br />
Lucilia ficou um tanto incomodada pelo amável gesto do<br />
conviva. Entretanto, sempre cerimoniosa, nada deixou<br />
transparecer.<br />
A cena marcou profundamente a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, não só<br />
pela forma inusual, se bem que fidalga e franca, com que<br />
o visitante expressou seus sentimentos, mas sobretudo porque<br />
alguém, de temperamento tão diferente do brasileiro,<br />
mostrava-se de tal modo sensível às qualidades de alma<br />
de Dª Lucilia.<br />
Olhos contemplativos nos quais há<br />
um firmamento<br />
Após um quente dia de verão, em janeiro de 1959,<br />
quando o frescor da noite parecia dar descanso ao exuberante<br />
arvoredo de algumas ruas paulistanas, podia-se<br />
assistir a uma cena especialmente bela: auxiliada por seu<br />
“filhão”, Dª Lucilia, num passo lento e quase solene, se<br />
aproximava da porta de entrada do auditório onde se realizaria<br />
a sessão de encerramento da Semana de Estudos<br />
do grupo dirigido por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
Seria essa uma das últimas conferências públicas de<br />
seu filho a que ela compareceria. Para Dª Lucilia, aquele<br />
salão repleto de jovens borbulhantes de animação, era certamente<br />
uma resposta da Providência a suas confiantes e<br />
incansáveis orações, que agora surtiam abundantes frutos.<br />
Tantos e tão entusiásticos seguidores de ideais desprezados<br />
e hostilizados pelo mundo moderno constituíam<br />
certamente para Dª Lucilia uma promessa de que,<br />
no futuro, muitos mais seriam suscitados por Nossa Senhora.<br />
Enquanto percorria, num pensativo silêncio, o espaço<br />
que a separava de seu lugar no auditório, essas e outras<br />
reflexões deviam lhe povoar a mente. Estava longe de<br />
imaginar que, após chegar à eternidade, a Providência<br />
Divina lhe daria por filhos muitos dos jovens ali presentes,<br />
bem como incontáveis outros que ainda viriam, coroando<br />
de modo inesperado sua ampla vocação materna.<br />
Uma fotografia tirada nessa ocasião (abaixo), quiçá<br />
seja das que melhor expressam seu feitio psicológico e<br />
moral. Como a luz suave do luar dissipa as trevas, mas<br />
não ofusca, assim transparece, amena mas intensamente,<br />
neste retrato, a aristocrática presença de Dª Lucilia.<br />
Em seu olhar contemplativo, à procura de um firmamento,<br />
nos é permitido entrever certo fundo de tristeza e<br />
melancolia, ao qual se mescla um quê de meiguice, presente<br />
como sempre em todas as suas atitudes. O modo de<br />
reter a bolsa e apoiar com leveza a mão sobre ela, como<br />
também de ajeitar o xale, denota gestos inadvertidos,<br />
mas muito distintos. De outro lado, vê-se que ela não está<br />
alheia à realidade externa e acompanha a conferência<br />
sem se distrair. No entanto, a expressão de sua fisionomia<br />
é de quem tem o melhor de sua atenção voltada para<br />
pensamentos superiores.<br />
Essa magnífica conjugação de bom senso e elevação<br />
de alma, características marcantes do espírito católico<br />
medieval, pervadiam a nobre alma de Dª Lucilia em<br />
pleno século XX.<br />
1 ) “Fidalgo”, em espanhol.<br />
2 ) “Como eu gosto dela!”, em espanhol.<br />
(Transcrito, com adaptações, da obra<br />
“Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)<br />
Aspectos da<br />
conferência<br />
pública de <strong>Dr</strong>.<br />
<strong>Plinio</strong>, em 1959,<br />
assistida por<br />
Dona Lucilia<br />
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