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Jornal Paraná Setembro 2015

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Chuvas favorecem ferrugem<br />

Período mais crítico da doença normalmente ocorre no verão, que este ano tende<br />

a ser mais chuvoso. Fato preocupa os produtores MARLY AIRES<br />

LAVOURA<br />

Condições climáticas atípicas<br />

de inverno neste ano,<br />

com a ocorrência de um volume<br />

de chuvas acima da<br />

média, favoreceram o aparecimento,<br />

com maior severidade,<br />

dos sintomas da ferrugem<br />

alaranjada, causada<br />

pelo fungo Puccinia kuhenni,<br />

e da ferrugem marrom,<br />

Puccinia melanocephala, em<br />

lavouras de cana de açúcar<br />

no <strong>Paraná</strong>, segundo a engenheira<br />

agrônoma doutora<br />

Ana Cristina Fiori-Tutida,<br />

da Universidade Federal do<br />

<strong>Paraná</strong> (UFPR).<br />

Normalmente, o problema<br />

tende a ser mais intenso<br />

nos meses de verão,<br />

entre novembro e fevereiro.<br />

A antecipação do período<br />

normal de ocorrência deste<br />

e a previsão de chuvas<br />

abundantes no verão, por<br />

conta do fenômeno El<br />

Niño, já preocupam os<br />

produtores de cana do Estado.<br />

“O final do ano deve<br />

ser o período mais crítico”,<br />

avalia Heroldo Weber,<br />

pesquisador da UFPR. O<br />

fato preocupa principalmente<br />

por conta do tamanho<br />

da área comercial<br />

ainda cultivada com variedades<br />

já caracterizadas como<br />

suscetíveis a doença,<br />

mas que vêm sendo substituídas<br />

conforme o período<br />

de reforma do canavial.<br />

“Neste ano, observamos<br />

que muitos dos clones de<br />

cana de açúcar em avaliação,<br />

tidos como tolerantes,<br />

manifestaram sintomas expressivos<br />

da doença. E isso<br />

nas diferentes fases do Programa<br />

de Melhoramento<br />

Genético da Ridesa/UFPR<br />

e nas várias subestações<br />

aonde são avaliados - Paranavaí,<br />

Iguatemi, Colorado,<br />

Ivaté, Jussara e São Pedro<br />

do Ivaí. Por isso concluímos<br />

que esse ano foi extremamente<br />

favorável ao aparecimento<br />

das ferrugens”, explica<br />

Ana Cristina.<br />

A engenheira agrônoma<br />

ressalta que, por conta disso,<br />

o Programa de Melhoramento<br />

Genético da Ridesa/<br />

UFPR está buscando alternativas<br />

que permitam assegurar<br />

condições climáticas<br />

ideais às doenças nas fases<br />

iniciais do processo de seleção,<br />

proporcionando assim<br />

uma maior segurança quanto<br />

à suscetibilidade à doença<br />

em relação aos materiais em<br />

estudo.<br />

Perdas significativas<br />

Sintomas iniciam-se com pequenas pontuações nas folhas,<br />

que evoluem rapidamente para pústulas<br />

As perdas de produtividade<br />

nas lavouras de cana de açúcar<br />

devido à ferrugem, especialmente<br />

a alaranjada,<br />

podem ser significativas, dependendo<br />

da suscetibilidade<br />

da variedade de cana à doença.<br />

É preciso vistoriar a lavoura<br />

com frequência e<br />

acompanhar de perto. Se for<br />

identificado problema, avaliar<br />

a produtividade esperada<br />

e se o controle com fungicida<br />

compensa a aplicação,<br />

sendo necessária, normalmente,<br />

de três ou mais aplicações.<br />

Os fungos causadores das<br />

ferrugens possuem esporos<br />

facilmente dispersos pelo<br />

vento e respingos de chuva,<br />

pois são muito leves e pequenos.<br />

Podem ser carreados por<br />

muitos quilômetros quando<br />

atingem grandes altitudes, ou<br />

pelo transporte de mudas.<br />

Os sintomas iniciam-se<br />

como pequenas pontuações<br />

nas folhas e evoluem rapidamente<br />

formando estruturas,<br />

denominadas pústulas, na superfície<br />

inferior destas. Embora<br />

haja uma diferença,<br />

ainda que pequena, em relação<br />

à temperatura ótima para<br />

o processo de infecção dos<br />

dois tipos de ferrugem, ambos<br />

são favorecidos por condições<br />

de elevada umidade,<br />

situação essa presente em<br />

grande parte dessa safra,<br />

afirma Ana Cristina Fiori-<br />

Tutida.<br />

Essa combinação, associada<br />

à maior quantidade de dias<br />

nublados, foi favorável à criação<br />

de microclimas que favoreceram<br />

a infecção das folhas<br />

por esses patógenos, explica.<br />

“Trabalhos de pesquisa citam<br />

uma grande dependência das<br />

ferrugens às condições climáticas<br />

locais, as quais têm influência<br />

direta nos processos<br />

de penetração, infecção e colonização<br />

do patógeno nas<br />

plantas”, diz a engenheira<br />

agrônoma.<br />

Presente no Brasil desde<br />

2009 quando foi identificada<br />

em Araraquara (SP) e no <strong>Paraná</strong><br />

desde 2010, a ferrugem<br />

alaranjada não repetiu os<br />

efeitos devastadores de outros<br />

países produtores, mas<br />

eliminou diversas variedades<br />

e clones que apresentavam<br />

grandes potenciais. Uma das<br />

variedades que mais sofreu<br />

com a doença foi a<br />

RB72454.<br />

A Austrália, onde esta foi<br />

identificada em 2000, foi um<br />

dos países mais afetados.<br />

Com 45% da área cultivada<br />

com uma variedade suscetível,<br />

a Q124, a doença provocou<br />

perdas de 24% da produção,<br />

causando prejuízos de<br />

210 milhões de dólares australianos.<br />

<strong>Setembro</strong> <strong>2015</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong><br />

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