You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Chuvas favorecem ferrugem<br />
Período mais crítico da doença normalmente ocorre no verão, que este ano tende<br />
a ser mais chuvoso. Fato preocupa os produtores MARLY AIRES<br />
LAVOURA<br />
Condições climáticas atípicas<br />
de inverno neste ano,<br />
com a ocorrência de um volume<br />
de chuvas acima da<br />
média, favoreceram o aparecimento,<br />
com maior severidade,<br />
dos sintomas da ferrugem<br />
alaranjada, causada<br />
pelo fungo Puccinia kuhenni,<br />
e da ferrugem marrom,<br />
Puccinia melanocephala, em<br />
lavouras de cana de açúcar<br />
no <strong>Paraná</strong>, segundo a engenheira<br />
agrônoma doutora<br />
Ana Cristina Fiori-Tutida,<br />
da Universidade Federal do<br />
<strong>Paraná</strong> (UFPR).<br />
Normalmente, o problema<br />
tende a ser mais intenso<br />
nos meses de verão,<br />
entre novembro e fevereiro.<br />
A antecipação do período<br />
normal de ocorrência deste<br />
e a previsão de chuvas<br />
abundantes no verão, por<br />
conta do fenômeno El<br />
Niño, já preocupam os<br />
produtores de cana do Estado.<br />
“O final do ano deve<br />
ser o período mais crítico”,<br />
avalia Heroldo Weber,<br />
pesquisador da UFPR. O<br />
fato preocupa principalmente<br />
por conta do tamanho<br />
da área comercial<br />
ainda cultivada com variedades<br />
já caracterizadas como<br />
suscetíveis a doença,<br />
mas que vêm sendo substituídas<br />
conforme o período<br />
de reforma do canavial.<br />
“Neste ano, observamos<br />
que muitos dos clones de<br />
cana de açúcar em avaliação,<br />
tidos como tolerantes,<br />
manifestaram sintomas expressivos<br />
da doença. E isso<br />
nas diferentes fases do Programa<br />
de Melhoramento<br />
Genético da Ridesa/UFPR<br />
e nas várias subestações<br />
aonde são avaliados - Paranavaí,<br />
Iguatemi, Colorado,<br />
Ivaté, Jussara e São Pedro<br />
do Ivaí. Por isso concluímos<br />
que esse ano foi extremamente<br />
favorável ao aparecimento<br />
das ferrugens”, explica<br />
Ana Cristina.<br />
A engenheira agrônoma<br />
ressalta que, por conta disso,<br />
o Programa de Melhoramento<br />
Genético da Ridesa/<br />
UFPR está buscando alternativas<br />
que permitam assegurar<br />
condições climáticas<br />
ideais às doenças nas fases<br />
iniciais do processo de seleção,<br />
proporcionando assim<br />
uma maior segurança quanto<br />
à suscetibilidade à doença<br />
em relação aos materiais em<br />
estudo.<br />
Perdas significativas<br />
Sintomas iniciam-se com pequenas pontuações nas folhas,<br />
que evoluem rapidamente para pústulas<br />
As perdas de produtividade<br />
nas lavouras de cana de açúcar<br />
devido à ferrugem, especialmente<br />
a alaranjada,<br />
podem ser significativas, dependendo<br />
da suscetibilidade<br />
da variedade de cana à doença.<br />
É preciso vistoriar a lavoura<br />
com frequência e<br />
acompanhar de perto. Se for<br />
identificado problema, avaliar<br />
a produtividade esperada<br />
e se o controle com fungicida<br />
compensa a aplicação,<br />
sendo necessária, normalmente,<br />
de três ou mais aplicações.<br />
Os fungos causadores das<br />
ferrugens possuem esporos<br />
facilmente dispersos pelo<br />
vento e respingos de chuva,<br />
pois são muito leves e pequenos.<br />
Podem ser carreados por<br />
muitos quilômetros quando<br />
atingem grandes altitudes, ou<br />
pelo transporte de mudas.<br />
Os sintomas iniciam-se<br />
como pequenas pontuações<br />
nas folhas e evoluem rapidamente<br />
formando estruturas,<br />
denominadas pústulas, na superfície<br />
inferior destas. Embora<br />
haja uma diferença,<br />
ainda que pequena, em relação<br />
à temperatura ótima para<br />
o processo de infecção dos<br />
dois tipos de ferrugem, ambos<br />
são favorecidos por condições<br />
de elevada umidade,<br />
situação essa presente em<br />
grande parte dessa safra,<br />
afirma Ana Cristina Fiori-<br />
Tutida.<br />
Essa combinação, associada<br />
à maior quantidade de dias<br />
nublados, foi favorável à criação<br />
de microclimas que favoreceram<br />
a infecção das folhas<br />
por esses patógenos, explica.<br />
“Trabalhos de pesquisa citam<br />
uma grande dependência das<br />
ferrugens às condições climáticas<br />
locais, as quais têm influência<br />
direta nos processos<br />
de penetração, infecção e colonização<br />
do patógeno nas<br />
plantas”, diz a engenheira<br />
agrônoma.<br />
Presente no Brasil desde<br />
2009 quando foi identificada<br />
em Araraquara (SP) e no <strong>Paraná</strong><br />
desde 2010, a ferrugem<br />
alaranjada não repetiu os<br />
efeitos devastadores de outros<br />
países produtores, mas<br />
eliminou diversas variedades<br />
e clones que apresentavam<br />
grandes potenciais. Uma das<br />
variedades que mais sofreu<br />
com a doença foi a<br />
RB72454.<br />
A Austrália, onde esta foi<br />
identificada em 2000, foi um<br />
dos países mais afetados.<br />
Com 45% da área cultivada<br />
com uma variedade suscetível,<br />
a Q124, a doença provocou<br />
perdas de 24% da produção,<br />
causando prejuízos de<br />
210 milhões de dólares australianos.<br />
<strong>Setembro</strong> <strong>2015</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong><br />
5