Corre1prova
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24 | Corre!<br />
Corre! | 25<br />
Foto: Shutterstock<br />
Reportagem Matheus Souza<br />
Ilustração Tomás Simoni<br />
Pra dentro<br />
ou pra fora?<br />
A escolha de um tênis adequado ao tipo<br />
de pisada é tarefa costumeira para muitos<br />
corredores. Identificar o tipo de pisada é algo tão<br />
importante atualmente quanto saber o tamanho<br />
do calçado. As marcas, por sua vez, nunca<br />
investiram tanto em tecnologia (e marketing) dos<br />
seus produtos. Mas até que ponto eles ajudam<br />
na melhora do desempenho e do conforto?<br />
O especialista em medicina esportiva e diretor<br />
da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício<br />
e do Esporte (SBMEE), Ivan Pacheco, analisa o<br />
tema com cautela. “As pessoas possuem pisadas<br />
diferentes e este universo é tão grande que<br />
seria impossível fabricar tênis para cada uma.<br />
Mas, basicamente, foram reunidos pela indústria<br />
em três grandes grupos - neutro, pronado<br />
e supinado. Já foi um grande avanço, essa<br />
especificidade ajudou imensamente. O problema<br />
é o exagero e os erros de interpretação que<br />
estão causando”, disse ele.<br />
Para o fisioterapeuta Lucas Vitorino, de<br />
Piracicaba, a discussão vai além de se identificar<br />
se o pé é neutro, pronado ou supinado. Para ele,<br />
a análise isolada da pisada pode causar impactos<br />
em outras áreas do organismo. “É preciso saber<br />
se esse pé, biomecanicamente, possui harmonia<br />
com outras estruturas do corpo. Deve-se avaliar<br />
o organismo como um todo para observar se<br />
a pisada influencia a postura”, explicou. “Há<br />
casos onde um pé é supinado e o outro neutro.<br />
Ou ainda, um pé pode ser mais pronado que o<br />
outro. Se apenas a pisada é corrigida, podem<br />
Os tênis indicados para cada pisada são<br />
a bola da vez. Até onde eles ajudam?<br />
ocorrer lesões nos joelhos, quadril ou coluna”,<br />
disse.<br />
O diretor da SBMEE concorda em parte com<br />
a questão. “Corrigir algo que está errado,<br />
e feito cuidadosamente, não é para trazer<br />
problemas. Mas isto ocorre porque há um<br />
exagero na busca destas correções, até um<br />
exagero mercadológico. Estatisticamente, nem<br />
todas as pisadas estão dentro da linha mediana<br />
e nem por isso devemos considerar como<br />
anormal”, disse. “Um pequeno desvio de um<br />
hálux (osso que compõe o dedão do pé), por<br />
exemplo, pode causar dor em um corredor, e<br />
não trazer nenhum problema em outro. Estamos<br />
esquecendo a individualidade biológica de cada<br />
um”, concluiu Pacheco.<br />
ATENÇÃO NA HORA DA COMPRA<br />
Coloridos, com sistemas de amortecimento<br />
em gel, com ar, com placas de plástico ou<br />
mesmo os minimalistas, sem qualquer tipo de<br />
amortecimento. Opções de tênis hoje não faltam<br />
para quem deseja “soltar a chinela” nos treinos.<br />
Porém, a atenção a detalhes básicos é muitas<br />
vezes passada despercebida – e não apenas<br />
pelo consumidor-corredor. “Muitas pessoas<br />
que giram ao redor de um corredor não foram<br />
treinadas para entender estas diferenças, desde<br />
alguns médicos e treinadores, passando pelos<br />
próprios corredores, até alguns vendedores”,<br />
explica Pacheco. “Já atendi no consultório<br />
pessoas que possuíam pés pronados e que<br />
tinham comprado tênis para pés supinados.<br />
Há uma necessidade de um maior treinamento<br />
nesta área”.<br />
Proprietária de uma loja especializada em tênis<br />
para corrida de Piracicaba, Ariane Belardin