Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
326<br />
Mesmo por essas rotas bem conhecidas, cruzar os Ossos continua sendo cansativo e perigoso... e a travessia segura<br />
vem com um preço, pois, no outro lado das montanhas, estão três cida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>rosamente fortificadas, os últimos<br />
remanescentes do antes gran<strong>de</strong> Patrimônio <strong>de</strong> Hyrkoon. Bayasabhad, a Cida<strong>de</strong> das Serpentes, guarda o extremo<br />
oriental da Estrada <strong>de</strong> Areia e cobra tributos <strong>de</strong> todos aqueles que buscam passagem. A Estrada <strong>de</strong> Pedra, com<br />
seus <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iros profundos e intermináveis e estreitos caminhos em ziguezague, passa por baixo das muralhas <strong>de</strong><br />
Samyriana, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedra cinza escavada nas próprias rochas da montanha que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>. No norte, guerreiras<br />
vestidas <strong>de</strong> peles percorrem a Estrada do Aço sobre pontes oscilantes e através <strong>de</strong> passagens subterrâneas, escoltando<br />
caravanas <strong>de</strong> e para Kayakayanaya, cujas muralhas são <strong>de</strong> basalto negro, ferro negro e ossos amarelos.<br />
Muitos relatos nos informam que as guerreiras das montanhas <strong>de</strong> Kayakayanaya, Samyriana e Bayasabhad são<br />
todas mulheres, filhas dos Gran<strong>de</strong>s Pais que governavam essas cida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> as garotas apren<strong>de</strong>m a montar e a<br />
escalar antes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a andar, e são educadas nas artes do arco, da lança, da faca e da funda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais<br />
terna infância. O próprio Lomas Longstri<strong>de</strong>r nos conta que não há lutadoras mais ferozes em toda a terra.<br />
Quanto aos seus irmãos, os filhos dos Gran<strong>de</strong>s Pais, noventa e nove em cada cem são castrados quando atingem<br />
a ida<strong>de</strong> adulta e vivem suas vidas como eunucos, servindo as cida<strong>de</strong>s como escribas, sacerdotes, eruditos,<br />
servos, cozinheiros, fazen<strong>de</strong>iros e artesãos. Só os machos mais promissores, os maiores, mais fortes e mais<br />
graciosos, têm permissão para amadurecer, reproduzir e se tornarem Gran<strong>de</strong>s Pais por sua vez. Rubis e Ferro,<br />
do Meistre Naylin ‒ nomeado pela tendência <strong>de</strong> as mulheres guerreiras usarem anéis <strong>de</strong> ferro nos mamilos e<br />
rubis nas bochechas ‒, especula quais foram as circunstâncias que levaram a costumes tão estranhos.<br />
As três cida<strong>de</strong>s fortificadas começaram como fortes <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, postos avançados e guarnições erguidos pelos<br />
Patriarcas <strong>de</strong> Hyrkoon para guardar os limites oci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> seu reino contra bandidos, foras da lei e selvagens que<br />
viviam além <strong>de</strong>le. Ao longo dos séculos, no entanto, as cida<strong>de</strong>las cresceram até se tornarem cida<strong>de</strong>s, enquanto<br />
Hyrkoon secava até virar pó, conforme seus lagos e rios secavam e seus campos antes férteis se transformavam em<br />
<strong>de</strong>serto. Hoje o coração <strong>de</strong> Hyrkoon é o Gran<strong>de</strong> Mar <strong>de</strong> Areia, um <strong>de</strong>serto imenso <strong>de</strong> dunas inquietas, leitos <strong>de</strong> rios<br />
secos, e vilas e fortes em ruínas cozinhando ao sol. Dizem que a água ferve, <strong>de</strong> tão quentes e profundas que são as<br />
partes sul do mar.<br />
Além do Gran<strong>de</strong> Mar <strong>de</strong> Areia, outro mundo aguarda: o Mais a Leste, uma vastidão <strong>de</strong> planícies, colinas e vales<br />
que parece não ter fim, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>uses estranhos governam povos ainda mais estranhos. Muitas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e<br />
orgulhosos reinos se ergueram, floresceram e caíram ali <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aurora dos dias; a maior parte <strong>de</strong>les é pouco conhecida<br />
no oeste, e até seus nomes há muito estão esquecidos 94 . Só os contornos mais amplos das histórias do Mais<br />
a Leste são conhecidos na Cida<strong>de</strong>la, e mesmo nesses relatos que vieram para oeste e até nós há muitas omissões,<br />
lacunas e contradições, tornando impossível dizer com qualquer certeza que parte é verda<strong>de</strong> e que parte nasceu das<br />
imaginações febris <strong>de</strong> cantores, contadores <strong>de</strong> histórias e amas.<br />
Mas a mais antiga e maior das civilizações oci<strong>de</strong>ntais existe até os dias <strong>de</strong> hoje: o Antigo, Glorioso, Dourado<br />
Império <strong>de</strong> Yi Ti.<br />
94 No livro brasileiro estava ―e até seus nomes a muito estão esquecidos‖.