ebosteio in dica página 22 A dica deste número é um poema do Delarte divulgado aqui em primeira mão, abrindo caminho para um novo projeto poético todo inspirado pelo imaginário, religião e cultura Afro-brasileiras. HIPERESTESIA Rebentar a flor esquecida Implodir o marasmo dos dias Extrair o mel sujo da vida na convulsa colméia fria do tempo Pincelar com velhas cores novos quadros sem moldura Deixar o som em delírio ser a glória e contracultura do vento Mil olhos de gato Mil fuças de cão Aroma estelar de canções esculpidas Sabor secular de danças lidas no picadeiro-espelho de telas fluidas Pintura dramática: CONTRAVENÇÃO Reviver deuses-do-povo (genésicos, pós-modernos) que com mil sentidos loucos louvam cor a luz e acordes do I N F E R N O Autor do livro de poesia “Sentimento do Fim do Mundo” (Editora Patuá, 2011), foi um dos vencedores do II e III Festival de Literatura da Faculdade de Letras da USP na categoria “Conto”. Graduado pela mesma faculdade, foi também finalista da 15ª edição do “Projeto Nascente” (USP). Escreve periodicamente no jornal “Conteúdo Independente” e em seu blog: http://williandelarte.blogspot.com/ rebostivemos lá * crédito da foto: Serra Azul - http://www.flickr.com/photos/serrazul/6352651761/in/set-72157628022946717/ Rebostivemos em 16/11 último, no show de apresentação da Balada Literária, no SESC Pinheiros. O Showversa de Augusto de Campos. Chegando lá com duas horas e meia de antecedência, visto que o site dizia que os ingressos seriam retirados no local somente uma hora antes do espetáculo, fomos informados que eles haviam sido todos vendidos durante a semana, e o teatro estava absolutamente lotado. Depois da indignação, e de reclamar sobre a dubiedade das informações do site... lidar com a frustração de não poder ver o Augusto, o Cid Campos e a Adriana Calcanhoto de pertinho, foi um balde de água fria. Mesmo assim fomos pedir informações sobre os eventos do resto da semana, e eis que haviam desistências de última hora: conseguimos os dois últimos ingressos em cadeiras contíguas e bem perto do palco. Aí começou a magia. E esse homem de 80 anos completos entra e fica o tempo todo em pé, falando com aquela clareza que lhe é peculiar, com aquela congruência de quem já tem um mundo dentro de si, com absoluta tranquilidade e o jeito mais simples possível. Firmeza na voz e nas mãos, firmeza em sua poesia concreta e em suas intraduções de outros tantos poetas maravilhosos. Cid Campos, seu filho, ali bem pertinho pra entrar certeiro com o violão e as intervenções no telão, nesse mix multimídia que vinha historicamente de Daniel Artaud até Caetano Veloso... desfilando Kilkerry, Mallarmé, Pound, Dickinson, Lewis Carrol, e tanta gente boa que minha cabeça ainda enlevada não consegue lembrar direito agora. Adriana com aquela voz de veludo, sutilmente deu o toque de leveza indispensável. Tudo perfeito, tudo repleto da verve desse senhor que ali, ao vivo, não me intimidava tanto como quando peguei pela primeira vez em mãos o seu “Não”, o livro da capa azul. Concretíssima, além da poesia, foi a emoção e o nó na garganta ao vê-lo sair, ao final do show, para a coxia abraçado com seu filho, e saber que eu tinha acabado de presenciar um dos mais belos e importantes momentos da história da poesia brasileira.
john cage todo silêncio está grávido de som