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Espresso 56

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No início do século passado,<br />

o funcionamento da primeira fase da República no<br />

Brasil ganhou o famoso nome de “política do café<br />

com leite”, quando se alternavam no poder presidentes<br />

vindos de São Paulo - o café - e de Minas Gerais - o<br />

leite. Mas, pensando gastronomicamente, também<br />

ficaria uma delícia se o nome fosse “política do café<br />

com queijo”.<br />

A combinação entre esses dois pode não ser familiar<br />

principalmente para o brasileiro que vive nos<br />

grandes centros urbanos, mas basta ir a uma fazenda<br />

que tenha uma cabeça de gado leiteiro (vaca, cabra,<br />

ovelha ou búfala) para que a mesa esteja sempre posta,<br />

com o café e o queijo. “Você chega a uma fazenda<br />

na Canastra e vai ter sempre uma térmica com café<br />

fresco, uma garrafa de cachaça e um queijo novo –<br />

nunca um já aberto – para te receber”, conta Bruno<br />

Cabral, especialista que toca a loja Mestre Queijeiro,<br />

em São Paulo, especializada em queijos artesanais.<br />

Ainda falando de história, o queijo chegou aqui<br />

primeiro com as vacas trazidas pelos portugueses. A<br />

possibilidade de conservar o leite coalhado e salgado<br />

e carregá-lo como alimento durante a exploração do<br />

ouro nas Minas Gerais fez com que o gado leiteiro se<br />

adaptasse muito bem e transformasse o estado no<br />

maior polo queijeiro do País. As regiões do Serro,<br />

da Canastra e do Salitre têm seus produtos e feituras<br />

reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial<br />

Brasileiro. E é bem nessa área que o café e o queijo<br />

acontecem em conjunto, afinal, tem queijo no Norte,<br />

no Nordeste e no Sul, mas por lá o café é muito mais<br />

consumido e não necessariamente plantado, já que<br />

é planta que funciona entre os trópicos.<br />

Do jeitinho deles<br />

Pão de queijo, queijo curado, queijo fresco,<br />

cachaça e café na Serra da Canastra<br />

Câmara de maturação de queijo<br />

É fato comprovado pela reportagem da <strong>Espresso</strong>. É só chegar a uma fazenda<br />

em São Roque de Minas que os queijeiros põem na mesa um café<br />

coado na hora, uma garrafinha com cachaça e um queijo novo. E também<br />

pão de queijo, bolo de fubá; quem sabe um docinho de leite cortado<br />

faz pouco? Além do famoso queijo, a região tem grande quantidade de<br />

produtores de café, por vezes até na mesma propriedade. Cada vez mais<br />

o lugar tem se dedicado a aprimorar não só seu produto mais famoso,<br />

como os grãos para o cafezinho. “Café da manhã aqui é café preto e<br />

queijo curado. E pão de queijo tem sempre! Estamos fazendo manteiga<br />

com o soro do queijo. Aí a gente pega o creme do soro do leite e coloca<br />

no café sem açúcar para tomar comendo um pedaço de queijo. Fica<br />

muito bom! E uma pitadinha de manteiga na xícara de café também eu<br />

recomendo provar, viu?”, conta Guilherme Ferreira, produtor do queijo<br />

Capim Canastra, que ganhou medalha de prata na categoria leite cru de<br />

vaca prensado e não cozido no Mondial du Fromage da cidade de Tours,<br />

na França em 2015, desbancando queijos de diversos outros países.<br />

<strong>56</strong> ESPRESSO

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